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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Como as plantas podem ser importantes para o desenvolvimento infantil, e como elas podem promover o bem-estar e a saúde do seu filho.

Vantagens do contato das crianças e os pais com a natureza, dentro e fora de casa.:

-as plantas são capazes de remover as toxinas responsáveis pela poluição do ar em ambientes fechados.

-as plantas auxiliam em até 20% a redução do acúmulo de poeira do ar nas residências. 

-as plantas em casa influenciam o humor das crianças para melhorevitando o estresse e aumentando o nível de felicidade dos moradores. 

Com isso, já podemos perceber que ter um toque verde em casa vai muito além do que uma tendência de decoração. Mas também melhorar a convivência entre os pais e filhos, a qualidade de vida e também a saúde mental.



Confira a seguir como o impacto positivo das plantas para as crianças, e como elas podem beneficiar em seu desenvolvimento pessoal.

  • Vantagens de ter plantas em casa
  • Benefícios das plantas para as crianças
  • Plantas ideais para crianças
  • Principais cuidados com as plantas
  • Quais plantas não escolher para o seu filho?

 

Vantagens de ter plantas em casa

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Floricultura, mesmo com a crise mundial causada pela pandemia do coronavírus, o setor da floricultura no Brasil encerrou o ano de 2020 com um crescimento de 10% em sua economia.

Com isso, podemos perceber que nem mesmo uma enorme pandemia conseguiu evitar a percepção das pessoas em relação à importância das plantinhas dentro de suas residências. 

Isso porque, por promoverem o bem-estar e outros benefícios maravilhosos para a saúde mental e física, as plantas podem causar um certo alívio nos dias de home office e isolamento social.

Ademais, a prática do cultivo de plantas também é considerada uma atividade terapêutica, reduzindo os sintomas ligados à depressão e outros transtornos psicológicos, segundo uma pesquisa divulgada pelo ScienceDirect

Veja abaixo as principais vantagens de ter plantas dentro da sua casa:

1. Purificam o ar

Algumas plantas como a hera, lírio-da-paz e crisântemo, podem absorver melhorar alguns poluentes como a amônia, o tolueno e o formaldeído, que são extremamente prejudiciais à saúde. É o que afirma a NASA, em pesquisa realizada na década de 1980. 

Entre essas espécies, algumas outras também podem ajudar na absorção de compostos poluentes, como: a espada-de-são-jorge, aloe vera, jiboia, areca-bambu, entre outras.

2. Ajudam a relaxar

Além de proporcionar um ambiente mais relaxante em casa, o cultivo de plantas também é considerado terapêutico para você relaxar a sua mente e se distrair.

As plantas possuem um aroma natural para deixar a residência com mais perfumada e agradável. Aposte em flores como a gardênia e a lavanda, que possuem um perfume característico. 

3. Minimizam a dor e a ansiedade

Sociedade Americana de Ciências da Horticultura realizou um estudo em 90 pacientes recém-operados. E o resultado foi incrível: todos os que receberam arranjos de flores e folhagens em seus quartos, tiveram uma melhora significativa, com uma frequência cardíaca mais regulada, menores índices de ansiedade e fadiga e menor pressão arterial.

4. Estimulam a criatividade 

Você sabia que plantas mais coloridas auxiliam na sua criatividade

É isso mesmo! Um especialista da Costa Farms sugere que pessoas que sofrem com bloqueio criativo vão para um ambiente mais florido, já que elas ajudam a energizar o ambiente e gerar inspiração para facilitar o processo criativo.

5. Servem como umidificadores naturais

As plantas podem ser ótimas para hidratar o ambiente com suas gotículas de água geradas durante a transpiração. Por isso, tente substituir o seu umidificador convencional por plantas, como samambaias, por exemplo.

6. Ajudam na concentração

Um estudo elaborado pela Universidade Royal College of Agriculture revelou que os estudantes que tiveram contato com um ambiente mais verde, apresentaram 70% a mais de atenção durante as aulas.

7. Apresentam poderes curativos

Há milhares de anos que algumas espécies de plantas são utilizadas para curar diversas doenças, como a babosa, que ainda é muito utilizada em espécie de gel para o tratamento de queimaduras e outras feridas.

8. Reduzem crises alérgicas

Você sofre com crises alérgicas, como a rinite? Uma sugestão é contar com clorofitos em casa. Eles são capazes de absorver partículas alergênicas, como a poeira, e reduzir suas crises de alergia.

9. Acalmam a visão

Uma paisagem verde pode aliviar a tensão da sua vista. Por esse motivo, tente colocar plantas mais próximas à mesa do trabalho que tenha o seu computador ou perto do seu local de leitura. Essa pode ser uma ótima opção para não cansar a sua visão.

Com esses itens você já compreendeu como as plantas podem agregar para a sua saúde. Inclusive, já produzimos um conteúdo sobre as plantas ideais para você cultivar na sua casa. Clique aqui e confira!

 

Benefícios das plantas para as crianças

Quando falamos de plantas, estamos tratando de seres vivos, e não simplesmente de objetos decorativos. Certo? Por esse motivo, é fundamental cuidar o máximo possível da saúde da sua plantinha com regas e podas frequentes.

Inclusive, a prática do cultivo de plantas, pode ser uma ótima oportunidade para os pais ensinarem os seus filhos a respeitarem e cuidarem da natureza. Além disso, essa também pode ser uma atividade excelente para ser feita em família, criando e fortalecendo os vínculos afetivos entre os pais de filhos.

Vale destacar que as plantas auxiliam as crianças em questões relacionadas ao desenvolvimento pessoal, como as habilidades motoras, através do contato com os cheiros, cores e texturas da natureza.

Outro aprendizado que os pequenos terão será sobre a responsabilidade, já que a sobrevivência das plantas dependerá 100% de seus cuidados.

Veja outros benefícios das plantas para as crianças:

Desenvolvimento dos sentidos:

Quando o seu filho passa a ter mais proximidade com a natureza, ele começa desenvolver mais o seus sentidos cognitivos, como o olfato, através das ervas aromáticas, o paladar, ao provar os frutos, o tato, ao sentir as diferentes texturas de folhas e flores e a visão, ao observar os diferentes cores e formatos das plantas.

Organização:

Com um contato mais frequente com o meio ambiente fica muito mais fácil para os pequenos aprenderem as diferentes espécies de plantas através das suas cores, folhagens e estrutura. Com isso, elas também poderão exercitar sua organização pessoal, classificando as plantinhas em categorias, entre as que dão ou não dão frutos, as que são aromáticas, as que podem ser utilizadas como temperos, as que servem para fazer chás e óleos e também as medicinais.

Maior aceitação da diferença:

responsabilidade nos cuidados com as plantas também fará com que as crianças percebam que cada espécie possui suas diferentes necessidades e particularidades, assim como os seres humanos. E assim, eles aprenderão a respeitar as diferenças alheias.

Aprendem sobre o ciclo da vida:

Existem algumas plantas frutíferas que podem ser utilizadas para as crianças acompanharem um ciclo de vida mais completo, cultivando com frutos, flores, sementes e folhas. O cultivo pode ser feito com amoras, mexericas, jabuticabas, limões e romãs em pequenos vasos.

Maior respeito à natureza:

Sabemos que está cada vez mais difícil agregar a ideia da importância da sustentabilidade na vida dos adultos… E fica ainda mais complicado quando se trata de crianças. Porém, se o seu filho tem a presença das plantas durante a rotina, ficará mais fácil ensinar como a poda irregular das árvores pode impactar na camada de ozônio, como as plantas são essenciais para ajudar a limpar o ar, entre outros fatores. Com isso, elas podem se tornar mais conscientes com o meio ambiente.

Aprendem a cuidar dos seres vivos

Um exercício interessante que você pode utilizar para ensinar o seu filho a ter mais cuidado com os seres vivos é explicar os motivos que levam a planta a dependerem de certos cuidados para que elas tenham uma ideia mais humanizada sobre as verdinhas.

Mais responsabilidade:

Assim como os pets, as plantas são seres vivos que necessitam da responsabilidade dos seus donos. Por isso, é importante ressaltar que não pode arrancar ou machucar as folhas, e também é necessário regá-las e cuidá-las periodicamente. Depois de um tempo, você pode incentivar o seu filho a regar e cuidar das plantas sozinho. O que acha?

Melhora na alimentação:

Como as crianças estão super habituadas a verem os alimentos já prontos, elas acabam não entendendo de onde vieram e como foram produzidos. Tente mostrar como funciona o ciclo de crescimento das frutas, verduras e legumes. Assim eles terão uma maior ideia e entendimento sobre o que estão consumindo, talvez até despertando um maior interesse pela nutrição.

Foi descoberto por uma pesquisa feita pela Universidade da Flórida (EUA), que as pessoas que tinham um maior contato com a natureza e a jardinagem durante sua infância, consomem 15% a mais de legumes e frutas em relação àqueles que não tinham.

Exercita a paciência:

Como a criança tem a oportunidade de acompanhar o processo de crescimento e desenvolvimento das plantas desde a primeira semente, ela acaba aprendendo a exercitar a paciência, já que é preciso esperar até chegar o amadurecimento do fruto ou o desabrochar das flores.

Em resumo, mesmo que pareça uma atividade super simples, a prática do cultivo de plantas pode causar um enorme impacto na saúde, formação e educação das crianças, já que a ideia da importância e necessidade do cuidado com o meio ambiente está cada vez mais presente nas nossas vidas.

Sendo assim, o incentivo ao contato das crianças com as plantas faz com que elas desenvolvam uma maior sensibilidade em relação ao ecossistema.

Plantas ideais para crianças

Se você está em busca de plantas mais seguras, que podem ser divertidas e educativas para os pequenos, aí vai uma dica: evite espécies que sejam tóxicas. Além de prejudicar a saúde do seu filho, também pode prejudicar o seu bichinho de estimação.

Vale ressaltar que você deve escolher plantas que tenham um tamanho adequado para o seu filho e também seja mais fácil de cultivar. Ok?

Também converse com o seu pequeno para entender quais são os seus interesses, para optar por plantinhas que chame mais a atenção dele.

Veja algumas plantas que são mais adequadas para crianças:

Petúnia Roxa

Com opções de flores roxas e brancas, as petúnias roxas são perfeitas para crianças que gostam de praticar jardinagem ao ar livre. Elas podem ser super divertidas, por atraírem beija-flores e borboletas para o seu jardim.

Girassol

Essa também é uma planta que atrai muitos passarinhos e oferece néctar para as borboletas. Por ser inofensiva a crianças, o cultivo deve ser feito ao ar livre, em dias ensolarados, de preferência.

Suculentas

Por serem super fáceis de fazer manutenção e por possuírem muita textura, as suculentas são ótimas para as crianças explorarem as diferentes formas, padrões e tamanhos das folhas. Além disso, elas não machucam e não são venenosas

Amor-perfeito

Essas flores contam com uma grande diversidade de cores em suas pétalas, sendo um dos motivos por serem mais comuns no paisagismo. Além de terem um rápido crescimento, elas podem ser cultivadas em vasos, jardins ou canteiros.

Dálias vermelhas e amarelas

Um dos principais atrativos dessa espécie é a coloração das pétalas, que podem ser laranjas, amarelas e vermelhas. Além disso, elas também são conhecidas por atrair borboletas para o seu jardim.

Capuchinha

Apresentando lindos tons de vermelho, amarelo, rosa, laranja e creme, a capuchinha apresenta um visual exótico, com plantas seguras e também comestíveis, sendo utilizados para remédios naturais.

Filodendro-brasil

Com baixa manutenção, não apresenta riscos para as crianças e possui rápido crescimento. São super fáceis de cuidar, e também adaptáveis para jardins e decorações criativas.

Trevo Roxo

Trevo Roxo é considerado uma planta super dinâmica e divertida, já que suas folhas roxas se abrem e se fecham em resposta à luz do sol ou à luz baixa. 

Begônia

Se desenvolve melhor em clima quente, essa plantinha é super fácil de cuidar e não deve estar exposta em lugares que possuem muito vento. 

Quais plantas não escolher para o seu filho?

Agora que você já conhece algumas plantas que podem ser ideais para criança, queremos te alertar sobre plantas que devem ser evitadas, pois podem causar alergias e oferecer perigo por conta de seus espinhos, como: azaléias, mamonas, bicos-de-papagaio, comigo-ninguém-pode, copos-de-leite, entre outros.

Principais cuidados com as plantas

Ensine o seu filho sobre os principais cuidados para cultivar as plantas em casa:

  • Mantenha as plantas próximas de janelas ou varandas para que tenham maior contato com a luz, já que elas sobrevivem à base de fotossíntese.
  • Deixe a sua planta em ambientes que tenham janela com o máximo possível de circulação de ar. Evite deixá-las em lugares fechados, pois isso pode acabar prejudicando a saúde das plantas e aumentando as chances de uma proliferação de fungos.
  • Cada planta possui seu devido procedimento em relação à rega. Existem algumas que precisam ser regadas apenas uma vez na semana, e outras espécies exigem, pelo menos, três vezes na semana. Por isso, na hora de comprar a sua planta, pergunte como deve ser a periodicidade da rega.
  • Aplique adubo a cada três meses para favorecer o crescimento das plantas.


Conclusão

Durante esse texto você aprendeu quais são as vantagens de cultivar plantas em casa, como elas beneficiam a sua saúde e do seu filho, como elas ajudam no desenvolvimento pessoal das crianças, quais plantas são as mais ideais, quais plantas não escolher e quais são os principais cuidados.

A natureza na Educação Infantil, em uma era em que as crianças crescem cercadas de tecnologia e em grandes metrópoles, se tornou fundamental para seu desenvolvimento.

Interagir com o meio ambiente, tocando, cheirando ou ouvindo, além de trabalhar os sentidos, ajuda a criança a criar empatia pelos seres vivos e consciência ecológica.

Auxilie as crianças a explorar seus sentidos de tato, paladar e visão, com plantas nas aulas de Natureza e Sociedade.


- Sentir a grama fazer cócegas nos pés.

- Os cabelos balançando ao vento.

- O cheiro das flores.

- As diferentes texturas dos troncos das árvores.

Todas essas e muitas outras sensações são experimentadas pelos pequenos quando suas famílias estimulam o contato com a natureza na infância.

Os adultos, certamente guardam lembranças especiais de viagens para a praia, passeios pelo parque e momentos repletos de diversão junto à natureza.

Nas últimas décadas, os avanços da tecnologia transformaram a maneira como as pessoas vivem e se relacionam, o que modificou profundamente o contato entre as crianças e o meio ambiente. Essa mudança, que impactou o mundo todo, também chegou até os pequenos, formando a Geração Alpha.

As crianças nascidas a partir de 2012 e que integram essa nova geração, já crescem conectadas com diferentes dispositivos como tablets, celulares e computadores, além de conviverem com diversos estímulos.

Transtorno do Déficit de Natureza

O jornalista americano e especialista em Advocacy na infância, Richard Louv, alerta que tanto as famílias quanto os professores precisam monitorar o contato das crianças com a tecnologia e seus estímulos dentro e fora da sala de aula.

Pais e educadores que mantém os pequenos somente em casa ou dentro da sala de aula cercados de estímulos que ativam apenas alguns de seus sentidos, sem deixá-los interagir com o meio ambiente, estão não só privando as crianças do contato com a natureza na infância, como também contribuindo para o que ele chama de Transtorno do Déficit de Natureza.

Por que estimular o contato com a natureza na infância é importante?

Estimula a valorização da natureza

Brincar ao ar livre, explorar o meio ambiente, conhecer diferentes espécies e entrar em contato com a natureza na infância é fundamental para que as crianças valorizem a biodiversidade que as cerca.

Além disso, o convívio com o meio ambiente associado ao aprendizado de práticas sustentáveis também são muito importantes para que os pequenos se tornem protagonistas nos cuidados com o planeta no futuro. Afinal, é preciso conhecer para preservar.

Incentiva a imaginação e criatividade

O contato com a natureza na infância desperta a imaginação e criatividade dos pequenos para encontrarem novas formas de se divertir ao passear em um parque ou uma praça com familiares e amigos.

Dessa forma, os pequenos criam novas memórias, expandem seu repertório, se divertem e aprendem a conviver consigo, com os outros e com o meio ambiente.

Fortalece o sistema imunológico

Um dos grandes benefícios do contato com a natureza na infância é o fortalecimento do sistema imunológico dos pequenos e a prevenção da obesidade infantil.

Além disso, brincar ao ar livre e interagir com o meio ambiente também contribui para que as crianças aperfeiçoem suas habilidades psicomotoras, estimulando diretamente o desenvolvimento integral dos pequenos.

Melhora a qualidade do sono

Explorar o meio ambiente por meio de brincadeiras e atividades proporciona uma grande sensação de bem-estar e relaxamento nas crianças, o que melhora significativamente a qualidade do sono dos pequenos.

Vale lembrar ainda que os sintomas da ansiedade nas crianças também são reduzidos a partir do contato com a natureza na infância.

Desenvolve os cinco sentidos

- Ouvir o som dos pássaros

- Tocar a grama

- Sentir o vento no rosto

- Cheirar as flores 

- Provar uma fruta direto do pé

São apenas algumas das experiências que as crianças podem vivenciar ao entrar em contato com a natureza na infância.

Dessa forma, os pequenos estimulam e desenvolvem os cinco sentidos enquanto se divertem explorando os espaços dos parques, praças e praias.

Como estimular o contato com a natureza na infância

1) Histórias lúdicas

As histórias tem o poder único de apresentar novas perspectivas aos pequenos por meio da imaginação. Por essa razão, livros infantis sobre a natureza são recursos excelentes para estimular as crianças a conhecerem, respeitarem e cuidarem do meio ambiente.

2) Passeios e atividades ao ar livre

Que tal um piquenique no parque, uma viagem para um destino cercado pela natureza, uma tarde de atividades na pracinha do bairro ou um convite para acampar? Essas são algumas entre tantas possibilidades que envolvem o contato com a natureza na infância e constroem lembranças especiais, além de proporcionar tempo de qualidade em família.

3) Mini horta em casa

Quer estimular o contato diário dos pequenos com a terra e as plantas? Fazer uma mini horta em casa é a melhor solução, além de proporcionar benefícios como a educação alimentar e a responsabilidade.
4) Controle da tecnologia

Controlar o acesso das crianças à tecnologia é um dever fundamental dos pais e cuidadores que desejam estimular a relação dos filhos com a natureza. É desafiador e extremamente importante monitorar o tempo de exposição dos pequenos às telas.

Aprender a esperar - paciência se aprende

O mundo de hoje é repleto de recompensas instantâneas e as crianças quase nunca precisam esperar. Isso torna muito mais difícil ensiná-las a ter paciência. Ainda assim, há momentos em que será  preciso ser paciente, como na sala de espera do médico ou enquanto espera sua vez em um jogo.

Por isso, ensinar as crianças a serem pacientes é muito importante e não deve ser subestimado. Além, dos benefícios imediatos, isso poupará o seu filho de muita frustração no futuro.

Como ensinar a criança a ser mais paciente?

A capacidade de esperar tem a ver com autocontrole, uma habilidade que é difícil para as crianças. Isso porque, na infânica, o cérebro ainda está em desenvolvimento. Mesmo que eles não consigam desenvolver isso sozinho, você pode ajudar.

Primeiramente, seja claro sobre a razão de precisar ter paciência em alguma situação. Depois, tenha calma:  no geral, as crianças apresentam maior autorregulação à medida que crescem. Além disso, não esqueça de dar o exemplo, afinal, se você quer que o seu filho seja paciente, é preciso agir com tranquilidade diante dos desafios.

Quais os benefícios de ensinar paciência para as crianças?

Uma pesquisa realizada em 2008 pela Universidade da Califórnia sugere que as crianças que crescem com adultos pacientes têm melhor saúde física e mental. Outros benefícios incluem maior habilidades de relacionamento e mais capacidade de atingir os seus objetivos.

É importante lembrar de usar palavras positivas para ensinar as crianças a terem paciência, e não punir. Por isso, valorize quando ela espera por algo, isso demonstra que você confia nas suas capacidades.

Os pais têm fundamental importância no desenvolvimento da confiança, pois é neles que elas se espelham e confiam.


Confira alguns passos para ensinar paciência às crianças:

1- Ensine desde pequeno

A melhor maneira de ensinar paciência é desde que a criança é pequena. Por isso, da próxima vez que o seu filho pedir um lanche, prepare com calma e não se apresse somente para evitar reclamações. Deixe que ele veja que o seu pedido está sendo atendido, mesmo que não seja tão rápido quanto ele esperava.

Quando você finalmente der ao seu filho o que ele pediu, elogie-o por ter tido paciência para esperar. Esta é uma maneira simples e eficaz de ensinar as crianças pequenas a praticar a paciência.

2. Evite a gratificação instantânea

Seguindo o primeiro passo, você não precisa atender o seu filho instantaneamente em tudo. Claro que em algumas situações, isso será necessário, mas não em tudo. Quando ela pedir pra jogar bola, por exemplo, diga que antes precisa terminar algo que está fazendo. Depois, honre o pedido.

As crianças pequenas que têm menos noção de tempo podem ter dificuldades com isso no início. Mas elas irão aprender a praticar a paciência, desde que você sempre cumpra o pedido depois. Novamente, agradeça à criança por esperar, valorizando essa habilidade. 

3. Reconheça que esperar pode ser difícil

Todos nos sentimos impacientes às vezes, e com as crianças não é diferente. Por isso é importante reconhecer que esperar na sala do médico não é divertido. Então, da próxima vez que seu filho estiver chateado porque teve que esperar mais do que queria, respire fundo. 

Lembre-se de se abaixar, olhar nos olhos dele e dar um abraço. Abraços reduzem os níveis de estresse e, consequentemente, de impaciência. Converse com seu filho. Diga que esperar é difícil e você entende como ele se sente. Reforce que o admira por estar esperando.

4. Ensine o autocontrole

Para as crianças, aprender a ter paciência inclui entender que elas podem tentar controlar suas ações. Por exemplo, se houver apenas um controle de videogame e seu filho estiver reclamando que é a vez dele, ajude-o a se acalmar para atender. Isso ajudará a incutir a ideia de que agir com impaciência não é a maneira de conseguir algo.

5. Pratique a paciência com jogos

Jogos de revezamento são ótimos para praticar a paciência. Por isso, invista em momentos divertidos brincando de jogo da memória e amarelinha, por exemplo. Enquanto estiver jogando, diga coisas como: “Você não pode mexer nessa peça agora, mas você terá uma chance se esperar” e “Vê como todos precisam esperar sua vez também?”

6. Seja o modelo de paciência 

As crianças aprendem muito por meio da observação. Ou seja, não é somente o que você fala que conta, mas também a forma que age. Se você perde o controle em situações difíceis, pode apostar que seu filho vai perceber esse comportamento. 

A boa notícia é que é possível aprender a ter paciência em qualquer idade. Será positivo para o seu filho ver você aprender e praticar uma paciência. Fale sobre como é difícil para você esperar, assim como para ele. Assim, podem aprender e praticar juntos.

7. Plante

Plante uma muda de sua preferência, em um vaso. Acompanhe com a criança, o processo de desenvolvimento e fixação das raízes. É também uma forma de estimular o desenvolvimento da observação e paciência .

A relevância da vida social das formigas na estruturação dos ecossistemas terrestres



Ciência e literatura como proposta transdisciplinar de conscientização ecológica

A proposta do presente artigo é apresentar alguns pontos relevantes da história natural das formigas e as possíveis associações que podem ser feitas em um contexto transdisciplinar de conscientização ecológica. A partir deste grupo de insetos, é possível fazer generalizações e posteriormente estender conclusões ecológicas para outros grupos taxonômicos, estabelecendo conceitos fundamentais sobre os serviços ecossistêmicos desempenhados pelas variadas formas de vida que nos cerca – e que na maioria das vezes está oculta aos olhos humanos. Mesmo com o excepcional volume de informação disponível nos dias de hoje, principalmente por causa da revolução de meios de comunicação, a falta de integrações que esclarecem conceitos e universalidades do conhecimento ainda é um desafio contemporâneo. Ao me basear em conceitos ecológicos para apresentar a vida social das formigas, invoco passagens da literatura brasileira como proposta de uma abordagem integrativa que se manifeste em uma reflexão ecológica sobre nosso papel no gerenciamento e conservação da biodiversidade brasileira. 

Introdução 

Há algum tempo circularam pelas redes sociais alguns vídeos que mostravam a arquitetura de uma enorme colônia de formigas, revelando uma espantosa estrutura composta de túneis no subsolo de uma floresta2 que deixaria Oscar Niemeyer embasbacado. De imediato, lembrei-me de um provérbio sobre esses insetos que muitas pessoas pensam ser insignificantes. Salomão, o famoso rei de Israel, parece ter adquirido alguns ensinamentos pertinentes para governar seu povo depois de observar esses minúsculos artrópodes quando aconselha: ―vai ter com a formiga, ó preguiçoso, e considera o seu proceder, e aprende dela a sabedoria. Não tendo ela guia, nem mestre, nem príncipe, faz o seu provimento no estio, e ajunta no tempo da ceifa com que se sustentar‖ (Livro dos Provérbios, 6: 6-8). 

Quando norteamos abordagens ou discussões de acordo com os preceitos da Ecologia (ou de qualquer ramo científico derivado dela, como a Biologia da Conservação), temos de levar em conta toda a gama de interações que ocorre entre os seres vivos. Embora isso não seja uma tarefa nada fácil, as formigas são um bom exemplo para descortinar a complexidade de interações ecológicas que ocorrem na natureza; ainda, esse grupo taxonômico representa bem a importância e magnitude dos serviços ecológicos prestados que são invisíveis ou negligenciados no cotidiano da maioria das pessoas. A estrutura de formigueiros mostrados em vídeos populares na web, apesar de serem impressionantes, é apenas uma pequena amostra do poder secreto destes insetos. Há muitos espaços interessantes que abordam sua vida social, desde entrevistas com especialistas3 , até documentários completos4 conduzidos por entomólogos (i.e., cientistas que estudam insetos) de referência mundial no estudo desses incríveis animais, mas por ora, limito-me a invocar uma passagem que nos dá informações muito relevantes sobre o papel ecológico das formigas, ao mesmo tempo que enfatiza o nosso viés antropocêntrico de pensar o mundo. O trecho a seguir é do livro autobiográfico Naturalista (1997, pg. 279) do renomado biólogo Edward O. Wilson, professor e pesquisador da Universidade de Harvard, EUA:

Manchinhas avermelhadas e escuras que ziguezagueiam pelo chão para se enfiarem buracos, elas estão em toda parte; com o peso expresso em miligramas, são habitantes de uma estranha civilização que oculta de nossos olhos sua rotina diária. Por mais de cinquenta milhões de anos e onde quer que haja terra, com exceção das camadas de gelo das regiões polares e alpinas, as formigas têm sido insetos esmagadoramente dominantes. Pelos meus cálculos, há de um a dez quatrilhões de formigas vivas, todas pesando juntas, pela ordem mais próxima de magnitude, tanto quanto a totalidade dos seres humanos. Mas uma diferença, uma diferença vital se oculta nessa equivalência. Enquanto as formigas existem na quantidade mais correta possível em relação ao restante do mundo vivo, os humanos se tornaram numerosos demais. Se estivéssemos fadados a desaparecer hoje, o ambiente terrestre retornaria ao fértil equilíbrio que prevalecia antes da explosão populacional humana. Apenas cerca de uma dezena de espécies (entre as quais os piolhos, cães e gatos domésticos e um ácaro que vive nas glândulas sebáceas de nossa testa) dependem de nós. Mas, se as formigas desaparecessem, dezenas de milhares de outras espécies de plantas e animais pereceriam também, simplificando e enfraquecendo por quase toda parte os ecossistemas terrestres."

Este épico e retumbante sucesso na colonização e estabelecimento em solos ao redor do mundo se deve a uma exímia organização social - que chega a espantar pela simplicidade - que se resume a colaboração e divisão de funções. E quando tomamos consciência deste fato, é difícil evitar a sensação de que o planeta, em boa parte, pertence às formigas, por mais desagradável que isso soe aos ouvidos humanos; é chocante perceber que as formigas não são pragas. A essência da transcrição acima é essa verdade ecológica: se as formigas desaparecessem, centenas de milhares de espécies seriam extintas e muitos ecossistemas ficariam perigosamente desestabilizados. Essa importância na estruturação dos ecossistemas terrestres do planeta se dá por regras elementares envolvidas na manutenção da vida, que essencialmente respeitam princípios básicos da termodinâmica: 

(1) o da conservação de energia, que prova que um sistema não pode criar ou consumir energia, mas apenas armazenála ou transferi-la, e 

(2) o da entropia, que é a tendência da energia se dissipar.

As formigas têm um papel fundamental no dinamismo dos ciclos biogeoquímicos que são responsáveis pelos fluxos de energia e matéria na natureza, uma vez que elas participam de muitas etapas ecológicas desses processos. Ao lado dos cupins e minhocas, as formigas arejam, revolvem e drenam diariamente toneladas de terra e assim garantem a boa saúde do solo, mais tarde enriquecido pela matéria orgânica que os insetos levam para os ninhos. ―Hoje se sabe que as formigas são mais importantes que as minhocas nesse trabalho‖, diz o mirmecólogo (i.e., especialista em formigas), Carlos Alberto Brandão, da Universidade de São Paulo. Edward Wilson, por sua vez, calcula que elas desfazem e enterram nove de cada dez pequenos animais mortos em qualquer ponto do planeta (DIEGUEZ & PAPAROUNIS, 1993).

A Ecologia é um ramo científico muito recente na história da ciência, o que a faz emprestar conceitos de várias áreas do conhecimento, sendo portanto uma disciplina transdisciplinar por excelência. O mais interessante na filosofia científica é justamente o fato de assumir que cientista algum poderá jamais fazer uma descoberta sem se basear sobre os elementos deixados por seus antecessores. E tão espantosa quando interessante, é a constatação que certas ideias são compartilhadas em várias linhas de pesquisa. É atribuído a Antoine Laurent de Lavoisier (1743 —1794), o químico francês considerado o pai da química moderna, um aforismo bem conhecido que encerra em si a ideia mais elementar da termodinâmica e da própria ecologia: ―Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.

Os ecossistemas terrestres não fogem à essa regra, afinal eles funcionam como qualquer sistema termodinâmico estudado por físicos ou químicos que investigam o comportamento de partículas, átomos ou moléculas. Na ecologia, entretanto, a unidade mais básica e fundamental para o entendimento de um ecossistema é a espécie, daí a importância de se conhecer bem a história natural de nossa flora e fauna para entendermos a dinâmica e funcionamento de comunidades e ecossistemas. Somente assim poderemos nos beneficiar de  seus serviços, inclusive para nosso bem-estar e qualidade de vida, sem a agressão desenfreada e inconsequente da atualidade, e para isso é essencial que continuemos a aprender e encontrar soluções observando o mundo vivo ao nosso redor – mas nos inserindo no ambiente como mais um ramo na árvore da vida, e não com o pensamento antropocêntrico de estamos no topo de alguma escala evolutiva.

A natureza é grande nas coisas grandes, e grandíssimas nas pequeninas: o valor das pequenas coisas na Ecologia e na Evolução

O sucesso evolutivo das formigas tem muito a ver com a vida em grupo, uma preciosa combinação envolvendo organização, especialização e cooperação, tudo isso sustentado por um sistema de comunicação, sobretudo química, desenvolvimento durante sua longa história evolutiva (WILSON, 2013). A seleção de hábitat, por exemplo, é feita por uma espécie de consenso. Cada formiga libera marcadores químicos em partes da trilha, informando assim que tem preferência por aquele trecho. Comunicação, colaboração: quanto mais forte o sinal químico, mais a trilha é usada. Portanto, elas não têm líder, e sim um consenso da comunidade, que é estabelecido pela intensidade do ‗aroma químico‘. Outro exemplo de cooperação é o que os cientistas chamam de ‗estômago social‘: em algumas espécies, castas especializadas regurgitam o alimento coletado fora do formigueiro para os indivíduos que ficaram trabalhando na manutenção interna da colônia. Cada vez mais, as pesquisas com esses insetos mostram a grandiosidade da ação em conjunto, que equivale a um superorganismo. Para se ter uma ideia da magnitude do impacto ecológico desses insetos, basta dizer que o consumo de biomassa pelas formigas dos pampas argentinos afeta o consumo de capins por parte do gado criado na região.

Se a sociedade humana ainda tem muito o que aprender com as das formigas, somos dignos de dó quando nos compararmos individualmente com esses guerreiros em miniatura. Além de já nascerem com uma estrutura corporal (exoesqueleto) que mais parece uma armadura de samurai, experimentos mostram que a taxa metabólica das formigas é bem superior à nossa – e.g., ao cortar uma folha com suas mandíbulas, a taxa metabólica de uma formiga é três vezes maior do que a de um atleta no máximo de sua performance. Sem contar a carga transportada em proporção ao peso corporal ou às distâncias percorridas. Nesse sentido, uma saúva carregando apressadamente um pedaço de folha equivaleria a um ser  humano carregando um fardo bem pesado, por dezenas de quilômetros, sem parar, a uma velocidade que nunca atingiríamos a pé.

Oliveira (1990) faz um levantamento de curiosidades interessantes relacionadas a refinada organização social das formigas, e como elas não cessam de maravilhas os pesquisadores. Para o nosso contexto, vale ressaltar que se todos os animais terrestres fossem colocados numa balança, 1/10 do peso (cerca de 900.000 toneladas) seria representado por formigas, esse inseto com menos de um milionésimo da massa de um ser humano. Isso significa que a população de formigas é maior que a de todas as aves, répteis e anfíbios juntos, sendo estimada em torno de 10 quintilhões de indivíduos (o número 1 seguido de dezenove zeros). "Mas não é pelo peso ou pelo número que as formigas devem ser distinguidas", lembra o entomolólogo americano E. O. Wilson, da Universidade Harvard. "O desaparecimento desses insetos poderia levar à extinção milhares de espécies, desestabilizando a maioria dos ecossistemas." Wilson e seu colega Bert Hölldobler publicaram em 1994, nos Estados Unidos, o livro Ants (Formigas), logo aclamado como um clássico, onde analisam o comportamento de seus animais preferidos e aponta várias peculiaridades de sua organização social.

Outro papel ecológico desempenhado pelas formigas que é de suma importância é a disseminação de sementes de plantas e a função de ‗faxineiras‘, já que comem até 90% dos cadáveres de pequenos animais. Todos esses trabalhos são levados muito a sério. Para começar, nada de sexo - atividade exclusiva das rainhas. As trabalhadoras devem se limitar a fazer a parte que lhes toca para conservar o lar comunitário e garantir a propagação dos genes de sua parenta privilegiada. Assim, para realizar suas funções com plena eficiência, cada uma se especializa ao máximo, mudando a própria anatomia. Os soldados são fêmeas que trocaram os órgãos reprodutores por um abdômen cheio de armas biológicas. O gênero asiático Camponotus, por exemplo, é uma verdadeira bomba, que rompe o próprio corpo para lançar veneno sobre os adversários. As lava-pés, como são conhecidas as Solenopsis invicta nativas do sul do Brasil, tem um veneno forte que causa sensação de queimadura. Elas associam-se em colônias protegidas por um contingente de até 100.000 soldados. Longe de casa, são capazes de unir-se rapidamente para o combate por meio de ordens químicas. As formigas, por sinal, dominam uma linguagem química complexa. Uma colônia comum pode farejar no ar 1 trilionésimo de grama de uma dúzia de sinais de cheiros diferentes, de acordo com os feromônios secretados no solo por várias glândulas. É desse modo que uma operária indica a outra companheira o caminho até um inseto morto. Mas o talento das formigas como químicas tem seu melhor exemplo na Oecophylla, a formiga-tecelã que vive em árvores. Presentes em abundância nas florestas da África e no sudoeste da Ásia, elas se utilizam da seda produzida pelas larvas para ligar folhas e galhos, formando grandes e seguros pavilhões aéreos, que funcionam como as teias das aranhas (OLIVEIRA, 1990).

Atualmente é bem sabido pela ciência que o CO2 é o principal gás emitido por meio de atividades humanas, de acordo com a Revisão de Gases Estufa da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. E o volume liberado só aumentou desde a revolução industrial, contribuindo para o aquecimento global. O que foi novidade para a comunidade científica muito recentemente é que as formigas também podem ajudar a capturar CO2 e auxiliar na luta contra o aquecimento global. Schults (2014) explica os detalhes mais relevantes de estudo publicado recentemente no periódico Geology, onde os pesquisadores associaram as formigas à aceleração do armazenamento de dióxido de carbono natural em rochas. Respondendo ao estudo, David Schwartzman, professor emérito de biogeoquímica da Howard University que revisou a pesquisa, declarou que as formigas podem ter um papel importante parar o sequestro de carbono da atmosfera, embora as pesquisas nessa área ainda estão apenas em seus primeiros passos.

 Por outro lado, o papel das formigas na cadeia alimentar já é bem conhecido pelos ecólogos. Muitas aves, lagartos, sapos, alguns besouros e também o homem incluem esses insetos em suas dietas. "Os índios tupis já preparavam há centenas de anos as ycobas (içás), palavra que significa gordura, devido ao abdômen cheio de ovos", informa o zoólogo Nélson Papavero, no livro Insetos no folclore. "Eram torradas como amendoim, moqueadas e servidas com molho de tucupi bem apimentado ou então assadas em paçoca com farinha de mandioca", descreve Papavero. Alguns grupos indígenas usam também as gigantes saúvassoldados como grampos para ligar as bordas de cortes na pele. A aplicação é simples: colocam as formigas para morder a ferida e arrancam seus corpos, ficando a cabeça presa ao ferimento para auxiliar a cicatrização (OLIVEIRA, 1990).

A organização e eficiência da vida em sociedade: as saúvas como personagens da história do Brasil

Qualquer pessoa que tenha observado as paisagens em torno das estradas ou reparado em algum pasto em sua cidade já avistou grandes formigueiros ou cupinzeiros, uma vez que ao edificar suas moradas estes insetos acumulam montes de terra na superfície, chegando a  alturas consideráveis. Oliveira (1990) ressalta que essas construções de terra são endurecidas como um verdadeiro telhado de barro, que acabam abrigando alguns atraindo outros, como tatus e tamanduás, cujo prato predileto (e invariável o ano inteiro) são precisamente formigas saúvas. Outros bichos preferem esperar a época da primavera, quando as formigas aladas encarregadas da reprodução (no caso das saúvas, elas conhecidas como içás ou tanajuras, no caso das fêmeas, e bitus, os machos) começam a revoada de acasalamento. O autor também discute os benefícios e prejuízos que as formigas podem causam aos seres humanos, pois com a mesma eficiência que elas revolvem a terra e contribuem para a fertilidade do solo, elas também pode destruir lavouras inteiras ou mesmo competir com o gado por gramíneas.

Essa voracidade das saúvas fez com que elas adquirissem má fama, pois são uma das forças mais dominantes do planeta, e em alguns casos, tão inteligentes quanto suas primas, as abelhas. Dieguez. & Paparounis (1993) destacam que os entomólogos defendem que as formigas possuem uma espécie de inteligência que não funciona no cérebro, mas sim embutida nas habilidades desenvolvidas em conjunto por esses pequenos seres. Acima de tudo, sua sagacidade transparece por meio da vida em sociedade: entre milhões de espécies classificadas na categoria dos insetos, apenas as formigas e os cupins desenvolveram ao máximo esse método de dividir tarefas e multiplicar a eficiência do trabalho. Em suas comunidades, todas as fêmeas operárias são estéreis e os machos servem apenas para inseminar a rainha, única fêmea fértil. Chamam-se ―eussociais‖ os seres que praticam tal forma de matriarcado, que foi decisiva: somente 5% de todas as espécies de abelhas, por exemplo, têm comportamento social, mas estas últimas superam largamente em número os 95% restantes.

Não é à toa, portanto, que costuma-se dizer que colmeias e formigueiros não são simples ninhos, e sim uma espécie de ‗superorganismo‘. As bem conhecidas colmeias abrigam em média 50.000 moradores, mas os sauveiros são ainda mais complicados, e podem reunir mais de 5 milhões de habitantes. Em cada um deles, túneis estreitos interligam dezenas de câmaras — os locais onde as saúvas efetivamente vivem. São ocos subterrâneos, geralmente com meio metro de altura, usados para diversas funções: desde lixeiras comunitárias (também usadas como cemitérios), até berçários onde a rainha deposita ovos. No final, a construção equivale a um prédio de três andares enterrado a 10 metros de profundidade. Aí, o maior compartimento é o de cultivo, onde folhas que chegam do exterior são dispostas com cuidado e adubadas com o hormônio fertilizante, excretado pela rainha, o ácido indolil-acético. Uma casta inteira de saúvas, as chamadas jardineiras, com cerca de 2 milímetros de comprimento, nunca sai do formigueiro. Elas existem para cuidar do fungo, o que inclui cortar ‗ervas daninhas‘, ou seja, os fungos que não servem para comer. As cortadeiras, que trazem as folhas, têm 5 milímetros e labutam no mundo externo sob a proteção dos taludos soldados, com 1,5 centímetro. Estima-se que um sauveiro maduro chega a cortar cerca de 8 toneladas de folhas por ano — o suficiente para alimentar três bois. (DIEGUEZ. & PAPAROUNIS, 1993).

Sem dúvida, foi justamente essa eficiência que sustentou o visceral preconceito contra a saúva, sendo possível identifica-las até em passagem literárias, o que reflete que as saúvas estão relacionadas com a própria história do Brasil. Já em 1560, o padre José de Anchieta afirmava desdenhosamente que, entre as formigas do país, só mereciam menção ―as chamadas içás, que estragam as árvores‖. O personagem Macunaíma, da obra homônima, de 1928, do escritor modernista brasileiro Mário de Andrade, também faz menção a essas formigas em particular quando atesta que ―pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são". Esse verso parece inspirado num vaticínio famoso, escrito 100 anos antes pelo naturalista francês Auguste Saint-Hilaire: ―Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil‖. No entanto, o erro básico desse modo de ver as formigas como inimigas é tirar da trama o principal vilão da história: o próprio homem. Hoje sabemos, por exemplo, que uma das causas da proliferação de saúvas que acabou por provocar prejuízos catastróficos na economia brasileira no século passado se deve as drásticas reduções populacionais de tamanduás e outros vertebrados que incluem as saúvas em sua dieta, uma vez que sofreram com a fragmentação de hábitat provocado pelo avanço agrícola da época para cultivo das plantações de café, uma das principais engrenagens econômicas do país naquela época.

É fácil perceber, à luz da ecologia, que a saúva causa grandes estragos onde o homem gerou fortes desequilíbrios ecológicos. Os pastos são um exemplo histórico: em alguns deles se podem contar até mais de 50 sauveiros em cada quadrado de apenas 100 metros de lado. Um caso notório dessa prática ocorreu em Mato Grosso do Sul, que se diz ostentar a maior concentração de formigueiros do mundo: reunidos num só, eles cobririam 500 quilômetros quadrados, área quase igual à da cidade de Porto Alegre. O desastre foi detectado no centro do Estado, onde a mata de 2.500 quilômetros quadrados havia sido derrubada para dar lugar monocultura de eucaliptos. A conclusão inevitável dos biólogos é que a ‗praga‘ saúva segue os desajeitados passos humanos na natureza. E não só a saúva: a doméstica lava-pés, por exemplo, tem sido acusada de devorar até crianças no Estado americano do Texas, para onde foi levada provavelmente em cargas de navios (OLIVEIRA, 1990; DIEGUEZ & PAPAROUNIS, 1993).

No caso das saúvas brasileiras, apesar de preferirem fazer o corte de folhas à noite para evitar os predadores, é possível vê-las trabalhando durante o dia caso pressintam, por mecanismos ainda desconhecidos, a chegada de chuvas no entardecer. Oliveira (1990) destaca que durante as tempestades, estas incansáveis formigas finalmente param de trabalhar para se proteger no interior dos ninhos que, embora feitos de terra, não ficam completamente inundados. As câmaras internas, ou panelas, como se denominam os grandes salões no interior do sauveiro, são dispostas lateralmente aos túneis de forma a evitar que sejam destruídos pelas grandes chuvas. Como nos diversos ambientes de uma residência humana, em cada câmara pratica-se um tipo de atividade diferente. No que se poderia chamar de cozinha, ou horta comunitária, cultiva-se um fungo para a alimentação de toda a colônia; nos quartos funcionam um tipo de berçário para os ovos das saúvas, também criados em meio ao fungo, e em outras dependências funcionam o ‗lixão‘ e o cemitério, onde são depositadas as formigas mortas da colônia. O fungo que serve de alimento às formigas, o Pholota gongylophora, por sinal, só pode ser encontrado em câmaras específicas. Ali, operárias jardineiras, medindo de 2 a 3 milímetros, picam em partes cada vez menores os pedaços de folhas que chegam, as quais são implantadas nas esponjas de fungos, que as utilizam como alimento. Além disso, as jardineiras retiram constantemente pedaços mortos do fungo, assim como folhas secas, e mantêm as condições climáticas ideais para o desenvolvimento do fungo, já que longe desses cuidados, o Pholiota raramente sobrevive. Mas todo esse esforço despendido pelas formigas é compensado, uma vez que tal fungo lhes fornece a capacidade de digerir a celulose e outras substâncias tóxicas dos vegetais.

Numa coisa, portanto, o herói de Mário de Andrade estava certo: as diversas espécies do gênero Atta são o maior grupo de formigas do Brasil. O padre Anchieta e Saint-Hilaire também anunciam bem o poder de um dos exércitos mais poderosos do mundo que, embora compostos por minúsculos invertebrados, são capazes de arquitetar câmaras, galerias e túneis faraônicos e muito bem organizados para o funcionamento pleno do formigueiro. Mais uma vez, devido a constante combinação que esses insetos sociais desenvolvem com maestria: organização, especialização e cooperação.

Fluxo de energia e o conceito de capacidade de suporte: o que é ser ‘ecologicamente correto’? Uma lição a ser aprendida pelos humanos 

Em última instância, toda e qualquer espécie tem o crescimento de suas populações limitado pela disponibilidade de recursos no seu ambiente. Foi dessa fonte que bebeu o próprio Charles Darwin (1809-1882) durante a gestação de sua teoria evolutiva, pois foi após ler o livro ―Ensaio sobre princípios populacionais‖, do economista Thomas Malthus (1766- 1834), é que o jovem naturalista inglês foi capaz de conceber o raciocínio de seleção natural – o mecanismo que favorece os organismos mais bem adaptados para competir por recursos do ambiente. Se somos mais uma espécie animal, nós não temos como fugir dessa regra; pesquisas comportamentais com colônias de formigas podem oferecer informações preciosas sobre o fluxo de energia e capacidade de suporte, algumas das quais podem ser aplicadas ao Homo sapiens. 

Em um estudo hoje considerado clássico, Lugo e colaboradores (1973) investigaram as saúvas (Atta colombica) que vivem nas florestas tropicais úmidas da Costa Rica, onde coletam fragmentos de folhas novas na vegetação, levando-os aos formigueiros subterrâneos a fim de servirem de substrato para culturas de fungos, dos quais elas se alimentam. Os pesquisadores estimaram os gastos de energia das diferentes atividades dentro de uma colônia e concluíram que a capacidade de suporte (i.e., o tamanho máximo da colônia) é atingida quando a entrada de calorias, na forma de folhas coletadas, equilibra o custo energético do trabalho envolvido no corte e transporte das folhas, na manutenção das trilhas e no cultivo dos fungos. Os pesquisadores observaram ainda que, em um dado momento, nas colônias grandes, 25% das formigas estavam carregando folhas, enquanto 75% estavam cuidando das trilhas e dos jardins de fungos. Quando a entrada de energia era equilibrada pelos custos de manutenção, a colônia parava de crescer. 

Graças a estudos como esses, sabemos hoje que as colônias de formigas dependem de subsídios enormes importados de fora, tirados, muitas vezes, de fontes que se acumularam muito antes do aparecimento do ser humano. É consenso entre os pesquisadores que as populações humanas parecem se aproximar dos níveis máximos da capacidade de suporte dos seus respectivos ambientes. Apesar de atualmente a taxa de crescimento da população humana ser declinante, parar de crescer não impedirá que o consumo global deixe de aumentar. A chave do problema é baixar a taxa de consumo per capita, já que os recursos limitantes que mais causam preocupação atualmente são alimento, hábitat e combustíveis fósseis (ODUM & BARRET, 2007). 

A explosão demográfica humana das últimas décadas foi promovida pelo aumento da quantidade de alimento disponível e, mais recentemente, pelas melhorias no saneamento básico. O primeiro fator elevou a taxa de natalidade, enquanto o segundo reduziu a de mortalidade. Um exemplo familiar é o hino da copa do mundo de futebol de 1970, que dizia ―noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração…‖. E fomos! Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil comportava mais de 190 milhões de habitantes em 2010. Em 40 anos, portanto, mais do que dobramos a nossa população. Uma consequência lógica disso foi o aumento na demanda por bens e serviços, o que implicou em derrubarmos (mais) florestas, construirmos (mais) barragens – o que resultou em alagarmos (mais) terrenos – e, por fim, produzirmos (mais) lixo e contaminantes. No fim das contas, a demanda por mais espaço tende a fazer com que outras espécies percam seus hábitats, seja para a construção de casas, ruas, rodovias, pastos ou plantações. 

Como levantado anteriormente, não fomos os inventores da agricultura e da pecuária, e sim as formigas. Apenas dois gêneros de todo o reino animal foram espertos o bastante para fugir às incertezas da vida e garantir a sobrevivência por meio daquilo que semeiam e colhem. O homem é definitivamente um novato: existe há pouco mais de 2 milhões de anos, aprendeu a arte do cultivo há coisa de 100 séculos e hoje é representado por uma única espécie sobre a face do planeta, o Homo sapiens. Embora o processo de domesticação foi, sem dúvida, um dos eventos mais importantes da história humana, ela é muito recente em nossa história evolutiva. A nossa agricultura, segundo os arqueólogos, parece ter surgido e se espalhado em diferentes regiões do mundo, em algum momento entre 10.000 e 5.000 anos atrás. A transição de uma vida como coletores-caçadores para uma vida como cultivadores de alimento fez com que a nossa civilização se tornasse sedentária e prosperasse, o que na literatura técnica passou a ser chamado de ‗a revolução do Neolítico‘ (WEISDORF, 2005). Por outro lado, as formigas veem fazendo esses cultivos de outros seres vivos há milhões de anos. 

Os pulgões, que são parentes próximos das cigarras e dos percevejos, têm uma relação mutualística histórica com as formigas que antecede qualquer hominídeo que já tenha passado pela face da Terra. Os pulgões se alimentam de seiva das plantas, um material rico em açúcares, e o que não é digerido é avidamente consumido por certas formigas. Estas, por sua vez, cuidam do ‗rebanho de pulgões‘ ao afugentar predadores (GULLAN & CRANSTON, 2013). Além da domesticação de animais, algumas formigas são ótimas agricultoras, já que cultivam fungos no interior de seus formigueiros. Cada pedaço de folha que chega a uma colônia é tratado com um defensivo natural produzido pelas próprias formigas, para evitar que microrganismos proliferem e contaminem o jardim de fungos. A eficiência desse processo é muito superior ao que acontece quando aplicamos pesticidas para combater as pragas de nossas lavouras.

Nossas formidáveis concorrentes, que existem há um tempo que se mede na casa dos 100 milhões de anos, trazem do berço as técnicas agrícolas e são representadas por dezenas de espécies sobre a Terra. São as saúvas que aprenderam a cultivar um fungo sobre um canteiro de folhas cortadas, para depois usá-lo como alimento. Por isso, muitos entomólogos, estudiosos de insetos, as consideram os mais avançados animais dessa categoria — talvez mais que as abelhas, suas primas. Não é à toa que saúvas e abelhas têm tanta importância no mundo moderno. Ambas são descendentes de um inseto sagaz que há mais de 200 milhões de anos descobriu um meio de colonizar o subsolo, que era, então, um vasto e inexplorado ambiente, apenas à espera de um aventureiro que o ocupasse (DIEGUEZ & PAPAROUNIS, 1993). Manter uma dieta bem versátil também ajuda: "elas podem explorar diferentes recursos de um ambiente sem limitação por especialização alimentar", diz o biólogo Rodrigo Feitosa, da USP. Isso significa que as formigas não são superespecialistas em sua dieta; se uma fonte de alimento acaba, elas se organizam para procurar outra sem deixar o formigueiro desprotegido (COHEN, 2013).

Em organismos eussociais, como formigas, são as características da colônia que são transmitidas às futuras gerações. Ou seja, o conceito de evolução se aplica ao coletivo, não ao indivíduo. As formigas que não se reproduzem, como as operárias, têm mais tempo para se especializar em outras tarefas, como a busca de alimento e a defesa do ninho. Cohen (2013) afirma que para os biólogos essa capacidade de evoluir em grupo é um dos fatores que garantiram a sobrevivência das formigas por mais de 100 milhões de anos, lembrando que as formigas têm relações simbióticas (com vantagens para todos) com mais de 400 espécies de plantas, milhares de artrópodes, fungos e micro-organismos.

Formigas e literatura: como pôr em prática abordagens conservacionistas e transdisciplinares? Um exemplo com Guimarães Rosa e os sistemas ecológicos do Cerrado

Mesmo com o excepcional volume de informações disponíveis nos dias atuais, principalmente por causa das facilidades trazidas pela revolução dos meios de comunicação, a falta de integrações que esclareçam conceitos e universalidades do conhecimento ainda é um desafio. É urgente e crescente a necessidade de se promover uma alfabetização ambiental científica e séria da população, mas essa abordagem de níveis múltiplos e escala ampla envolve sistemas inteiros de educação e inovação. Essa proposta de abordagem integrativa, que se preocupa em desvendar explicações de causa e efeito por meio de um entendimento transdisciplinar, tem sido chamada na literatura científica de consiliência (WILSON, 1999), de ciência da sustentabilidade (KATES et al., 2001) e de ciência integrativa (BARRET, 2001).

De fato, o desenvolvimento continuado da Ecologia parece estar cada vez mais se estabelecendo como ciência integrativa, tão necessária aos dias de hoje. No entanto, estratégias transdisciplinares ainda são muito pouco exploradas no dia-a-dia das escolas brasileiras, mesmo já sendo bem sabido que para se divulgar ciência de maneira clara e efetiva, o público deve se sentir inserido no processo histórico, reencontrando-se nos outros e identificando-se com eles. Somente esta conscientização é capaz de fazer com que o conhecimento seja uma construção social que possa fazer o estudante transitar da inércia para a autonomia, com participação ativa no meio em que vive, e não um mero produto final resultante do acúmulo de dados e informações (FREIRE, 1987; TORRES, 1997). 

O escritor Guimarães Rosa, cuja biografia mostra que ele viajou com tropeiros antes de compor suas obras, é citado aqui como exemplo por estar inserir as realidades locais do Brasil, fornecendo uma caracterização detalhada do sertanejo (seus costumes, vocabulário, crenças), e também eternizando ambientes naturais pela descrição dos cenários de suas histórias de modo bastante convincente. Em grande parte de seus livros ou contos, o escritor mineiro compõe paisagens e dinâmicas do Cerrado de uma maneira tão acurada que talvez apenas biólogos muito experientes soubessem descrever. Um professor não teria grandes dificuldades em explorar os conceitos ecológicos e os aspectos comportamentais da flora e da fauna desse bioma, implícitos nos trechos a seguir:

Do povinho mais miúdo, por enquanto, apenas o eterno cortejo das saúvas, que vão sob as folhas secas, levando bandeiras de pedacinhos de folhas verdes, e já resolveram todos os problemas do trânsito. Ligeira, escoteira, zanza também, de vez em quando, uma dessas formigas pretas caçadoras amarimbondadas, que dão ferroadas de doer três gritos. Mas aqui está outra, pior do que a preta corredora: esta formiga-onça rajada, que vem subindo pela minha polaina. Está com fome. Quer das provisões. Desço-a e ponho-lhe diante de um grumo de geleia e alguns grãos de farinha. Não quis. Fugiu. Quem vai comer do meu farnel é todo o clã das quem-quem, esses trenzinhos serelepes, que têm ali perto a boca do seu formigueiro. Uma por uma, se entrevem; largam os glóbulos de terra, trocam sinais de antenas, circulam adoidadas e voltam para a cratera vermelha. Vou espalhar no chão mais comida, pois elas são sempre simpáticas: ora um menino que brinca, ora uma velhinha a rezar. 

Como será o deus das formigas? Suponho-o terrível. Terrível como os que o louvam... E isto é também como o louva-a-deus, que, acolá, ereto, faz vergar a folha do junquilho. Ele está sempre rezando, rezando de mãos postas, com punhais cruzados. Mas, no domingo passado, este mesmo, ou um qualquer louva-a-deus outro, comeu o companheiro em oito minutos, medidos no relógio – deixou de lado apenas as rijas pernas-de-pau serrilhadas da vítima, e o seu respectivo colete....Foi-se. (...). Então fiquei meio deitado, de lado. Passou ainda uma borboleta de páginas ilustradas, oscilando no voo pulandinho e entrecortado das borboletas; mas se sumiu, logo, na orla das tarumãs. Então, eu só podia ver o chão, os tufos de grama e o sem-sol dos galhos. Mas a brisa arageava, movendo mesmo aqui em baixo as carapinhas dos capins e as mãos de sombra. E o mulungu rei derribava flores suas na relva, como se atiram fichas ao feltro numa mesa de jogo. Paz. 

- trecho do conto São Marcos, na obra Sagarana (ROSA, 2001, pg. 282)

E ele achava muitas coisas bonitas, e tudo era mesmo bonito, como são todas as coisas nos caminhos do sertão. (...) Pela primeira vez na sua vida, se extasiou com as pinturas do poente, com os três coqueiros subindo da linha da montanha para se recortarem num fundo alaranjado, onde, na descida do sol, muitas nuvens pegam fogo. E viu voar, do mulungu, vermelho, um tié-piranga, ainda mais vermelho – e o tié-piranga pousou num ramo de barbatimão sem flores, e Nhô Augusto sentiu que o barbatimão todo se alegrava, porque tinha agora um ramo que era de mulungu. 

- trecho do conto A hora e a vez de Augusto Matraga, na obra Sagarana (ROSA, 2001, pg. 401-402)

O chapadão é sozinho – a largueza. O sol. O céu de não se querer ver. O verde carteado do grameal. As duas areias. As arvorezinhas ruim-inhas. A diversos que passavam abandoados de arraras – araral – conversantes. Aviavam vir os periquitos, com o canto-clim. Ali chovia? Chove – e não encharca poça, não rola enxurrada, não produz lama: a chuva inteira se sorve em minuto terra a fundo, feito um azeitezinho entrador. O chão endurecia, cedo, esse rareamento de águas. O fevereiro feito. Chapadão, chapadão, chapadão. De dia, é um horror de quente, mas pra noitinha refresca, e de madrugada se escorropicha de frio, o senhor isto sabe. 

- trecho do romance Grande Sertão: Veredas (ROSA, 2001, p. 339-40).

Destrinchar os processos ecológicos, evolutivos e biogeográficos subjacentes nestas curtas passagens pode, concomitantemente, despertar o interesse de alunos que tenham inclinação para as Letras. O modo peculiar de escrever de Guimarães Rosa pode estimulá-los a se iniciar e/ou se aventurar, também, no mundo da literatura. É, pois, sob essa abordagem que o conhecimento científico também pode ser trabalhado: integrando-o a outros campos do saber. A ideia é justamente descortinar para os educandos a conectividade que existe entre as universalidades do conhecimento, sejam elas artísticas, culturais, históricas, sociais, religiosas ou científicas.

 O homem como gerenciador de biodiversidade: reflexões para o Brasil

O Brasil é conhecido por sua extraordinária diversidade de espécies de formigas e há muitas décadas nossos cientistas estão dedicados a estudar vários aspectos do grupo, desde sistemática, história natural, comportamento, ecologia, interações com plantas, até fatores que influenciam o número e a composição de espécies de comunidades de formigas nos diferentes ecossistemas brasileiros. Este grupo taxonômico, portanto, é um exemplo para se demonstrar toda a complexidade das interações ecológicas que ocorrem na natureza.

Em geral, as pessoas costumavam manter uma relação de grande intimidade com os locais em que viviam. Nossos antepassados eram caçadores-coletores, pequenos lavradores ou pastores, pessoas que tinham de saber com exatidão todos os detalhes físicos da região de onde tiravam o sustento, caso quisessem manter intacto seu modo de vida. A maioria de nós, que vive no mundo moderno, nada tem de comparável a isso, exceto conhecimento prático e infraestrutura de nossa própria civilização extremamente técnica. No entanto, ver e apreciar, participar o tempo todo e desde sempre de padrões que não foram estabelecidos por nós. Lopes (2007), destaca que algum dia alguém ainda irá explicar as raízes da solidão humana moderna por essa perda de intimidade com o meio ambiente, pelas nossas incontáveis transgressões em relação ao planeta físico. O autor enfatiza que já não temos mais nenhum relacionamento com a Terra, e mesmo quando ele existe, quase sempre é rápido demais, insuficiente para que as coisas sejam absorvidas. Nessa linha de raciocínio, as formigas demostram ser um bom grupo taxonômico para se ter uma ideia da complexidade e importância das relações ecológicas que ocorrem no meio ambiente que o homem compartilha com outros milhares de seres vivos.

Wilson (2008) afirma que nossa relação com a natureza é primal e discute que as emoções que ela desperta devem ter surgido durante a esquecida pré-história da humanidade e, portanto, são profundas e obscuras. A atração gravitacional da natureza sobre a psique humana pode ser expressa em um único termo, mais contemporâneo: biofilia, definido como a tendência inata para se afiliar à vida e aos processos vitais. O pesquisador ressalta que, desde a infância até a velhice, as pessoas de todas as partes do mundo sentem atração pelas outras espécies, mostrando que a apreciação da diversidade da vida é universal e intrínseca ao ser humano. Explorar a vida e filiar-se a ela, transformar criaturas vivas em metáforas carregadas de emoção, inseri-las na mitologia e na religião – eis os processos fundamentais, facilmente reconhecíveis, da evolução cultural biofílica. Essa filiação tem uma consequência moral: quanto mais compreendemos outras formas de vida, mais o nosso aprendizado se expande, abrangendo a sua vasta diversidade, e maior é o valor que atribuímos a elas – e, evidentemente, a nós mesmos. Wilson (2008, p. 78-79) discute como essa filiação influencia as nossas preferências por certos habitats:

 ―...os pesquisadores já descobriram que quando pessoas de diversas culturas, incluindo as da América do Norte, da Europa, da Ásia e da África, têm liberdade de escolher seu local de residência e trabalho, elas preferem um ambiente que combine três características. Desejam morar em um lugar alto, com vista para fora e para baixo; de onde se possa ver uma área verde, com árvores esparsas e pequenos bosques, mais semelhante a uma savana do que a um campo relvado ou a uma floresta densa; e que esteja perto de uma fonte de água, tal como um lago, um rio ou o mar. Mesmo que todos esses elementos sejam puramente estéticos e não funcionais, como acontece nas residências de veraneio, aqueles que dispõem de meios para tanto estão dispostos a pagar preços elevados para obtê-los. Em testes com várias opções, verificou-se que as pessoas preferem que sua moradia seja um retiro, com uma parede, rochedo ou alguma outra coisa sólida na parte de trás. Elas desejam ver um terreno frutífero em frente ao seu retiro. Apreciam que animais grandes, silvestres ou domésticos, estejam espalhados pelo local.

(...) Embasada em consideráveis evidências do registro fóssil, essa interpretação sustenta que os seres humanos de hoje continuam escolhendo habitats semelhantes àqueles em que a nossa espécie evoluiu, na África, durante milhões de anos de pré-história. Nossos distantes antepassados desejavam ficar ocultos em pequenos bosques com vista para uma savana ou em áreas de presas para perseguir, animais abatidos para recolher e deles alimentar-se, plantas comestíveis para coletar, inimigos para evitar. Um curso d‘água nas proximidades fazia as vezes de limite territorial e fonte de alimentos. 

Será tão estranho que pelo menos um resíduo dessa escolha de hábitat persista entre os instintos humanos? A busca programada pelo ambiente correto é um comportamento universal das espécies animais, pela melhor das razões – trata-se de um imperativo para a sobrevivência e a reprodução. 

Embora essas várias linhas de evidências sejam apenas fragmentárias, elas nos dizem que grande parte da natureza humana foi programada geneticamente durante os longos períodos em que nossa espécie viveu em contato íntimo com o resto do mundo natural vivo. Hoje as pessoas da maioria dos países não dão mais importância a essa conexão. Elas expulsaram a natureza viva para as margens da existência, e o declínio desta tem uma prioridade baixíssima na ordem das suas preocupações. Com o aumento dos conhecimentos científicos sobre a natureza humana e a natureza viva, essas duas forças criativas da auto-imagem humana irão unir-se. A ética central vai mudar, e fecharemos o círculo, passando a apreciar e valorizar todas as formas de vida – e não apenas a nossa.

Os biomas brasileiros, assim como os do resto do planeta, mudaram muito ao longo dos últimos milhões, milhares e centenas de anos. A extinção ou florescimento de linhagens, fatos naturais da dinâmica ecológica da vida, tem dependido sempre do fato das espécies estarem ou não adaptadas a viver em novos cenários – a ideia essencial da boa e velha evolução por seleção natural, proposta por Charles Darwin em meados do século XIX e que continua atual. Hoje em dia, depois do crescimento e expansão da população humana, resta pouco de todo o patrimônio biológico que tínhamos há alguns séculos, já que os fragmentos de vegetação natural perdem cada vez mais espaço para atividades antrópicas. A racionalização e aumento no volume de informações fizeram com que nos tornássemos o último tipo dominante de vida do planeta, fechando a porta à possibilidade de qualquer outro animal fizesse o mesmo avanço e viesse, quem sabe, a desafiar nossa posição privilegiada na Terra.

À medida que estendemos as explicações cientificas dentro dos domínios da biologia, nós ganhamos confiança – ou ficamos aterrorizados – pela conscientização de que nosso destino como espécie depende do nosso próprio discernimento e também do bom funcionamento de inúmeros ecossistemas, e não dos caprichos de alguma entidade sobrenatural (WILSON, 1997). À medida que pensamos com humildade sobre o nosso lugar na história da vida e à medida que refletimos sobre a nossa origem biológica, começamos a perceber que os nossos antepassados ultrapassam os limites familiares ou humanos. Compartilhamos ancestrais em comum com toda e qualquer outra forma de vida, extinta ou vivente. Afinal, biologicamente falando, somos apenas mais uma entre milhões de ramificações na árvore da vida.

Nós, brasileiros, somos detentores da fauna e da flora mais ricas de toda a América do Sul e uma das mais majestosas biodiversidades de todo o mundo. Mas como estamos agindo em relação a isso? A divulgação de informações equivocadas ou incompletas ainda encontra solo fértil em nossa sociedade, que continua a ser iludida por ideias e estereótipos que visam, na maioria das vezes, unicamente estimular o consumo. Nunca fomos tão livres social e politicamente; ao mesmo tempo, porém, nunca fomos tão submissos ao consumismo e tão passivos em relação à qualidade das informações que nos são apresentadas. Vivemos em uma sociedade que, por um lado, usufrui de avanços tecnológicos surpreendentes, mas, por outro, está mergulhada em uma futilidade angustiante (LIPOVETSKY, 2006).

Apenas uma sociedade esclarecida e consciente da riqueza biológica de seu país é capaz de identificar um discurso progressista meramente mercantilista imbuída em uma prática que polui nossos mares e rios, que devasta nossos biomas e que extirpa do território nacional variedades genéticas únicas. Estamos aprendendo que não há como pensar em desenvolver um país sem investimentos em Educação (básica e universitária) e em estratégias para conservar suas riquezas, elaborando planos racionais para sustentá-la. Devemos, portanto, tomar consciência de nosso papel no gerenciamento da biodiversidade e de reflexões e ações que garantam que o futuro ainda espelhe essa grandeza de formas de vida. Que entre outras mil, que ainda seja o Brasil a nosso pátria amada e idolatrada. Mas que seja, sobretudo, diversificada e conservada.