Nas últimas décadas o mundo vem sofrendo uma crise ambiental crescente. O
uso frequente do solo para a produção de alimento, plantações, criação de gado,
desmatamento, queimadas e construções desgovernadas geraram problemas
gigantescos tanto ambientais como sociais econômicos.
A produção alimentícia na atualidade, na maioria das vezes, não é feita de
maneira sustentável, ela acaba destruindo ecossistemas, gerando extinção de
espécies, redução de qualidade de água, mudança de temperatura e desestabilização
dos solos. Entretanto uma forma mitigatória para equilibrar preservação e produção
alimentar são os sistemas agroflorestais.
Os Sistemas Agroflorestais - SAFs podem ser definidos como forma de
produção agrícola com o elemento árvore, no qual se faz obrigatória a integração de
um componente arbóreo perene ou anual (frutífero ou madeireiro), e podendo ou não
haver a presença de animais (RIGHI, 2015). Idealmente, dá-se início a esse sistema
a partir de um terreno degradado, dessa maneira, o mesmo pode ser visto como uma
estratégia de recuperação de área degradada, juntamente com um meio de produção
agrícola rentável.
De amplo modo, os benefícios ecossistêmicos fornecidos pelos Sistemas
Agroflorestais são de grande valor ecológico. E tais benefícios, em sua diversidade de
processos ocorrentes dentro do Sistema Agroflorestal fornecem serviços
ecossistêmicos que podem melhorar os cenários ambientais. Entretanto como os
diversos processos que ocorrem nos Sistemas Agroflorestais fornecem serviços
ecossistêmicos que podem melhorar os cenários ambientais?
O objetivo geral desse trabalho é discorrer sobre a utilização de sistemas
agroflorestais, baseado em princípios ecológicos sustentáveis, como estratégia de
preservação ambiental. Para tal, os objetivos específicos são 1) estudar os tipos de
serviços ecossistêmicos providos pelos Sistemas Agroflorestais; 2) analisar
estratégias de preservação por meio dos Sistemas Agroflorestais; 3) avaliar a eficácia
dos Sistemas Agroflorestais como plano de recuperação e preservação ambiental.
Este trabalho está dividido em três capítulos, seguindo os objetivos específicos
supracitados. De forma que os objetivos específicos foram divididos em três tópicos,
para uma produção textual de fácil compreensão, cada um dos capítulos abordará um
objetivo e discorrerá sobre o mesmo. O primeiro capítulo aborda alguns benefícios
ecossistêmicos fornecidos pelos sistemas agroflorestais, em sequência, no segundo
capítulo, foi elaborado uma análise de estratégias para a utilização de agroflorestas,
para então trazer, no terceiro capítulo, uma avaliação da eficácia desses sistemas
como forma de recuperação ambiental, baseado em trabalhos já realizados.
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS PROVIDOS PELOS SISTEMAS
AGROFLORESTAIS
Existem diversos serviços ecossistêmicos diretamente relacionados a um
sistema agroflorestal. Esses serviços fornecem benefícios ecossistêmicos globais, por
misturar diferentes espécies e utilizar o que é proveniente delas (animal e vegetal). O
próprio meio natural através da ciclagem de nutrientes, com a formação de
serapilheiras, e melhor aproveitamento da incidência solar consegue se manter, não
necessitando de adubos químicos, o que é também um benefício no ponto de vista
antrópico.
Os sistemas agroflorestais são ótimos
fixadores de carbono, devido a ação das culturas perenes que retiram o carbono da
atmosfera para utilizarem como parte de sua composição e manutenção. Além de conterem erosões, por muito causadas pela ação dos pastos, reduzem
a perda de solo e nutrientes, que podem resultar em lixiviação e assoreamentos, além
que podem servir como abrigo para a fauna.
SEQUESTRO DE CARBONO
O carbono é um dos principais gases de efeito estufa, sua concentração vem
aumentando cada vez mais, sendo geradas por atividades humanas, econômicas e
industriais, assim como queimadas e desmatamentos, e com isso causando
alterações negativas na biosfera.
Os Sistemas Agroflorestais - SAFs possuem um grande potencial em equilibrar
o objetivo de otimizar a manutenção de estoque de carbono nos solos terrestres ao
mesmo tempo que gera renda, uma vez que suas espécies vegetais anuais ou
perenes, detém uma enorme capacidade de reter e assimilar CO2.
Os SAFs servem como mecanismo para retirar CO2 da atmosfera, sendo mais
eficazes quanto ao sequestro de carbono do que as florestas nativas, dependendo do
seu manejo, pois esse carbono não fica apenas fixado na biomassa, (tronco, folhas e
galhos), mas também com o trabalho de podas e produção folhagem no solo e
cobertura de morta, dá-se o carbono humificado no solo, conforme essa cobertura
morta vai se decompondo. Diante disso, por serem uma espécie de florestas otimizadas, os SAFs tornam-se grandes armazenadores de carbono.
Como medida mitigatória para o grande acumulo de Gases de Efeito Estufa -
GEE na atmosfera, em 1992, durante a Rio 92, foi estabelecido, para todas as Partes
da Convenção, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas
(United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC). Essa
convenção climática teve como objetivo propor aos países industrializados que
estabilizassem as concentrações de dos GEE, de forma que conceda aos
ecossistemas um prazo suficiente para que possam se adaptar naturalmente à
mudança do clima, assegurando que tanto a produção de alimentos quanto o
desenvolvimento econômico não sejam ameaçados, mas que sigam de maneira
sustentável.
A conferência das Partes, realizada em Quioto, 1997, estabeleceu a meta de
redução de 5,2% abaixo dos níveis observados na época, para gases GEE. Esse
acordo ficou conhecido como Protocolo de Quioto, e criou o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL), que pode ser usado como moeda de troca, uma vez
que cada tonelada de CO2 que deixar de ser emitido poderá ser negociado, através
de Certificados de Emissões Reduzidas (CER), mundialmente, criando assim uma
medida compensatória, o chamado comércio de carbono.
NFLUENCIA DOS SAFS NA CONTENÇÃO DE SOLO
Dentro de um pasto pode ocorrer uma erosão muito grande devido ao pisoteio
dos animais, resultar na compactação do solo, ou até a criação de voçorocas. Esse
sedimento pode vir a ser lixiviado através da ação da chuva, o que em ambiente
florestal leva horas e em pasto é questão de minutos. Esses sedimentos carregados
pelas chuvas, acabam parando em corpos d’água podendo levá-lo ao assoreamento
agravando problemas para as populações aquáticas habitantes e as terrestres
dependentes daquele corpo d’água.
Havendo um SAF, esse processo de assoreamento pode ser evitado, pois a
ação das raízes proporciona uma eficaz retenção e melhor infiltração da água no solo.
A copa das árvores, assim como a camada de matéria orgânica no chão (serapilheira)
servem como barreiras para a chuva diminuindo a sua intensidade e velocidade de queda, amenizando o impacto da água no chão, evitando que o solo se desprenda e
seja carregado.
De acordo com a legislação ambiental brasileira os safs podem ser utilizados
como alternativa para as reservas legais, para a Área obrigatória de proteção e
preservação em áreas particulares, aonde o proprietário conseguirá manter a área
preservada, conforme a lei, e ainda gerar lucros individuais, o que contribuiu para uma
maior proteção para rios e populações ribeirinhas.
TRAMPOLINS ECOLOGICOS
É imprescindível que toda as matas sejam preservadas, para que se tenha uma
manutenção constante de biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, entretanto
não condiz com a realidade, fazendo-se necessário a implantação de corredores
biológicos. Entre os fragmentos de matas existem, em sua maioria, pastos, formando
um grande mosaico nas paisagens, destarte se dá a importância da implantação de
SAFs, pois podem ser utilizados como trampolins ecológicos.
Os SAFs possuem grande semelhança com ecossistemas naturais, devido sua
enorme geração e acumulo de biodiversidade e biomassa. Por
conter uma enorme diversidade de vegetal, esses sistemas acabam atraindo uma
grande diversidade de animais. Mediante a isso
podem ser utilizados como trampolins ecológicos, funcionando como habitat, ponto de
refúgio e alimentação, e facilitando o fluxo gênico de muitas espécies animais e sua
dispersão entre fragmentos de mata. Com o tempo
esses trampolins ecológicos vão trazendo reestruturação e conservação para fauna e
flora, em alguns casos até podem evitar a extinção de uma espécie.
SISTEMAS AGROFLORESTAIS COMO ESTRATÉGIA DE PRESERVAÇÃO
Os Sistemas Agroflorestais replicam a lógica e o funcionamento e as dinâmicas
naturais do ambiente florestal de onde estão inseridos e podem ser implantados em
praticamente todo ecossistema, partindo do princípio de que, exceto pelos picos das
montanhas, os grandes desertos e os polos, a expressão máxima de todo ambiente,
considerando o fator limitante: tempo, é florestal. Esses
sistemas contribuem diretamente de forma muito eficiente na preservação e
conservação de áreas que necessitam recuperação, por serem diversos e
multiestratificados.
Esses sistemas são ricos em biodiversidade, por outro lado, nem todo sistema
agroflorestal é orgânico. Alguns produtores que fazem o uso de sistema agroflorestais
acabam utilizando de alguns defensivos químicos. Nem sempre compensa o uso de
insumos orgânicos dependendo de sua origem, pois todo o esforço para obtê-lo acaba
desqualificando-o como “limpo”, dessa forma, a utilização de alguns compostos
químicos, controladamente, acaba se tornando mais baratos e acessíveis, e por mais
que sejam químicos, o esforço pelo sistema agroflorestal acaba compensando,
criando certo equilíbrio.
Para que se alie a preservação ambiental com a produção rentável é
necessária uma mudança de visão, pois há uma barreira cultural na qual o produtor
possui uma enorme dificuldade em ter mais de um foco em seu sistema produtivo, por
estar preso nessa mentalidade de especialização. Existe também uma grande
resistência dos produtores em virtude da facilidade de manejo das monoculturas
devido a demanda de maquinários. É diante disto, que esta mudança precisa ser
conjunta, onde a academia da inovação, agroprodutores, a indústria e produtores de
maquinas comecem a trabalhar com o mesmo foco de mudar essa sistemática
produtiva.
Tem-se como conceito de área de proteção permanente - APP previsto em lei:
Áreas protegidas, coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade
geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e
assegurar o bem-estar das populações humanas (BRASIL, 1965, online).
Diante disto é necessário caminhar para criar uma estratégia que consiga
manter a preservação da área conciliada com agro atividades que gerem renda aos
produtores.
Os SAFs devido a seus benefícios ecossistêmicos promovidos por sua
biodiversidade são grandes preservadores ambientais utilizados como estratégia de
reserva legal para produtores rurais. Tem-se como principal dificuldade de
preservação das reservas legais a percepção dos produtores de que tais áreas são
perdas produtivas. Destarte, devido sistema estimula a preservação ambiental por
parte de tais produtores ao garantir que os mesmos não tenham perda de lucratividade
com suas respectivas áreas de reserva legal.
À vista disso, os SAFs representam um modelo eficaz de utilização de terra,
contribuindo com a recuperação e preservação de ecossistemas pois aliam
recuperação de áreas degradadas com produção de alimentos e bens de consumo.
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL POR MEIO DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Devido ao crescimento socioeconômico da população humana a demanda de
áreas para urbanização, agricultura e pecuária vem aumentando exponencialmente.
O resultado disso é a fragmentação florestal, onde se tem a retirada da vegetação
para plantio e pastagem. Esse processo é cíclico onde a medida em que essas áreas
perdem sua fertilidade, em razão da intensidade do uso das mesmas, ocasiona-se a
exploração de novas áreas.
De acordo com o ministério do meio ambiente, a recuperação de uma área
degradada é o processo de manejo de ecossistema, para a intervenção no
restabelecimento de um ambiente que foi destruído ou danificado, corrigindo ou
adicionando no local novas espécies vegetais, de forma que o ecossistema consiga
manter recursos suficientes para seu desenvolvimento sem mais auxílios, e assim,
sendo considerado restaurado.
Segundo Maschio, os sistemas agroflorestais
podem ser sucessionais ou temporais, na qual um conduz a regeneração natural,
fazendo a seleção de espécies de que se tem preferência para a condução de seu
crescimento e o outro irá trabalhar a sucessão natural como princípio, utilizando os
tempos para entrada e saída de espécies. Esses sistemas podem ser eficientes
maneiras de conciliar produção alimentar, recuperação de ambientes degradados e
enriquecimento de fragmentos florestais.
É ideal que a implantação de um sistema agroflorestal seja feita em ambiente
degradado, uma vez que é inviável que se desmate uma área para se iniciar um SAF,
dessa forma, esse tipo de sistema pode ser aplicado eficazmente em diversas formas
de recuperação de áreas degradadas. O novo código
florestal permite, desde que mantenham as funções ecológicas básicas e não
alterando as características e cobertura vegetal da área, utilizar sistemas
agroflorestais como alternativa viável para reserva legal, em propriedades familiares,
assim como também um meio de recuperação ambiental.
Estudos desenvolvidos em diferentes regiões no país mostram que os SAFs
têm muito a contribuir como estratégia de manejo para a restauração de áreas
degradadas. Os resultados obtidos indicam que esses sistemas podem facilitar o
recrutamento de novas espécies vegetais, contribuindo para o impulsionamento da
sucessão natural. Esses sistemas atuam diretamente na melhoria do solo, pois proporcionam boas condições físico-químicas para o solo, através das
ciclagens de nutrientes e da formação de serapilheiras. De modo mais amplo, os SAFs
podem ser trabalhados de diversas formas para recuperação, variando
adequadamente de acordo com o tipo de degradação encontrada no local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo da realização deste trabalho foi possível perceber que o tema
Sistemas Agroflorestais dispõe de uma vasta bibliografia, dessa forma não houve
grande dificuldade para a realização do mesmo. Entretanto a maioria dos trabalhos
disponíveis tratam de experiências práticas e projetos aplicados, focando pouco em
base teórica voltada para conceitos.
Ao analisar os benefícios providos pelos SAFs tem-se a comprovação de sua
eficácia por meio de projetos que obtiveram êxito por meio da retirada de carbono da
atmosfera e melhoria no solo, promovendo, assim, a ciclagem de nutrientes.
Funcionam, ainda, como trampolim ecológico auxiliando o fluxo gênico de diversas
espécies. Por esses motivos os SAFs têm capacidade de moldar positivamente os
cenários ambientais, quando utilizados para recuperar e preservar ecossistemas.
Como forma de recuperação e preservação os SAFs têm se mostrado uma
estratégia eficaz e bastante visionária, pois é capaz de conciliar a rentabilidade
lucrativa dos produtores familiares e a estabilidade ecológica local, entretanto não
muito difundida socialmente devido à sua falta de credibilidade. Dessa forma, nota-se
a necessidade de uma reforma sociocultural na qual esse sistema seja adotado como
fonte primária de agrossistema. É esperado que este trabalho motive novas pesquisas
voltadas para a área de sistemas agroflorestais, chamando mais atenção para esses
sistemas de modo que cheguem a ser adotados, se não por todos, pela grande maioria
dos produtores no País.