Surpreendentemente através de sapiência humana, o homem em contato com os fenômenos da natureza, começa a distinguir e a reconhecer seu sentido auditivo por intermédio dos sons que se desenvolveram pelos aspectos naturais, como ―o quebrar das ondas do mar, o som trovejante das tempestades e os diversificados sons dos animais. A música, então, é demarcada na história por aspectos místicos, que se transforma em sons, influenciados pelos indivíduos apreciadores dos campos sonoros.
De acordo com os estudos históricos foram encontradas pinturas importantes em determinados lugares que demonstram a relação do homem com a música, para acontecimentos históricos importantes, como manifestações culturais em que a música servia como preparação para fortalecer o caçado em busca das forças da natureza, na reverência e lembrança dos mortos. A música dentro desses momentos era manifestada através da voz e do corpo, se tomando conhecimento dela na prática aos longos dos anos sobre produções sonoras. Dai por diante a música foi evoluindo, influenciando diretamente os períodos históricos.
A música chega à contemporaneidade como algo essencial para a aprendizagem,
contribuindo assim para o desenvolvimento humano.
De uma forma mais artística e lúdica, a música contribui para que os fatores como a
timidez, dicção, linguagem, corporeidade e motricidade sejam desenvolvidos e melhor
explorados espontaneamente, através de adaptações musicais em situações de
aprendizagem que estejam relacionados ao cotidiano educacional da criança.
Com base nesse pressuposto, aqui se buscou pesquisar sobre O trabalho com a
música na educação infantil, partindo-se de inúmeros motivos, mas, principalmente à lei nº 11.769, declamando que ―a música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular‖ (LDB, 1996, p27). Diante deste
decreto surgiu o interesse pessoal de observar como a música está sendo
inserida nas salas de aulas da educação infantil e como seus respectivos professores estão
trabalhando em sala de aula.
Para tanto, o objetivo geral desta pesquisa é investigar que concepções os docentes
possuem sobre o papel da música na educação infantil. A fim de alcançar este objetivo, foi delimitado os seguintes objetivos específicos: 1. Analisar as contribuições que a
musicalidade traz para aprendizagem; 2. Destacar o papel da música dentro do
desenvolvimento educacional; 3. Identificar o entendimento dos professores sobre o papel
da música na educação infantil.
Para realizar este estudo, adotou-se como metodologia a pesquisa de campo
exploratória, que buscou, por meio do instrumento de coleta de dados, obter informações
sobre o trabalho realizado com a música na educação infantil.
A fim de subsidiar esta pesquisa, foram retomados os estudos de Oliveira (2011),
Piaget (2001), Palagana (2001), Weiz e Sanchez (2009), Brennand (2009), RCNEI (1998),
Prado et al (1998), Lino (1999), Brito (2003), entre outros. Tais referências auxiliaram no
desenvolvimento da interpretação e análise dos dados, conduzindo aos resultados
apresentados no final deste trabalho.
A organização da pesquisa segue os parâmetros metodológicos, sendo apresentada
da seguinte forma: parte pré-textual, textual e pós-textual. Em se tratando dos capítulos,
apresentamos três, assim descritos – no capítulo 1 aborda-se sobre o processo de
aprendizagem infantil, retomando os estudos de Piaget (2001) sobre a gênese do
desenvolvimento humano e a influência da música neste contexto. No capítulo 2 são feitas
considerações a respeito do papel da escola na inserção da arte musical, tomando-se como
referência a perspectiva dos parâmetros e dos referenciais curriculares nacionais para a
educação infantil. Já o capítulo 3 dedica-se à pesquisa de campo, seu processo
metodológico, delimitação dos sujeitos e coleta, organização e análise dos dados. Em
seguida, apresentam-se as considerações finais, em que são expostos os resultados
alcançados.
Espera-se que este trabalho traga contribuições relevantes para o contexto da
educação infantil, servindo como um instrumento para reflexão de docentes sobre a prática
pedagógica envolvendo a educação musical.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR
ATRAVÉS DA MÚSICA
OS NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E A APRENDIZAGEM
ESCOLAR
O ato de conhecer e de aprender não acontece por acontecer. Assim, o aprendizado
do ser humano ocorre em etapas, conforme seu desenvolvimento físico e cognitivo.
As primeiras etapas do aprendizado ocorrem na infância. É nesta fase em que a
criança precisa ser estimulada com qualidade, para adquirir conhecimento e
desenvolvimento físico.
Sobre estas etapas, os estudos de Piaget nos trazem muitos esclarecimentos. O foco
de sua pesquisa trata da gênese do conhecimento humano, a qual estabelece uma ligação
direta com desenvolvimento cognitivo que compreende fases de crescimento, acontecendo
em estágios distintos ao mesmo tempo em que se adquirirem mudanças e novas
habilidades.
No desenvolvimento cognitivo a criança passa a refletir sobre ações pensadas.
Independentemente da seqüência que faça, suas ações vão sendo adquiridas em disposição
e ligação de uma atividade para outra. Através deste processo que vai fixando ainda mais o
desenvolvimento cognitivo, acontecem múltiplas produções de conhecimentos, em
seguimentos de evoluções biológicas, em que a criança começa a se coordenar através
ações repetidas e contínuas. Acontecendo a [...] ―organização de ações no espaço e tempo,
que é chamado de lógica das ações‖. (PALANGA 2001, p.21, aupd PIAGET 2001, grifo meu).
Essa lógica das ações está relacionada tanto com a maturação física quanto
cognitiva. Desse modo, as ações e reações, o que se aprende e o que ainda não é possível
de compreender, dependem de estágios do desenvolvimento humano, os quais são
denominados por Piaget (2001) como: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto
e operatório formal.
O estágio sensório–motor está ligado ao desenvolvimento humano na fase do
nascimento aos 2 anos de idade. Neste período a criança não tem pensamento organizado
em sua afetividade, que permita fazer identificação de pessoas e objetos sem que estejam em sua presença. Dentro de um processo construtivo, os sentidos básicos vão se formando
e, na medida em que os utiliza, o sistema nervoso vai se amadurecendo através do contanto
da criança com meio. Os reflexos comportamentais vão se modificando e com um mês e
meio de vida a criança já é capaz de identificar objetos e pessoas, amadurecendo
inicialmente suas estruturas cognitivas. As mesmas são formadas através da construção da
coordenação ―sensório- motora‖ (PALAGANA, 2001, p.24). O crucial neste período é a
evolução da criança na identificação estável de um objeto. Possibilitando também a
formulação conjunta de estruturas cognitivas que serviram como suporte para o
desenvolvimento perceptivo e intelectual subseqüentes.
O segundo estágio de desenvolvimento se trata do pré-operatório, que ocorre de 2 a
7 anos. Sendo um período mais evoluído, neste estágio o indivíduo desenvolve suas
possibilidades de diferentes formas: no sentido da atuação lingüística/comunicação oral, no
processo de raciocínio e na apresentação de um comportamento substancial: é a fase em
que a individualidade melhor se expressa. Neste estágio a criança possui o entendimento
próprio diante a representação do meio, fazendo o reconhecimento através de seu
entendimento do que é posto em sua presença, diferentemente daquilo que está ausente. ―É
nele que se estrutura a função semiótica, habilidades cognitivas fundamentais para que a
criança possa trabalhar com operações lógicas, passando assim para estágio seguinte‖.
(PALAGANA, 2001, p. 26).
O estágio seguinte se trata das operações concretas, ocorrendo entre os 7 e 12 anos.
Os processos cognitivos dentro desse estágio não são responsáveis por ações lógicas e
independentes da criança. O entendimento depende de situações vividas em sua realidade.
Neste período acontece a troca constante de representações mentais, ocasionando a
aquisição, modificação e ampliação de informações decorrentes do processo contínuo de
aprendizagem. A criança agora procura desenvolver um pensamento que seja transmitido
diante uma argumentação compreendida e considerada por todos em seu meio.
O último estágio, denominado de período das operações formais, se dá dos 12 anos
em diante. Nesta fase a criança passa a ampliar as suas habilidades e capacidades
adquiridas na fase anterior e já consegue raciocinar usando hipóteses e idéias abstratas. A
criança adquire a capacidade de analisar e avaliar criticamente a realidade social. Segundo
Piaget (2001), é o mais alto nível de desenvolvimento cognitivo.
Deste modo, tendo-se compreensão dos níveis de desenvolvimento humano, é
possível realizar um trabalho educativo voltado para as peculiaridades da criança, de
acordo com seu processo cognitivo. Por isso o professor tem que ser um constante observador das ações demonstradas pelo aluno, para que novos conhecimentos aconteçam
diante dos existentes.
Considerando que a aprendizagem se constrói diante das respostas das ações dos
alunos, o professor precisa construir ações em que o aluno desenvolva suas estruturas
cognitivas, constantemente. Uma das inúmeras formas de proporcionar situações de
aprendizagem significativa e, portanto, coerente com o nível de maturação cognitiva, é
inserindo a música nas atividades escolares. É o que veremos no item a seguir.
A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Desenvolver atitudes espontâneas é de importantíssimo valor para se construir uma
educação rica em valores culturais. Diz Brennand que ―Rousseau defendia que a escola
não deveria prepará-la para o futuro nem modelá-la para determinados fins, mas oferecerlhe a possibilidade de ser livre e espontânea, oportunizando-lhe felicidade, enquanto ainda
criança".
É a partir deste entendimento que começo a falar sobre a importância da música
para aprendizagem, ressaltando a importância de se oferecer possibilidades para a criança
ser livre e espontânea, por meio da educação musical. Assim, interagir com o meio natural
e o ritmo musical, usando sua espontaneidade a desenvolver habilidades musicais.
Esta vivência deve ser priorizada na escola, a partir do momento em que o
professor põe em prática o ensinamento de Pestalozzi, quando ele diz que o ensino deveria
partir do conhecido para novo, do concreto para abstrato. Recomendando que seja
essencial para a escola o ato do "aprender fazendo".
A música desenvolve o raciocínio, dando criatividade à criança e aptidões para que
sejam aproveitadas nas ricas atividades dentro da sala de aula. Assim como é a música é a
dança que atuam no desenvolvimento corporal através da gesticulação e movimentação,
dando equilíbrio para metabolismo humano, estimulando a disposição e evitando doenças
como obesidade, fadiga, problemas cardíacos, levando o aluno ao prazer e estimulação
fazendo uma aprendizagem de forma saudável.
A música e a dança proporcionam movimentos corporais, que trazem satisfação e
alegria. Desenvolvendo a criança a música despertando seu interesse e criatividade, ao
mesmo tempo em que estimula a sua autodisciplina, através das distinções rítmicas e estéticas. Abrindo caminho para imaginação, fazendo com que a identidade do sujeito seja
construída. Este aprendizado proporcionado pela música pode ser direcionado às práticas
educativas escolares, a começar pelo contexto da educação infantil, uma vez que desperta o
interesse e o envolvimento da criança, ajudando-a a expressar-se e a socializar-se melhor.
Por isso, cabe ao professor sempre proporcionar apoio às crianças, dentro do
ambiente e por meio dos acervos musicais que possam ser trabalhados, despertando as
crianças para conhecimento cultural diversificado, de outras cidades ou regiões, como
músicas clássicas, músicas folclóricas, regionais, líricas, etc. Vale ressaltar que estas
atividades que devem sempre partir do conhecimento prévio da criança, respeitando seu
tempo de assimilação e aprendizagem – ou seja: trabalhar a educação musical de acordo
com as possibilidades e recursos que estejam dentro das condições que professor possa
disponibilizar para crianças, favorecendo, assim, o desenvolvimento cognitivo.
Como se percebe, a música contribui para vida do ser humano e traz um bem estar a
pessoas. Pensando-se no contexto escolar, o professor pode desenvolver práticas de ensino,
ampliando os sentidos das crianças, principalmente o auditivo, na estimulação do ouvir.
A música estimula à prática sonora desenvolvendo o aluno a distinção dos efeitos
sonoros, como timbre, altura e intensidade, fazendo com que seja distinguido cada som
escutado. E aos poucos vai se ampliando o seu desenvolvimento sonoro, apreendendo-se
quais gostos sonoros mais aprecia e o que não são de seu agrado, assim podendo fazer
reproduções que são agradáveis ao gosto.
Música dentro da perspectiva sonora faz com que se despertem sensações afetivas,
pensamentos e ações. Portanto, estimular a socialização, interagindo musicalmente, faz a
criança aprender a conviver melhor se comunicando afetivamente em harmonia na família,
na escola e em meio à sociedade.
A ESCOLA E A ARTE MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DA MÚSICA NA PERSPECTIVA DOS
REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) é desenvolvido
numa abordagem diversificada, para estímulo e organização da aprendizagem e identidade
da criança. Dentre desses aspectos são inseridos vários métodos e orientações que apontam
caminhos para uma melhor prática docente.
No RCNEI (1998) se encontram várias formas de abordagem de ensino direcionado
à criança. Numa dessas abordagens está à música como método de aprendizagem a ser
utilizado e desenvolvido, para que trabalhem as capacidades afetivas, emocionais e sociais.
"A cultura dentro referencial curricular é entendida de forma a ampliar conteúdos
dentro de seus códigos e produções simbólicas" (RCNI, 1998, pg 46). Por isso, a música
proporciona, ao professor, meios que possibilitem aprendizagens e manifestações culturais
das e para as crianças.
Para que o professor se utilize adequadamente destes meios, o seu perfil deve ser
amplamente diversificado, para que no planejamento de suas atividades proporcione
conteúdos diversos a garantir aprendizagens em diferentes abordagens, em especial quando
se trabalha com a arte musical, uma vez que "a implantação e/ou implementação de uma
proposta curricular de qualidade depende, principalmente, dos professores que trabalham
nas instituições". (RCNEI, 1998, p.41)
O RCNEI contém três volumes. O terceiro volume é relacionado ao âmbito do
conhecimento de mundo, em que se desenvolve na construção de um trabalho com
variadas linguagens pelas crianças, objetivando conhecimentos relacionados entre si.
Dentre os conteúdos curriculares está a música, como construção de conhecimento
significativo a se inserir de forma integral a métodos diversos, na promoção da
aprendizagem das crianças. Assim:
O trabalho com a música proposto por este documento se fundamenta em
estudos de modo a garantir à criança possibilidades de vivenciar e refletir
sobre questões musicais, num exercício sensível e expressivo que
também oferece condições para o desenvolvimento de habilidades.
(RCENI, 1998, p.48).
A música está presente na educação infantil, ao longo dos tempos, sendo
compreendida como forma curricular contribuinte no desenvolvimento de hábitos,
atividades e culturas, além de proporcionar a prática do convívio social, desempenhando
estímulos à memorização e melhorando a fixação conteúdos e aprendizagens.
Partindo-se dessas considerações, podemos dizer que o trabalho com a música está
entrelaçado com práticas e referenciais interdisciplinares, já que remete a conhecimentos
diversificados, ao se inserir em contextos literários e artísticos, datas comemorativas,
brincadeiras, atividades desportivas, etc.
Assim, na perspectiva das práticas curriculares da educação infantil a
interdisciplinaridade é entendida como um ponto de cruzamento de disciplinas ou
atividades baseadas em diferentes pressupostos que articulam os conteúdos trabalhados de
forma harmoniosa. O professor de educação infantil, através de
uma abordagem interdisciplinar, deve considerar a diversidade dos conteúdos disciplinares,
para que haja uma articulação maior entre o que se ensina e o que se aprende. Assim, é
preciso saber fazer uso de métodos interdisciplinares para melhor favorecer a
aprendizagem.
Deste modo, para educar com qualidade, as instituições precisam fazer adaptações
estruturais e funcionais, para promover condições de desenvolvimento das crianças, de
acordo com as orientações curriculares nacionais.
Nas escolas o desenvolvimento infantil deve ser acessível a todos sem qualquer tipo
de discriminação, em que sejam válidos e resgatados os fatores culturais da criança. Logo,
o desenvolvimento curricular deve criar possibilidades diversas de aprendizagem, pois
diante das metodologias adotadas estimula a criança a desenvolver sua identidade,
emitindo seu reconhecimento através de várias situações envolvendo a música, o corpo, a
cognição e o afeto.
A educação escolar infantil respaldada pelo RCNEI (1998) proporciona várias
situações em que as aprendizagens contribuam integramente para o desenvolvimento de
habilidades como o ouvir/falar, o ler/escrever, o cantar/ dançar, entre outras. O estímulo ao
desenvolvimento de diferentes habilidades, especialmente as motoras e lingüísticas, faz
com que a relação entre o cuidar e o educar se estabeleça, pois a educação escolar está
sendo pensada e planejada adequando-se ao cuidado não apenas físico, mas o cuidado
global da criança – o que resulta na qualidade e diversidade do ensino em relação aos
diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo.
Portanto, o cuidado global da criança deve acontecer na interação de métodos
interdisciplinares, através de orientações baseadas nos procedimentos curriculares que
estimulem o aluno a se descobrir e desenvolver suas capacidades. Isto pode ser favorecido
por meio de estímulos musicais.
------continua em breve-------