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terça-feira, 25 de junho de 2024

Prática pedagógica envolvendo a educação musical

Surpreendentemente através de sapiência humana, o homem em contato com os fenômenos da natureza, começa a distinguir e a reconhecer seu sentido auditivo por intermédio dos sons que se desenvolveram pelos aspectos naturais, como ―o quebrar das ondas do mar, o som trovejante das tempestades e os diversificados sons dos animais. A música, então, é demarcada na história por aspectos místicos, que se transforma em sons, influenciados pelos indivíduos apreciadores dos campos sonoros. 

De acordo com os estudos históricos foram encontradas pinturas importantes em determinados lugares que demonstram a relação do homem com a música, para acontecimentos históricos importantes, como manifestações culturais em que a música servia como preparação para fortalecer o caçado em busca das forças da natureza, na reverência e lembrança dos mortos. A música dentro desses momentos era manifestada através da voz e do corpo, se tomando conhecimento dela na prática aos longos dos anos sobre produções sonoras. Dai por diante a música foi evoluindo, influenciando diretamente os períodos históricos.

A música chega à contemporaneidade como algo essencial para a aprendizagem, contribuindo assim para o desenvolvimento humano. 

 De uma forma mais artística e lúdica, a música contribui para que os fatores como a timidez, dicção, linguagem, corporeidade e motricidade sejam desenvolvidos e melhor explorados espontaneamente, através de adaptações musicais em situações de aprendizagem que estejam relacionados ao cotidiano educacional da criança. 

Com base nesse pressuposto, aqui se buscou pesquisar sobre O trabalho com a música na educação infantil, partindo-se de inúmeros motivos, mas, principalmente à lei nº 11.769, declamando que ―a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular‖ (LDB, 1996, p27). Diante deste decreto surgiu o interesse pessoal de observar como a música está sendo inserida nas salas de aulas da educação infantil e como seus respectivos professores estão trabalhando em sala de aula.

Para tanto, o objetivo geral desta pesquisa é investigar que concepções os docentes possuem sobre o papel da música na educação infantil. A fim de alcançar este objetivo, foi delimitado os seguintes objetivos específicos: 1. Analisar as contribuições que a musicalidade traz para aprendizagem; 2. Destacar o papel da música dentro do desenvolvimento educacional; 3. Identificar o entendimento dos professores sobre o papel da música na educação infantil.

Para realizar este estudo, adotou-se como metodologia a pesquisa de campo exploratória, que buscou, por meio do instrumento de coleta de dados, obter informações sobre o trabalho realizado com a música na educação infantil. 

A fim de subsidiar esta pesquisa, foram retomados os estudos de Oliveira (2011), Piaget (2001), Palagana (2001), Weiz e Sanchez (2009), Brennand (2009), RCNEI (1998), Prado et al (1998), Lino (1999), Brito (2003), entre outros. Tais referências auxiliaram no desenvolvimento da interpretação e análise dos dados, conduzindo aos resultados apresentados no final deste trabalho. 

A organização da pesquisa segue os parâmetros metodológicos, sendo apresentada da seguinte forma: parte pré-textual, textual e pós-textual. Em se tratando dos capítulos, apresentamos três, assim descritos – no capítulo 1 aborda-se sobre o processo de aprendizagem infantil, retomando os estudos de Piaget (2001) sobre a gênese do desenvolvimento humano e a influência da música neste contexto. No capítulo 2 são feitas considerações a respeito do papel da escola na inserção da arte musical, tomando-se como referência a perspectiva dos parâmetros e dos referenciais curriculares nacionais para a educação infantil. Já o capítulo 3 dedica-se à pesquisa de campo, seu processo metodológico, delimitação dos sujeitos e coleta, organização e análise dos dados. Em seguida, apresentam-se as considerações finais, em que são expostos os resultados alcançados. 

Espera-se que este trabalho traga contribuições relevantes para o contexto da educação infantil, servindo como um instrumento para reflexão de docentes sobre a prática pedagógica envolvendo a educação musical.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A APRENDIZAGEM ESCOLAR ATRAVÉS DA MÚSICA

OS NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO E A APRENDIZAGEM ESCOLAR

O ato de conhecer e de aprender não acontece por acontecer. Assim, o aprendizado do ser humano ocorre em etapas, conforme seu desenvolvimento físico e cognitivo. 

As primeiras etapas do aprendizado ocorrem na infância. É nesta fase em que a criança precisa ser estimulada com qualidade, para adquirir conhecimento e desenvolvimento físico. 

Sobre estas etapas, os estudos de Piaget nos trazem muitos esclarecimentos. O foco de sua pesquisa trata da gênese do conhecimento humano, a qual estabelece uma ligação direta com desenvolvimento cognitivo que compreende fases de crescimento, acontecendo em estágios distintos ao mesmo tempo em que se adquirirem mudanças e novas habilidades. 

No desenvolvimento cognitivo a criança passa a refletir sobre ações pensadas. Independentemente da seqüência que faça, suas ações vão sendo adquiridas em disposição e ligação de uma atividade para outra. Através deste processo que vai fixando ainda mais o desenvolvimento cognitivo, acontecem múltiplas produções de conhecimentos, em seguimentos de evoluções biológicas, em que a criança começa a se coordenar através ações repetidas e contínuas. Acontecendo a [...] ―organização de ações no espaço e tempo, que é chamado de lógica das ações‖. (PALANGA 2001, p.21, aupd PIAGET 2001, grifo meu). 

Essa lógica das ações está relacionada tanto com a maturação física quanto cognitiva. Desse modo, as ações e reações, o que se aprende e o que ainda não é possível de compreender, dependem de estágios do desenvolvimento humano, os quais são denominados por Piaget (2001) como: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. 

O estágio sensório–motor está ligado ao desenvolvimento humano na fase do nascimento aos 2 anos de idade. Neste período a criança não tem pensamento organizado em sua afetividade, que permita fazer identificação de pessoas e objetos sem que estejam em sua presença. Dentro de um processo construtivo, os sentidos básicos vão se formando e, na medida em que os utiliza, o sistema nervoso vai se amadurecendo através do contanto da criança com meio. Os reflexos comportamentais vão se modificando e com um mês e meio de vida a criança já é capaz de identificar objetos e pessoas, amadurecendo inicialmente suas estruturas cognitivas. As mesmas são formadas através da construção da coordenação ―sensório- motora‖ (PALAGANA, 2001, p.24). O crucial neste período é a evolução da criança na identificação estável de um objeto. Possibilitando também a formulação conjunta de estruturas cognitivas que serviram como suporte para o desenvolvimento perceptivo e intelectual subseqüentes. 

O segundo estágio de desenvolvimento se trata do pré-operatório, que ocorre de 2 a 7 anos. Sendo um período mais evoluído, neste estágio o indivíduo desenvolve suas possibilidades de diferentes formas: no sentido da atuação lingüística/comunicação oral, no processo de raciocínio e na apresentação de um comportamento substancial: é a fase em que a individualidade melhor se expressa. Neste estágio a criança possui o entendimento próprio diante a representação do meio, fazendo o reconhecimento através de seu entendimento do que é posto em sua presença, diferentemente daquilo que está ausente. ―É nele que se estrutura a função semiótica, habilidades cognitivas fundamentais para que a criança possa trabalhar com operações lógicas, passando assim para estágio seguinte‖. (PALAGANA, 2001, p. 26).

O estágio seguinte se trata das operações concretas, ocorrendo entre os 7 e 12 anos. Os processos cognitivos dentro desse estágio não são responsáveis por ações lógicas e independentes da criança. O entendimento depende de situações vividas em sua realidade. Neste período acontece a troca constante de representações mentais, ocasionando a aquisição, modificação e ampliação de informações decorrentes do processo contínuo de aprendizagem. A criança agora procura desenvolver um pensamento que seja transmitido diante uma argumentação compreendida e considerada por todos em seu meio. 

O último estágio, denominado de período das operações formais, se dá dos 12 anos em diante. Nesta fase a criança passa a ampliar as suas habilidades e capacidades adquiridas na fase anterior e já consegue raciocinar usando hipóteses e idéias abstratas. A criança adquire a capacidade de analisar e avaliar criticamente a realidade social. Segundo Piaget (2001), é o mais alto nível de desenvolvimento cognitivo. 

Deste modo, tendo-se compreensão dos níveis de desenvolvimento humano, é possível realizar um trabalho educativo voltado para as peculiaridades da criança, de acordo com seu processo cognitivo. Por isso o professor tem que ser um constante observador das ações demonstradas pelo aluno, para que novos conhecimentos aconteçam diante dos existentes. 

Considerando que a aprendizagem se constrói diante das respostas das ações dos alunos, o professor precisa construir ações em que o aluno desenvolva suas estruturas cognitivas, constantemente. Uma das inúmeras formas de proporcionar situações de aprendizagem significativa e, portanto, coerente com o nível de maturação cognitiva, é inserindo a música nas atividades escolares. É o que veremos no item a seguir.

A INFLUÊNCIA DA MÚSICA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Desenvolver atitudes espontâneas é de importantíssimo valor para se construir uma educação rica em valores culturais. Diz Brennand que ―Rousseau defendia que a escola não deveria prepará-la para o futuro nem modelá-la para determinados fins, mas oferecerlhe a possibilidade de ser livre e espontânea, oportunizando-lhe felicidade, enquanto ainda criança".

É a partir deste entendimento que começo a falar sobre a importância da música para aprendizagem, ressaltando a importância de se oferecer possibilidades para a criança ser livre e espontânea, por meio da educação musical. Assim, interagir com o meio natural e o ritmo musical, usando sua espontaneidade a desenvolver habilidades musicais.

 Esta vivência deve ser priorizada na escola, a partir do momento em que o professor põe em prática o ensinamento de Pestalozzi, quando ele diz que o ensino deveria partir do conhecido para novo, do concreto para abstrato. Recomendando que seja essencial para a escola o ato do "aprender fazendo".

A música desenvolve o raciocínio, dando criatividade à criança e aptidões para que sejam aproveitadas nas ricas atividades dentro da sala de aula. Assim como é a música é a dança que atuam no desenvolvimento corporal através da gesticulação e movimentação, dando equilíbrio para metabolismo humano, estimulando a disposição e evitando doenças como obesidade, fadiga, problemas cardíacos, levando o aluno ao prazer e estimulação fazendo uma aprendizagem de forma saudável.

 A música e a dança proporcionam movimentos corporais, que trazem satisfação e alegria. Desenvolvendo a criança a música despertando seu interesse e criatividade, ao mesmo tempo em que estimula a sua autodisciplina, através das distinções rítmicas e estéticas. Abrindo caminho para imaginação, fazendo com que a identidade do sujeito seja construída. Este aprendizado proporcionado pela música pode ser direcionado às práticas educativas escolares, a começar pelo contexto da educação infantil, uma vez que desperta o interesse e o envolvimento da criança, ajudando-a a expressar-se e a socializar-se melhor. 

Por isso, cabe ao professor sempre proporcionar apoio às crianças, dentro do ambiente e por meio dos acervos musicais que possam ser trabalhados, despertando as crianças para conhecimento cultural diversificado, de outras cidades ou regiões, como músicas clássicas, músicas folclóricas, regionais, líricas, etc. Vale ressaltar que estas atividades que devem sempre partir do conhecimento prévio da criança, respeitando seu tempo de assimilação e aprendizagem – ou seja: trabalhar a educação musical de acordo com as possibilidades e recursos que estejam dentro das condições que professor possa disponibilizar para crianças, favorecendo, assim, o desenvolvimento cognitivo. 

Como se percebe, a música contribui para vida do ser humano e traz um bem estar a pessoas. Pensando-se no contexto escolar, o professor pode desenvolver práticas de ensino, ampliando os sentidos das crianças, principalmente o auditivo, na estimulação do ouvir.

A música estimula à prática sonora desenvolvendo o aluno a distinção dos efeitos sonoros, como timbre, altura e intensidade, fazendo com que seja distinguido cada som escutado. E aos poucos vai se ampliando o seu desenvolvimento sonoro, apreendendo-se quais gostos sonoros mais aprecia e o que não são de seu agrado, assim podendo fazer reproduções que são agradáveis ao gosto. 

Música dentro da perspectiva sonora faz com que se despertem sensações afetivas, pensamentos e ações. Portanto, estimular a socialização, interagindo musicalmente, faz a criança aprender a conviver melhor se comunicando afetivamente em harmonia na família, na escola e em meio à sociedade.

A ESCOLA E A ARTE MUSICAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DA MÚSICA NA PERSPECTIVA DOS REFERENCIAIS CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL 

O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI) é desenvolvido numa abordagem diversificada, para estímulo e organização da aprendizagem e identidade da criança. Dentre desses aspectos são inseridos vários métodos e orientações que apontam caminhos para uma melhor prática docente. 

No RCNEI (1998) se encontram várias formas de abordagem de ensino direcionado à criança. Numa dessas abordagens está à música como método de aprendizagem a ser utilizado e desenvolvido, para que trabalhem as capacidades afetivas, emocionais e sociais.

"A cultura dentro referencial curricular é entendida de forma a ampliar conteúdos dentro de seus códigos e produções simbólicas" (RCNI, 1998, pg 46). Por isso, a música proporciona, ao professor, meios que possibilitem aprendizagens e manifestações culturais das e para as crianças. 

Para que o professor se utilize adequadamente destes meios, o seu perfil deve ser amplamente diversificado, para que no planejamento de suas atividades proporcione conteúdos diversos a garantir aprendizagens em diferentes abordagens, em especial quando se trabalha com a arte musical, uma vez que "a implantação e/ou implementação de uma proposta curricular de qualidade depende, principalmente, dos professores que trabalham nas instituições". (RCNEI, 1998, p.41) 

 O RCNEI contém três volumes. O terceiro volume é relacionado ao âmbito do conhecimento de mundo, em que se desenvolve na construção de um trabalho com variadas linguagens pelas crianças, objetivando conhecimentos relacionados entre si. Dentre os conteúdos curriculares está a música, como construção de conhecimento significativo a se inserir de forma integral a métodos diversos, na promoção da aprendizagem das crianças. Assim: 

O trabalho com a música proposto por este documento se fundamenta em estudos de modo a garantir à criança possibilidades de vivenciar e refletir sobre questões musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece condições para o desenvolvimento de habilidades. (RCENI, 1998, p.48).

A música está presente na educação infantil, ao longo dos tempos, sendo compreendida como forma curricular contribuinte no desenvolvimento de hábitos, atividades e culturas, além de proporcionar a prática do convívio social, desempenhando estímulos à memorização e melhorando a fixação conteúdos e aprendizagens. 

Partindo-se dessas considerações, podemos dizer que o trabalho com a música está entrelaçado com práticas e referenciais interdisciplinares, já que remete a conhecimentos diversificados, ao se inserir em contextos literários e artísticos, datas comemorativas, brincadeiras, atividades desportivas, etc. 

Assim, na perspectiva das práticas curriculares da educação infantil a interdisciplinaridade é entendida como um ponto de cruzamento de disciplinas ou atividades baseadas em diferentes pressupostos que articulam os conteúdos trabalhados de forma harmoniosa. O professor de educação infantil, através de uma abordagem interdisciplinar, deve considerar a diversidade dos conteúdos disciplinares, para que haja uma articulação maior entre o que se ensina e o que se aprende. Assim, é preciso saber fazer uso de métodos interdisciplinares para melhor favorecer a aprendizagem. 

Deste modo, para educar com qualidade, as instituições precisam fazer adaptações estruturais e funcionais, para promover condições de desenvolvimento das crianças, de acordo com as orientações curriculares nacionais. 

Nas escolas o desenvolvimento infantil deve ser acessível a todos sem qualquer tipo de discriminação, em que sejam válidos e resgatados os fatores culturais da criança. Logo, o desenvolvimento curricular deve criar possibilidades diversas de aprendizagem, pois diante das metodologias adotadas estimula a criança a desenvolver sua identidade, emitindo seu reconhecimento através de várias situações envolvendo a música, o corpo, a cognição e o afeto. 

A educação escolar infantil respaldada pelo RCNEI (1998) proporciona várias situações em que as aprendizagens contribuam integramente para o desenvolvimento de habilidades como o ouvir/falar, o ler/escrever, o cantar/ dançar, entre outras. O estímulo ao desenvolvimento de diferentes habilidades, especialmente as motoras e lingüísticas, faz com que a relação entre o cuidar e o educar se estabeleça, pois a educação escolar está sendo pensada e planejada adequando-se ao cuidado não apenas físico, mas o cuidado global da criança – o que resulta na qualidade e diversidade do ensino em relação aos diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo.

Portanto, o cuidado global da criança deve acontecer na interação de métodos interdisciplinares, através de orientações baseadas nos procedimentos curriculares que estimulem o aluno a se descobrir e desenvolver suas capacidades. Isto pode ser favorecido por meio de estímulos musicais.

------continua em breve------- 

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