POR RENATA BRAVO - DESDE 2013
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No mundo globalizado, nos deparamos com um consumismo exagerado na aquisição de bens de consumo por parte de todas as populações e, com isso, acabamos produzindo uma quantidade enorme de lixo por habitante, cujo destino final nem sempre é o adequado pelos governos e políticas de saúde dos países. Estudos revelam que 30% do lixo produzido no Brasil, são jogados nas ruas sem nenhuma preocupação por parte da população, isto acaba ocasionando problemas sérios e graves ao meio ambiente que afetam a todos nos grandes centros urbanos. Problemas como: entupimento de bueiros e galerias pluviais, podem causar doenças transmitidas pela água contaminada que tem dificuldade de escoar, propiciando doenças como: cólera, hepatites, leptospirose, dengue entre outras. A contaminação do solo também é um indicativo importante para surgimento de outras doenças na população, cuja transmissão ocorre predominantemente por animais sinantrópicos como: roedores, insetos, aranhas entre outros. É importante que tenhamos uma responsabilidade ambiental no sentido de mudar paradigmas, nos cerceando de conscientização coletiva, para mudança de hábitos nas pessoas, para que possamos melhorar a nossa qualidade de vida com atitudes como:
-Realizar coleta seletiva de lixo em: indústrias, residências, serviços de saúde, restaurantes e Instituição de longa permanência para idosos entre outros; -Utilizar materiais recicláveis na construção civil; -Estimular o surgimento de cooperativas com inclusão de catadores de materiais recicláveis; -Preservar e recuperar áreas verdes; -Estimular a agricultura urbana; -Usar copos individuais nos locais de trabalho.
Com estas atitudes individuais, conseguiremos alcançar o objetivo de um meio ambiente mais saudável e agradável para futuras gerações, isentando-as de acometimento por doenças e complicações destas, que podem evoluir para mortes, decorrentes do desrespeito ao solo urbano e rural , no qual estamos vivenciando atualmente.
VAMOS SUPERAR A ERA DO DESPERDÍCIO E TRANSFORMAR O LIXO EM RECURSO.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

O botânico e o mecenas: João Barbosa Rodrigues e a ciência no Brasil na segunda metade do século XIX

O trabalho analisa a trajetória científica do naturalista brasileiro João Barbosa Rodrigues, enfatizando seus estudos botânicos e abordando os seguintes aspectos: a história natural e a política científica brasileira a partir da segunda metade do século XIX; a transformação de Barbosa Rodrigues de botânico amador em profissional; a decisiva influência do mecenas Guilherme Schüch de Capanema em sua carreira; e a afirmação de Rodrigues como membro do cenário científico nacional e internacional.

Introdução

A segunda metade do século XIX pode ser caracterizada como uma época de mudanças significativas no cenário científico nacional. A afirmação da comunidade científica brasileira começou a se definir a partir de movimentos liderados por alguns doutos cientistas que, pressionando por uma política mais agressiva do governo em relação à reformulação das instituições científicas e ao apoio a cientistas nacionais, criaram um cenário propício ao desenvolvimento de velhas e novas disciplinas ligadas às ciências e à formação de especialistas brasileiros que se tornariam referência mundial.

Durante esse período, disputas e divergências entre os acadêmicos eram tornadas públicas e veiculadas nos principais jornais da Corte. O apoio do imperador a eventos e publicações científicas chancelava os empreendimentos promovidos pelos cientistas. Também à época, a formação acadêmica no exterior e a convivência com cientistas estrangeiros de renome constituíam credenciais para que os cientistas brasileiros se afirmassem entre seus pares. A inserção de João Barbosa Rodrigues no meio científico nacional vai acontecer nesse cenário de afirmação da ciência produzida no Brasil. Sem qualquer expressão no meio científico, Barbosa Rodrigues apresentou, no ano de 1870, uma obra sobre orquídeas brasileiras cientificamente ilustrada por ele, que incluía descrições de inúmeras espécies novas. Para surpresa de uns e incredulidade de outros, esse desconhecido estudioso da flora brasileira vai se tornar, no decorrer dos anos, um dos cientistas de maior expressão no país e no exterior.

Durante sua carreira científica (1871-1909), Barbosa Rodrigues irá se caracterizar essencialmente como um cientista polêmico, ambicioso e astuto. Autodidata, envolveu-se com temas tão diversificados como a etnografia, a lingüística, a arqueologia, o indigenismo, a botânica, a química e a farmácia. Sua neta, Dilke de Barbosa Rodrigues Salgado (1945), publicou um livro em que discute a vida e a obra de Barbosa, usando, além de fontes secundárias, relatos de familiares e documentação concernente em posse da família. Outra descendente de Barbosa Rodrigues, Flora Castaño Ferreira, também possuidora de material inédito de seu bisavô, publicou em parceria com Scott Mori, do Jardim Botânico de Nova York, trabalho com material científico inédito de Barbosa Rodrigues (Mori e Ferreira, 1987). Várias outras biografias do botânico brasileiro surgiram através dos anos (Ihering, 1911; Hoehne, 1941; Pereira, 1942); e sua obra sobre palmeiras amazônicas foi analisada criticamente em 1995 por Henderson, um especialista do Jardim Botânico de Nova York.

Apesar de toda a correspondência e documentos particulares de Barbosa Rodrigues terem permanecido com a família e se extraviado ao longo do tempo (Mori e Ferreira, 1987), é possível refazer sua trajetória científica por meio das inúmeras publicações técnicas e artigos em jornais da época, assim como pela escassa documentação primária depositada em instituições como o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu Imperial em Petrópolis. No presente artigo, pretende-se analisar a trajetória de Barbosa Rodrigues no cenário botânico nacional e mundial por intermédio das fontes já citadas e outras primárias ainda inéditas, como correspondência e diários de viagem de naturalistas contemporâneos. Tal material encontra-se depositado em instituições brasileiras e estrangeiras e está discriminado ao longo do trabalho. Através de uma apreciação crítica baseada em tais fontes, tem-se por objetivo compreender a especificidade de sua trajetória de amador a cientista e o apoio do barão de Capanema a este personagem que, ainda hoje, é aclamado por especialistas como um dos maiores botânicos do Brasil.

1| O botânico brasileiro Francisco Freire Alemão Cysneiros foi um dos primeiros a protestar contra a falta de reconhecimento, pelos naturalistas estrangeiros, dos trabalhos realizados pelos brasileiros. Ele acusava principalmente os botânicos, e em particular Carl von Martius, que estava sempre pedindo que lhe enviassem material do Brasil para que fosse analisado pelos especialistas estrangeiros e incluído em sua obra Flora Brasiliensis, não levando em consideração as descrições feitas pelos brasileiros (Neiva, 1929, p. 26).

2| Estatuto da Sociedade Vellosiana de 6 de setembro de 1850 (Arquivo Histórico-Administrativo do Museu Nacional, pasta 3, doc. 157).

3| Vários naturalistas estrangeiros que trabalhavam no Brasil enviavam periodicamente material científico e o resultado de suas pesquisas para publicação às suas instituições de origem (Mello Leitão, 1937).

A história natural no Brasil na segunda metade do século XIX

É de lastimar que o Brasil, onde se pensa tanta coisa boa e grandiosa, ainda se não tenha cuidado em preparar os elementos para uma exploração científica, de que tanta utilidade tiraríamos, quando mais não fosse, o sermos tratados com consideração, e não com desprezo pelo estrangeiro, a quem até hoje ainda se deve o que a ciência tem descoberto sobre este vasto império (Capanema, 1859).

Com esse desabafo, Guilherme Schüch, barão de Capanema, dirigiu-se aos membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) em sessão realizada em 1854. Amigo de infância de d. Pedro II e de grande influência na Corte, Capanema — engenheiro, geólogo e apaixonado por botânica — incluía-se entre os brasileiros que propunham uma nova ordem em relação ao apoio governamental aos estudiosos nacionais.

As reivindicações de Capanema encontravam respaldo entre os membros da comunidade científica, que condenavam os privilégios concedidos pelo governo a naturalistas estrangeiros que visitavam o país, grande parte deles em busca de mera promoção pessoal. O acesso irrestrito desses estrangeiros às informações científicas acumuladas nas instituições locais era, segundo os naturalistas brasileiros, usado aberta e indiscriminadamente pelos visitantes em benefício próprio. Também motivo de crítica era o descaso dos estrangeiros com os trabalhos científicos desenvolvidos pelos
4| Manuscrito Museu Imperial de Petrópolis, Arquivo D. Pedro II, M. 25, doc. 913.

5| Ver relação dessas publicações em Guimarães (1952); Barbosa Rodrigues (Rodriguesia, 15, no 27, pp. 191-212).

6| Manuscrito Museu Imperial de Petrópolis, Arquivo D. Pedro II, M. 25, doc. 913.


Botânico amador ou profissional? A comunidade científica brasileira surpreendida

Em 1870, João Barbosa Rodrigues surpreendeu a comunidade científica nacional com a apresentação de uma obra sobre orquídeas brasileiras, em três volumes e com descrições em latim e francês. A imprensa da época assim noticiou o feito: "Dr. João Barbosa Rodrigues, após longos anos de estudos botânicos e de longas viagens pelas florestas do Brasil, tinha conseguido fazer o mais profundo e completo trabalho até hoje conhecido sobre a família das orquídeas brasileiras, do qual tinha prontos três volumes de estampas com descrições em latim e
(1869) partiu para o centro de Minas o sr. Barbosa a estabelecer-se ali com uma coudelaria provisoriamente, como o disse a todo o mundo, e como creio, pois nesse tempo falava-se muito do C. Jacome e do gosto apurado que aquele inteligente brasileiro soube dar ao estudo da equitação, e o sr. Barbosa, invejoso como sempre, ia tentar pôr-lhe a barra à frente nessa especialidade. A demora que devia ser de três meses elevou-se ao duplo desse prazo. O homem voltou afinal, mas não já com a tendência para cavalos; vinha com alguns espécimens de Orchidaceas mineiras e trazia o projeto de desenho em grande álbum. Procurou-me e consultou-me a respeito e respondi-lhe que para desenhar uma planta era preciso conhecer tecnicamente o vegetal e que, com toda a cordura, lhe aconselhava que tomasse um compêndio elementar qualquer e o estudasse antes de empreender o seu louvável trabalho. O conselho não lhe agradou ao que me pareceu, pois, tendo tomado em seguida quase nova residência, nunca mais me apareceu.

7| Manuscrito Museu Imperial de Petrópolis, Arquivo D. Pedro II — Correspondência Barbosa Rodrigues, 1870.

8| Manuscrito Museu Imperial de Petrópolis, Arquivo D. Pedro II, M. 25, doc. 913.

Ladislau Netto era, à época, chefe interino da seção de botânica do Museu Imperial e secretário perpétuo da Sociedade Vellosiana. Barbosa, ao mostrar sua coleção de orquídeas e projeto de ilustração científica a Netto, esperava apoio, e nunca a reação desencorajadora que recebeu. Contudo, Netto, que tinha sérias restrições a ele, especialmente em relação a seu caráter, julgou ser esta mais uma tentativa de Barbosa projetar-se mesmo sem reunir condições científicas para realizar tão ambiciosa obra.

Para surpresa geral, entretanto, um ano depois, Barbosa Rodrigues apresentou à sociedade científica brasileira a sua obra sobre orquídeas do Brasil (Figura 1). Em carta enviada ao imperador, solicitou "proteção imperial e permissão ao imperador para dedicar sua obra a ele". Ao mesmo tempo, afirmava ao imperador ter sido incentivado em seu trabalho pelos botânicos Francisco Freire Alemão e frei Custódio Alves

9| Ludwig Riedel, botânico alemão residente no Brasil desde 1820, foi convidado pelo barão de Langsdorff para participar da expedição científica comandada por ele ao interior do Brasil. Ao final da expedição (1825-29), Riedel radicou-se no Rio de Janeiro, ocupando o posto de diretor do Jardim do Passeio Público e, posteriormente, diretor da seção de botânica do Museu Nacional. Faleceu em 1861.

10| Stephan Ladislau Endlicher foi o primeiro colaborador de Martius na Flora Brasiliensis.


O fato de Barbosa Rodrigues ser realmente um amador contribuiu muito para que seu trabalho não fosse reconhecido como realização científica. A institucionalização de disciplinas ligadas à história natural, como a zoologia, a botânica, a geologia e a arqueologia, na época, contribuiu para que animosidades surgissem entre os que se consideravam cientistas profissionais e os amadores, incluindo-se entre os últimos tanto o barão de Capanema, com seu interesse por botânica, como Barbosa Rodrigues, na época apenas um professor de desenho do Colégio Pedro II. A rejeição inicial a Barbosa pode ser comparada à sofrida pelo também ilustrador científico e naturalista amador inglês William Swainson. Igualmente autodidata, Swainson acabou por não obter o reconhecimento almejado por parte da comunidade científica da época, ainda que tenha conseguido reunir uma rica coleção de vários grupos animais e vegetais, com coletas em várias partes da Europa e da América do Sul, e descrito e ilustrado primorosamente não só exemplares por ele coletados como outros existentes em coleções européias (Parkinson, 1984; Knight, 1986).

As divergências de Ladislau Netto com Barbosa Rodrigues e o barão de Capanema foram bem exploradas pela imprensa, com acusações mútuas tornadas públicas em vários jornais e periódicos da época.

Capanema, apesar de engenheiro e atuando como geólogo, tinha na botânica um dos seus hobbies científicos. Trabalhou na seção de geologia do Museu Nacional, tendo participado da 1ª Expedição Científica Brasileira. Foi também um dos fundadores da Sociedade Vellosiana, que acabou por abandonar, em razão de desentendimentos com outros membros, levando-o a fundar outra sociedade, a da Palestra Científica.

Segundo Capanema, seu interesse pela botânica começou ainda na infância, graças à sua convivência com Ludwig
11| Eichler faleceu em 1887, tendo sido substituído por Ignacio Urban, botânico de nacionalidade alemã. A Flora foi finalizada em 1906, com cerca de vinte mil espécies descritas. Dos 65 naturalistas participantes, 38 eram alemães, cinco austríacos, cinco ingleses, cinco suíços, quatro franceses, dois belgas, dois dinamarqueses, dois tchecoslovacos, um holandês e um húngaro (Mello Leitão, 1937).

12| Ver documentos depositados nos Arquivos do Museu Nacional (AAHCMN, docs. 35, 1874; 31, 33 e 34, 1876).

Um naturalista no campo: o aprendizado com os caboclos e os indígenas

Após o polêmico julgamento de seu trabalho sobre orquídeas, Barbosa Rodrigues, sob o patrocínio do barão de Capanema, foi comissionado pelo governo brasileiro para explorar o vale do rio Amazonas, "tendo entre outras obrigações a de completar, corrigir e aumentar o gênero Palmarum do venerado Martius". O naturalista bávaro Carl Friedrich von Martius havia percorrido a região amazônica no início do século XIX e se dedicado às palmeiras do Brasil, tendo recebido subsídio do governo brasileiro para editar sua obra Flora Brasiliensis. Após a morte de Martius, em 1868, o botânico alemão August Eichler assumiu a edição do trabalho, tendo se mantido o apoio do governo
13| Regnell nasceu em Estocolmo em 1807 e faleceu em Caldas (MG) em 1884. Veio para o Brasil para tratamento pulmonar, aqui completando seus estudos na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Fixou residência em Caldas, em 1841, dedicando-se à clínica e à coleção botânica. Financiou a vinda de vários botânicos suecos para estudar e coletar material no Brasil. Sua coleção atualmente se encontra na Suécia e leva o seu nome.



A habilidade de Barbosa para distinguir espécies na natureza foi provavelmente adquirida quando de suas primeiras excursões, em companhia do botânico sueco Salamon Eberhard Henschen, pelas serras de Minas Gerais, em busca de orquídeas. Henschen viera para o Brasil a convite do médico sueco e colecionador botânico Anders Fredrick Regnell, que residiu na cidade de Caldas, em Minas Gerais. Regnell financiava compatriotas seus para virem ao Brasil estudar e aumentar a coleção de plantas que possuía.



Prioridade científica: a eterna luta de Barbosa

Quando se encontrava em Óbidos no ano de 1873, Barbosa foi procurado por três britânicos que participavam de uma expedição de exploração na região amazônica a serviço da companhia de navegação Amazon Steam Navigation Company. Os britânicos — um botânico e médico, um engenheiro e um geólogo — haviam acabado de chegar à cidade e, ao tomarem conhecimento da presença de um especialista em botânica da capital do Império, prontamente se dirigiram à residência de Barbosa. Sentindo-se lisonjeado, Barbosa recebeu-os de forma fraternal, tendo lhes mostrado com orgulho seus desenhos e coleções. Dessa visita, o botânico britânico James William Helenus Trail registrou (apud Sá, 1998, p. 152):

Barbosa Rodrigues aparenta um pouco mais de trinta anos, e tem postura (óculos) e toda aparência de um cientista alemão. Ele acabou de voltar de uma viagem de exploração ao rio Urubu e encontrou um bom número de palmeiras. Ele nos mostrou um grande número de ilustrações de palmeiras e orquídeas que fez, das quais ele pensa que muitas são espécies novas, mas ele não conhece nenhum trabalho sobre palmeiras americanas, com exceção dos de Martius e Kunth, Enumeratio Palmarum. Ele passou algum tempo em Ererê e nos mostrou fósseis que ele pegou perto de um córrego... Ele lê bem inglês, mas não consegue falar.

Dias mais tarde, Barbosa Rodrigues retribuiu a visita aos ingleses, tendo o botânico Trail registrado na ocasião:

Cerca de meio-dia, B. Rodrigues chegou e sentou conosco por algum tempo. O trabalho de Spruce sobre palmeiras interessou muito a ele, especialmente quando eu chamei a atenção para uma ou duas descrições (feitas por Spruce) que se encaixavam nas espécies coletadas por ele (Barbosa). Logo depois eu o acompanhei até sua casa para ver o restante de seus desenhos sobre palmeiras... Entre os seus livros existiam muitos trabalhos em inglês, especialmente Lindley...

Trail e Barbosa iniciaram então uma relação de camaradagem, trocando informações científicas e participando de coletas conjuntas; homenageavam um ao outro, nomeando espécies novas de plantas (no caso, palmeiras) (Figura 5). Barbosa Rodrigues esforçava-se ao máximo para agradar aos visitantes estrangeiros. Após alguns dias de convivência harmoniosa, contudo, um sentimento de desconfiança surgiu no brasileiro, que passou a achar suspeito o excessivo interesse do botânico europeu pelas mesmas palmeiras que vinha coletando. Tal sentimento fez com que Barbosa não mais fornecesse informações a Trail, e após um mês de pacífica convivência teve início um processo de competição entre eles. As conseqüências do episódio, contudo, só iriam transparecer anos mais tarde.

Ao regressar ao Rio de Janeiro, Barbosa Rodrigues (1875) publicou imediatamente a diagnose das palmeiras que havia coletado durante os três anos e meio que passou na região amazônica, tendo enviado prontamente uma cópia do trabalho para o Jardim Botânico de Kew, em Londres. Os pesquisadores de Kew, sabedores do interesse de Trail por palmeiras e de quem vinham recebendo material coletado na Amazônia, contataram imediatamente o botânico europeu para obter informações sobre o brasileiro e sua coleção de palmeiras. Surpreso com a rapidez com que Barbosa publicou o trabalho sobre as palmeiras da Amazônia, Trail respondeu assim aos pesquisadores de Kew, em carta ao seu diretor, Joseph Hooker:

...Eu fiquei muito surpreso ao saber que ele (Barbosa) tinha publicado suas descrições ... . ele me disse no Pará, antes de eu deixar o Brasil, que ele pretendia vir à Europa para comparar suas descrições com as várias espécies/tipos e consultar os trabalhos publicados a que ele não tinha acesso no Brasil... ele me prometeu cópias das diagnoses de suas espécies novas quando nos encontramos no Pará... Eu atribuo sua pressa em publicar ao medo de que eu pudesse antecipá-lo... Eu dei a ele quatro espécies com os nomes e diagnoses caso sejam novas. Se ele clama essas espécies como dele, ele mostra que é inescrupuloso e procura anexar seu nome às espécies a qualquer meio... (manuscrito D.C. vol. 103, doc. 305-306, Arquivos do Royal Botanic Gardens, Kew).

Um ano após ser lançado o trabalho de Barbosa, Trail publicou um estudo sobre o material de palmeiras coletado por ele na Amazônia, ignorando então algumas das descrições publicadas por Barbosa em 1875. Tinha tomado tal decisão porque considerava ter ele prioridade sobre a descrição dessas espécies, já que, antes de partir do Pará para a Inglaterra, havia deixado com Barbosa amostras desse material com suas respectivas diagnoses (Trail, 1877a; 1877b; 1876). Tomando a atitude de Trail como um insulto, tendo-a considerado mesmo como um desrespeito aos naturalistas brasileiros, já que a prioridade é de quem publicou primeiro, Barbosa Rodrigues (1903; 1888; 1882; 1879) desencadeou uma série de protestos publicados (Figueiredo, 1879).

Apesar das reivindicações de Barbosa contra a pretensa usurpação do botânico europeu em relação às suas espécies novas, foi Trail o escolhido para colaborar na Flora Brasiliensis na parte relativa às palmeiras. É interessante notar que Barbosa, que fora rejeitado pelos botânicos brasileiros, tivera seu trabalho plagiado por um cientista europeu. Trail, médico de formação que cursara botânica na faculdade e havia atuado como monitor desta cadeira, ao conhecer Barbosa, não questionou seus conhecimentos botânicos, tendo mesmo trocado informações e opiniões com o brasileiro sobre estruturas das plantas. A única objeção que fazia a Barbosa era precisamente a mesma que os naturalistas estrangeiros faziam aos brasileiros, ou seja, a escassez de bibliografia técnica para consulta e a falta de coleções de referência para comparação de exemplares. De fato, o trabalho de identificação taxionômica e descrição de novas espécies baseia-se essencialmente em comparações morfológicas, sendo fundamental a existência de material comparativo.

Ao mesmo tempo que Barbosa travava disputa com o botânico europeu, uma outra pendência sobre prioridade científica desenvolvia-se entre ele e naturalistas alemães e belgas. Nesse caso, porém, o objeto de disputa era seu trabalho sobre orquídeas brasileiras.

Após ter-se inviabilizado a publicação de sua obra sobre orquídeas em 1871, Barbosa partiu para a Amazônia e lá procurou conciliar estudos sobre palmeiras com os referentes às orquídeas da região. Nesse meio tempo, o barão de Capanema tomou a iniciativa de enviar um exemplar da obra de Barbosa sobre orquídeas para August Eichler, botânico alemão que à época era o responsável pela continuação da edição da Flora Brasiliensis (arquivo Capanema, manuscrito GScrp 10, depositado no Museu Histórico, RJ). O botânico alemão Heinrich Gustav Reichenbach, considerado o maior especialista em orquidologia da época e convidado por Eichler para escrever a parte dedicada às orquídeas da Flora, teve em mãos o exemplar da obra de Rodrigues e, em carta ao amigo Regnell, escreveu:

O objetivo de minha carta é falar sobre o sr. Barbosa Rodrigues. Devo admitir que suas pesquisas são muito boas, e que nós poderíamos ser úteis um ao outro. Se ele publicar suas orquídeas, acredito que metade já tenha sido descrita, e ele poderia evitar esta duplicação trazendo para a Europa os tipos de suas novas descobertas, e assim ninguém poderia contestá-lo. É sabido ser impossível produzir um trabalho perfeito (de taxionomia) fora da Europa... Por favor, gostaria de chamar a atenção de seu amigo para esses fatos e dizer a ele que eu me ofereço a publicar suas novas descobertas em co-autoria... Por favor, informe-me imediatamente de sua decisão e envie a ele meus respeitos... (Barbosa Rodrigues, 1877).

Informado por Regnell do conteúdo da carta, Barbosa não aceitou a oferta e, em 1877, publicou a diagnose de suas espécies sem contudo ilustrá-las. A justificativa para tal atitude dada por Barbosa foi a de que ele já havia se comprometido com editores brasileiros e estes não aceitaram interromper o processo de impressão da obra. Reichenbach, desiludido por Barbosa ter rejeitado publicar em co-autoria a diagnose das orquídeas brasileiras, retirou sua proposta e acabou desistindo de participar da Flora Brasiliensis. Barbosa (1882), por seu turno, continuou a receber ofertas de outros pesquisadores encarregados de escrever a parte de orquídea da Flora; contudo, não as aceitou por julgá-las desfavoráveis a ele. Após desencontros vários, até mesmo entre os próprios botânicos europeus, o belga Alfred Cogniaux finalmente aceitou assumir a tarefa. Conhecedor do trabalho de Barbosa, Cogniaux igualmente convidou-o a participar da obra de Martius por meio da utilização dos seus desenhos de orquídeas ainda inéditos e das descrições das espécies novas. Em 1892, Barbosa finalmente aceitou o convite.

Desiludido com a indiferença demonstrada para com sua obra por seus conterrâneos, Barbosa enviou seu material iconográfico para a Europa, tendo permitido que todas as suas pranchas fossem copiadas no Jardim Botânico de Kew, Inglaterra, tal foi o sucesso que seus desenhos fizeram. Entre 1894 e 1895, Harriet Thieselton-Dyer, filha de Joseph Hooker e esposa do então diretor de Kew, William Thieselton-Dyer, dedicou-se a copiar as mais de trezentas pranchas de orquídeas brasileiras de Barbosa Rodrigues (Sprunger et alii, 1996) (Figura 6).

14 Amaral (1951), Ofiólogo Lacerda (em João Batista de Lacerda, Comemoração do centenário de nascimento 1846-1946, Publicações Avulsas do Museu Nacional, RJ).


Das 372 pranchas publicadas em preto-e-branco na Flora Brasiliensis, 267 foram copiadas dos originais de Barbosa Rodrigues. Em relação a isso, ele nunca deixou de registrar em seus trabalhos posteriores uma grande frustração em relação à ínfima participação que teve na elaboração da parte de orquídeas da Flora Brasiliensis. A mágoa que ele e outros naturalistas compatriotas tinham referia-se ao fato de que, já que o governo brasileiro subsidiava a monumental obra, deveria incentivar a participação de cientistas nascidos aqui na sua elaboração e não tolerar sua atuação como meros colaboradores dos 'grandes especialistas europeus'.

A iconografia das orquídeas brasileiras de Barbosa permaneceu inédita por mais de um século, só tendo sido finalmente publicada por Sprunger em 1996. Os originais acabaram sendo desmembrados: dos seis volumes produzidos, o quarto (provavelmente após a sua morte) foi levado para os Estados Unidos e hoje encontra-se depositado na Universidade de Harvard, no Oakes Ames Herbarium.

As disputas que envolveram Barbosa na década de 1870 sobre prioridade científica culminaram com uma grande polêmica, que atingiu até mesmo membros da Academia de Medicina. Barbosa, que na Amazônia havia assimilado dos indígenas o preparo do curare, observando as espécies vegetais empregadas em sua confecção, alimentou uma calorosa discussão entre 1878 e 1879 com João Batista de Lacerda, médico e antropólogo do Museu Nacional. A desavença entre os dois foi desencadeada por opiniões divergentes em relação ao vegetal usado na preparação do curare e ao antídoto que poderia ser empregado para neutralizar o
15 Tribo indígena que vivia às margens do rio Jatapu, afluente do rio Uatumã, no Pará.

16 Segundo o botânico do Museu Nacional, prof. Luiz Emygdio de Mello Filho, a pariquina foi comercializada até meados de 1930 (comunicação pessoal).

A afirmação de Barbosa Rodrigues como cientista no cenário nacional e internacional

Em seu artigo 'Mbaé-Kaá', Barbosa Rodrigues (apud Hoehne, 1925) destacou:

Os índios agrupam as espécies em gêneros e conhecem perfeitamente a utilidade do sistema binário, sem contudo o terem aprendido do sábio sueco. Se perguntarmos a um silvícola o que são: merity, assahy, buriti, e outras palmeiras, eles responderão que são pindós, isto é, plantas da família das palmeiras. Na taxionomia os nomes que eles dão às espécies vegetais traduzem muitas vezes bem melhor os caracteres das mesmas, que aqueles escolhidos pelos discípulos de Lineu.

Barbosa Rodrigues foi um excelente observador dos costumes dos indígenas, principalmente em relação ao conhecimento e uso da natureza por eles. Publicou vários trabalhos de etnografia e aprendeu com os índios
Avesso a empregar medicamentos privilegiados e secretos, cuja ação por esses mesmos motivos considero problemática, não representando a meus olhos senão uma variante dos numerosos meios usados e abusados do mais desenfreado mercantilismo, não trepidei, contudo, em prescrever a pariquina aos doentes que se entregavam aos meus cuidados profissionais... Não me arrependi; muito pelo contrário, é com grande satisfação que o declaro, não só emprego quotidianamente a pariquina como julgo de meu dever aconselhar a divulgação do seu emprego a bem do nosso povo tão flagelado por afecções hepáticas.

17 A Vellosia teve seu primeiro volume impresso em Manaus em 1888. Retirada de circulação por problemas gráficos, teve sua segunda edição impressa no Rio de Janeiro em 1891.

18 Joaquim Campos Porto, ex-secretário do Museu Botânico do Amazonas e genro de Barbosa Rodrigues, publicou na segunda edição da Vellosia (p. 76), as impressões deixadas pelo viajante Frank Vincent em Around and about South América, sobre o Museu Botânico.

A Revista do Instituto Histórico e Geográfico serviu bem aos propósitos de divulgação e promoção dos trabalhos realizados por Barbosa com os indígenas e sobre a geografia da região amazônica. Em 1876, Barbosa Rodrigues, Guilherme S. de Capanema e Baptista Nogueira fundaram uma revista dedicada à divulgação científica intitulada Ensaios de Sciencia, deixando claro, porém, que ela representaria um espaço para que os amadores pudessem divulgar suas investigações. A revista teve apenas três números — o último em 1879. Outra publicação utilizada por Rodrigues como meio para divulgar seus trabalhos foi a Revista de Horticultura, que teve quatro volumes editados durante os anos de 1876 e 1879.
Na década de 1880, Barbosa foi convidado por Capanema para trabalhar na fábrica de formicida que este possuía em Rodeio. Não tendo até então conseguido se firmar profissionalmente como botânico, para lá mudou-se Barbosa Rodrigues com a família, permanecendo alguns anos na região. Durante essa temporada, Barbosa aproveitou para dar prosseguimento a seus estudos sobre orquídeas, publicando já em 1881 trabalho com descrição de espécies novas coletadas na região.
Em 1883, novamente graças à influência de Capanema, Barbosa foi chamado pelo governo imperial para dirigir o recém-criado Museu Botânico do Amazonas. Após 13 anos de esforços para ser reconhecido como pesquisador em botânica, Barbosa finalmente foi convidado a atuar como profissional da área e a dirigir uma instituição científica. Essa fase contribuiu decisivamente para consolidar sua posição de destaque entre os estudiosos da flora brasileira.
Responsável pela concepção básica do museu, Barbosa Rodrigues apresentou um plano ambicioso, no qual os estudos de botânica aplicada à medicina e à indústria tinham lugar de destaque. Entre as propostas, foram incluídas a análise química e extração de material para experiências fisiológicas e terapêuticas, "para se conhecer sua ação e seus efeitos sobre o organismo humano", e a análise de substâncias com potencial para utilização na indústria. Além de um herbário, a criação de uma revista especializada também foi programada. Denominada Vellosia, em homenagem ao botânico frei Velloso, o periódico científico teve apenas um número.

Referências bibliográficas

Arquivos do Royal Botanic Gardens, Kew, manuscrito D.C. vol. 103, doc. 305-306. Museu Histórico, RJ. Arquivo Capanema, manuscrito GScrp 10.
Arquivo Histórico-Administrativo do Museu Nacional, pasta 3, doc. 157, 1850; pasta 13, doc. 35, 1874; pasta 15, docs. 31, 33 e 34, 1876. Museu Imperial de Petrópolis.
Arquivo d. Pedro II, Correspondęncia Barbosa Rodrigues, 1870;
Arquivo d. Pedro II, M. 25, doc. 913.
Barbosa Rodrigues, J. 1903 Sertum Palmarum Brasiliensium. Relation des palmiers nouveaux du Brésil Bruxelas, Imprimerie Veuve Monnom, 2 vols.
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Barbosa Rodrigues, J. 1881 'Orchideae rodeienses et alterae ineditae'. Revista de Engenharia, vol. 3, no 7, pp. 109-10; vol. 3, no 9, pp. 143-4.
Barbosa Rodrigues, J. 1879 'Discurso sobre o curare'. Annaes Braziliensis de Medicina, vol. XXXI, p. 135.
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Barbosa Rodrigues, J. 1877 Genera et species orchidearum novarum Rio de Janeiro, C. et H. Feiuss.
Barbosa Rodrigues, J. 1875 Enumeratio Palmarum Novarum quas Valle Fluminis Amazonum inventas et ad Sertum Palmarum Rio de Janeiro, Brown & Evaristo.
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brasileiros.
O movimento dos profissionais brasileiros originou várias iniciativas renovadoras em diversas áreas do conhecimento, tendo proporcionado mudanças significativas em educação e divulgação científica. Um dos primeiros fóruns criados à época (1850), para discussão e divulgação de atividades e contribuições científicas, foi a Sociedade Vellosiana, que tinha por objetivo "indagar, coligir e estudar todos os objetos pertencentes às ciências naturais, com particularidade os pertencentes à história natural do Brasil, e juntamente averiguar e interpretar as palavras indígenas, com que forem esses objetos
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designados".
Nessa mesma década houve a primeira iniciativa do governo brasileiro de formar uma comissão com o objetivo específico de inventariar as riquezas naturais do país. Organizada pelo IHGB e com a participação dos naturalistas do Museu Nacional, foi constituída a Comissão Científica de Exploração, delegação esta que atuou no Ceará entre 1859 e 1961. À época, o IHGB foi o principal núcleo de incentivo e apoio a esses empreendimentos, intermediando financiamentos do Estado. Como mencionado por Figueirôa (1995), o "sucesso institucional do IHGB deveu-se também, desde a fundação, à sua vinculação obrigatória e contínua ao governo".
O Museu Nacional (então Imperial), como observado por Kury (1998), consolidou-se como instituição central para a história natural do país. Em 1876, foi reestruturado e modernizado por seu diretor Ladislau Netto, tendo à mesma época também iniciado a publicação dos
Archivos do Museu Nacional, periódico que se tornaria referência internacional para assuntos relacionados à zoologia, botânica e antropologia do Brasil. Foram então fundados os museus provinciais, formaram-se comissões científicas de exploração com apoio do governo, e novos periódicos científicos foram criados. Os trabalhos científicos desenvolvidos no Império e as novas teorias formuladas no estrangeiro eram divulgados para o público leigo nas Conferências Públicas do Museu Imperial e nas Conferências da Glória (Sá e Domingues, 1996; Fonseca, 1996). Lopes (1997), em trabalho sobre museus de ciências, ressalta as novas relações de intercâmbio que começavam a ser formadas com cientistas estrangeiros recém-chegados ao Brasil. Vários deles foram incorporados ao quadro do Museu Nacional como colaboradores (naturalistas viajantes) ou como pesquisadores atuantes inseridos nas diferentes instituições da Corte, como no caso do francês Louis Couty, que, associado ao médico João Batista de Lacerda, fundou o laboratório de Fisiologia no Museu Nacional. Cargos de chefia em museus provinciais e comissões encarregadas de levantamentos científicos, como a Comissão Geológica do Império, foram confiados a estrangeiros, mas em regime de compromisso com as demandas do país, onde coleções e dados realizados deveriam, ao menos em tese, ser incorporados às instituições
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brasileiras.
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francês."
Quem seria esse botânico tão ilustre que ninguém conhecia? Nascido no Rio de Janeiro em 22 de junho de 1842, João Barbosa Rodrigues era filho de comerciante português e mãe de ascendência indígena. Criado em Campanha, Minas Gerais, lá iniciou seus estudos em ciências e artes, tendo-se mudado na década de 1850 para a capital do Império a fim de completar seus estudos. No Rio, cursou o Instituto Comercial do Rio de Janeiro, tornando-se posteriormente secretário daquela instituição. À época, fez amizade com Guilherme Schüch de Capanema, que se tornou grande incentivador e mentor de Barbosa Rodrigues para assuntos botânicos e químicos. Por intermédio de Capanema, trabalhou como secretário e professor de desenho do Colégio Pedro II, tendo atuado como tenente da Guarda Nacional. Desde os 16 anos, Barbosa já se dedicava à literatura, publicando livros e folhetos
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literários.
No entanto, seus dons artísticos, conjugados a seu entusiasmo pela botânica e ao mecenato do barão de Capanema, acabaram por encaminhá-lo para uma nova atividade: a de botânico. Casou-se três vezes, tendo tido ao todo 14 filhos. A última esposa, d. Constança Paca, desempenhou importante papel em sua trajetória como naturalista, já que, além de tê-lo acompanhado em todas as suas campanhas botânicas, foi sua auxiliar nos desenhos científicos de orquídeas e palmeiras.
O apoio proporcionado pelo barão de Capanema a Barbosa Rodrigues até o fim de sua vida influiu decisivamente no destino do naturalista. Acreditando no talento de Barbosa Rodrigues e lutando ferrenhamente contra os que considerava seus inimigos e de seu protegido, Capanema não mediu esforços para incentivar a carreira de Rodrigues como botânico profissional. Para tal, proporcionou-lhe até mesmo suporte moral e financeiro em momentos difíceis, como no período em que a comunidade científica e o próprio governo insistiam em não lhe dar o devido crédito.
Barbosa Rodrigues era conhecido na ocasião apenas como professor de desenho, sem nunca ter participado do restrito círculo científico da
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época.
O repentino surgimento da obra científica de Rodrigues sobre orquídeas em 1870 fez com que os profissionais de ciência desconfiassem de sua competência na área e não lhe dessem o devido crédito. Entre os mais céticos em relação a Rodrigues, incluía-se o então diretor da seção de botânica do Museu Nacional, Ladislau Netto.
Em manuscrito de 26 folhas depositado no Museu Imperial em Petrópolis, intitulado 'Eu e o sr. barão de Capanema', Netto narrou sua versão sobre a desconfiança que nutria em relação a Rodrigues e à perseguição rancorosa que o barão de Capanema lhe fazia, conduta exacerbada depois que Netto opôs-se ao seu
protegé Barbosa Rodrigues. Apesar de vizinhos no bairro de São Cristóvão, Netto não nutria simpatia por Barbosa, julgando-o "ignorante, mas astuto, invejoso, hipócrita". Em seu relato, Netto descreveu:
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Serrão.
Tal incentivo não era do conhecimento de Ladislau Netto, amigo íntimo de Freire Alemão e a quem substituiu na direção do Museu Nacional. Alves Serrão e Freire Alemão, contudo, jamais vieram a público desmentir a afirmação. Nesse meio tempo, Barbosa submeteu ao Corpo Legislativo do Império a referida obra para publicação, tendo pedido para tal a verba de cinqüenta contos de réis. Avaliando o pedido, a Câmara deferiu a solicitação, que seguiu para o Senado, no qual foi apreciada pelas comissões de Instrução Pública e Fazenda. Estas, porém, não se reconhecendo competentes para julgar o assunto, decidiram nomear uma comissão especializada para fazê-lo. Como relatado por
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Netto,
esta comissão foi formada primeiramente por Francisco Freire Alemão, frei Custódio Alves Serrão e Ladislau Netto. Devido a problemas de saúde, Freire Alemão deu a Netto o poder de decidir por ele. Custódio Alves Serrão declinou o convite, e Netto, como já havia se desentendido com Barbosa Rodrigues, propôs que fosse formada uma nova comissão. Composta por Saldanha da Gama (lente de botânica da Escola Politécnica), Joaquim Caminhoá (lente de botânica na Faculdade de Medicina), Ramiz Galvão (lente da mesma faculdade e diretor da Biblioteca Pública) e o próprio Ladislau Netto, a comissão foi presidida pelo conselheiro Henrique de Beaurepaire Rohan. Depois de tantas contramarchas e apesar de ter tido parecer favorável, a obra de Rodrigues acabou por não obter liberação de fundos pelo Senado. Sentindo-se prejudicado no processo de formação da comissão e julgamento de seu pedido, principalmente por Ladislau Netto, que julgava seu inimigo, Barbosa Rodrigues tornou pública a análise do processo, fazendo com que figuras influentes e inimigos de membros da comissão lhe dessem apoio irrestrito. Entre estes, atuava com veemência o seu mecenas, o barão de Capanema.
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Riedel.
Cresceu posteriormente, quando, estudante da Escola Politécnica em Viena, teve a oportunidade de participar de reuniões na casa do lente de botânica
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Endlicher.
Foi ainda estimulado pelo contato que teve com o naturalista Carl von Martius, quando ainda estudante de mineralogia e química analítica em Munique. Apesar de seus conhecimentos botânicos, Capanema nunca foi reconhecido como 'botânico' pela comunidade científica da época. Seu desabafo público foi divulgado nos seus 'Estudos botânicos', publicados em 1876: "Eu tive um dia a infantil veleidade de dar impulso ao estudo da botânica na minha terra; esbarrei, porém, com um terrível veto, capaz de extinguir a mais robusta ciência e o mais fogoso entusiasmo;
magna auctoritate me foi declarado que eu era engenheiro e não botânico!" Ao apoiar Barbosa Rodrigues, Capanema combatia, na realidade, os seus desafetos, constituindo o Museu Nacional e seus membros o alvo principal de seus ataques.
A repercussão pela imprensa da polêmica em torno da publicação da obra sobre orquídeas do 'botânico' Barbosa Rodrigues fez com que seu nome gradualmente se tornasse conhecido. Ainda em 1870, enviou pedido para associar-se à Sociedade Vellosiana. A solicitação foi aprovada sem qualquer oposição, apesar das restrições de Netto a ele. Também nessa época, Barbosa Rodrigues tornou-se membro do IHGB, instituição que veio a se tornar um dos principais palcos de divulgação de seus feitos científicos.
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brasileiro.
Para Barbosa Rodrigues, a indicação para essa comissão representava uma oportunidade única de firmar sua reputação como naturalista. Pela primeira vez o governo financiava a viagem de um naturalista brasileiro com o único compromisso de fazer levantamento taxionômico de um determinado grupo botânico. Barbosa não tinha obrigação de enviar o material coligido para nenhuma instituição científica, sendo seu único compromisso a elaboração de relatórios anuais para o governo. Mesmo assim, depositou uns poucos exemplares zoológicos e mineralógicos no Museu
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Nacional.
Ao chegar à Amazônia em 1872, acompanhado da família, Barbosa levava com ele todos os apetrechos necessários para formar uma coleção botânica, seu material de desenho e alguma bibliografia especializada. Durante os dois anos e meio que passou naquela área, percorreu o baixo Amazonas e alguns de seus tributários, ora se estabelecendo na cidade de Belém, ora em Óbidos. Acompanhado de um ajudante, percorreu o interior da região coletando orquídeas e palmeiras. Aproveitava a sabedoria popular para fazer anotações importantes quanto à utilização da flora local na medicina, na culinária e na habitação, principalmente em relação às palmeiras. Coletou também material em sítios arqueológicos e geológicos e assimilou dos indígenas a arte do curare e outros saberes. A curiosidade nata, o espírito de aventura e as inúmeras experiências que vivenciou foram de grande valia durante toda a sua carreira.
Suas atividades de campo foram registradas por um integrante de uma comissão britânica durante excursão ao rio Trombetas. Em seu livro, Charles Brown, geólogo britânico, comentou: "(Barbosa) era possuído de energia e ardor quase portentoso quando começava a trabalhar. Ele era normalmente o primeiro a sair do barco, e se aproximava do primeiro nativo que aparecia. Sentado em um tronco ou outro lugar conveniente, procedia a anotar em sua caderneta todas as respostas que ele podia obter a suas numerosas questões..." (Brown e Lidstone, 1878, p. 238).
A intensa atividade de campo em busca de novas espécies fez com que Barbosa desenvolvesse consideravelmente seu conhecimento botânico e, ao mesmo tempo, se familiarizasse com os diferentes hábitats nos quais eram encontradas as espécies coletadas. Homem essencialmente de 'campo', teve oportunidade de observar os espécimens no ambiente natural, que procurou reproduzir em seus desenhos, a exemplo do que fizera Martius (1823-53) no trabalho sobre palmeiras (
Figura 2).
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(Hoehne, 1941).
Barbosa, durante os seis meses que passou na região, em 1869, herborizou e conviveu com esses botânicos, o que contribuiu para desenvolver seus conhecimentos. Junte-se a isso o interesse do próprio barão de Capanema pelas orquídeas, plantas das quais mantinha coleção em sua fazenda em Curitiba. Regnell acabou por se tornar um apreciador do trabalho de Barbosa Rodrigues, ajudando-o a promover sua obra no exterior. O conhecimento de idiomas, em especial o latim, que era condição básica para se trabalhar com taxionomia, e o seu excelente senso de observação, notadamente em relação às pequenas estruturas dos exemplares estudados (adquirido talvez quando ainda era professor de desenho), foram fundamentais para o desenvolvimento profissional de Barbosa Rodrigues na área da botânica (
Figuras 3 e
4).
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veneno.
Anos mais tarde, ficou comprovado que a composição química do composto vegetal incluía derivados de uma planta do grupo
Strychnos ou de espécies da família das menispermáceas, ou até mesmo de ambas, estando dessa forma os dois cientistas com razão em relação ao vegetal usado para preparar o veneno. Os jornais da época, como o
Jornal do Commercio (24.8, 30.8, 10.9, 3.12 de 1878),
O Cruzeiro (2.9.1878) e
Gazeta de Notícias (9.9.1878, 23.2.1879), além de periódicos médicos especializados, como os
Annaes Brazilienses de Medicina (1879), deram ampla cobertura à discussão.
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Pariquis
o uso de uma planta herbácea da família das nictagináceas empregada no tratamento hepático. Patenteou a fórmula com o nome "pariquina" em homenagem à tribo indígena, e o uso de tal medicamento teve ampla aceitação
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popular.
Segundo sua neta Dilke B. Rodrigues Salgado (1945), a pariquina mereceu também o apoio de médicos como Oswaldo Cruz, que em carta a Barbosa Rodrigues aprovou o novo medicamento:
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publicado.
Durante sete anos, o Museu Botânico do Amazonas funcionou precariamente, tendo Barbosa conseguido, mesmo assim, reunir uma coleção de mais de três mil exemplares catalogados (Campos Porto,
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1891).
Problemas orçamentários, todavia, fizeram com que o museu não se desenvolvesse como o planejado por Rodrigues, que não obteve meios para manter seu herbário e funcionários.
Com a proclamação da República, Barbosa Rodrigues foi nomeado, em 1892, diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, tendo conseguido implantar nessa instituição alguns dos projetos elaborados para o Museu Botânico do Amazonas, inclusive alguns que aproveitaram experiências bioquímicas lá realizadas. O ideal nacionalista da época, o mecenato de Capanema e uma grande ambição acabaram por tornar Barbosa Rodrigues o dirigente de maior prestígio da história da instituição até aquela época. Como diretor do Jardim Botânico e com o apoio do médico e político Miranda de Azevedo, ele finalmente conseguiu publicar em 1903 sua obra sobre palmeiras,
Sertum Palmarum brasiliensis. Seus opositores do passado se encontravam ocupados com outras questões, e a comunidade científica já o reconhecia como um grande naturalista. Ainda hoje, ele é considerado internacionalmente um dos botânicos de maior expressão que o Brasil já teve.




Ladislau Neto

 O cientista Brasileiro favorito do Imperador Dom Pedro II


O cientista Brasileiro favorito do Imperador Dom Pedro II foi o Botânico Alagoano Ladislau Netto. Foi nomeado por convite do Monarca para ser diretor do Museu Nacional, em 1870, sendo efetivado no cargo em 1876, que pretendia fazer daquele museu um grande centro de exposição e aprendizado científicos.

O apoio Imperial fez de Ladislau Netto o cientista mais influente do Brasil de sua época. Em 1882, o Museu Nacional, sob sua direção, promoveu uma grande Exposição Antropológica, que teve repercussão internacional. Com a queda da monarquia, em 1889, Ladislau Netto perdeu seu prestígio, aposentando-se em 1893.


Um ano antes de se afastar do Cargo de Diretor, Ladislau ordenou que o acervo do Museu Nacional fosse transferido do Campo de Santana (atual Museu Casa da Moeda) para a Antiga Residência de seu protetor, o Imperador, no Palácio Imperial de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista, com o objetivo de preservar a memória do maior mecenas da Ciência Brasileira de sua época e levar o acervo científico do Museu para um Lugar mais amplo e conhecido pela população. A Família Imperial contribuiu para a acervo do Museu Nacional em 1891, doando a Coleção Arqueológica da Imperatriz Dona Teresa Cristina.

Ladislau Netto aplicou, no Museu, o que foi objeto da sua formação e de sua experiência na Europa. Os planos de Ladislau Netto consistiam em tornar o Museu um centro de pesquisa e de estudos para acompanhar a evolução da ciência, promovendo a produção científica no País. No Regulamento de 1876, instituído pelo Decreto nº 6.116, de 9 de fevereiro, o Museu tinha, por finalidade, estudar a “História Natural, particularmente do Brasil [...] ensino das ciências físicas e naturais, sobretudo em suas aplicações à agricultura, indústria e artes”

Nesse sentido, podemos inferir que Ladislau Netto se apresenta como um precursor, no
Brasil, da introdução da Antropologia, da Etnografia e da Arqueologia em museus brasileiros.



Jules Gabriel Verne (Júlio Verrne)

 Júlio Verne foi um escritor francês que contribuiu para a ficção científica e para a literatura mundial. Suas obras foram traduzidas para mais de 148 idiomas e tiveram várias adaptações para o cinema e para a televisão.

Júlio Verne é considerado o criador da ficção científica por alguns estudiosos. As suas obras descrevem eventos e avanços científicos que só se tornaram realidade décadas depois.

Algumas das contribuições de Júlio Verne foram:
Previsão de avanços científicos, como a televisão, o helicóptero, o avião, o submarino, as viagens espaciais, entre outros
Criação de realidades futuristas, com a presença de máquinas voadoras
Unificação da literatura e da ciência
Posicionamento sobre o uso errôneo da tecnologia pela humanidade e os impactos ambientais

Algumas das obras mais famosas de Júlio Verne são: Viagem ao Centro da Terra (1864), Da Terra à Lua (1865), Vinte Mil Léguas Submarinas (1870), A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1873), A Ilha Misteriosa (1874).


Previsões futurísticas:


Da Terra à Lua

O escritor francês descreveu em em sua obra “Da Terra à Lua” módulos de viagem que seriam enviados para o espaço por canhões capazes de vencer a gravidade e, inclusive, o ponto exato de partida da missão Apollo 11, que foi da Flórida à Lua em 1969.
Nessa mesma obra, ele descreveu espaçonaves que seriam movidas pela luz e que seriam equivalentes a tecnologia de velas solares usadas por espaçonaves modernas.

Vinte Mil Léguas Submarinas


Já em “Vinte Mil Léguas Submarinas”, descreveu o submarino “Nautilus” que seria movido a eletricidade, tendo o Submarino surgido somente mais de uma década após o relato de Verne.
Além disso, nesse mesmo livro ele descreveu uma arma capaz de lançar projéteis de eletricidades estática, arma essa bem semelhante aos teasers atuais.

O Dia de Um Jornalista Americano no Ano 2889

Já em O Dia de Um Jornalista Americano no Ano 2889,
Verne descreveu o que depois de oitenta anos viriam a ser os jornais transmitidos na televisão, um veículo onde jornalistas e cientistas iram contar os acontecimentos do dia.

Da mesma forma, ele descreveu o 'fonotelefoto' que seriam aparelhos capazes de enviar informações, áudio e imagens dos acontecimentos em tempo real, em uma espécie de tela, que seria bem similar no contexto de hoje em dia aos computadores e smartphones que utilizamos.

Curiosidades


Teve mais de 100 livros publicados;

Entre os mais conhecidos estão Vinte mil léguas submarinas, A volta ao mundo em 80 dias e Viagem ao centro da terra;

Atualmente, ele é o escritor cuja obra foi a mais traduzida em toda a história, com traduções em aproximadamente 148 línguas;

Verne teve em vida apenas um único filho, Michel Jean Pierre Verne;

Após a morte do escritor francês seu filho foi o responsável por completar algumas obras suas inacabadas, como A Missão Barsac.

Sem sombra de dúvidas que Júlio Verne foi e sempre será um dos escritores mais memoráveis que existiram, com uma extensa obra atemporal e capaz de inspirar as atuais e futuras gerações.

Ler as suas obras é mais do que uma homenagem a ele enquanto artista, mas sim um tributo a literatura de maneira geral.

André Rebouças deixou um legado antirracista e de contribuições para o desenvolvimento do Brasil.

 Como engenheiro, Rebouças participou de obras como: 

- A construção da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá

- A construção do túnel que liga as zonas Norte e Sul do Rio de Janeiro

- A construção de pontes

- A construção de sistemas de abastecimento de água

- A reforma de portos e fortificações do litoral brasileiro

- Como educador, Rebouças lecionou na Escola Politécnica e defendeu a educação técnica e agrícola. 

Como ativista político, Rebouças foi um dos principais nomes do movimento abolicionista no Brasil. Ele participou da criação da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e contribuiu para a elaboração da Lei Áurea.

Em outubro de 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei nº 15.003, que oficializou André Rebouças como herói da pátria.

André Pinto Rebouças (1838-1898) nasceu na cidade de Cachoeira, região do recôncavo baiano, no dia 3 de janeiro de 1838. Filho do conselheiro Antônio Pereira Rebouças e da escrava alforriada Carolina Pinto Rebouças mudou-se para a Corte ainda criança, formou-se em engenharia e ensinou botânica, cálculo e geometria na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.


Em 1854, André Rebouças ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, concluindo o curso preparatório para oficialado em 1857 como 2° tenente. Bacharelou-se em 1859 em Ciências Físicas e Matemáticas pela Escola Militar da Praia Vermelha, obtendo o grau de engenheiro militar em 1860.

Além de sua notável carreira de engenheiro, junto de seu irmã Antônio Rebouças Filho, André Rebouças se destacou como um dos líderes do movimento abolicionista brasileiro.

A trajetória de Rebouças, como abolicionista, revela não apenas a sua contribuição intelectual no contexto do ideário da abolição, mas também a sua efetiva atuação no movimento desde os seus primórdios

Em novembro de 1880, ele já se envolvia na organização de um banquete oferecido ao Ministro dos Estados Unidos Henry Washington Hililard e, logo em seguida, tomava parte do grupo que fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão.

Nessa década, ele foi particularmente ativo na imprensa, onde escreveu inúmeros artigos na Gazeta da Tarde e certamente atuou como elemento influente na formação de uma sociedade abolicionista na Escola Politécnica, onde era professor.

Com José do Patrocínio, ele redigiu o importane Manifesto da Confederação Abolicionista em 1883 e finalmente foi ele quem rascunhou, em 1888, as bases da Lei
Áurea de 13 de maio. Sua discreta figura foi, de fato, uma presença marcante do processo abolicionista no Brasil.

Sua visão modernizadora, progressista e liberal levou-o a contrapor-se a todas as formas de escravização e não apenas àquela gerada pela instituição da escravidão negra. Suas idéias sobre a imigração. por exemplo, refletem a sua oposição à escravidão, dentro de um contexto muito mais amplo, o qual pressupunha evitar a"reescravização do imigrante pelos donos da terra' de acordo com a sua própria ex-
pressão.

Suas ideais receberam apoio e simpatia do Imperador Dom Pedro II e da Princesa Regente Dona Isabel, a quem Rebouças muito influenciou durante a Campanha Abolicionista, chegando a ajudar a família Imperial a abrigar escravos fugidos em Petrópolis

É fácil perceber-se, portanto, que nesse sentido, as propostas de Rebouças nunca estiveram restritas apenas à abolição do negro escravo elas se estenderam também em defesa de uma política econômica e social voltada para evitar outras formas alternativas de escravidão como aquela - segundo a sua visão - dos próprios fazendeiros, ao utilizarem o imigrante - colono como substituta do trabalho escravo. Em sua visão, este deveria se tornar proprietário de sua própria terra e não um mero cultivador da terra alheia. Para que a utopia se tornasse realidade, mister se fazia, segundo a visão de Rebouças, promover um programa social e econômico direcionado para a redistribuição da terra através da eliminação da grande propriedade e a introdução da pequena pressupostos basilares pano estabelecimento. no pais de sua "democracia rural brasileira"

Além dos projeto base da Lei Áurea, Rebouças elaborou um extenso projeto educacional para capacitar os trabalhadores brasileiros, sobretudo quando o debate abolicionista ganhou força. Por ter sofrido diversos atos de preconceito racial em função de ser negro, Rebouças ressaltava sua preocupação com os negros libertos que com o advento da abolição precisariam receber “instrução e trabalho”.

Entendia que ensino em nível técnico e a especialização profissional eram a base para uma mudança de caráter social e econômico do Brasil. Segundo ele, democratizando a atividade rural e universalizando o ensino primário, secundário e técnico entre a população degradada, seria possível pensar um país mais moderno, industrial e forte economicamente, capaz de deixar para trás o atraso social: "Necessitamos de instrução e capital. E como não é possível construir escolas, comprar livros e pagar mestres sem capital, é preciso resolver simultaneamente o problema do capital e o problema da instrução: “não se pode ensinar a ler quem tem fome"

Após o golpe militar que derrubou a Monarquia em 1889 André Rebouças acompanhou a Família Imperial Brasileira ao Exílio pois não via a possibilidade de seus planos sócio econômicos se concretizarem em Republica implantada com o apoio da elite cafeeira.

Livro Os Sertões

 O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, deixou um legado cultural significativo no Brasil, influenciando a literatura, o pensamento social e político.

Os Sertões é considerado um clássico da literatura brasileira e uma obra fundamental para entender a história e a cultura do país.

O legado do livro inclui:
Questionamento de preconceitos e estereótipos sobre o sertanejo
Contribuição para a compreensão da diversidade e complexidade do Brasil
Levantamento de questões sobre justiça social, desigualdade e marginalização
Análise da psicologia do sertanejo e de seus costumes
Descrição da relação do sertanejo com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume
Combinação de análise científica e sensibilidade artística

Os Sertões é uma obra regionalista que narra a Guerra de Canudos, que ocorreu na Bahia entre 1896 e 1897


Obra-prima não nasce do nada

Euclides da Cunha chega a Salvador em agosto de 1897, adido à comitiva do marechal Carlos Machado Bittencourt, ministro da Guerra. Vinha comissionado pelo jornal O Estado de S.Paulo, como correspondente especial para cobrir a Guerra de Canudos, iniciada em Uauá, em novembro de 1896. Os rebeldes seguidores de Antônio Conselheiro àquela altura haviam imposto derrota a três brigadas militares. A quarta expedição, chefiada pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães, há mais de três meses esbarrava na tenaz capacidade de resistência dos sertanejos, assustando o país e fazendo-o acreditar que, num fim de mundo da Bahia, tramava-se contra a recém-criada República.

Euclides já tinha vasto conhecimento não só da natureza mas também dos habitantes do sertão. É que, ainda em São Paulo, Teodoro Sampaio (1855-1937) o suprira de pormenorizadas informações sobre o universo por onde, em 1897, viajara na companhia do engenheiro americano William Milnor Roberts. O autor de O Rio de S. Francisco e a Chapada Diamantina (1879-80) fornecera a Euclides notas sobre as terras do sertão pelo qual perambulara e cópia de mapa, na parte referente a Canudos e o vale superior do Vaza-Barris, ainda desconhecido.

Durante a redação de sua obra, Euclides inúmeras vezes recorreu ao amigo Teodoro Sampaio, a quem solicitava esclarecimento e informações sobre pontos nebulosos da história e da geografia. Visitava com assiduidade o geólogo, geógrafo, tupinólogo e historiador, seu principal confidente. Narrava-lhe episódios da luta desigual e que o deixara traumatizado. Depõe Teodoro: ”Foi neste estado de alma que escreveu Os sertões. O escritor másculo que se ia revelar, vinha cheio das mais desencontradas impressões. As cenas daquelas terras devastadas pelas secas periódicas e pela cólera insana dos homens, revelavam-se-lhe de um imprevisto inimaginável e ele como que se sentia com forças para fixá-las na tela de uma obra imperecível. Parecia-lhe isso uma reparação, uma dívida a pagar à memória daquela gente obscura que soube morrer por um ideal.”

Aos domingos, dezenas de laudas debaixo do braço, Euclides ia visitar Teodoro. Lia textos para o mestre que escutava com atenção os reparos.

Teodoro Sampaio foi um dos mais valiosos colaboradores de Euclides da Cunha na fase preparatória de sua obra. Repassou ao discípulo cópias de cartas-régias, roteiros, alvarás, crônicas dos jesuítas, biografias, manuscritos dos tempos coloniais, histórias, lendas, memórias e tradições, compilados de Aires do Casal, Acióli, Pedro Taques, Araújo Porto Alegre, Alexandre Rodrigues Ferreira. E raras referências bibliográficas com as quais Euclides poderia pesquisar e cotejar: institutos, academias, bibliotecas, arquivos do Rio e da Bahia, longa e metodicamente selecionadas.

O legado do Barão do Rio Branco (1845-1912)

Seu legado está relacionado com a definição das fronteiras do Brasil e com a criação de uma política internacional adaptada às necessidades do país.

O Barão do Rio Branco foi um diplomata, advogado, historiador e político brasileiro. Durante o seu mandato como Ministro das Relações Exteriores (1902-1912), ele negociou a incorporação de cerca de 900 mil quilômetros quadrados ao território brasileiro.

Entre os seus feitos, destacam-se:
A demarcação da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa
A anexação do território do Acre ao Brasil, através do Tratado de Petrópolis
A resolução de questões de fronteira com a Argentina, França e Bolívia
A criação de uma política internacional adaptada às necessidades do Brasil
A preparação do terreno para a aproximação com as repúblicas hispano-americanas
O Barão do Rio Branco foi um pan-americanista, que valorizou a amizade e cooperação com os Estados Unidos.



Os cem anos do fim da gestão do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores do Brasil coincidem com um momento politicamente propício para se revisitar o legado do patrono da diplomacia brasileira, em especial o referente aos Estados Unidos e ao Prata, os dois principais eixos das relações externas do País. Examinam-se o teor das relações com a potência hegemônica do hemisfério e o caráter oscilante daquelas com a Argentina. A partir de fontes primárias e bibliográficas, o autor procura demonstrar que Rio Branco, além do fechamento dos limites do território nacional, firmou tendências e procedimentos que se incorporaram à tradição da diplomacia brasileira, analisando, para isso, a função do alinhamento Rio de Janeiro-Washington no conjunto da política externa do chanceler e o padrão das relações com o governo argentino, fatores que influenciaram seus movimentos no entorno geográfico. A política de prestígio desenvolvida por Rio Branco decorreu da aspiração em diferenciar seu país do conjunto de nações do segmento sul do hemisfério, identificadas com convulsões políticas e insolvência financeira.

RESUMO

Os cem anos do fim da gestão do Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores do Brasil coincidem com um momento politicamente propício para se revisitar o legado do patrono da diplomacia brasileira, em especial o referente aos Estados Unidos e ao Prata, os dois principais eixos das relações externas do País. Examinam-se o teor das relações com a potência hegemônica do hemisfério e o caráter oscilante daquelas com a Argentina. A partir de fontes primárias e bibliográficas, o autor procura demonstrar que Rio Branco, além do fechamento dos limites do território nacional, firmou tendências e procedimentos que se incorporaram à tradição da diplomacia brasileira, analisando, para isso, a função do alinhamento Rio de Janeiro-Washington no conjunto da política externa do chanceler e o padrão das relações com o governo argentino, fatores que influenciaram seus movimentos no entorno geográfico. A política de prestígio desenvolvida por Rio Branco decorreu da aspiração em diferenciar seu país do conjunto de nações do segmento sul do hemisfério, identificadas com convulsões políticas e insolvência financeira.

Introdução

Pode-se afirmar que quase tudo que se refere à atuação de José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, na condição de ministro das relações exteriores do Brasil está desvendado. Se do ponto de vista factual infere-se que quase nada mais resta para vir à luz, o mesmo não se dá no que diz respeito à interpretação de seus atos, nomeadamente as decorrências que eles provocaram em longo prazo. Teses novas sempre podem ser levantadas. O que vem a seguir é uma sistematização de alguns conceitos sobre o Barão, com acréscimos interpretativos, no referente à política externa, com a pretensão de se tocar no essencial de modo a contribuir para ampliar a compreensão do que seria o mais relevante no período que esteve à frente da chancelaria brasileira. Em 2012 se comemora o centenário de seu falecimento (no seu ambiente de trabalho), e é politicamente propício para se revisitar o legado do patrono da nossa diplomacia, até porque o País movimenta-se no contexto regional de forma oposta àquela do Barão, embora a América do Sul de hoje possua alguns traços conjunturais formalmente semelhantes àqueles em que ele atuou. Em termos globais, na primeira década de 1900, assistiu-se ao início de um processo de crise internacional gestada nas contradições da economia liberal. O contexto mundial era multipolar em transição para a formação de blocos (Lessa 2005, 119-21), caracterizado pelo nacionalismo e pela agressividade, geradores de disputas interimperialistas, incidentes diplomáticos, provas de força e corrida armamentista, componentes de um cenário que anunciava o fim de um período de expansão e prosperidade das economias industriais. A crise da era dos impérios desembocou na Grande Guerra (1914-1918), marco histórico do fim efetivo do século 19, este identificado com a pax britannica. Fora do círculo das grandes potências e, portanto, com poucos meios para influir nas decisões internacionais, à diplomacia brasileira não lhe era permitido errar nas apostas. Ler corretamente as tendências do contexto mundial em mudança para aproveitar suas oportunidades é o grande desafio que se coloca de modo permanente aos homens de Estado. A gestão de Paranhos Júnior no Ministério das Relações Exteriores (MRE) merece reexame constante não somente pelo seu savoir-faire, que compõe o perfil de diplomata completo que foi, mas também porque firmou tendências e procedimentos que se incorporaram à tradição diplomática brasileira.

Paranhos Júnior assumiu o MRE com 57 anos de idade. Bacharel em Direito, geógrafo e historiador prestigiado que tinha em seu ativo duas expressivas vitórias em litígios internacionais (questões das Missões de Palmas e do Amapá) nos quais representara os interesses do Brasil. Ao finalizar o Tratado de Petrópolis (17 de novembro de 1903) com a Bolívia, já ministro, encerrando a difícil questão do Acre, seu prestígio cresceu ainda mais, até porque a solução foi ao encontro da majoritária opinião nacional. Realista, infenso à retórica e à verborragia, afirmou que a política internacional não se fazia com sentimentalismos, mas inspirada nos interesses nacionais. Chegou a ser comparado a Bismarck no seu realismo. Mesmo na retificação da fronteira do Brasil com o Uruguai (1909), corrigindo-se uma situação injusta, o fez na hora certa, de modo a acentuar a diferença de procedimento da Argentina, que então reivindicava a posse de ambos os lados do Rio da Prata. Cosmopolita e respeitado em todo o País, tornou-se ícone de inteligência e patriotismo. Foi mantido na direção da pasta por quatro presidentes da República. A política externa brasileira de dezembro de 1902 a fevereiro de 1912 foi toda de Rio Branco. Sua autonomia de ação permitiu-lhe dar continuidade e desenvolver uma administração que se tornou um divisor de águas na história das relações internacionais do Brasil.

Unitarismo

Rio Branco era, por índole e formação, liberal, monarquista e contrário à descentralização do poder. Para ele, o prestígio que o Brasil desfrutara no exterior ao final do Império decorrera da ordem interna e da estabilidade das suas instituições. Fazia distinção entre as nações não só no que dizia respeito à extensão territorial e número de habitantes, mas também consoante o grau de cultura, nível de "civilização" e honestidade de seus governos, o que se pôde perceber, por exemplo, na sua discordância dos critérios adotados pelas grandes potências na Conferência da Paz de Haia (1907), quando elas classificaram as nações para a formação do Tribunal Arbitral Permanente.

Foi um admirador, embora com reservas, dos Estados Unidos, antes mesmo de lá ter estado por um período de quase dois anos para defender o Brasil na questão de Palmas, arbitrada pelo presidente Cleveland. Sobre as repúblicas hispano-americanas, a opinião do chanceler, salvo exceções, era negativa, chegando mesmo a elas referir-se com desdém ("ridículas repúblicas hispano-americanas") em razão do estado crônico de convulsão da ordem pública em que viviam, pois traziam a vergonha e a desconsideração para a América Latina. O Chile afigurava-se-lhe como a única exceção; não por acaso um país que não era república federativa. Os pronunciamentos e as guerras civis acarretavam descrédito para a área, permitindo que na Europa e nos Estados Unidos fizessem referências às "turbulentas repúblicas da América do Sul". (1) A Monarquia fizera o Brasil "unido, grande, próspero e livre", invejado pelos "súditos de Gusmões Blancos e Porfírios Dias". (2) A partir de sua larga vivência na Europa, assegurava que os governos e as classes esclarecidas do Velho Mundo tinham em alta conta o Brasil que, para aquelas, valia mais do que as repúblicas hispano-americanas e os Estados Unidos. Via, com orgulho, seu país ser uma exceção no sul do continente, no qual lhe cumpriria, até, desempenhar uma missão histórica. O Império, ao fazer intervenções armadas nos países platinos, atendera à sua honra e aos seus interesses, mas também desempenhara missão civilizadora.

O temor de Rio Branco, às vésperas da República, era de que o Brasil deixasse de ser a exceção e se igualasse aos demais países da América Latina, caso o novo regime trouxesse o torvelinho revolucionário e a fragmentação territorial. Mas, uma vez proclamada a República, acatou "a vontade nacional", (3) e permaneceu à frente do consulado de Liverpool não sem antes pedir o perdão do Imperador deposto, que o apoiou e estimulou sua permanência na carreira. (Rio Branco 1957, 64-65) O estilo naturalmente reservado de Rio Branco facilitou-lhe o continuar no serviço, apesar de ter opinião negativa sobre o Marechal Deodoro e seus métodos ditatoriais de governo. (Burns 1967, 548). Quando aceitou, mais tarde, após muita relutância, o convite de Rodrigues Alves (1902-1906) para assumir o MRE, a República presidencialista já conseguira sua consolidação política e adentrara em uma fase de estabilidade financeira. Os investidores estrangeiros voltavam ao País. (Topik 2002, 418). Antigos monarquistas tinham aderido à nova ordem. O próprio presidente fora conselheiro do Império. Rio Branco consolava-se com o "chamado regime presidencial" no entendimento de que era o que mais convinha ao País "por muito tempo" e que seria imprudência tentar restaurar o parlamentarismo. O importante seria "fortalecer e desenvolver os elementos conservadores, pôr termo às agitações e à anarquia e assegurar acima de tudo a unidade nacional". (4)

Prestígio gera rivalidade

Ao procurar diferenciar o Brasil do grupo latino-americano de nações, Rio Branco recorreu a uma política de prestígio e de divulgação da boa imagem do País por meio do desenvolvimento e apoio a iniciativas próprias de uma diplomacia cultural. (Ricupero 2002, 84). O esforço bem-sucedido junto à Santa Sé para a criação do primeiro cardinalato latino-americano no Rio de Janeiro, a modernização da armada brasileira, os sucessos do chanceler no remate de velhas questões lindeiras, e a aproximação com os Estados Unidos despertaram ciúmes na Argentina, manifestado na imprensa, sobretudo no La Prensa, em matérias inspiradas pelo rival de Rio Branco na questão de Palmas, Estaniláo S. Zeballos. (5) Foi nesse ambiente de competição que surgiu em Buenos Aires a polêmica sobre o rearmamento naval brasileiro, na esteira da elevação da representação do Brasil em Washington à categoria de embaixada, e da eleição da cidade do Rio de Janeiro para sediar a Terceira Conferência Internacional Americana prevista para 1906.

Rio Branco acreditava que o poder militar era essencial para uma nação impor respeito frente às demais e, por isso, uma vez ministro, reiterou a necessidade de se refazer a marinha de guerra. Não há consenso entre os estudiosos sobre eventual influência recebida de leituras diretas de obras de geopolíticos da época, em especial de Ratzel, Mahan, Mackinder e Kjellén. (Heinsfeld 2000, 16, 22, 42-43, 48, 52, 81, 195; Miyamoto 1995, 47; Backheuser 1945, 28). De qualquer forma, o chanceler brasileiro pensou e agiu como um geopolítico, guiado pelo senso de observação, instinto e faro político. Historiador, construiu suas análises e projeções a partir do exame das fontes e apegava-se à concretitude dos fatos, despreocupado em traduzir para seus atos de política externa ideias então em circulação no Ocidente, como o cumprimento de um Destino Manifesto, a superioridade da raça ou a importância da guerra como elemento de coesão nacional. Realista, tinha consciência dos limites da influência do Brasil na América do Sul. Apesar de gozar de prestígio e respeito dentro e fora do País, lastreados num histórico de sucessos e bom senso diplomático, Rio Branco nunca alardeou desejo de liderança nem levou a efeito uma política externa agressiva e arrogante escudada em ideais de projeção nacional.

Aproximação Brasil-Estados Unidos: o corolário Roosevelt


Possuidores da maior economia do planeta e recém-ingressados na política das grandes potências, os EUA tornavam-se centro de um subsistema internacional de poder. Rio Branco, ao captar com precisão a nova distribuição do poder mundial, não contestou as pretensões dos norte-americanos e até lhes facilitou a tarefa ao procurar uma aproximação ainda maior do que a que já existia entre os dois países e a manifestar o desejo de vê-los desempenhando o papel de leadership do Continente. (6) Além de razões de caráter político, vistas mais adiante, a complementaridade das suas economias dava um fundamento de natureza comercial à aproximação, pois o rápido crescimento da população norte-americana proporcionava amplas perspectivas à venda de produtos tropicais, especialmente de café, em proporções tais que o mercado consumidor daquele país por muito tempo ainda manter-se-ia como o mais importante motor da economia brasileira.

Rio Branco não se envolveu em debates sobre a condução da economia e política comercial. Não obstante sua preferência pessoal por uma tarifa aduaneira liberal, conforme se vê em trecho de longa carta enviada a Domício da Gama em 1908, (7) defendeu na frente externa o protecionismo que a tarifa brasileira dava a certos produtos nacionais. As importações provenientes dos EUA, todavia, recebiam favor alfandegário, geralmente de 20%, em reciprocidade à livre entrada que eles davam a mercadorias brasileiras. Rio Branco, como qualquer brasileiro bem-informado, tinha consciência de que o protecionismo nos EUA era mais forte do que o praticado no Brasil e que a livre entrada de quase todos os produtos nacionais naquele país se devia ao fato de não concorrerem com o que era produzido internamente e porque eram matéria-prima para as fábricas (caso da borracha) ou "artigos necessários à alimentação do povo e que seria impolítico encarecer" (café e cacau). (8)

A política exterior de abrangência latino-americana de Jefferson (1801-1809) e Monroe (1817-1825) foi abandonada pelo governo norte-americano logo após o insucesso do Congresso do Panamá (1826) em favor de tratados bilaterais. Só no último quartel do século 19 os EUA voltaram a considerar a América Latina como um todo e, em consequência, formularam uma política exterior pan-americana, na qual se sobressaíam os objetivos econômicos, embora em relação às áreas adjacentes tenham pesado, também, razões geopolíticas. Originalmente concebida como proteção e não ingerência, a doutrina Monroe foi transformada em justificativa para sancionar intervenções em países latino-americanos abrangidos pela ampliação da área de segurança norte-americana. Os princípios formulados por Monroe em 1823, que vedavam o continente à conquista europeia, impunham, na ótica do presidente Theodore Roosevelt (1901-1909), responsabilidades, como o zelar pela ordem e pela paz no continente por meio de uma ação de polícia internacional. Na mensagem de 6 de dezembro de 1904 ao Congresso do seu país, Roosevelt conciliou monroísmo com intervencionismo ao retrabalhar o conceito de proteção do hemisfério contra agressões extracontinentais de forma a dar justificativa à política de intervenção contra os Estados latino-americanos (9) nos casos de "descalabro crônico" ou de "afrouxamento geral dos laços da sociedade civilizada". (10) As repúblicas da América Latina, conforme constatou o Evening Post de Nova York, deveriam reconhecer suas obrigações em troca da proteção dos Estados Unidos (11), que, em contrapartida, assumiram, também, o papel de gendarmes dos interesses europeus no continente, embora não se lhes reconhecessem o direito de ocupação territorial por ser incompatível com a segurança dos Estados Unidos. (Costa 1968, 217-18). À Europa dava-se a garantia de que as nações latinas da América, sob a supervisão norte-americana, preservariam a ordem pública e manteriam seus compromissos em dia. (12) Londres aplaudiu os termos do corolário Roosevelt. A imprensa da Europa, particularmente a britânica, também aprovou a nova interpretação da doutrina Monroe, uma vez que significava proteção para seus investimentos. (13) Essa auto-outorga de poder, derivada da nova versão da Doutrina Monroe, embora repousasse em razões econômicas e geopolíticas, era também parte da visão de mundo de uma geração que então chegava ao poder (Perkins 1964, 312-13), segundo a qual o expansionismo norte-americano era, também, uma questão de honra e de prestígio (May 1964, 319-31; Costa 1968, 183-84; Duroselle 1976, 227). A Guerra Hispano-americana (1898) é o marco do novo ciclo na política externa dos Estados Unidos que se prolongaria até 1918 (final da Primeira Guerra). (Pecequilo 1999, 53). No Brasil, o novo quadro internacional foi percebido pelos novos donos do poder em 1889. O Barão manteve a tendência republicana de adaptar a política externa do País à nova conjuntura, reforçando-lhe a ênfase pelo fato de concordar com a interpretação de Roosevelt sobre a doutrina Monroe, que para ele não deveria despertar o temor e as suscetibilidades observadas na América espanhola, (14) cujas repúblicas, dizia, deveriam se cuidar caso sentissem qualquer ameaça na linguagem franca do presidente norte-americano, procurando "escolher governos honestos e previdentes, e, pela paz e energia no trabalho, progredirem em riqueza e força". (15) A doutrina se lhe afigurava proteção contra eventuais violências e conquistas perpetradas pelas potências europeias. A linguagem de Roosevelt deveria inquietar mais as potências do Velho Mundo pelo fato de os Estados Unidos mostrarem-se dispostos a "intervir, sempre que for necessário, na questão do Oriente europeu e na Ásia, que as mesmas potências entendiam pertencer-lhe exclusivamente". A união da América hispânica para se contrapor aos EUA seria inútil, algo que para ele estava fora de questão, até mesmo "ridículo" em razão da disparidade de forças e de recursos, além da separação que existia entre seus povos. (16) Rio Branco ainda registrou a incoerência daqueles que, no Brasil, manifestavam prevenções contra os EUA depois de terem aplaudido a intervenção dos mesmos a favor de Floriano Peixoto por ocasião da Revolta da Armada (1893-1894). (17) Mas o chanceler brasileiro não era figura deslocada do seu ambiente. Sua posição em relação à mensagem do presidente norte-americano de 6 de dezembro de 1904 tinha respaldo, embora não unânime, na opinião interna. (18) Mesmo na América Latina, de modo geral, o corolário Roosevelt foi acolhido com moderação. (Perkins 1964, 204-205). De mais a mais, o País atravessava período de estabilidade político-institucional, além de estar com as contas externas em ordem depois da rígida política financeira de Campos Sales (1898-1902), fatos que somados à prosperidade da lavoura cafeeira tornaram possíveis os êxitos materiais da administração Rodrigues Alves (1902-1906), colocando o Brasil longe de ser qualificado como uma república "mal governada e turbulenta".

O primeiro teste de Rio Branco a esse respeito foi o bloqueio naval imposto em 9 de dezembro de 1902 por Grã-Bretanha, Alemanha e Itália à Venezuela a título de cobrança de dívidas. O governo Roosevelt manteve-se neutro, mas fora comunicado com antecedência pelos interventores, que, assim, reconheceram a nova potência mundial e sua respectiva área de influência. Apenas há seis dias à frente do MRE, quando a frota dos credores entrou no porto de La Guayra, Rio Branco não hesitou em alinhar-se aos EUA, pois entendeu que a doutrina Monroe não estava em questão, uma vez que o bloqueio não implicava conquista de território (Stuart 1989, 49, 187-88, 206; Lins 1945, 489-90; Perkins 1964, 187-88). O Secretário de Estado Hay opinou que o Brasil não deveria se envolver na questão da Venezuela, com o que concordou o governo brasileiro, até porque desejava preservar as boas relações com os governos que pressionavam o país sul-americano. (19) Além de aceitar a sugestão norte-americana, o chanceler brasileiro recusou a do ministro argentino Drago para formar uma liga de países sul-americanos contra demonstrações de força de países europeus, e negando-se a engrossar protesto contra cobrança coercitiva de dívidas, pois o Brasil não era mau pagador. (Lins 1945, 489-90; Costa 1968, 134). Pode-se, também, ajuntar que qualquer protesto naquela conjuntura seria vão, uma vez que afora os Estados Unidos nenhum outro país americano tinha força suficiente para se opor a qualquer uma das potências europeias envolvidas no episódio venezuelano.

Criação da embaixada brasileira em Washington

Nem decorridos dois meses da mensagem de Roosevelt ao Congresso de seu país redefinindo os termos da doutrina Monroe (6 de dezembro de 1904), Rio Branco reafirmou a aproximação Brasil-Estados Unidos, de modo enfático, por meio de um ato que, conforme afirmou Nabuco, por si só tinha o significado de uma política: a elevação da legação do Brasil em Washington, em 13 de janeiro de 1905, à categoria de embaixada, acompanhada de ato recíproco e simultâneo do governo norte-americano. Nas palavras de Álvaro Lins, a embaixada resultou do desejo do chanceler brasileiro de criar "uma moldura nova e brilhante para dar relevo a um quadro antigo" (isto é, a amizade norte-americana) para não "repetir os seus antecessores". (Lins 1945, 492-93). A elevação do nível de representação entre dois países, naquela época sobretudo, tinha um significado que ia além da rotina diplomática. Para o Brasil não assinalou apenas o estreitamento dos laços de amizade - conferia-lhe prestígio e o diferenciava do conjunto de nações da América do Sul.

Tanto nessa ocasião quanto na Europa enxergou-se na criação das embaixadas a formação de uma entente Brasil-Estados Unidos, aspirando o primeiro à supremacia política na América Latina em eventual divisão de responsabilidades na aplicação da doutrina Monroe, conforme declararam então o presidente Roosevelt e o seu secretário de Estado Root. (Costa 1968, 69). Na Alemanha, o órgão pangermanista Grenzboten entendeu que o ato simultâneo conferia ao Brasil o status de primeira potência, a mais adiantada da América do Sul. (20) A criação das embaixadas foi acusada na Argentina, (21) cuja imprensa interpretou como desejo brasileiro de exercer, com o apoio dos Estados Unidos, hegemonia sobre o segmento sul do hemisfério. (Costa 1968, 68-69, 75). Um subimperialismo, segundo análise do La Prensa. No Rio de Janeiro, seus principais jornais, como O Paiz e o Jornal do Commercio, apoiaram o ato do governo, (22) qualificaram-no como marco de um novo momento na política exterior brasileira, (23) realçaram o prestígio brasileiro e vislumbraram o estabelecimento de uma entente cordiale entre as duas maiores nações do continente. (24) O Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, e o Comércio, de São Paulo, são exemplos de jornais que desaprovaram a criação das embaixadas. O próprio Rio Branco respondeu aos seus críticos, sob o pseudônimo de J. Penn, em longo artigo publicado no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, no qual, depois de justificar pela tradição a aproximação dos dois países, tocou no essencial: a amizade dos Estados Unidos proporcionaria ao Brasil "uma barreira invencível" às manobras contra ele empreendidas em Washington, o principal centro das intrigas contra o Brasil. (Rio Branco 1948, 129-51). Os argumentos do Chanceler provinham tanto da economia quanto do jogo político internacional e estão explicitados no citado despacho reservado para Washington de 31 de janeiro de 1905, no qual além de reiterar a importância do mercado dos EUA para o café e outros produtos, observou que o cultivo e estreitamento da amizade com aqueles permitiriam

continuar a desfazer as intrigas e os pérfidos manejos dos nossos invejosos de sempre e dos adversários ocasionais que as questões de fronteiras nos têm trazido. Agora mesmo, como no passado, o Governo do Peru está em campo, solicitando a intervenção dos Estados Unidos contra o Brasil e contra o Chile. Em Buenos Aires o atual Ministro das Relações Exteriores do Peru, Sr. Prado Ugartecho, disse que o seu governo não duvidaria fazer as maiores concessões aos Estados Unidos e até a pedir o seu protetorado. […] Não há de ser com uma política de alfinetadas, tornando-nos desagradáveis aos Estados Unidos como desejariam os impotentes inimigos que eles contam aqui e em quase toda a América Espanhola que poderemos inutilizar em Washington os esforços dos nossos contendores. (25)

Rio Branco reiterou tais argumentos em fevereiro de 1909, em despacho para o embaixador Joaquim Nabuco em Washington, pelos quais fica nítido o caráter utilitário que emprestava à aproximação, pois esperava ampliar a liberdade de movimentos da chancelaria brasileira no seu contexto imediato.

Argentinos - parceiros e rivais: a questão alfandegária

O mercado brasileiro, desde longa data, desempenha papel expressivo no funcionamento da economia da Argentina. Segundo dizia-se, o general Mitre afirmava que "el Brasil es una nación que Dios ha puesto donde está, para enriquecer la Argentina". (26) Mesmo assim e apesar de os produtos procedentes da Argentina, sobretudo trigo em grão e farinha, figurarem nas primeiras posições no rol das importações brasileiras, os vizinhos do Prata sempre lutaram a favor do incremento das suas vendas no Brasil. Significativo foi o debate que se travou em 1906 na imprensa portenha a respeito das relações comerciais com o vizinho do norte, suscitado pela manutenção, em junho, da redução alfandegária brasileira que beneficiava a farinha de trigo importada dos Estados Unidos. O tratado de reciprocidade comercial desejado pela imprensa e governo argentinos, defendido até por razões de natureza política por Assis Brasil, ministro do Brasil em Buenos Aires, não teve acolhida no governo brasileiro, ou, mais precisamente, de Rio Branco, (27) que não se deixou impressionar pela maré montante dos jornais portenhos. Em artigo publicado como matéria do próprio Jornal do Commercio, mas segundo todas as indicações fora por ele mesmo redigido, contestou os argumentos levantados por uma parte daqueles jornais e, numa demonstração de simetria de atitudes no que dizia respeito às relações comerciais do seu país com a Argentina e Estados Unidos, concluiu que não havia por que ter um relacionamento preferencial com o vizinho do Prata em razão do seu limitado mercado consumidor para as necessidades brasileiras decorrentes do contínuo crescimento da produção cafeeira. O pensamento do Ministério das Relações Exteriores, dizia, fora torcido quando noticiou-se que a redução de 20% nos direitos de importação concedida pelo Brasil a certos produtos norte-americanos (28) deveu-se à livre entrada do café brasileiro nos Estados Unidos. Esta não fora a razão principal, uma vez que o fundamento da redução decorria do fato de os Estados Unidos comprarem a metade da produção anual brasileira. A Argentina importava 120.000 sacas por ano contra 6.100.000 dos Estados Unidos, 2.000.000 da Alemanha, 748.000 da França, 400.000 da Holanda e 300.000 da Bélgica. Nenhum desses países, à exceção dos Estados Unidos, gozavam da redução de 20% na taxa alfandegária de suas exportações para o Brasil. (29) Situação inversa representava o mercado brasileiro para a produção argentina, pois era "o principal ou antes o único mercado para as suas farinhas e […] vai nele ganhando terreno todos os dias a ponto de haver suplantado completamente as farinhas americanas. Cabe, portanto, à Argentina que nos vende muito e compra pouco, fazer concessões aduaneiras ao Brasil sem nos pedir favores em troca." (30) Em tais acordos, dizia, "nenhum país se deixa levar […] pelo sentimentalismo ou por espírito de camaradagem. Todos procuram atender aos seus interesses". O arrazoado fechava-se com a observação de que o fato de o Brasil ser e desejar ser sempre bom amigo da Argentina não poderia ser levado em consideração, pois a amizade não entraria em conta em questões de intercâmbio comercial. (31) De qualquer forma, as relações comerciais entre os dois países mantinham um fluxo praticamente invariável, com saldos amplamente favoráveis ao país do sul. Se pouca coisa mudava naquelas relações, o mesmo não ocorria nas de natureza política, como que a contrariar a lógica econômica. Aliás, na história das relações bilaterais Brasil-Argentina são constantes os momentos de aguda rivalidade entremeados por aqueles de extrema cordialidade. Da mesma forma, as aproximações, afastamentos e reaproximações do Paraguai e Uruguai em relação a um ou ao outro rival eram, até recentemente, mutuamente monitorados com a preocupação de divisar aspirações hegemônicas.

A disputa naval


O general Júlio Roca, ao concluir sua segunda gestão presidencial, em outubro de 1904, deixou as relações da Argentina num elevado nível de concórdia com o vizinho do norte. (Fraga 1994, 45). A rivalidade, todavia, permaneceu latente e afloraria logo após a discussão e aprovação do projeto de rearmamento naval pelo Congresso Nacional brasileiro. (Moneta 1973, 70). Nesse mesmo ano, o ministro plenipotenciário argentino adepto das boas relações com o Brasil, o citado Gorostiaga, deixou o Rio de Janeiro. Quando o vice-presidente argentino Figueroa Alcorta assumiu a presidência, no início de 1906, em virtude do falecimento do titular Manuel Quintana, e designou Estanisláo Zeballos, rival de Rio Branco desde o litígio lindeiro de Palmas, para, pela terceira vez, chefiar o Ministério das Relações Exteriores argentino, a rivalidade subiu de nível e chegou a ameaçar a paz entre os dois países (Fraga 1994, 49). Em 1907 o sul do continente, conforme afirmou Ferrari (1980), "se transformou em um campo magnético, cujos pólos eram Rio de Janeiro e Buenos Aires, Zeballos e Rio Branco". (Ferrari 1980, 689).

Rio Branco assumiu o MRE num momento em que a marinha de guerra do Brasil encontrava-se reduzida nos seus efetivos e no número de navios, em decorrência das convulsões políticas do início da República, em especial a Revolta da Armada (1893-1894) contra Floriano. (Bittencourt 2012, 27). Na opinião interna era ponto pacífico que o País estava necessitando de se rearmar no oceano, por razões de prestígio e por precaução contra eventuais agressões extracontinentais ou mesmo contra possíveis afrontas ao amor próprio nacional oriundas do contexto sul-americano. O estado da defesa nacional era preocupação antiga do Chanceler, (32) que por isso estimulou o desenvolvimento de um projeto de rearmamento naval bem como a conscrição militar (Backeuser 1945, 22). O caráter pacífico da nacionalidade não implicava, no seu entender, manter o País em estado de fraqueza militar, pois os conflitos independiam da vontade nacional. Além disso, o extenso litoral, a vastidão do interior e o exemplo de nações vizinhas que se armaram obrigavam o Brasil a dotar-se dos necessários elementos de defesa. Forças armadas equipadas e povo com educação cívica e militar eram necessários à garantia da soberania e da paz. Por isso mesmo, Rio Branco em momento algum aceitou sequer falar sobre redução do plano naval sob pressão da Argentina. Reivindicava para o seu país o direito de ser tratado como ela havia sido quando, em anos anteriores, encomendara vários navios. (33) Em discurso pronunciado em 11 de junho de 1908 no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, por ocasião da conferência do visconde de Ouro Preto sobre a batalha naval do Riachuelo, Rio Branco, assertivo, enfatizou que a nação, previdentemente, deveria estar preparada para a defesa "de seu território, dos direitos e da sua honra, contra possíveis provocações e afrontas" (34), mas, para diluir receios, mandou um recado claro ao governo argentino quando lembrou que na hipótese insensata de o Brasil ter plano de ataque contra países vizinhos as encomendas de unidades navais recentemente feitas "não seriam de navios só capazes de operar no alto mar ou ao longo do nosso dilatado litoral". (Rio Branco 1948, discursos:170-71; Lins 1965, 403).

Existe a versão de que o programa naval brasileiro de 1906 tenha sido inspirado nas ideias de Sir Hugh Tennynson d'Eyncourt, que representaria os interesses da firma inglesa Vickers Armstrong, que, com efeito, recebeu a encomenda de três encouraçados (Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro) de grande porte, tipo dreadnought. O Brasil não chegou a receber o Rio de Janeiro, pois o vendeu à Turquia, o que acarretou o cancelamento da construção das unidades que lhe dariam apoio e, assim, o programa naval de 1906 do ministro almirante Alexandrino de Alencar (35) ficou reduzido a 2 dreadnoughts, 2 scouts e 10 destroyers. (Martins e Cozza 1997, 83-85, 99-100; Bittencourt 2012, 31).

A reiteração do caráter pacífico das encomendas navais não surtia efeito entre os argentinos, que as viam como desafio à primazia naval do seu país na região. A política do Brasil em relação à sua marinha de guerra adquiria para o governo platino, segundo Etchepareborda, "real periculosidade", pois "representava a ruptura do equilíbrio naval sul-americano". O afã argentino de se rearmar obedecia, também, a desígnios imperialistas de uma nação orgulhosa de si ao completar cem anos de vida independente. (Etchepareborda 1978, 82, 85). Depois de intenso debate interno, o governo argentino, em 1908, decidiu-se pela compra de dois encouraçados tipo dreadnought de 27.500 toneladas (Moreno e Rivadávia). (Tulchin 1990, 87). Com a queda de Zeballos (junho de 1908), as relações entre os dois países melhoraram sensivelmente. Roque Sáenz Peña, na condição de presidente eleito, visitou o Brasil em 1910 e, logo em seguida, ele e Rio Branco puseram fim à disputa naval. Em 1915, os citados encouraçados foram incorporados à armada da Argentina, que assim recuperou a supremacia naval na região.

O "triângulo" ABC e a noção de influência compartilhada

O receio do imperialismo, mormente pelas práticas agressivas com que se manifestava, era um sentimento bem presente à época, do qual Rio Branco não escapava. Embora sem alimentar paranoias ou perder o senso de medida, soube respaldar-se na repulsa que a agressividade das grandes potências provocava na opinião para agir com a firmeza necessária em situações que poderiam gerar arranhões à soberania nacional. Ao assumir a pasta, o Barão acumulara uma experiência de 26 anos fora do País, a maior parte deles passada entre Paris, Londres e Liverpool. Estudioso e frio observador, teve oportunidade de conhecer de perto o núcleo do capitalismo industrial na sua etapa imperialista, bem como de acompanhar as atividades das grandes empresas, que não raro atuavam com cobertura diplomática dos governos de seus países de origem. Na questão do Acre, a primeira que enfrentou imediatamente após a assunção da chancelaria, agiu como alguém que conhecia a linguagem e maneira de atuar dos financistas e especuladores internacionais.

Na concepção de Rio Branco, a melhor maneira de se proteger contra atentados à soberania era garantir a estabilidade política da região. A esse propósito, em 1904 trocara ideias com o ministro plenipotenciário argentino no Rio de Janeiro, Manoel Gorostiaga, "sobre a conveniência de um tratado de arbitramento geral entre o Brasil e a República Argentina, e sobre a utilidade de algum acordo entre as duas Repúblicas e a do Chile", tendo em vista pôr fim às revoluções na região. Para o chanceler, agitações e desordens frequentes desacreditavam "na Europa e nos Estados Unidos todos os latinos ou latinisados da América", retardavam ou paralisavam seu progresso e constituíam "um verdadeiro perigo […] em futuro não muito remoto […] para os países da América Latina, devastados pelas guerras civis, se ainda assim o estiverem, e não é provável que os ampare a chamada doutrina de Monroe, porque na América do Norte também haverá excesso de população, política imperialista e já ali se sustenta o direito de desapropriação, pelos mais fortes, dos povos incompetentes". O espírito revolucionário não se restringia a certos vizinhos, mas existia também no Brasil e, "até certo ponto", na Argentina. (36) Assim, em favor da estabilidade, Rio Branco buscou uma política de equilíbrio, oposta a sonhos imperialistas ou a projetos de hegemonia, procurando desenvolver uma cordial inteligência com a Argentina e o Chile. (Lins 1945, 613). Isso combina com a concepção oligárquica de nações e com a de influência compartilhada, reconhecida por Rio Branco como a única possível ao Brasil na vertente atlântica da América do Sul. Ambas repousavam em concepções realistas e pragmáticas, pois guardavam a expecativa de que a amizade entre as três repúblicas contribuiria para impedir intervenções de uma delas em outro país de menor expressão, o que deixaria o Brasil mais à vontade no contexto sub-regional, conforme afirmaria no citado despacho de 31 de março de 1906 para a legação em Washington. Em novembro de 1904, deu os primeiros passos nessa direção quando em correspondência para o ministro do Brasil em Buenos Aires tratou da conveniência de se criar, pelos três principais países da América do Sul, um instrumento legal que levasse a atitudes voltadas para a paz e a ordem na região. (37) Nesse momento, havia convergência no pensamento das chancelarias do Rio de Janeiro e Buenos Aires, (38) pois o presidente Julio Roca foi também defensor da atuação conjunta dos três, a fim de se constituir o que se designou por "Triângulo ABC". Mais adiante, Puga Borne (ministro das Relações Exteriores do Chile) e Lorenzo Anadón (representante da Argentina naquela capital) chegaram a minutar um projeto de tratado para regular as relações entre os países do ABC. Rio Branco também fez sua minuta, mas o assunto não prosperou, sobretudo em razão da tensão então existente nas relações Brasil-Argentina. Na concepção de Rio Branco, o ABC não incluiria equivalência naval, a qual descartava com veemência, nem se destinava a contrabalançar ou fazer oposição à influência norte-americana. (39) A documentação é reiterativa nesse sentido. Mesmo não se concretizando, a eventual entente motivou preocupação nas nações menores da área que tinham alguma pendência com integrantes do ABC, (40) que, assim, adquiria um ar de entente do Sul. Aos peruanos, especialmente, conforme informou Nabuco, pois tinham a questão de Tacna e Arica com o Chile e a de limites com o Brasil. (41) Embora, ao tempo de Rio Branco, o ABC não tenha ido além da fase preliminar de negociações, tentou-se, sem sucesso, uma atuação concertada quando da Quarta Conferência Internacional Americana, realizada em 1910, em Buenos Aires.

Observações finais


O Brasil, após a consolidação do regime republicano instituído em 1889 e a implantação do sistema oligárquico na gestão Campos Sales, que também encaminhou a solução do crônico problema financeiro, ingressou, na administração Rodrigues Alves, em um período de tranquilidade política e de realizações materiais. Os anos de 1902 a 1918 correspondem, a nosso ver, ao auge da Primeira República, até porque nele se destaca o brilho da larga gestão de Rio Branco no MRE. Em termos econômicos, a Primeira Republica caracterizou-se pela expansão da economia agroexportadora, cuja especialização foi levada aos seus limites máximos. O alinhamento Washington-Rio de Janeiro em boa parte foi adequação aos vínculos comerciais já solidamente estabelecidos entre os dois países. Os EUA, com o trunfo que lhes davam as dimensões de seu mercado, dispunham de um eficaz meio de pressão para forçar a obtenção de vantagens aduaneiras. Para o Brasil, a livre entrada concedida ao café tinha um custo, sobretudo pelo desestímulo ao processo de industrialização em razão da entrada maciça de produtos industrializados facilitada pelo rebaixamento de direitos de alfândega às mercadorias procedentes dos EUA.

Embora o Chanceler não tenha inaugurado a inflexão da política externa brasileira em direção aos Estados Unidos, deu a ela um sentido utilitário, além de ter consolidado e aprofundado tendências. Rio Branco não temia o expansionismo dos EUA e era compreensivo com a ação deles na América Central (42), o que lhe facilitou o cultivo da amizade norte-americana, esta vista como neutralizadora de eventuais ingerências nas questões internacionais do Brasil, que, assim, poderia ter um aumento virtual nas suas margens de movimentos na sub-região. Dir-se-ia que Rio Branco perseguia uma política de hands off na área. A aproximação, como ele a concebia, não implicava ver seu país em posição de caudatário, até porque não estava vinculada a compromissos. Por outro lado, não se traduziu em apoio norte-americano ao Brasil em suas pendências internacionais; apoio, aliás, nunca solicitado por Rio Branco. Independente de estratégia, a aproximação levada a efeito por Rio Branco, entusiasticamente coadjuvado por Nabuco, foi unilateral, isto é, sem a equivalência do governo de Washington, cuja diplomacia estava mais voltada para a obtenção de vantagens alfandegárias e comerciais do que apoiar as aspirações da diplomacia brasileira em elevar seu status no concerto internacional. (Bueno 2003, 164; Smith 1991, 67; Reis 2012, 109; Pereira 2012, 11). O próprio Chanceler, perto do final de sua gestão, desencantou-se com a diplomacia norte-americana. De qualquer forma, a aproximação entre os dois países não pode ser vista como um objetivo em si mesmo, nem primordial; o mais importante acabou sendo sua visibilidade, embora não planejada. Rio Branco movimentou-a como uma peça, cujo alcance só pode ser aquilatado ao se considerar o jogo inteiro, cuja meta primeira foi a solução das questões de fronteira ainda pendentes. A grande obra de Rio Branco como ministro foi concluir a tarefa na qual se envolvera antes de assumir a chancelaria, dando sequência à obra iniciada no período colonial e continuada pelos diplomatas do Império, de fixação dos limites do território nacional mediante o fechamento definitivo de suas fronteiras por meio de arbitramentos com a Argentina (questão das Missões, 1895) e França (questão do Amapá, 1900), na condição de advogado do Brasil, e de tratados, quando chanceler, com a Bolívia (questão do Acre, 1903), Equador (1904), Holanda (Guiana, 1906), Colômbia (1907), Peru (1909) e Uruguai (1909). (Goes Filho 2002, 115). O sucesso nos movimentos impostos pela defesa da soberania e naqueles motivados ou conectados à política de prestígio deu nova presença ao Brasil no cenário internacional, no qual podia se apresentar como uma nação territorialmente satisfeita, rearmada no oceano com o que tinha de mais moderno no mundo, com os compromissos financeiros em dia, sediando a Terceira Conferência Internacional Americana, marcando presença na Segunda Conferência de Paz em Haia, sem problemas de fronteira e desobrigado de compromissos internacionais. Segundo o próprio Rio Branco (apud Viana Filho 1959, 393), seu país elevava-se a outro patamar no concerto internacional, desinteressando-se das estéreis questões entre as nações sul-americanas para atuar em um círculo mais elevado, o das grandes amizades internacionais.



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1
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Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 19 jan. 1905.
2
Arquivo Histórico do Itamaraty (AHI). Carta de Rio Branco ao barão Homem de Mello, 13 set. [1887?].
3
AHI.34.6/V, maço 1, pasta 1 (Rio Branco a Quintino Bocaiúva. Liverpool, 18 dez. 1889).
4
AHI. 34.6/I, maço 74, pasta 1 (Rio Branco a J. Nabuco. Berlim, 30 ago. 1902).
5
"Mil millones de reis",
Sarmiento, Buenos Aires, 27 ago. 1907; "El Brasil en el Continente",
La Prensa, Buenos Aires, 15 jan. 1905.
6
AHI. Veja-se, por exemplo, despacho para Washington, 29 dez. 1907.
7
AHI, datada do Rio de Janeiro, em 15 dez. 1908.
8
AHI. Despacho para Washington, 16 mar. 1910. (Rio Branco a Rinaldo de Lima e Silva).
9
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The Roosevelt Corollary está às p. 530-31.
10
Apud FENWICK, 1965, 59; FOHLEN, 1967, 51-52; PERKINS, 1964, 200; RENOUVIN, 1969, 471; JULIEN, 1970, 95-98, 104-106. A mensagem do presidente Roosevelt foi comentada e em parte transcrita pelo
Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 14 jan. 1905. PECEQUILO, 1999, 50-53.
11
O Paiz, Rio de Janeiro, 10 dez. 1905.
12
"La doctrina de Roosevelt",
La Prensa, Buenos Aires, 15 ago. 1905; VIDAL, Gil. "A Venezuela e a doutrina Monroe".
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 4 jan. 1905; DONGHI, 1972, 284.
13
VIDAL, Gil. "O novo monroismo e a imprensa ingleza",
Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 27 jan. 1905; SILVEIRA, 2000, 99.
14
AHI. Despacho reservado para Washington, 31 jan. 1905 (Rio Branco a Gomes Ferreira). Vejam-se Bandeira (1973, 168-69) e Costa (1968, 200-202).
15
AHI. Despacho reservado para Washington, 31 jan. 1905, cit.
16
AHI. Despacho reservado para Washington, 31 jan. 1905, cit.
17
AHI. Manuscrito aposto ao ofício de Buenos Aires, 31 dez. 1905.
18
AHI. Despacho para Washington, 31 jan. 1905 (Rio Branco a Gomes Ferreira).
19
AHI. Despacho para Washington, 2 abr. 1903.
20
Grenzboten, Berlin, 1906.
21
Constou na imprensa do Rio de Janeiro que o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Larreta, lastimou não ter tido a ideia antes de Rio Branco. Cf. M.C.G. - "Cartas Argentinas",
A Tribuna, Rio de Janeiro, 13 jan. 1905.
22
O Paiz, Rio de Janeiro, 8 e 17 jan. 1905; COSTA, 1968, p. 65-68.
23
"Política Americana",
O Paiz, Rio de Janeiro, 8 jan. 1905.
24
"As embaixadas",
O Paiz, 17 jan. 1905.
25
AHI. Despacho reservado para Washington, 31 jan. 1905, cit.
26
Informação dada pelo
El Diario, "La buena política", Buenos Aires, 5 ago. 1910. Em 1997, o analista argentino das relações internacionais Carlos Escudé afirmou: "[…] el Brasil es nuestra gallina de los huevos de oro […]", (
Clarín, 19 jul. 1997 apud ONUKI, J. "Mercosul: crise e futuro",
Carta internacional, nº 84, 2000, p. 5).
27
AHI. Ofícios de Buenos Aires, 6 e 27 dez. 1906.
28
A redução de 1904 foi renovada em junho de 1906. Abrangeu: farinha de trigo, leite condensado, manufaturas de borracha, relógios, tintas (exceto as de escrever), vernizes, máquinas de escrever, caixas frigoríficas, pianos, balanças, moinhos de vento. (Decreto 6.079 de 30 de junho de 1906.
Coleção de Leis dos Estados Unidos Brasil, 1906 (v. 1, 705).
29
AHI. 34.6, A-7, G-3, M-1.
30
AHI. 34.6, A-7, G-3, M-1.
31
AHI. 34.6, A-7, G-3, M-1.
32
AHI. Carta de Rio Branco ao Barão Homem de Mello, 5 set. 1882.
33
AHI. Despacho para Washington, 13 dez. 1906. Um exemplo de respaldo a essa posição, por parte da imprensa, é
O Rebate, São Paulo, 6 out. 1906.
34
O discurso repercutiu em Buenos Aires. O
La Nación publicou-o com o título: "A palavra de um estadista - Como se faz política internacional" (trad. nossa). Foi utilizado como reforço de argumento pelos argentinos favoráveis ao armamentismo.
35
O plano naval de 1904 do ministro almirante Júlio de Noronha foi abandonado em razão dos novos conceitos de guerra marítima decorrentes da batalha de Tsushima (maio de 1905), que deu a vitória ao Japão na guerra contra a Rússia.
36
AHI. Despacho para Buenos Aires, 22 nov. 1904.
37
AHI. Ofício de Buenos Aires, 22 nov. 1904.
38
AHI. Despacho para Buenos Aires, 3 set. 1904.
39
O projeto do ABC, segundo Ricupero (1995, 93), seria complementar à aliança não escrita com os Estados Unidos.
40
AHI. Ofício confidencial de Montevidéu, 20 dez. 1907 (Xavier da Cunha a Rio Branco).
41
AHI. Despacho para Washington, 29 dez. 1907.
42
La Nación, B. Aires, 26 jul. 1906. Veja-se, também, Caetano (2012, 168).