Analisando a caracterização e a
função do personagem vampiro, pertencente ao tópico do fantástico, mais precisamente
à Literatura Vampírica, no universo de alguns livros da Literatura Infanto juvenil.
Que relação pode haver entre o Senhor da
noite e a Literatura Infantil?
Um personagem tão mórbido, e perigoso
pode, de fato, alcançar um espaço na literatura para crianças e jovens? De que forma?
Drácula e sua trupe não perderiam sua essência ao receberem modificações a fim de adaptarem-se ao universo infinito que compõe a Literatura Infanto juvenil? A fim de,
com isso, sanar a questão principal:
— As facetas de vampiro na Literatura Infantil variam?
As facetas do vampiro variam, isso é fato. Afinal de contas, essa criatura
"[...] não é uma espécie aristotélica, estática no tempo e no espaço, mas darwiniana,
sujeita à evolução, à adaptação aos vários ambientes culturais que habita" (ARGEL;
NETO, 2008, p.50). No entanto, suas representações na Literatura Infantil diferenciam-se das que encontramos na Literatura Adulta, e por isso se distancia um pouco da mesma. Porém, faz isso sem cortar os laços que as unem; adiciona novos elementos sem
excluir o ingrediente principal da receita: o próprio vampiro.
Ao aventurar-se pela Literatura Infanto juvenil, o personagem vampiro
abandona suas vestes de duplo do demônio, e passa a assumir outros papéis: de amigo,
de mestre, de irmão. Ao ser incorporado na literatura para crianças, esse ser oriundo das
Literaturas Gótica e Fantástica, ganha um pouco mais de cor, de brilho, de vida, ainda
que continue mórbido, como a menina-vampira Ivy, da obra de Sienna Miller. Suas representações são tantas, que se atribui às suas obras originalidade, ainda que seus autores tenham tomado um gole de inspiração direto dos pescoços dos vampiros clássicos
para dar à luz seus dentuços. É possível afirmar que, os semi-vivos de caninos proeminentes, nas obras analisadas, distanciam-se um pouco dos tradicionais, sanguinários e
sexuais vampiros tradicionais. Na verdade, estão mais para góticos de vida eterna do
que para vampiros propriamente ditos. É visível a fase de mudança pela qual o personagem vem passando, podendo nortá-la não apenas em representações dele na Literatura
Infantil, como também na Adulta, uma vez que já apresenta traços mais humanizados
em obras como Entrevista com o vampiro (1976), de Anne Rice, e Crepúsculo
(2005), de Stephenie Meyer.
A riqueza do morto-vivo sugador de sangue é tamanha que se torna possível fazer constantes intertextos entre as obras vampirescas, sejam elas oriundas da
Literatura Adulta ou Infantil, sem que uma pareça ou torne-se uma mera cópia da outra.
Uma relação intertextual incrível entre o vampiro clássico e o caracterizado na Literatura Infantojuvenil, é a feita entre Draculaura e o Conde Drácula.
Embora sejam criaturas completamente diferentes — a menina-vampira é
vegetariana e bondosa, enquanto que o vampiro stokeriano é sedento por sangue, sádico
e malvado —, são pai e filha. Ou seja, consolidam o que já foi dito: o vampiro é um ser
eterno, mas mutável, pois adapta-se ao meio e ao tempo em que se encontra. É capaz de
coexistir tanto em narrativas góticas e assustadoras, como nas infantis e mais coloridas.
O que permite que Drácula seja pai de Draculaura, ainda que sua cria só carregue do pai
(aparentemente) uma coisa: o nome.
Ao ser inserido no cosmo da Literatura Infantojuvenil, o vampiro pode se
tornar um grande aliado da escola e dos pais no tocante à educação. Isso porque é um
personagem que encanta as crianças leitoras – bem como os leitores adultos –, as quais
adoram ter a possibilidade de ter o contato com o desconhecido e com o fantástico, e
por isso mesmo, costumam gostar muito de ler obras nas quais estão presentes vampiros, bruxos, feiticeiras, seres mitológicos. Quando bem escrita e estruturada, uma obra
de Literatura Vampírica para crianças tem o poder de, muito mais do que divertir, produzir e auxiliar no aprimoramento do conhecimento de seus leitores.
A mensagem que fica, é que "com o vampiro é possível abandonar a
lógica da luz do dia (racionalidade) pela lógica das sombras da noite" (AIDAR; MACIEL, 1986, p.45), pois quando imersos em seu mundo, até a escuridão mais profunda
se ameniza enquanto as crianças leitoras — e os adultos leitores também, por que não?
— bebem dos textos em essas criaturas estão presentes, tendo como resultado não a vida
eterna, mas o maior de todos os alimentos: ampliação do conhecimento.