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terça-feira, 9 de julho de 2024

A influência da leitura na formação da criança

Segundo Freud, as experiências ganhas na infância são a responsáveis por definir uma identidade e influenciar as atitudes de uma pessoa pelo resto da vida. Ao reconhecer a influência dos primeiros anos de vida de uma criança é que percebese a necessidade de introduzir a leitura na vida dela desde as primeiras batidas de seu coração. No anseio de conhecer os benefícios referentes a leitura infantil é que surgiu esta ideia de pesquisa. A leitura na infância proporciona diversos benefícios para a criança, como o hábito da leitura, atenção, desenvolvimento da imaginação, ampliação do vocabulário e criticidade. Na angústia de tentar desvendar porque existe uma desigualdade tão grande de estímulos à leitura é que foi aplicado um questionário na cidade de Hitchin, Inglaterra e em Santo Antônio do Sudoeste, Paraná - Brasil. Através das informações obtidas constata-se que, quanto mais cedo os livros fizerem parte da vida das crianças, mais comum irá parecer-lhes o hábito da leitura. Entende-se que, a família e a escola são os maiores responsáveis por promover o incentivo à leitura, porém, é dever do Estado garantir projetos que forneçam o suporte necessário para tal objetivo.

INTRODUÇÃO 

O mundo tão repleto de tecnologia acabou encurtando distâncias e afastando as pessoas umas das outras, infelizmente, se escuta muitas fatalidades nos noticiários porque ninguém mais respeita o limite e as diferenças do outro. As crianças nascem e crescem nesse mundo sem muita orientação e já que muitos pais perderam a habilidade do diálogo com seus filhos, a ajuda pode vir de um único objeto: dos livros. 

Através da leitura é possível enxergar e respeitar o outro, a julgar menos e ajudar mais, é a partir do íntimo contato que o leitor cria com o mundo lendo, que ele consegue significar sua existência. Quanto mais cedo a criança começa interagir com os livros, mais consciente, empática e desenvolvida ela irá se tornar. 

Em alguns países da Inglaterra, o governo estimula a leitura infantil ainda quando a criança está dentro do ventre de sua mãe, enquanto no Brasil as escolas precisam promover eventos de cunho financeiro para conseguir complementar seus acervos bibliográficos. 

No anseio de compreender os benefícios da leitura infantil é que surgiu essa ideia de pesquisa, buscou-se realizar um estudo franco, que de fato viesse interpretar e compreender a valorização da leitura infantil, ora, é conhecer os bons exemplos que se pode transformar a própria realidade.

BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL 

A concepção de infância sofreu inúmeras transformações ao longo dos anos. Até o século XVll, a criança era vista como um “adulto em miniatura” pois sua vida social e comportamental não distinguia em nada da dos adultos, ou seja, as crianças, não recebiam tratamentos diferenciados. Desde cedo eram inseridas no mercado de trabalho, participavam de festas regadas a bebidas, como também, vestiam-se como adultos. Não havia literatura exclusiva para as crianças na época. 

É durante o Renascimento que essa visão começa a mudar, por influências religiosas a imagem da criança passa a ser associada com o divino, puro e celestial. Criou-se então um ensino direcionado para os pequenos que buscava preparar as crianças para a vida, de longe essa prática foi a mais adequada, pois a didática aplicada nas salas de aula era pautada com a dureza e rigor dos diferentes métodos.

A primeira literatura infantil que se têm notícia foi escrita nesse período, as histórias eram criadas exclusivamente para auxiliar as crianças a compreender o mundo. Esse cunho textual expõe a ideia de infância da época, onde acreditava-se que as crianças não possuíam experiência alguma e que precisavam de ajuda para compreender o mundo real. 

Essa primeira literatura infantil foi adaptada da literatura dos adultos, contava apenas com algumas modificações no intuito de transformar as histórias menos vulgares e promiscuas, alguns temas como incesto e canibalismo foram extintos das histórias originais para serem reproduzidas para os pequenos.

No começo, a literatura infantil se alimentava de obras destinadas a outros fins: aos leitores adultos, gerando as adaptações; aos ouvintes das narrativas transmitidas oralmente, que se convertem nos contos para crianças; ou ao público de outros países[...] (ZIBERMAN, 2005, 0. 18)

Através dessas histórias, que os pequenos eram levados intencionalmente a compreender o bem e o mal, o certo e o errado. Percebe-se que o objetivo central dessa literatura era doutrinar as crianças para os interesses paternos, religiosos e políticos. 

Surge então na França em 1967, “Histórias ou contos do tempo passado, com moralidades”, mas também chamado de “Contos da Cegonha”, escrito por Charles Perrault. Dentro dessa coletânea de contos encontra-se alguns dos mais conhecidos contos infantis, como por exemplo “A Bela Adormecida”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Barba Azul”, “O Gato de Botas”, Cinderela” e “O Pequeno Polegar”. 

Os contos escritos por Perrault são considerados clássicos da literatura infantil e isso só ocorreu, pois suas histórias foram capazes de transcender o tempo, pois mesmo sem intenção alguma eles atendem algumas das necessidades apresentadas pelas crianças.

A partir daí, grandes escritores surgiram no cenário mundial, como Roald Dahl e Lewis Caroll, escritores infantis famosos até hoje no cenário inglês, como também, Monteiro Lobato no Brasil . Muita coisa mudou desde a primeira literatura produzida para as crianças, grandes acertos e erros foram cometidos durante o processo. Atualmente, as críticas chamam atenção pelo caráter conteudista das obras, que deixam um pouco de lado a arte literária e focam demasiadamente no pedagógico.

AS PREFERÊNCIAS LITERÁRIAS DOS PEQUENOS LEITORES 

Ao ler um livro, o adulto cria e transforma o texto em símbolos para a sua vida, não seria diferente com aqueles que utilizam a imaginação para criar possibilidades ou encarar a realidade: as crianças. Toda vez que uma criança lê ou quando alguém conta uma história para ela, um mundo repleto de possibilidades se apresenta para ela.

O primeiro contato com a leitura pode se iniciar ainda quando o bebê está dentro do ventre da sua mãe, com as cantigas e também com a leitura de histórias infantis. Essa leitura em família enrique os laços familiares, proporciona a criança o reconhecimento da voz de seus pais e faz com que ela aprenda as noções da linguagem. 

De acordo com os estímulos e idade, a preferência pelos textos vão se modificando. É durante a primeira infância que os pequenos tem uma grande admiração pelas histórias orais, cheias de movimento e com muita entonação de voz. Como o tempo de concentração das crianças nessa faixa etária é reduzido, os textos devem ser curtos. 

As histórias favoritas desse público são aquelas que registram um pouco da sua história e que geralmente é contada pelos seus familiares. Atualmente, existe uma grande produção de livros direcionada para atender essas necessidades, no Brasil, é fácil o acesso de livros interativos confeccionados através de pano e de plástico com ilustrações precisas e bem atrativas, que possibilitam ao leitor o contato com a leitura e a exploração dos sentidos. 

Na segunda infância a magia torna-se tema obrigatório nos livros infantis, as histórias preferidas da garotada são aquelas que contém personagens como bruxas, monstros, heróis e princesas, pois as crianças sentem a necessidade de distinguir o certo do errado e esses personagens com seus enredos proporcionam isso para elas. 

O lúdico para esse público torna-se essencial e indispensável, fantoches, fantasias, livros bem ilustrados e sonoros, devem fazer parte da contação de histórias. A linguagem do texto também é de suma importância, quanto mais clara e objetiva, melhor será a interpretação e absorção do texto pelo leitor.

Assim que aprende a ler sozinho e isso ocorre em média entre seis a oito anos de idade, o leitor torna-se independente, ou seja, não precisa mais da participação de terceiros no momento de leitura, leitor e livro tornam-se autossuficientes. Essa é uma ótima fase para influenciar a leitura, já que os pequenos estão maravilhados com a própria capacidade de compreender o texto através da escrita e não mais por meio dos relatos ou imagens. 

O perfil literário sofre modificações, graças ao aumento do tempo de concentração da criança as histórias precisam ser um pouco mais longas do que antes e possuir início, meio e fim, por isso a leitura de livros em capítulo é a mais aconselhada. A aventura torna-se parte dos enredos favoritos da criançada. Como as crianças conseguem ler o texto sozinhas, uma perca significativa nessa fase são os momentos de leitura em família. 

Assim que a criança torna-se capaz de criticar e questionar, os livros que ela têm acesso devem ser outros. Os livros possuem a capacidade de incentivar o préadolescente a se autoconhecer através do outro, além de incentivar a criticidade, portanto, os livros que ela lê, devem procurar atender essa demanda. Percebe-se que durante essa etapa, os livros de ficção científica e terror chamam a atenção da garotada. 

O leitor pré-adolescente na tentativa de superar e compreender seus conflitos da vida real, busca no texto personagens que passam por problemas parecidos com os seus, separação, rejeição e transformação são temas que as crianças possuem dificuldade de compreender, mas que através dos exemplos e histórias descritas nos livros pode tornar-se mais fácil a aceitação. 

A classificação literária de um livro é baseada nos estágios do desenvolvimento infantil, o que deve ser visto com bons olhos, pois isso possibilita que, indiferente de idade ou nível de desenvolvimento o leitor esteja em contato com a literatura. A idade da criança não deve ser a mais importante consideração na hora de escolher um livro, mas sim, a etapa em que a criança está do desenvolvimento infantil.

[...] a literatura infantil vem sendo criada, sempre atenta ao nível do leitor a que se destina [...] e consciente de que uma das mais fecundas fontes para a formação dos imaturos é a imaginação- espaço ideal da literatura. É pelo imaginário que o eu pode conquistar o verdadeiro conhecimento de si mesmo e do mundo em que lhe cumpre viver. (GOLDEMBERGUE, 2000, pg.141, apud CUNHA, da Vieira Adriana) 

O governo, pais e escola devem selecionar o material para leitura da criança no objetivo de não agredir moralmente o pequeno leitor e preservar sua infância, porém, deixar a criança escolher seu livro é de suma importância, quando o que se busca é a democratização da leitura. A leitura essencialmente deve causar prazer e obrigatoriamente a sensação de liberdade no leitor, quando alguém impõem a leitura de um texto, a torna impossível. 

Algumas pesquisas revelam que a leitura possui a capacidade de auxiliar os indivíduos a compreender, interpretar e interagir com o que está ao seu redor, tendo conhecimento de tais informações, percebe-se que houve uma grande demora em produzir-se uma literatura exclusiva para as crianças, e que de fato atende-se as suas particularidades. 

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL 

A literatura infantil contribui para a formação de um adulto crítico, reflexivo e consciente, que é agente transformador de sua realidade. É através dos livros que as crianças desde muito cedo aprendem a interpretar o mundo e a superar as dificuldades que se apresentam a elas. 

Essa capacidade de interpretação se desenvolve através da virtude que a criança adquire ao ler de se colocar no lugar do próximo, mesmo que o outro seja um personagem fictício, ou seja, mesmo que seja uma mentira, os pequenos tornam-se mais sensíveis e empáticos com a dor do outro.

A criança que lê consegue desmistificar os mistérios da vida e se desenvolve de forma integral. Torna-se mais observadora e independente emocionalmente pois encontra nos textos o simbolismo necessário para encarar as mudanças e problemas reais. 

É tendo exemplos do bem e do mal nas histórias infantis que a criança aprende a diferenciar o certo do errado, é entrando em contato com os livros que se aprende a lidar com os sentimentos de vitória e derrota, é a partir da leitura que se consegue construir uma moral. A criança de acordo com as DCNEI (BRASIL, 2010) é,

[...] sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, apende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, P.12).

Os contos de fada são capazes de afastar um pouco as crianças das dificuldades do dia a dia e fazer com que elas acreditem que a magia é possível e que tudo pode mudar, ora, palavras que definem as crianças advém das contribuições da leitura para elas: otimismo, sonhos e fantasias. 

A leitura também auxilia na compreensão do medo, pois é observando e vivenciando os conflitos dos personagens fictícios que ás crianças percebem que são sentimentos presentes na vida de todos. A partir daí, tornam-se capazes de superar as próprias angústias e até mesmo ajudar o próximo nesse quesito. 

 No dia a dia costuma-se usar as mesmas palavras, o que limita a comunicação dos pequenos. Já com os livros apresenta-se novas palavras, muitas vezes com o significado embargado em um contexto que a criança consegue perceber e quanto mais variado for vocabulário, melhor para a comunicação dela. 

Os livros colaboram de maneira surpreendente para o desenvolvimento da comunicação das crianças, é através deles que elas ampliam seu vocabulário, aprendem a construir frases e descobrem que é possível comunicar-se através do texto escrito e oral. 

Quem tem contato com os livros, possui acesso ao conhecimento, toda e qualquer informação é possível encontrar emergida dentro dos livros, ler é estudar assuntos diversos sem se dar conta e de “quebra” aprender um pouco de gramática, ler é aprender argumentar.

BONS LEITORES MELHORAM EM RITMO MAIS ACELERADO.

MAUS LEITORES MELHORAM EM RITMO MAIS LENTO.

É lendo que se é possível desenvolver o pensamento crítico, quem não lê, não consegue entender o problema como um todo e acaba ficando à mercê da ideia dos outros, segundo Monteiro Lobato “um país se faz com homens e livros”. 

Ler aproxima e ajuda construir um elo muito forte entre as pessoas, prova viva disso é perceber o olhar de uma criança quando alguém lê uma história para ela. A leitura auxilia no aumento de tempo de concentração dos pequenos, pois enquanto lê, ela precisa se manter atenta para não perder nenhum detalhe da história, pois sabe que isso poderá lhe causar a má interpretação. 

A criança que possui o hábito da leitura, adquire inúmeros benefícios, mas um dos principais é a criatividade. Como constantemente trabalha com o imaginário, ela não possui dificuldades em criar, suas brincadeiras consequentemente são mais saudáveis e possui uma forte tendência ao destaque. 

Toda vez que uma criança entra em contato com os livros ela desenvolve seu potencial empático, crítico, cognitivo, intelectual e psicomotor, além de proporcionar o estímulo a imaginação, portanto, a leitura proporciona benefícios físicos e também intelectuais para quem lê. 

A PARTICIPAÇÃO DA ESCOLA NO PROCESSO DEMOCRÁTICO DA LEITURA INFANTIL 

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, houve a ausência parcial do esteio da educação familiar, foi então que o governo, na ânsia de atender as demandas que se apresentavam na sociedade, adotou algumas medidas, como por exemplo, a criação de vagas nos Centros de Educação Infantil e também nas escolas, a redução da idade letiva obrigatória, além de regulamentar o ensino integral fazendo com que as crianças permanecessem por mais tempo na escola. 

Enquanto as mães trabalhavam mais tranquilas sabendo que seus filhos estavam em segurança, a escola foi tornando-se cada vez mais responsável pela educação dos seus estudantes. A ela, não cabia mais apenas a função de ensinar os conteúdos das grades curriculares, mas também colaborar para a formação integral do aluno e ser a principal fonte de incentivo à leitura que o estudante possui. 

Como a renda mensal de grande parte das famílias brasileiras é baixa e os livros, mesmo que disponíveis em muitas lojas e bibliotecas, são caros, consequentemente a compra de materiais para leitura se torna dispensável, ora, entre alimentos ou livros, é claro que a opção é pela sobrevivência. Portanto, é na escola que grande parte das crianças brasileiras tem acesso ao seu primeiro livro de leitura, pois infelizmente, não está enraizada na cultura brasileira o hábito de ler. Entretanto, de acordo com o Ministério da Educação do Brasil (2019, p.8),

Estudos mostram que as ações no seio familiar são mais importantes para o sucesso escolar do que a renda ou a escolaridade da família. Isso é válido para crianças de diferentes etapas da educação básica, quer sua família seja rica ou pobre, quer seus pais tenham ou não terminado o ensino médio. 

Dada importância da leitura e ciente de suas contribuições, as escolas tomaram frente e desenvolveram projetos que proporcionam aos estudantes o contato com a literatura infantil. Cada instituição de ensino tem a liberdade de escolher a forma de desenvolver seu projeto, porém, a proposta deve estar descrita dentro do “Projeto Político Pedagógico da Escola- PPP”, assim como os objetivos e as formas de intervenção para se implantar o projeto. 

Parte do acervo bibliográfico das escolas brasileiras é composto por livros do “Programa Nacional de Biblioteca da Escola−PNBE”, como a quantidade e diversidade do material disponibilizado pelo governo não é suficiente, as escolas acabam promovendo eventos onde o fundo financeiro arrecadado é convertido para melhoras dentro da escola, como por exemplo, a compra de livros. As instituições ainda contam com a doação de livros realizadas por terceiros para colocar em prática seus projetos de leitura. 

Mas a falta de material para leitura não é o único problema enfrentado pelas escolas, a rotina escolar e a grade de disciplinas são apertadas que é difícil encaixar momentos de leitura. Em algumas instituições os maiores limitadores dos projetos de leitura são os próprios educadores que acreditam ser desnecessário a prática da leitura dentro do ambiente escolar, isso infelizmente ocorre, pois a cultura da leitura no Brasil, não se faz presente nem entre os professores. 

Segundo Ana Maria Machado (apud, SILVA, G. R. dos Aparecida Mariza e SILVA Costa Fernandes Marileuza) “Não se contrata um instrutor de natação que não sabe nadar, no entanto, as salas de aula brasileira estão repletas de pessoas que apesar de não ler, tentam ensinar”.

Em um país com tanta desigualdade social como o Brasil, a responsabilidade do incentivo à leitura torna-se principalmente dever do governo. As escolas precisam de estrutura para exercer seus projetos, cobrar resultados sem proporcionar condições inviabiliza qualquer trabalho, existem, no Brasil muitas escolas sem a infraestrutura necessária para funcionamento, colégios de chão batido e sem paredes não conseguem proporcionar aos seus alunos um local apropriado para o incentivo à leitura, uma biblioteca com vários livros disponíveis é apenas um sonho para esses educadores.

O incentivo à leitura por parte da escola e o acompanhamento familiar fazem diferença no processo de formação do leitor, porém, na maioria das vezes a escola se vê sozinha nessa jornada. Os pais dos alunos por não receberem o estímulo à leitura na infância, não reconhecem as contribuições dela, consequentemente, não incentivam e muito menos participam dos projetos promovidos pela escola que objetivam integrar a família no ato de ler, para que assim os alunos encarem o exercício de ler como um hábito que proporciona prazer. 

Mesmo o Brasil não tendo enraizada em sua cultura o hábito da leitura, se nada for feito isso jamais irá mudar e é a educação mais uma vez que pode transformar essa realidade. As escolas cada vez mais devem promover projetos que aproximem os pais da realidade escolar, apresentar os problemas enfrentados, como a causa e a solução para eles, é importante que a escola compartilhe de sua ânsia para a mudança e coloque através do diálogo a responsabilidade e compromisso que os pais tem com a educação e formação dos filhos. 

Introduzir a leitura dentro dos lares, proporciona melhorias dentro da sala de aula, a criança precisa ver os pais divertindo-se ao ler, elas precisam ver o prazer estampado no rosto de seus exemplos para querer fazer o mesmo. As contações de história e leitura em família não devem ficar restritas a segunda infância, pois liberam a imaginação da criança, que cria a partir da fala do outro, a criança aprende a ser paciente e a escutar.

[...] a criança quando apresentada ao mundo da leitura necessita receber apoio e incentivos para que tal prática se concretize, uma vez que, a participação dos adultos durante esta fase de compreensão e conhecimento da leitura é extremamente importante, pois é a partir das expressões e hábitos cotidianos (dos que as rodeiam) que a criança realiza o entendimento desse universo desconhecido. (ARAÚJO, 2016, p.1, apud, KLEIN, 2018) 

É na escola que os alunos devem conhecer os diferentes gêneros textuais e expôr-los, não basta ler, é preciso desmistificar o texto, interpretar suas ideologias, e criar a partir dele, os educandos precisam perceber a utilização do texto informativo em jornais, o texto instrutivo nas receitas, pois reconhecer os textos nas diferentes situações do dia a dia que a criança consegue significar a leitura e compreender a sua importância. 

Os gêneros devem ser entendidos não como formas de estanques, mas como processos dinâmicos. Assim, o que interessa não é considerar como são descritos, mas como funcionam na prática, uma vez que “fazem as coisas acontecerem” ao dar forma ao modo como entendemos o mundo. (FESTINO, G. Cielo, OLIVEIRA, Marilia Fatima de, p.7, 2016) 

Cabe ainda ao grupo escolar, promover, orientar e cobrar a participação dos pais, como também dos alunos nos projetos de leitura. Não é possível iniciar um projeto obter algum resultado e após um tempo, deixá-lo morrer, a leitura é ativa e assim deve se apresentar nas escolas, o exemplo deve partir de todos os presentes na dinâmica escolar, o que significa os estudantes perceberem direção, coordenação, professores e agentes educacionais envolvidos com a leitura.

Alguns dos projetos de leitura mais presentes nas escolas brasileiras, são os ditos “horários de leitura”, onde todos os estudantes, durante um determinado tempo, em média de quinze a quarenta e cinco minutos, leem, o material para leitura é disponibilizado pela escola. Ou se o aluno preferir pode levar algum livro de casa. Outro projeto muito famoso são as chamadas “Sacolas ou Malas Viajante”, como já diz o nome, dentro de uma sacola ou mala o aluno leva para seu lar livros para ler em família. Não muito raro e bem idealizado, em algumas escolas os alunos com as melhores notas das turmas ganham um livro como incentivo.

Família, escola e governo devem representar através de suas falas e principalmente através de suas atitudes como o ato de ler é prazeroso, a ideia que se tem da leitura como punição para os maus alunos deve ser desmistificada e esquecida. É direito da criança ter acesso ao conhecimento e diversão proporcionados pelos livros, como também, explorar os diferentes gêneros textuais e receber estímulos a leitura durante toda sua trajetória escolar.

ANÁLISES DOS DADOS OBTIDOS NA PESQUISA DE CAMPO 

Esse capítulo destina-se a relatar a metodologia da pesquisa desenvolvida durante a construção do presente artigo, como também expor os resultados alcançados por ela. É válido lembrar que todo o projeto foi adaptado para ser desenvolvido em meio a pandemia do novo “Corona Vírus”. 

Com o intuito de investigar os benefícios da leitura infantil, foi desenvolvido após inúmeras considerações um questionário objetivo na plataforma do “Google Forms” e também no programa “WordPad”. Para responder esse questionário, foram convidados alguns pais da “Mary Exton Primary em Hitchin” e “Cathedral School of St Peter and St John” em Manchester, localizadas na Inglaterra, e também alguns pais que atuam na rede pública de seus países. 

Foi através de uma palestra dentro da disciplina de “Literatura Inglesa ll”, ofertada pela Faculdade de Ampére – FAMPER que nos foi apresentado o incentivo que os leitores da Inglaterra recebem. A mesma palestrante foi quem auxiliou o envio do questionário para a escola de Hitchin. Já a escola do Brasil foi escolhida pois é reconhecida por desenvolver diversos projetos que colaboram para o desenvolvimento de seus alunos, ela apresentou-se receptiva com a pesquisa, disponibilizando o contato direto com os pais através de grupo de conversa no aplicativo “WhatsApp”. 

O questionário estruturado foi escolhido por facilitar a participação dos colaboradores que devido a pandemia encontravam-se sobrecarregados com o trabalho e família. Outro fator considerado para a seleção das respostas de forma objetiva, foi a dificuldade que os participantes brasileiros tiveram ao trabalhar com o programa “WordPad”. Antes de responder o questionário os colaboradores conheceram o objetivo da pesquisa, como também lhes foi solicitado respostas de acordo com a realidade. 

Se fez necessário transcrever o questionário de Hitchin para o inglês, entretanto, as perguntas foram as mesmas enviadas para os pais do Brasil, pois o objetivo central foi identificar os ganhos e percas que as crianças tem quando estimuladas a ler desde cedo. Após a devolutiva do questionário, chegou-se as seguintes respostas:

Questão 1: Com qual idade seu filho disse as primeiras palavras? 

Conclui-se que: as crianças analisadas no Brasil aprenderam a falar mais cedo do que as crianças da Inglaterra, porém essa diferença é amenizada quando observa-se que há uma grande desigualdade com relação ao desenvolvimento da fala a partir de um ano e cinco meses, 40% das crianças brasileiras iniciam a falar com essa idade, enquanto na Inglaterra a porcentagem obtida foi zerada. 

Questão 2: Com que idade seu filho (a) foi capaz de construir frases curtas?

Obserou-se que nesse quesito, que as crianças brasileiras levaram vantagem, 60% dos entrevistados brasileiros responderam que seus filhos foram capazes de construir frases a partir de um ano, enquanto na Inglaterra a porcentagem ficou entre 10%. Ambos os países estão consideravelmente dentro da “média” esperada para o desenvolvimento da fala infantil. 

Questão 3: Com qual idade seu (a) filho(a) ganhou o primeiro livro?

A diferença apresentada através das perguntas de número (3) é alarmante, 90% das crianças inglesas ganham o seu primeiro livro ainda na gestação, enquanto no Brasil, esses números caem para 20%. Em média, as crianças brasileiras ganham seu primeiro livro de leitura entre um e três anos de idade, infelizmente, as percas são significativas, o vocabulário torna-se restrito ao do contexto familiar e o contato com o livro acabada sendo postergado e não tão bem desenvolvido, já que a fase sensorial acaba sendo enfraquecida. Os livros devem proporcionar as mais diversas experiências e quanto mais cedo a criança tiver contato com eles, mais ricas serão suas experiências. 

O acesso ao livro no Brasil precisa tronar-se acessível e democrático, se as famílias não dão a devida importância a leitura, se faz necessário dialogar com elas, se o problema for os recursos financeiros para promover a prática, é necessário investir em bibliotecas públicas com mais materiais infantis e incentivar a prática da musicalização e da contação de histórias orais. 

Questão 4: Quantos livros seu filho (a) lê por mês?

Percebe-se que ás crianças da Inglaterra leem consideravelmente mais do que as do Brasil, essa diferença possivelmente se dá pelo incentivo precoce a leitura que os pequenos recebem ainda durante a gestação, na cidade de Hitchin é durante o Pré-Natal que as crianças recebem o seu primeiro livro de leitura, esse incentivo parte da importância que o governo encara a leitura, pois a oferta dos livros é totalmente gratuita.

Questão 5: Com que frequência você participa dos momentos de leitura de seu(a) filho(a)? 

Há uma grande diferença entre os países na colaboração familiar para o incentivo à leitura. As famílias inglesas são mais participativas nos momentos de leitura de seus filhos, 67% dos entrevistados responderam que contribuem diariamente na leitura de seus filhos, enquanto no Brasil esse número cai para 40%. A diferença fica mais alarmante quando 40% dos pais brasileiros afirmam que apenas uma vez no mês costumam ler com seus filhos. 

Reconhecida a influência dos pais no incentivo à leitura dos filhos, percebese quanto é necessário o trabalho com as famílias brasileiras no intuito de que reconheçam sua responsabilidade na formação leitora dos filhos, é preciso trazer as famílias brasileiras para dentro das escolas e trabalhar com elas formas de se manterem presentes nesse processo.

Questão 6: Você acredita que seu filho (a) tenha o gosto pela leitura?

Em ambos os países quase 100% dos pais acreditam que seus filhos gostem de ler. Essa conclusão baseia-se na observação que os adultos tiveram enquanto seus filhos realizavam momentos de leitura, enquanto lê a criança, explora todo seu potencial imaginativos e passa a compreender melhor o mundo em que estão inseridas, quando a leitura chega em seu auge, a criança diverte-se e sorri, pois sente prazer no que faz. 

Entretanto, outras tantas pesquisas afirmam que as crianças brasileiras detestam ler e só fazem isso porque são obrigadas, sondando a realidade, constata-se que os alunos não gostam de ler quando essa é apresentada como forma de punição e sem nenhuma ludicidade. A leitura deve ser apresentada para os pequenos através da magia, ela deve ser diária e conter muitos significados. 

Questão 7: A escola que seu filho (a) frequenta promove algum trabalho para incentivo da leitura?

A participação escolar é muito presente na formação de leitores infantis, é nela quem vem inserido os alunos no mundo da leitura e demonstra como ela está presente no dia a dia dos estudantes. Essa função que as instituições de ensino cumprem é de suma importância, pois as crianças acabam compreendendo a influência da leitura nas suas vidas e o ato de ler torna-se essencial. 

Mesmo a produção de uma literatura exclusiva para o público infantil ser recente, muito se evoluiu no quesito graças a participação ativa das escolas que tem se desdobrado para tentar tornar a leitura mais interessante e atrativa para os pequenos. 

Questão 8: A escola que seu filho (a) frequenta cobra de alguma forma a leitura dos alunos? 

É importante ressaltar que com essa pergunta, objetivou-se descobrir se as escolas cobram a devolutiva das leituras de seus alunos. Como já mencionado, para os participantes ingleses as perguntas foram traduzidas para a sua língua, observouse através das respostas que a grande maioria não compreendeu o sentido da pergunta através da tradução realizada. 

Portanto, serão destacadas as informações brasileiras, 60% das respostas afirmaram que sim, a escola coleta a contribuição do texto na vida da criança, o que de fato deve ser realizado. Questionando a criança e a família sobre a leitura, a escola demonstra-se presente e participativa no processo. 

Questão 9: Vocês família, responsáveis pela educação da criança, como classificam o nível de dificuldade que a criança possui referente a aprendizagem escolar? 

Através das respostas obtidas é possível afirmar que a leitura influencia no rendimento escolar, e é aceitável dizer que as crianças da Inglaterra leem muito mais que as do Brasil, essa desigualdade só não foi maior devido os resultados obtidos, onde os pais tornam sólida a ideia que as crianças gostam de ler. 

Induz-se que quanto mais as crianças leem, maiores serão suas facilidades na jornada escolar, lendo a criança desenvolve a capacidade de concentração e também de interpretar, qualidades essas essenciais para todas as disciplinas. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A construção de um perfil leitor denota tempo e muita dedicação, o processo é facilitado quando todos em contato com a criança participam. Incentivar a leitura não requer investimentos financeiros, apenas tempo. Impossível é não interligar as palavras progresso, desenvolvimento e exemplo quando se pensa em literatura infantil. 

As preferências literárias dos pequenos leitores é fruto das necessidades que apresentam-se a ele durante seu desenvolvimento, a criança busca e identifica nos personagens fictícios os mesmos dilemas que enfrenta, na angústia de tentar encontrar respostas e soluções para os problemas da vida real. 

Portanto, é a partir da leitura que a criança compreende e interage com o mundo a sua volta, além de compreender seu papel na sociedade. A criança que lê ou escuta histórias, possui um vocabulário extenso, boa comunicação, facilidade ao se expressar e ao lidar com suas emoções, além é claro de ser mais criativa. 

A escola possuí papel fundamental para a formação de leitores, entretanto, não é a única responsável por isso. A família deve incentivar as crianças a ler e isso pode iniciar muito cedo através de diálogos e cantigas, sempre que família e escola trabalham juntas no incentivo à leitura, quem sai ganhando é a sociedade. É importante também, delegar ao governo suas atribuições, os projetos de incentivo à leitura necessitam mais respaldados financeiros e de fato atender todas as escolas brasileiras. 

Muito tem que se fazer para instaurar no Brasil a cultura leitora como observase na Inglaterra e a mudança deve iniciar já. A escola é quem tem capacidade de fazer a diferença e desenvolver projetos que envolvam a leitura de forma dinâmica e atrativa para os estudantes, a leitura precisa ser integrada no dia a dia escolar sem ser maçante e sem ser encarada como punição. 

O lúdico deve ser incrementado nos projetos de leitura, deve estar presente nas contações de história e na prática da leitura, fantasias e fantoches. Devem fazer parte do cotidiano escolar, pois só assim os níveis da educação brasileira irão conseguir se fortalecer e os primeiros passos na formação de um país leitor serão dados. 

As pesquisas afirmaram que o Brasil não é um país leitor, pois não existem políticas públicas suficientes para o incentivo da leitura, os pais das crianças como foram ensinados numa cultura não leitora, acabam não percebendo como a leitura infantil influencia na vida adulta. Entretanto, as escolas vem relutando e desenvolvendo com as crianças o hábito da leitura.

Poucos livros proporcionam respostas, a maioria deles nos trazem perguntas e reflexões. Uma incrível viagem pelo mundo da fantasia e da imaginação, esse é o mundo que as crianças precisam para criar o hábito da leitura e todos os adultos responsáveis por elas devem buscar e garantir esse direito.

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