Desenvolvo ações para sustentabilidade e educação ambiental: oficinas de reciclagem; palestras com temáticas sustentáveis - econômica, sociais, culturais e ambientais; ações eco pedagógicas e consultoria em marketing de sustentabilidade. Para solicitar trabalhos, entre em contato através do email: renatarjbravo@gmail.com
O blog não tem patrocinador e precisa da sua ajuda.
Sua contribuição é importante para produzir conteúdo de qualidade e dar continuidade ao blog.
Pix solidário - chave: renatarjbravo@gmail.com
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta descobertas sensoriais. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por data para a consulta descobertas sensoriais. Ordenar por relevância Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Jogos Infantis e o Desenvolvimento Cerebral


A transformação dos educandos em sujeitos que constroem saberes requer ambientes pedagógicos que possibilitem a análise crítica, o debate coletivo, a elaboração de hipóteses de trabalho e a curiosidade . O modelo interacionista constitui-se numa maneira de ver a educação, bem como numa busca de novos patamares interpretativos necessários para reavaliar o fazer pedagógico com o objetivo de transformar o ato de educar. Nesse sentido, os conhecimentos sobre o funcionamento cerebral, bem como o desenvolvimento de redes neurais podem abrir um campo de possibilidades e aplicações práticas na área pedagógica, contribuindo para elaboração de metodologias afinadas com os processos de construção do conhecimento.

Os textos sobre o cérebro sempre enfatizam sua complexidade, porém por mais que o possamos explicar e compreender, isto não bastará para a compreensão de todo o ser humano. Não podemos ser reduzidos ao organismo biológico e ele é mais do que um cérebro. O objetivo deste texto não será o de reduzir o ser humano aos seus aspectos biológicos, mas sim refletir sobre as bases biológicas da inteligência, especialmente sobre alguns aspectos do desenvolvimento e funcionamento cerebrais para um melhor aproveitamento de suas possibilidades, na construção do conhecimento. Construímos
conhecimentos e nos desenvolvemos inseridos em um contexto complexo que possui componentes biológicos, psicológicos e sociológicos. Somos sempre o resultado de uma interação entre estes três elementos.

Vivemos em um mundo complexo, onde mesmo uma atitude simples é influenciada por estes três aspectos. Por exemplo, ao olharmos para uma escada, não vemos apenas ela em si mesma, vemos algo em que podemos subir, que exigirá um certo esforço e isto nos traz sensações. Em outras palavras, mesmo ao olharmos para um objeto bem simples, teceremos considerações que dependem da nossa experiência particular, a qual é o resultado da forma como interagimos com nosso contexto. Os fatos e coisas que "somos capazes de perceber" dependem daquilo em que nos tornamos. O ato de olhar não se refere somente ao sentido biológico da visão, não depende apenas do funcionamento dos olhos e do córtex visual, mas envolve todo o ser humano, seu interesse, sua energia e se constitui em uma das formas de ação do sujeito sobre o meio. Ao contemplarmos não assumimos uma atitude passiva, mas sim ativa. Para todas as demais ações humanas conscientes é possível identificar a mesma complexidade.


Nosso aspecto biológico é essencial, mas não é suficiente. Embora o cérebro possa ser considerado como a sede biológica do conhecimento, a compreensão sobre o desenvolvimento cerebral, isoladamente, não pode explicar toda a inteligência humana. Em geral se acredita que a inteligência depende das informações que chegam ao nosso cérebro. Porém as informações não chegam diretamente ao cérebro, elas são captadas por algo que vão além da janela dos sentidos, ou melhor, pelos sujeitos complexos e não apenas pelos seus orgãos receptores. Os estados emocional e físico destes sujeitos afetam sua capacidade de percepção, sob este aspecto, a inteligência dependerá de todo o sujeito em interação com o seu meio. Todavia, o cérebro se não é suficiente é essencial. Para discorrer mais sobre este tema usemos o exemplo das afasias (dificuldades da fala), que resultam de alguma lesão nas regiões que controlam os processos da fala no cérebro. Dependendo da localização da lesão serão afetadas características específicas. Exemplificando: a afasia localizada na Área de Broca cria dificuldades de falar, mas não entender; já a afasia localizada na Área de Wernicke resultará numa pessoa, que utilizará um pequeno número de palavras, mas com conteúdos específicos.


Esses exemplos salientam a importância da nossa base biológica para a linguagem falada, porém se o sujeito não estabelecer interações sociais sua fala não se estruturará, mesmo que seu cérebro esteja em perfeitas condições. Por sua vez, as interações sociais dependem de aspectos emocionais tais como o afeto, a segurança, a confiança e a alegria. Todavia, mesmo que o cérebro, isoladamente, não explique toda a inteligência humana o conhecimento sobre o seu desenvolvimento pode contribuir para o estabelecimento de práticas educativas, que aproveitem melhor suas características e possibilidades, favorecendo as aprendizagens. Dentre os aspectos do desenvolvimento cerebral 
pode-se destacar os períodos críticos. Chamam-se de períodos críticos as fases de desenvolvimento das diferentes regiões cerebrais. Ou seja, o córtex cerebral é o responsável pelo processamento do pensamento, da memória e do raciocínio e pode ser dividido em diferentes regiões, que processam aspectos diferentes da informação que chega ao indivíduo.

Voltando ao exemplo da escada, pode-se dizer que a sua imagem é captada pelos olhos e é formada no córtex visual, o qual se situa na região posterior do crânio. O nome "escada" é dado ao objeto pelos neurônios do córtex da linguagem, que se situa na região lateral de cada hemisfério cerebral, acima das orelhas. A idéia da utilidade da escada e o esforço necessário para subi-la são formados em outras regiões cerebrais, denominadas zonas de associação. As emoções envolvidas são processadas no sistema límbico. Porém, todos estes eventos são de tal forma interligados e rápidos que parecem simultâneos. A "geografia" da organização e do funcionamento cerebrais pode ser comparada à organização e funcionamento de uma orquestra sinfônica. Da mesma forma que o cérebro, uma orquestra é dividida em regiões, cada qual com seus instrumentos específicos (as cordas, os metais, os instrumentos de sopro, os de percussão, etc.). A música que escutamos é o resultado do conjunto de instrumentos que estão sendo tocados a cada momento e soam em uníssono.

A diferença entre o cérebro e a orquestra reside no fato de que as regiões cerebrais não são formadas todas simultaneamente, nem com a mesma velocidade, durante o desenvolvimento dos sujeitos. A semelhança é que assim como os sons extraídos dos instumentos não dependem somente deles, mas de quem os está tocando, os períodos críticos não desencadeiam o desenvolvimento cerebral sem que haja interações entre os sujeitos e o meio, podendo resultar bastante diferente de sujeito para sujeito. Durante os períodos críticos, determinadas regiões do cérebro apresentam maior atividade cerebral do que as outras e se tornam mais sensíveis aos estímulos que deverão processar. Ao receberem os estímulos adequados se desenvolvem mais intensamente do que outras áreas, porém caso não recebam estímulos não se desenvolverão.

Nesse aspecto, queremos ressaltar a importância dos jogos e brincadeiras infantis para o desenvolvimento cerebral, pois o interesse e envolvimento das crianças menores em idades pré-escolares dependem mais da afetividade do que da racionalidade, uma vez que esta última ainda está sendo construída e as interações culturais somente vão desempenhar um papel mais marcante após o realizando atividades que a estimulem mais, as funções dependentes dela serão mais facilmente apropriadas e aproveitadas pelos sujeitos. Em outras palavras, ao realizarmos as ações correspondentes a cada região cerebral, durante seu período crítico, estimularemos o seu desenvolvimento e ela tornar-se-á melhor aparelhada para as necessidades do indivíduo.

O termo, período crítico, também indica que há um determinado tempo para cada região se desenvolver, tempo este que, em geral, dura mais do que alguns meses na espécie humana e pode, em alguns casos, como da formação da memória e do raciocínio, durar a vida inteira. Porém, algumas habilidades importantes como a visão e a linguagem, dependem de regiões cerebrais cujos períodos críticos iniciam e terminam ainda na infância, por este motivo algumas atividades pertinentes aos processos educativos podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento biológico dos sujeitos.

Por exemplo, a região cerebral que controla a visão se desenvolve do nascimento até os dois anos de idade. Se uma criança nascer com catarata e não for operada antes de completar dois anos, ficará cega para sempre, mesmo que seja operada, pois findando o período crítico o córtex visual não se desenvolverá mais. Nesta fase é importante estimular atividades visuais e para isto se podem utilizar brinquedos que variem quanto a forma e a cor, bem como realizar brincadeiras com os jogos de encaixe. À medida que a coordenação motora vai se aperfeiçoando, estes brinquedos devem ir gradativamente apresentando novos desafios visuais e motores como os jogos de montagem de objetos maiores a partir de peças menores, atividades de desmontar e remontar brinquedos, desenho e pintura (rabiscos), entre outros.

Outro período crítico importante a ressaltar é o da fala que se desenvolve a partir de um ano e oito meses até os doze anos de idade . Embora a maioria das crianças exercite princípios da fala antes dos 1,8 anos, não significa que as crianças que não o fazem tenham problemas, mas é sempre bom verificar se elas escutam bem. Neste período é necessário que se aprenda uma linguagem, caso contrário esta região cerebral não se desenvolve. Embora outras regiões possam ser usadas para desenvolver uma linguagem, ela não será estruturada, não terá fluência. Por outro lado, durante o período crítico da região da fala é mais fácil aprender uma língua estrangeira que se tornará "natural" para a pessoa. Além desse período as línguas estrangeiras aprendidas utilizarão elementos da região da fala, mas necessitarão de outras regiões cerebrais e não parecerão naturais.

Durante o período crítico das regiões cerebrais que controlam a linguagem é importante a realização de "brincadeiras" fonéticas, bem como atividades que exijam movimentos "balísticos", ou seja movimentos rápidos que uma vez iniciados não possam mais ser consertados. Exemplos de movimentos balísticos são o martelar, o rebater de uma bola com uma raquete ou um taco, o lançamento de projéteis com as mãos. Como este período crítico é bastante extenso durando até o final da infância por volta dos onze anos de idade, estas atividades devem ir sendo adequadas ao desenvolvimento psicomotor dos sujeitos. Nas primeiras fases do desenvolvimento os movimentos balísticos podem ser treinados com chocalhos, mesmo antes do início desse período crítico. Mais adiante se pode usar o lançamento de bolas em determinada direção e depois o lançamento de dardos (existem brinquedos de jogo de dardos adequados às crianças menores, que não oferecem riscos). 

O objetivo da linguagem é a comunicação, logo as brincadeiras e jogos infantis devem se dirigir para atividades que envolvam comunicação, logo as brincadeiras e jogos infantis devem se dirigir para atividades que envolvam entre os sujeitos. Nos primeiros anos de vida as crianças não se interessam muito por brincarem umas com as outras, mas gostam muito de ouvir estórias e isto se constitui num dos principais estímulos para o desenvolvimento cerebral nessa fase. À medida que crescem os sujeitos devem aumentar o seu envolvimento com as estórias, isso pode ser feito através de brincadeiras e jogos que desafiem à imitação, à representação e à criação de novas estórias. Ao escolhermos os jogos e brincadeiras infantis devemos ter em conta sempre que não se pode ensinar qualquer coisa em qualquer tempo às pessoas enquanto elas não dispuserem de estruturas para se apropriarem  de determinados conhecimentos. Por outro lado, em alguns casos como o córtex visual e da linguagem, finalizando o período crítico para o desenvolvimento de certas habilidades específicas, o aprendizado "cerebral" não será mais possível, ou seja, os neurônios dessa região cerebral não se desenvolverão mais.

Outra característica básica do desenvolvimento cerebral é a necessidade de "reforço" dos estímulos, ou seja, da repetição das atividades. Esta é uma característica que se mantém ao longo de toda a vida dos sujeitos, porém durante a infância o número de repetições deve ser maior. Quando trabalhamos o conhecimento através de experiências práticas, é fundamental que deixemos as crianças descobrirem o que está acontecendo. Se elas não descobrirem tudo o que queremos, não devemos nos apressar, podemos deixar para repetir o experimento mais tarde, depois de alguns dias ou mais, quantas vezes forem necessárias, pois para elas cada descoberta não será uma repetição, mas algo totalmente novo. Ao não aproveitarmos as etapas do desenvolvimento cerebral, desenvolvendo jogos e brincadeiras que auxiliem este processo, deixamos que se percam capacidades que facilitariam as aprendizagens dos sujeitos.

A importância das interações entre os sujeitos e o meio pode ser ressaltada ao analisarmos algumas anomalias biológicas graves como a Síndrome de Sturge-Webwe, uma anomalia congênita de má formação vascular do cérebro, que prejudica o fluxo do sangue, afetando a oxigenação e a nutrição do cérebro. Esta má formação vascular pode gerar convulsões e retardamento mental. Neste caso, dependendo do tamanho da área cerebral lesada, somente com tratamento cirúrgico o problema pode ser resolvido. Por estranho que possa parecer, através de procedimentos que duram, em média, dez horas, as cirurgias empregadas envolvem a retirada de um dos hemisférios cerebrais e são chamadas hemisferotectomia. Um caso intrigante é o de um garoto inglês que aos oito anos de idade falava com vocabulário restrito, sua gramática era precária e ele ainda estava na fase de aprender novas palavras e de se atrapalhar com frases mais complexas. Devido à falta de irrigação sanguínea, o funcionamento normal da porção esquerda de seu cérebro, onde estão justamente as áreas chamadas de Broca e Wernicke, tinha sido inibido. Ele só conseguia dizer "mama" e emitir sons compreendidos apenas para sua mãe, mas a sua capacidade de desenvolvimento da linguagem após a cirurgia foi impressionante.

Este menino foi submetido a hemisferotectomia às vésperas do nono aniversário, para se curar das convulsões que vem da epilepsia associada à síndrome de Sturge-Weber e começou a falar aos dez anos como uma criança de três. Em seis anos adquiriu conhecimentos linguísticos que uma criança normal demoraria sete para aprender. Este fato revela a surpreendente capacidade de adaptação do cérebro, o seu poder de transferir uma função originária de uma determinada região cerebral para outra. Esse mecanismo de compensação não é igual durante toda a vida, quanto maior a idade do paciente, menor a possibilidade de adaptação cerebral. Se uma pessoa de trinta anos retirar três centímetros da área de Broca nunca mais voltará a falar, porém se for retirado o hemisfério esquerdo inteiro de uma criança de três anos, em pouco tempo ela recuperará a fala. Isto ilustra a capacidade que o cérebro humano tem de se adaptar a situações novas nas primeiras fazes do desenvolvimento infantil.

Outro exemplo é de uma menina de quem foi retirado o hemisfério cerebral direito para curá-la de intensas crises convulsivas. Quando nasceu, esta menina parecia normal e saudável, a não ser por certa marca vermelho-púrpura que se estendia da pálpebra direita pela testa até a parte de trás da cabeça. Mais tarde seus pais descobriram que a mancha chamada de "Vinho do Porto" não era simplesmente um problema estético, pois estava associado à Síndrome de Sturge-Weber. Com o passar do tempo, começaram as convulsões, cada vez mais frequentes, que deixavam sequelas cada vez maiores. A menina chegou a ponto de ter dificuldade de ficar em pé. Raramente falava e, quando o fazia, ela apenas balbuciava alguns monossílabos. Não conseguia pronunciar a palavra toda. Com quatro anos foi submetida à cirurgia. O médico ficou assustado como emaranhado de vasos anormais que atingiam a superfície, em vez de matéria firme, branca e cinza, o lado direito do cérebro parecia uma massa de gelatina de morango. Através da hemisferectomia, foram removidas regiões cerebrais que concentram muitas funções sensoriais e cognitivas. Mesmo assim, após a cirurgia, o seu nível de inteligência elevou-se rapidamente, quando o lado esquerdo absorveu as funções do direito. Três semanas após a cirurgia, a menina já falava mais do que em toda a sua vida. Estes dois casos comprovam que o aparato biológico é necessário ao desenvolvimento cognitivo. Portadores de síndromes que causam uma má formação cerebral não conseguem desenvolver as atividades que costumamos designar como inteligentes. A intervenção cirúrgica devolveu a eles a possibilidade de dispor de uma estrutura biológica capaz de reagir às interações sociais, mas nos dois casos citados não se pode ignorar que havia alguma forma de comunicação entre as crianças e seus pais, ou seja, havia interação social e isto também foi essencial para recuperação.

Quando pensamos em educação infantil temos que lembrar que nos primeiros anos de vida o desenvolvimento biológico segue determinados caminhos e ritmos, como salienta Piaget. Os bebês e crianças pequenas são muito semelhantes, mesmo tendo nascido em países com culturas bem diferenciadas. Desse modo, os primeiros anos de educação devem primar em criar condições que ajudem o desenvolvimento biológico e cerebral. Para isto deve-se ter em conta que o desenvolvimento da motricidade e o aspecto lúdico das atividades são essenciais. Também as questões relacionadas ao bem-estar físico não podem ser negligenciadas, pois uma criança cansada, com fome ou amendrontada se fechará para o mundo e não aprenderá.

Em resumo pode-se dizer que o princípio da aprendizagem depende da confiança que a criança deposita nos educadores e isto depende da cultura destes educadores, de como eles vêem a criança. Quanto mais soubermos sobre o significado da construção do conehcimento mais poderemos criar as condições necessárias ao desenvolvimento cognitivo. Quanto mais soubermos sobre os diferentes assuntos mais facilmente poderemos explorar os aspectos lúdicos relacionados aos diferentes conteúdos. O verbo educar, na infância, pode ser traduzido como: brincar de um jeito especial. Antes do saber vem o prazer. Assim quando uma criança resolve um problema, como a montagem de uma quebra cabeças, por exemplo, ela sente prazer e este é o início do conhecer, pois somente depois de várias montagens é que ela passa a entender o processo. 

A construção do conhecimento se dá pela contínua interação dos sujeitos como o meio. Nos primeiros anos de vida o número de vezes que uma pessoa deve repetir uma operação para construir o conhecimento é maior, com os anos isto vai diminuindo. Todavia, mesmo um adulto quando retoma o estudo de algum tema sempre reaprenderá algo novo, que está ali, mas não era visto. Os exemplos citados sobre remoção cirúrgica de um hemisfério cerebral inteiro e a posterior recuperação dos pacientes não podem ser reduzidos aos procedimentos médicos, pois se não houvesse estímulos do meio, que proporcionassem o desenvolvimento de outras redes neurais compensatórias, o desenvolvimento das habilidades desses sujeitos acabaria por não acontecer da mesma forma. Por outro lado, eles demonstram a incrível plasticidade cerebral durante os primeiros anos de vida e destacam a seriedade dos jogos e brincadeiras infantis. Uma criança brincando é uma criança que está se desenvolvendo e aprendendo melhor, bem como, criando maiores possibilidades para a vida adulta, não está apenas "passando o tempo", está ganhando tempo.

O conhecimento sobre o desenvolvimento do cérebro e a construção de redes neurais nos leva a compreender que a nossa estrutura pode ser melhorada, mudada, curada e desenvolvida. 
Nesse contexto, conhecer é interagir para viver melhor, é lutar contra a passividade mesmo diante de 
problemas orgânicos, é desconfiar que as doenças podem ser traduzidas como necessidades especiais e podem se constituir em novas capacidades que o organismo tem para criar outras formas de estruturação. O funcionamento cerebral e construção de redes neurais constituem um dos problemas das neurociências, ainda precisam ser minuciosamente estudados, detalhados e conhecidos para, a partir deles, os educadores poderem embasar suas ações práticas, extrapolando, criando, transcendendo essa mesma teoria para posteriormente registrá-la teoricamente.
Aos educadores interessa conhecer o cérebro em relação às suas estruturas, limitações e períodos críticos de desenvolvimento afim de alterar e melhorar, através de sua prática pedagógica, as condições de vida dos sujeitos, tornando este conhecimento útil ao ser humano, para que ele seja mais feliz. Construir conhecimento é aprender conjuntamente, não se ensina nada a ninguém, não se diz o conhecimento, devemos vivê-lo com os educandos e aprender com eles, através de suas dificuldades encontramos desafios para novas descobertas pedagógicas e isto requer sempre a busca teórica. Ao observar as brincadeiras e jogos infantis com interesse podemos descobrir mais sobre o ato da descoberta. Esta é uma contribuição que artigo pretende ao aprofundar conteúdos que podem qualificar a prática pedagógica. Aprende-se com o corpo inteiro, o conhecimento não é algo que pode entrar todo pelos nossos olhos, pois não está nas coisas ou nas pessoas em si, mas resulta da interação dos sujeitos com estas coisas e pessoas, com o seu mundo. Através dos jogos e brincadeiras é que se estabelecem estas interações na infância, por isto eles são atividades muito sérias.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Conhecendo o mundo através das sensações

A estimulação à aprendizagem deve iniciar a partir do nascimento, pela família, ou por quem quer que esteja encarregado dos cuidados da criança, para lhe garantir um aprendizado saudável e prazeroso. 

Elogios, palavras amorosas são estímulos capazes de garantir a autoestima, a autonomia e a independência do indivíduo na vida adulta. 

Entender o processo de aprendizagem e suas implicações, é o primeiro passo para quem quer que esteja envolvido na educação de crianças. 

Dele devem partir os planejamentos e as intervenções que se acharem necessárias para melhor aproveitamento do conhecimento. 

Ter consciência de que cada ser humano é único e possui suas peculiaridades e dificuldades, que devem ser respeitadas e trabalhadas de forma individual, valendo-se daquilo que o indivíduo traz consigo, ou seja, sua carga genética, sua estória de vida, seu contexto sociocultural. 

Saber observar qual é o nível da criança em relação às aprendizagens, aos jogos, às brincadeiras e demais situações a que ela seja exposta é demasiado importante para que não perca o gosto por aquilo que ela vem fazendo. 

Sempre a incentivando a buscar, quanto maior a segurança e o estímulo mais motivação terá para aprender. 

Trabalhar com materiais diversos, que fazem parte do cotidiano das crianças, além de estimular a aprendizagem irá torná-la mais prazerosa e agradável, oferecendo oportunidade de maior crescimento intelectual e afetivo. 

A escola deve estimular a aprendizagem das crianças, fazendo uso dos mais diversos meios e ambientes, oportunizando de forma positiva o maior número de experiências possível. 

Conhecer o aluno, suas potencialidades, o processo de aprendizagem em que se encontra para poder motivá-lo a aprender. 

Para que a criança seja estimulada há que se criar um vínculo de afetividade com ela, e este vínculo será natural com sua família, com aqueles que lhe cuidaram, mas terá que ser cuidadosamente traçado pelos educadores para que consigam o objetivo principal da educação, que é o desenvolvimento do indivíduo como um todo, cognitivo, afetivo e motor.

Leia também : https://brinquedosmaterialreutilizado.blogspot.com/2020/05/observe-as-diferencas-entre-uma-mao.html

https://brinquedosmaterialreutilizado.blogspot.com/search?q=descobertas+sensoriais

Instagram https://www.instagram.com/brincadeirasustentavel/






Sobre o desenvolvimento da oralidade na Educação Infantil

“Para compreender a linguagem dos demais não é suficiente compreender as palavras, é necessário entender seu pensamento.” (Lev Semyonovich Vygotsky)

Como se dão os processos de oralidade nas diversas etapas do desenvolvimento de crianças de três a quatro anos de idade?

Inicialmente essa pesquisa foi fundamentada nas teorias de Vygotsky (1984) e Piaget (1999), também buscando conhecer os conceitos que os documentos oficiais trazem sobre a Educação Infantil e suas propostas pedagógicas. Por conseguinte, abordou-se a importância do papel do professor e a relação da família como participante desse processo de desenvolvimento. A metodologia utilizada foi de natureza qualitativa, através de um estudo de caso realizado em uma escola da rede privada com uma criança de três anos e meio de idade, pertencente à creche da educação infantil nível III. Como estratégias foram feitas observação e entrevista com a professora da turma. Com base na investigação, analisamos os processos de desenvolvimento da oralidade da criança observada e suas respectivas dificuldades podendo ser geradas na fala, o seu comportamento na sala de atividades e em casa, suas interações com os colegas de turma, com a professora e com os familiares; também observando e averiguando o trabalho pedagógico da professora, sua relação com a criança e com a família. Por fim, mediante os resultados da pesquisa, trazemos nas considerações finais os fatores que determinam para o retardamento da fala e os que contribuem para a construção da linguagem oral da criança.

INTRODUÇÃO 

A prática pedagógica tem diversas funções quando se trata de favorecer e estimular as capacidades da criança, especialmente na educação infantil. A fala é uma das importantes competências que a criança desenvolve favorecendo o desenvolvimento de outras funções, como por exemplo, as interações, e em geral todos os seus aspectos cognitivos. Com base nisso, é necessário que o tema abordado seja discutido por professores, gestores e inclusive pela família, pois esta também é de fundamental importância nesse processo servindo de exemplo e estímulo para a criança na sua descoberta da fala. 

A linguagem é o que une os indivíduos de uma sociedade, seja pela fala ou manifestada de outras formas, como os gestos ou as expressões faciais. Nesse sentido, o sujeito consegue entender o que o outro quer dizer e assim as comunicações se tornam possíveis formando grupos sociais e externando pensamentos. Além disso, a fala também favorece a cultura, seja por meio de idiomas, de acordo com determinadas regiões, ou através do grupo social ao qual se pertence.

Para a melhor compreensão do tema e maior embasamento teórico, trouxemos os autores Piaget (1999) e Vygotsky (1984) que serviram como fonte teórica do estudo, no intuito de melhor entender o processo de desenvolvimento da oralidade da criança, fazendo relação com seus fatores de influência como a afetividade, cognição, o meio social e a genética. Também traremos as Diretrizes Curriculares Nacionais (2012) e a Base Nacional Curricular Comum (2017) para abordamos sobre a Educação Infantil. Além dos Referenciais Curriculares Nacionais (1998), buscando compreender o papel do professor como participante e atuante na construção da linguagem oral da criança. 

O interesse inicial por realizar este estudo ocorreu por meio de uma motivação familiar. O surgimento de nossa inquietação estava próximo a nossa realidade, concretizado por alguém que se encontrava em situação de dificuldades na fala, em seus primeiros anos de vida, ainda em processo de desenvolvimento cognitivo. Outro ponto que também nos motivou para a realização da investigação foi por este assunto não ser um tema discutido nas escolas, ocasionalmente, não ficando muito em pauta pelos profissionais da educação. Partindo disso, acreditamos que o estudo servirá de auxílio na obtenção de maiores conhecimentos para educadores, pesquisadores, famílias e outros sujeitos que se sentirem interessados pessoalmente ou profissionalmente sobre os processos de desenvolvimento da oralidade.

Trouxemos para este estudo algumas inquietações traduzidas nestas questões: Como se dá o desenvolvimento da oralidade das crianças de 3 e 4 anos de idade? Como ocorre o desenvolvimento da criança e de sua fala na Educação Infantil segundo os pensadores Piaget (1984) e Vygotsky (1999)? De que maneira o professor pode trabalhar em sala de aula para estimular a fala das crianças e dirimir suas dificuldades? Como a família pode contribuir para o desenvolvimento desse processo?

Nesse sentido, abordaremos especialmente o desenvolvimento da fala em crianças de 3 e 4 anos de idade buscando compreender a importância do papel da família, dos professores de educação infantil e da sociedade como participantes e atuantes das aprendizagens do sujeito nesse processo. 

Diante desta realidade, o objetivo geral que orienta este trabalho consiste em: Investigar os processos envolvidos no desenvolvimento da oralidade das crianças na educação infantil. Para permitir uma compreensão mais ampla, buscou-se: compreender os processos de fala da criança apresentando como os pensadores analisam seu desenvolvimento; avaliar de que maneira os professores da educação infantil trabalham para desenvolver a oralidade da criança e dirimirem as dificuldades encontradas; aferir maneiras de como a família pode contribuir no desenvolvimento desse processo.

A pesquisa aqui apresentada encontra-se assim organizada: na primeira seção abordaremos sobre o desenvolvimento da oralidade nas perspectivas de Vygotsky (1984) e Piaget (1999) apontando seus pensamentos, estudos e investigações enfatizando o que dizem a respeito da linguagem oral e os fatores que contribuem nesse processo. Além disso, também trataremos a importância da família como meio de favorecer estímulos à fala através das interações que realiza com a criança. 

Na sessão seguinte falaremos a respeito do que dizem os documentos oficiais sobre a Educação Infantil, esta que se divide em creche e pré-escola. Partindo disso, abordaremos sobre as propostas pedagógicas, a importância que a escola tem na vida da criança e os direitos que lhe são assegurados. Com base nisso, faremos relação com o que os documentos trazem sobre o desenvolvimento da oralidade enfatizando a importância da fala como meio necessário no desenvolvimento cognitivo; também abordando o papel do professor e da escola como um dos principais participantes em favorecer e estimular a construção de um rico vocabulário para a criança.

Com intuito de alcançar os objetivos da pesquisa, como metodologia, organizamos nosso estudo em uma pesquisa de natureza qualitativa, através de um estudo de caso associado por uma pesquisa bibliográfica que forneceu subsídios para as análises dos dados coletados em nossa pesquisa de campo. Foi feita uma observação da vivência escolar de uma criança de três anos e meio, que está cursando infantil nível III – creche, acompanhando  por alguns dias um pouco da sua rotina na escola e em casa, seu comportamento com a professora, com a família e seus colegas. 

Por conseguinte, também realizamos uma entrevista com a professora da turma por meio de um questionário, afim de melhor conhecer seu trabalho pedagógico. Logo depois, apresentamos os resultados do estudo de caso, abordando a entrevista com a professora, a observação da criança e a observação da pesquisa. Neste sentido, fizemos relação com alguns teóricos para maior apropriação de conhecimento. 

Nas considerações finais, abordamos os objetivos que alcançamos com a pesquisa, respondendo as perguntas que foram propostas no trabalho. Concluindo a importância do estudo realizado como fonte de pesquisa e enriquecimento teórico para todos os pais ou responsáveis que buscam maneiras de dirimir dificuldades na fala da criança. Também para professores e pesquisadores que buscam compreender o processo de evolução da linguagem e favorecer seu desenvolvimento no intuito de alcançar melhorias, auxiliando em novos estudos e pesquisas.




DESENVOLVIMENTO DA ORALIDADE NA INFÂNCIA 

A presente sessão tem como objetivo apresentar os pensamentos que os autores Vygotsky (1984) e Piaget (1992) têm acerca do desenvolvimento da fala da criança. Partindo disto, ideias relevantes serão levantadas e refletidas, trazendo as concordâncias que os autores possuem como também as diferentes percepções que fazem em relação ao tema abordado. 

Desenvolvimento da fala nas perspectivas de Vygotsky e Piaget 

A criança é um ser que nasce com diversas capacidades mentais e que por meio de suas interações com a família e com outras pessoas que a cerca desenvolve diversas formas de se comunicar. Partindo disso, a comunicação faz parte de um processo que está inteiramente ligado as conjunto de habilidades que a criança possui, possibilitando que sua comunicação não dependa apenas da fala, mas de outros mecanismos que veremos mais a frente. Segundo Santos e Farago (2015, p. 115): 

a partir dessa interação e do diálogo com outras pessoas, a criança desenvolve uma inteligência denominada verbal, essa inteligência é guiada pela linguagem agindo sobre as ideias. A criança começa a comparar, classificar, inferir, deduzir etc., criando modalidades de memória e imaginação indicando situações de desejo e objetos do mundo externo, as crianças utilizam palavras que especifica características próprias, servindo de instrumento para o diálogo e para o pensamento discursivo. 

Considerando esta afirmação, percebemos que a interação da criança com o mundo se torna mais significativa possibilitando maior desenvolvimento de sua autonomia. 

Na perspectiva de Vygotsky (1984), a criança tem contato com a linguagem através da interação com outro indivíduo, ou seja, de maneira social, recebendo estímulos através de suas primeiras interações por meio do contato com os pais e com a família. 

Vygotsky (1984, p. 21) afirma que: a fala da criança é tão importante quanto a ação para atingir um objetivo. As crianças não ficam simplesmente falando o que elas estão fazendo; sua fala e ação fazem parte de uma mesma função psicológica complexa, dirigida para a solução do problema em questão. 

Entretanto, a fala e a ação não se originam apenas no pensamento, mas também de maneira primitiva, de forma independente. Nesse sentido, compreende-se que a fala está ligada ao pensamento, mas não inteiramente. Vygotsky (1996, p. 208) afirma que: “a forma  mais primitiva de fala é o grito e outras reações vocais que acompanham movimentos, fortes emoções e assim por diante.”. Também dizendo que essas ações da fala “Têm suas raízes na simples tendência a aliviar a tensão que se cria no organismo; não podem pretender outro papel senão o de movimentos expressivos simples.”. Vygotsky (1996, p. 209) continua afirmando que:

a fala e o pensamento podem ocorrer separadamente no adulto, mas isso não significa absolutamente que esses dois processos não se encontrem e se influenciem reciprocamente. Pode-se dizer exatamente o contrário: a convergência entre pensamento e fala constitui o momento mais importante no desenvolvimento de um indivíduo e é exatamente essa conexão que coloca o pensamento humano numa altura sem precedentes. 

Partindo disso, compreende-se que a fala também faz uma relação com o pensamento, pois ao usar a linguagem para se comunicar, antes a mensagem passa pela mente e logo depois é transmitida num tipo de fala interna, que se origina primeiramente no pensamento.

A criança nasce sem conseguir compreender as linguagens que estão sendo faladas ao seu redor, então, se comunica da sua forma mais primitiva, através de choros, gritos e gemidos vai buscando manter uma comunicação com os adultos. No decorrer de suas vivências com mundo a criança passa a perceber que as falas que escuta possuem significados que auxiliam nas relações uns com outros. Nesse sentido, passa a perceber que fazendo uso de certos sons e das combinações entre eles, ela se torna mais compreendida e passa conseguir o que deseja da melhor maneira. Um exemplo que Vygotsky (1996, p. 209) traz é que, “dizendo “am-am”, pode-se conseguir algo para comer, e dizendo “ma-ma”, pode-se chamar a mãe.”. 

São nas imitações dos sons que escuta que a criança vai criando seu próprio vocabulário. Com um ano de idade esses sons são mais frequentes e no decorrer de seu crescimento sua linguagem vai se desenvolvendo. Por meio das junções de sons, a criança, inicialmente, usa a fala para exprimir seus desejos e satisfazê-los, quando ela faz essa percepção das palavras começa a ter curiosidade sobre tudo o que lhe interessa fazendo perguntas sobre o nome das coisas e usando a fala de maneira constante. Logo, vai adquirindo de maneira gradativa maior repertório ao seu vocabulário e “Finalmente, depois de determinado período, começa a criar palavras ativamente, começando a ampliar seu estoque insuficiente de palavras com novas palavras inventadas de improviso.” (VYGOTSKY, 1996, p. 210). 

O ser humano nasce com alguns instintos podendo ser expressos por meio de atos intuitivos. Os sons que uma pessoa pode transmitir já nascem com ela, porém para que esses sons tornem possível um diálogo é importante que a criança receba estímulos. A oralidade presente no meio social em que vive são aspectos fundamentais para que a criança crie proximidades com a fala. 

Conforme Rego (1995), a fala tem como função o contato social entre as pessoas, ou seja, possibilita uma comunicação. Partindo disso, compreende-se que a linguagem é impulsionada pela necessidade de se comunicar. Nesse sentido, os balbucios e o choro são meios iniciais de comunicação não convencional que o bebê encontra para transmitir uma determinada mensagem para quem cuida dele, expressando também através de sons, gestos e expressões faciais ou corporais suas necessidades. Vygotsky (1984) nomeia essa fase como período pré-intelectual do desenvolvimento da fala. 

Além disso, a criança também nasce com necessidades de buscar soluções para os conflitos que pode encontrar no seu dia a dia, sejam em suas brincadeiras ou em obstáculos. Rego (1995, p. 64) dá o seguinte exemplo, “é capaz de se utilizar de um baldinho para encher de areia ou de subir num banco para alcançar um objeto”. Vygotsky (1984) denomina esse período como pré-linguístico do desenvolvimento no pensamento, não sendo expressa por meio de atitudes diárias da criança.

A linguagem é o meio de interação entre os indivíduos de uma sociedade. Por meio dela as relações sociais se tornam possíveis. Nessa perspectiva, o adulto faz uso da linguagem para se comunicar dando significado aos sons, gestos e expressões da criança para sua maior inserção no mundo social. Rego (1995, p. 65) afirma que: 

Na medida em que a criança interage e dialoga com os membros mais maduros de sua cultura, aprende a usar a linguagem como instrumento do pensamento e como meio de comunicação. Nesse momento o pensamento e a linguagem se associam, consequentemente o pensamento torna-se verbal e a fala racional. 

Segundo Rego (1995), Vygotsky (1984) em seus experimentos percebe o desenvolvimento da fala como um processo que inicialmente se dá de uma fala exterior para uma fala egocêntrica e seguidamente para uma fala interior. A fala egocêntrica seria aquela que ocorre entre a fala exterior e a interior. 

A criança inicialmente utiliza a fala como meio de o adulto suprir suas necessidades, um exemplo seria a criança pedir ao adulto algo que não está ao seu alcance, conforme Rego (1995, p. 66) a fala “não é utilizada como um instrumento do pensamento. Vygotsky chamou essa fala de discurso socializado”. 

Já em outro momento a criança passa a internalizar essa fala e começa a interagir com ela mesma, na busca de sozinha conseguir o que quer. Ela planeja em seu pensamento como alcançar tal objeto e assim internamente interage com suas ideias e possibilidades de conquista. Segundo Rego (1995), Vygotsky nomeia esse processo como discurso interior. 

No terceiro momento a criança passa a expor em voz alta os planejamentos que faz em seus pensamentos, num processo ainda maior de interação com ela mesma. Ela não se dirige mais ao adulto na busca de alcançar o objeto, e seus planejamentos não ficam mais somente internos em seus pensamentos, agora a criança fala em voz alta o que deseja e como fará para conquistar. 

Partindo disso, é possível perceber que a fala ocorre por meio de relações com o pensamento e também individualmente, ou seja, na sua forma primitiva. Seu processo na perspectiva Vygotskyana se dá por meio das interações sociais, sendo necessárias para seu desenvolvimento estímulos dos adultos na socialização com a criança e da criança com o meio influenciando em seus pensamentos e suas ações sobre o mundo e o meio que a cerca.

Piaget (1999), em sua perspectiva em entender como o sujeito se constrói, dedicou-se a estudar sobre como se organiza o conhecimento do mundo real no indivíduo. Para isso elaborou experimentos e testes em suas observações do desenvolvimento infantil, incluindo até seus filhos. Nesse sentido, buscou compreender o processo de desenvolvimento humano numa perspectiva biológica na qual o conhecimento se desenvolve a partir das experiências que o sujeito vivência, separando em quatro estágios que são: sensório motor (0 a 2 anos); pré-operatório (2 a 7 anos); operações concretas (7 a 11 ou 12 anos) e o das operações formais (11 ou 12 anos em diante). 

No sentido de melhor abordagem da pesquisa trataremos mais sobre o estágio das pré-operações, pois é nesse período em que mais se aparece o uso da linguagem, que acaba por trazer modificações nos aspectos intelectual, afetivo e social. Partindo disso, o aparecimento da linguagem acaba por estimular o desenvolvimento do pensamento, ou seja, as imaginações da criança passam a ser exposta em suas brincadeiras, agora ela brinca e diz o que brinca. Como por exemplo, se imagina que um simples chapéu é um chapéu de bruxa, a criança brinca e ao mesmo tempo narra todo o seu momento de diversão.

“A criança desse período apresenta um pensamento pré-operacional, com comportamento egocêntrico, concebendo a existência de um mundo a partir de sua própria perspectiva, centrada em si mesma.” (PILETTI, 2014, p. 139). Nesse sentido, é quase impossível que realize trabalhos em grupo, além de não conseguir se colocar no lugar do outro. Portanto, cabe ao adulto e ao professor estimular as relações de diálogo entre as crianças. Como por exemplo, organizar o ambiente de modo que proporcione essa comunicação e auxiliar no processo de uso da fala por meio de diálogos significativos.

Outro aspecto importante sobre a fase das pré-operações é que muito da linguagem da criança parte de práticas imitativas por meio das observações que faz dos adultos. Com base nisso, é importante que o adulto atente para o que fala, pois a criança o percebe como um modelo a ser seguido. Além disso, na perspectiva de Piaget, Falcão (2003) percebe que: 

A participação do adulto na vida da criança vai tomando novos rumos a partir do momento em que ela, atingido o pensamento simbólico, se capacita para o entendimento da linguagem verbal. (...) A linguagem garante a socialização da ação e permite à criança aprofundar seu relacionamento com os demais seres humanos (FALCÃO, 2003, p. 202). 

No aspecto afetivo, Bock (1999, p. 103) aponta que “surgem os sentimentos interindividuais, sendo que um dos mais relevantes é o respeito que a criança nutre pelos indivíduos que julga superiores a ela. Por exemplo, em relação aos pais, aos professores.”. É nesse momento que a criança passa a refletir sobre a obediência, vendo no adulto alguém que rege as regras. Com o tempo esses pensamentos vão ganhando novos significados, de acordo com as experiências que ela vai adquirindo, esse processo ocorre por meio da assimilação e da acomodação. Nesse sentido, Cada conhecimento novo que é assimilado modifica a pessoa, enriquecendo-a. Porém, é sobretudo na acomodação que se constata a aprendizagem. A acomodação é uma alteração na própria estrutura mental; é uma nova forma, mais complexa e profunda, de ver as coisas ou de pensar, que vai permitir um tipo diferente de assimilação (FALCÃO, 2003, p. 201). 

Piaget (1999, apud SANTOS e FARAGO, 2015) compreende que a comunicação ocorre inicialmente com as pessoas que convivem com a criança, que são a família e a escola, sendo estes os dois meios principais para um bom desenvolvimento da linguagem oral. Nesse sentido, a fala se dá a partir das interações que o adulto estabelece com a criança fazendo com que essa se sinta um sujeito capaz de se comunicar e torne-se participante do meio que vive. Santos e Farago (2015, p.120) dizem que: 

Podemos considerar que a fala se dá a partir da interação estabelecida pelas crianças desde que nascem, as situações cotidianas em que os adultos falam com ou perto delas fazem com que as mesmas conheçam e apropriem-se do mundo discursivo e dos contextos em que a linguagem oral é produzida.

Portanto, o constante uso da linguagem oral favorece esse desenvolvimento, aproximando a criança da fala através de estímulos que vivencia em seu dia a dia. Partindo disso, a escola também faz parte desse processo por ter um papel fundamental de proporcionar  e estimular usos contínuos da fala em atividades diárias que o professor pode trabalhar com seus alunos.

Com base nisso, atividades propostas devem estimular a participação da criança e fazer com que esta se sinta parte das relações de comunicações, proporcionando, se possível, uma grande quantidade de materiais que instiguem sua inteligência por meio de desafios e investigação. Além disso, a relação com outra criança também é fundamental para que através das interações desenvolva suas capacidades linguísticas, pois mesmo com o adulto tendo sua importância nesse processo, essa troca possibilitará uma superação dos desafios que ocorrem de igual pra igual.


































Tapete de texturas

Possibilita as crianças a sentirem diferentes texturas, explorando diferentes materiais como algodão, lixa, botões, espuma, eva, papéis ondulados entre outros, estimulando assim a coordenação motora ampla, a percepção tátil, a curiosidade e a imaginação.





















---------------------
e mais recursos educativos