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quarta-feira, 2 de outubro de 2024

O brincar é o empreendimento mais sério de uma criança (pedido para trabalho escolar)

O QUE É O BRINCAR?

O brincar é uma ação voluntária. Não é um dever. É temporário. Ao brincar se cria um mundo próprio, mas que não é dissociado da realidade. O brincar não procura os próprios interesses. Não precisa ser útil. Tem regras e regulamentos. Se as regras forem transgredidas, a brincadeira termina. Na verdade, por ter tantas formas, é uma palavra difícil de definir.

E o brincar é o empreendimento mais sério de uma criança.

O brincar é definido como uma necessidade básica para crianças de todas as idades e é protegido pelo Artigo 31 da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. Este artigo visa garantir oportunidades para que as crianças expressem sua criatividade, enriqueçam sua imaginação, adquiram autoconfiança e autossuficiência; e se desenvolvam física, mental, emocional e socialmente. O artigo enfatiza a natureza essencial do direito de brincar com o intuito de garantir todos os direitos individuais
subsequentes.

POR QUE O BRINCAR É IMPORTANTE NA PRIMEIRA INFÂNCIA?

A primeira infância é o período em que os seres humanos crescem e aprendem mais rápido. Pesquisas atuais mostram que 85% do nosso cérebro se desenvolve nos primeiros 1000 dias de vida. De fato,
observou-se que o cérebro de bebês que foram negligenciados, que não tiveram oportunidades de interação suficiente ou com os quais não se brincou durante esse período crítico não se desenvolve.

Os bebês nascem prontos para aprender. Vinte minutos após o nascimento, começam a imitar os gestos de seus cuidadores. Durante os primeiros 2 a 3 anos, a formação de sinapses entre os neurônios no cérebro é muito rápida e densa. Mais sinapses se formam quando o bebê interage com o ambiente. As sinapses muito usadas se tornam mais fortes, ao passo que as sinapses não usadas são suprimidas com o tempo.

Para o bom desenvolvimento do cérebro, interação prazerosa com os bebês é essencial. Conversas sensíveis e carinhosas, brincadeiras e ambientes que incentivem o brincar são primordiais. Sinapses -
conexões entre neurônios do cérebro responsáveis por diferentes habilidades - são mais fortes no cérebro de uma criança que cresce em um ambiente rico em estímulos. Essas conexões formam a base para as habilidades cognitivas de toda criança, como aprendizagem, atenção e memória.

POR QUE O BRINCAR É IMPORTANTE EM CIDADES?

A urbanização mundial transformou as cidades em lugares onde nascem, crescem e residem milhões de pessoas, sinalizando a necessidade de se expandir a definição de cidade para além de seus benefícios econômicos. No entanto, mesmo os índices de 'habitabilidade' apresentados na década de 1980 são basicamente usados apenas como indicadores de sucesso econômico.

Novas definições de 'habitabilidade' enfatizam uma avaliação das cidades através dos olhos de jovens e idosos que compõem em média 40% a 50% das populações urbanas.

Em uma metrópole de tamanho médio como Istambul, com seus 15 milhões de habitantes, a população de crianças é de cerca de 4 milhões, dos quais mais de um milhão são crianças entre 0 e 4 anos de idade.

Em suma, as cidades tornaram-se o habitat da espécie humana e das suas crianças e, por essa razão, precisam responder à sua necessidade de brincar.

PODEMOS TODOS BRINCAR NOS PARQUES INFANTIS?

Para uma criança, estar ao ar livre é uma maneira importante de conhecer o mundo e melhorar suas habilidades. Bairros que permitem que as crianças explorem, se deparem com coisas novas e brinquem,
ajudam-nas a aprender por observação e socialização.

Como primeiro passo, vamos examinar os parquinhos infantis, os principais espaços públicos projetados para crianças, e nos perguntar: esses parquinhos despertam a imaginação das crianças, e estimulam seus cuidadores a uma interação lúdica? Eles são projetados tendo em vista as crianças mais novas e seus cuidadores? Como podem apoiar o desenvolvimento infantil nos seus estágios iniciais, mais acelerados?

CRESCEM TÃO RÁPIDO!

Na vida humana, os primeiros três anos são cheios de mudanças. Habilidades motoras desenvolvem-se rapidamente em poucos meses. Ao projetar parquinhos para crianças pequenas, é importante prestar
atenção à sua mudança em termos físicos e em termos de habilidades.

0-2 Meses:
No primeiro mês, os bebês começam a levantar o queixo enquanto estão deitados de barriga para baixo. Durante o segundo mês, aprendem a levantar a parte superior do corpo enquanto estão na mesma posição. Os bebês começam a se comunicar com seus cuidadores através de sons, movimentos e expressões
faciais que iniciam nesses primeiros meses e, no segundo mês, começam a sorrir.

3-4 Meses:
A essa altura, os bebês aprendem a segurar objetos. Deitados de barriga para baixo, levantam a cabeça e a
parte superior do corpo com a ajuda dos braços. Esses pequenos movimentos de flexão são muito importantes para o desenvolvimento da parte superior do corpo.

5 Meses:
Os bebês começam a rolar por volta do quinto mês. Conseguem pular se alguém os segurar em posição ereta. Esse movimento os ajuda a fortalecer as pernas.

6-9 meses:
Os bebês aprendem a se sentar sem apoio durante esses meses. Para se sentarem, seu pescoço precisa estar forte, e precisam ser capazes de controlar a cabeça e ter equilíbrio e coordenação. A maioria dos bebês começa a engatinhar durante esse período, mas alguns pulam essa etapa até aprenderem a andar.

9-12 Meses:
A partir do nono mês, os bebês desenvolvem a habilidade de ficar em pé com algum apoio. Alguns conseguem até ficar de pé por alguns segundos sem qualquer apoio, ou dar os primeiros passos segurando nas mãos de seus cuidadores. Enquanto isso, descobrem como dobrar os joelhos e até a
sentar depois de ficar de pé. Nessa fase, os bebês gostam de repetição contínua, através da qual aprendem relações de causa e efeito. Eles começam a usar o dedo indicador para comunicação e ficam entretidos com sons. Tentam alcançar objetos. Gostam de jogos de tentativa e erro, como brinquedos de combinação de formas.

12-15 Meses:
Os bebês começam a andar, mesmo que de maneira hesitante e de braços abertos para manter o equilíbrio. Aprendem a se agachar e a se inclinar. Geralmente se interessam por brinquedos que podem empurrar.

16-18 Meses:
Bebês começam a caminhar e a subir escadas com algum apoio. Eles também dançam quando ouvem música.

19-24 Meses:
Seu caminhar fica mais rápido. Eles aprendem a chutar ao jogar bola, a ficar na ponta dos pés, a levar algo enquanto caminham, e também a saltar. Durante o segundo ano de vida, os bebês começam a se
comunicar. Eles não conseguem jogar jogos com regras ainda, mas anseiam por descobertas e conquistas.

3 anos:
Aos 3 anos de idade, o corpo humano está no auge de sua atividade física. As crianças são bastante aventureiras e corajosas nessa idade. Elas correm para frente e para trás, para a direita e para a
esquerda, em uma linha reta, e conseguem saltar meio metro adiante. Conseguem jogar uma bola dois metros à frente, e brincar de apanhar a bola. Começam a escalar. Escadas não são mais problema. Além disso, são capazes de pedalar uma distância de 6 a 7 metros em um triciclo. Entre os dois e três anos de idade, começa a jornada das crianças para o mundo da imaginação. Elas exercitam brincadeiras simbólicas em que representam rotinas diárias, como brincar de casinha.

4-5 anos:
As crianças completam seu desenvolvimento físico. Gostam de superar desafios. Se divertem muito com
escaladas; constantemente tentam ir mais alto e superar desafios maiores.

COMO MUDAM AS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS CONFORME ELAS
CRESCEM?

Nos primeiros meses de vida, o aprendizado se dá quando os bebês estendem a mão para tocar as coisas, agarrando-as e colocando-as na boca. A descoberta do gosto e do toque, dos sons, formas e cores são a primeira forma de brincadeira para bebês pequenos. Durante o primeiro ano, os cuidadores são seus principais companheiros de brincadeiras. A interação com os cuidadores proporciona aos bebês as bases para futuras relações com seus pares.

Ao final do primeiro ano de vida, os bebês começam a observar outras crianças e a brincar perto delas sem se envolver diretamente. Este tipo de brincadeira é chamado de brincadeira paralela; bebês brincam lado a lado e às vezes até brincam com os mesmos brinquedos, mas operam de forma independente. Até o 15º ou 18º mês, as crianças começam a se comunicar umas com as outras durante brincadeiras paralelas e até começam a dar brinquedos umas para as outras. A partir do 18º mês, começa a socialização, e assim
conseguem se revezar ao brincar juntas seguindo regras simples.

Aos 2 ou 3 anos, as crianças começam a usar sua imaginação e gostam de brincar de faz-de-conta. Por exemplo, uma caixa pode ser o navio de uma criança que finge ser um capitão. Com o passar do tempo, elas progridem para brincadeiras com regras mais complexas baseadas em competição ou cooperação com seus pares.

TUDO É
BRINCADEIRA!

O aprendizado de novas habilidades pode criar oportunidades para brincadeiras. Habilidades como
engatinhar, ficar de pé e caminhar, aprendidas nos primeiros três anos de vida, podem inspirar projetos
de parquinhos para crianças pequenas.

Como deve ser empolgante para uma criança brincar com as coisas mais simples, como água, areia e som! O que é preciso para experimentar relações de causa e efeito, aprender por observação e começar as primeiras amizades?

ENGATINHAR

Engatinhar é a primeira estratégia para um bebê se movimentar sozinho. O engatinhar pode ocorrer de várias formas: sobre as mãos e joelhos, arrastando-se sentado, rolando ou rastejando de barriga para baixo. O importante não é o estilo, mas o sucesso para se por em movimento.

Antes de começar a engatinhar, os bebês precisam de um tempo de bruços e de encorajamento para se esforçarem na direção dos objetos que gostariam de alcançar. Brincar por alguns minutos nessa posição
ajuda os músculos a se desenvolverem e aumenta a autoconfiança dos bebês.

Pode ser suficiente prover áreas onde se possa estender uma colcha para ajudar os bebês a desenvolverem suas habilidades para engatinhar. Túneis curtos ou pequenas elevações podem estimular bebês interessados em aventuras maiores.

LEVANTAR-SE

MANTER-SE DE PÉ

Conforme se aproxima seu primeiro aniversário, os bebês começam a estender os braços para segurar coisas mais altas e assim se levantarem. Para um bebê é uma coisa nova e divertida observar as coisas de uma posição ereta, de pé. Com o tempo, suas pernas ficam mais fortes ao sustentar o corpo. Eles começam a perambular, movendo-se em pé enquanto se agarram às coisas para manter o equilíbrio. Uma vez adquirida mais confiança para ficar em pé, exploram passos laterais, que, mesmo ainda desequilibrados, são as primeiras etapas para que caminhem de forma independente.

Balanços baixos presos ao chão podem ajudar os bebês a praticarem ficar de pé e balançar suavemente. Pneus fixados ao solo podem fornecer o suporte de que precisam para ficar em pé.

Muitos projetos podem ser criados para parquinhos de modo a permitir que as crianças treinem e aprendam a se levantar sozinhas. Um suporte com cerca de 40 cm de altura pode ajudar as crianças a se
levantarem. É importante lembrar que os bebês se sentam quando estão cansados. Superfícies curvas como cilindros, ou então balanços baixos podem ajudar os bebês a testar diferentes formas de distribuição de peso e suporte. Opções de lugares para os cuidadores se sentarem nas proximidades garantirão uma boa diversão para todos. Balanços baixos presos ao chão podem ajudar os bebês a praticarem ficar de pé e balançar suavemente. Pneus fixados ao solo podem fornecer o suporte de que precisam para ficar em pé.

ANDAR

Uma vez que consigam ficar em pé sem apoio, os bebês procuram dar seus primeiros passos. No início, seu andar é instável, com as pernas e os braços abertos para encontrar equilíbrio. Andar tem a ver com confiança e, até que adquiram essa confiança em sua capacidade de caminhar, os bebês alternarão entre andar e engatinhar para alcançar um destino. Esse processo de aprendizado é muito importante e divertido para os bebês, e incentivo lúdico é necessário enquanto eles aprendem a encontrar o equilíbrio e aumentar a velocidade ao andar.

Caminhos e trilhas sinuosas incentivam as crianças a andar. Um suporte de cerca de 40 cm de altura proporciona a oportunidade de vaguear e descansar quando necessário. Texturas e trilhas criadas com elementos de pintura, pedra ou madeira irão intrigar as crianças e inspirá-las a criar suas próprias brincadeiras.

Para onde esse caminho nos levará?

ESCALAR

Os bebês começam a escalar antes mesmo de aprenderem a andar, e a escalada continua sendo uma aventura emocionante por muitos anos. Durante a escalada, a criança aprende a controlar e coordenar seu
corpo e a manter o equilíbrio. A escalada é importante para os bebês desenvolverem certas habilidades, mas é igualmente importante no desenvolvimento de sua coragem e autoconfiança. Olhar para baixo
depois de uma escalada é uma experiência gratificante para pessoas de todas as idades, incluindo crianças pequenas, pois isso reforça sua percepção de sucesso.

Superfícies inclinadas simples ou pequenas elevações podem ser projetadas para crianças pequenas escalarem. As superfícies podem ter entalhes ou protuberâncias para fornecer apoio para mãos e pés.
Um monte de areia, uma grande pedra ou troncos de árvores também são atraentes desafios de escalada.

Uma pequena colina de 60 a 80 cm pode ser recomendada para iniciantes. Superfícies para escorregar podem tornar a subida ainda mais divertida.

PULAR

Pular é uma das formas mais divertidas de se exercitar para crianças e adultos. No desenvolvimento motor grosso de crianças pequenas, aprender a pular é um marco importante.

Para algumas crianças, é mais fácil aprender a correr do que a pular. Ter ambos os pés no ar requer mais coordenação e coragem do que parece. O salto rítmico ajuda a exercitar grandes grupos musculares e fortalece os músculos que envolvem as articulações.

Pulos e saltos podem ser incentivados com diversas marcações nas superfícies da área de brincadeiras – por exemplo, instruções simples para pular como certos animais, ou marcações para jogos como amarelinha. Até mesmo as calçadas e passarelas de pedestres que levam aos parquinhos podem ser transformadas em superfícies para brincar que incentivem crianças a dar pulos, a pular em uma perna só, ou a saltar sobre algo.

Camas elásticas são superfícies que impulsionam o pulo com o uso de molas. Camas elásticas ao ar livre são divertidas tanto para crianças quanto para seus cuidadores.

EQUILIBRAR-SE

Equilíbrio é a habilidade necessária para manter uma posição corporal controlada durante diferentes atividades. Um bom equilíbrio é necessário para posições estáticas assim como para quando se está em movimento.

Essa habilidade começa a ser desenvolvida quando os bebês aprendem a se sentar e a ficar de pé. Ter um bom equilíbrio é importante no desenvolvimento de todas as outras habilidades, como andar, correr e pular. À medida que aprendem a se equilibrar, as crianças aprendem também a usar seus membros de maneira eficaz em relação ao centro de gravidade do corpo. Todas as habilidades futuras de que possam precisar, como andar de bicicleta, nadar ou jogar bola, exigem bom equilíbrio e coordenação.

Muitas atividades podem ser sugeridas para melhorar o equilíbrio: andar sobre uma linha reta, ficar sobre um pé só, saltar ou caminhar sobre pedras irregulares.

EXPLORAR
COM…

AREIA

A areia é uma coisa maravilhosa! Brincadeiras na areia atraem quase todos de qualquer faixa etária.

A areia é uma ferramenta muito boa para crianças pequenas desenvolverem habilidades motoras finas e coordenação olho-mão. Também é um dos ambientes ideais para brincadeiras paralelas, em que os bebês aprendem observando uns aos outros. Encher e esvaziar baldes, cavar túneis e construir castelos de areia são algumas das atividades preferidas de crianças de todas as idades. Elas criam e contam histórias enquanto moldam a areia em diferentes formas.

Tanques de areia devem ser colocados em um recanto tranquilo e protegido do vento, e ter sol no inverno e sombra no verão. Podem ser separados dos espaços para brincadeiras mais agitadas por cercados baixos ou arbustos. Em torno dos tanques de areia, é importante planejar assentos para os cuidadores. Em áreas
de lazer maiores com areia, os projetistas devem estar cientes da necessidade de se criar superfícies adequadas para o acesso de cadeiras de roda e carrinhos de bebê.

Projetar áreas de brincadeiras com água perto de tanques de areia também pode ser muito gratificante. Nesse caso, os sistemas de água e de drenagem devem ser integrados ao planejamento da área de recreação.

Diferentes tipos de areia com granulações variadas podem ser usados em tanques de areia para fornecer diversos estímulos ao toque. A areia dos tanques deve ser limpa de tempos em tempos e ocasionalmente trocada para evitar solidificação.

TEORIA DA APRENDIZAGEM POR OBSERVAÇÃO

A aprendizagem por observação desempenha um papel importante no desenvolvimento de habilidades motoras finas e grossas em crianças de idade pré-escolar. Segundo essa teoria, quando a criança está pronta para aprender, ela segue os seguintes passos:

1. Observa o comportamento
de outras pessoas.
2. Forma uma imagem mental
desse comportamento.
3. Imita o comportamento.
4. Pratica o comportamento.
5. Motiva-se a repetir o
comportamento.

ÁGUA

A água, assim como a areia, é um dos meios mais simples e atraentes para se brincar. Uma poça d´água que fica depois da chuva pode imediatamente se tornar um agradável local de brincadeiras. A água apresenta muitas oportunidades para experimentos e uma ampla variedade de experiências divertidas.

Nem sempre é possível ter recursos hídricos naturais em um local planejado para um parquinho. Mesmo assim, projetos podem ser desenvolvidos para brincadeiras com água. Por questões de segurança, a água utilizada deve ser potável. Em áreas de lazer para crianças pequenas, a água não deve ser mais profunda do que 35-40 cm.

Para prevenção de escorregões e quedas, os limites das superfícies molhadas devem ser claramente marcados. Espaços para se sentar nas proximidades seriam bastante apreciados pelos cuidadores.

Se houver circulação de água, é importante planejar seu armazenamento e também sistemas de filtragem e bombeamento. Como sugerido abaixo, às vezes é preciso muito pouca infraestrutura para incentivar crianças a brincar com água.

SOM

Dos 2 aos 3 meses de idade, os bebês ficam entretidos com os sons que eles mesmos produzem. Nos meses seguintes, à medida que suas habilidades se desenvolvem, eles começam a ´falar sozinhos´ com evidente prazer. Brincadeiras envolvendo criar e controlar o som, ou o ritmo e a harmonia, continuam a ser prazerosas quando incentivadas.

Nas áreas de recreação, pode-se conceber variados projetos para suscitar as habilidades auditivas e sonoras de crianças pequenas. Esses projetos podem incentivar as crianças a falar e cantar ou podem ser eles mesmos espécies de instrumentos musicais.

Formas de colaboração com músicos ou produtores de instrumentos musicais devem ser consideradas se esses instrumentos precisarem de afinação.

PEÇAS SOLTAS

As peças soltas são elementos leves que incentivam a criatividade e que podem ser movimentados, encaixados e desencaixados conforme se deseje. São importantes por proporcionarem às crianças a liberdade de inventar suas próprias brincadeiras. Para crianças pequenas, essas brincadeiras podem envolver coisas simples como deslocar objetos ou empilhá-los uns sobre os outros - para depois derrubálos novamente!

A existência de peças soltas para puxar, empurrar ou mover de um lugar para o outro possibilita que as crianças personalizem seu espaço e criem suas próprias histórias. Enquanto brincam, as crianças pequenas observam o que as outras crianças fazem. Quando ficam mais velhas e conseguem brincar em grupo, usar peças soltas as ajuda a conceber e resolver problemas em conjunto. Brincadeiras com peças soltas envolvem transformação constante.

Exemplos de peças soltas podem ser materiais para brincar no tanque de areia, como a própria areia, seixos, baldes, pás, rastelos, ou materiais naturais, como cones, conchas, pedras e sementes, ou ainda blocos de montar, bambolês ou bolas. É importante planejar uma caixa ou espaço para armazenamento e atribuir a responsabilidade de guardar esses objetos a alguém, quando for necessário.

PEQUENOS ESPAÇOS

O próprio espaço pode se tornar um modo ativo de se brincar. Espaços que diferem em termos de elevação, altura, ou na maneira como criam relações entre o interno e o externo podem instigar a curiosidade e ajudar as crianças a enxergar seu ambiente de diferentes perspectivas.

Muitas ideias de projetos podem ser idealizadas para brincar com o espaço. A topografia do local, com suas elevações e encostas, seus limites, árvores e plantas, pode ser incorporada ao projeto da área de recreação, aumentando sua serventia para gerar brincadeiras. Espaços meio escondidos entre pequenas colinas e árvores podem gerar mais vontade de brincar quando comparados com grandes áreas planas onde foram instalados equipamentos.

As crianças se aproximam dos caminhos sinuosos com mais curiosidade do que dos retos. As peculiaridades da topografia existente em um lugar, as mudanças de elevação e textura podem inspirar diferentes formas curvilíneas. Uma topografia variada com elevações, depressões e cavernas ajuda a expandir a percepção espacial das crianças e a estimular sua imaginação.

FAZ-DE-CONTA

As crianças começam a se envolver com brincadeiras de faz-deconta - também chamadas de brincadeiras simbólicas - a partir dos dois ou três anos de idade. Nessa brincadeira, objetos e comportamentos são transformados em coisas diferentes do que são. Por exemplo, um pedaço de madeira pode facilmente se transformar em um cavalo, ou uma caixa de papelão em uma mercearia, um castelo ou um foguete! Ao projetar para crianças pequenas, é importante dar atenção à necessidade de brincarem de faz-de-conta. Para permitir isso, os projetos devem ser "transformáveis"; ou seja, em vez de representar fielmente a realidade, devem dar oportunidade para múltiplos cenários e mudanças de identidade, deixando espaço para a imaginação de crianças e adultos na construção de brincadeiras mais envolventes.

PLANTAS

Em áreas urbanas densas, praças e parques infantis são às vezes as únicas instalações ao ar livre disponíveis para as crianças se conectarem com a natureza. A dedicação de espaços em que crianças e seus cuidadores possam cultivar plantas em parques pode ser uma maneira de ajudar a gerar esse relacionamento. ‘Hortas para cultivo’ podem ser algo simples, como uma série de grandes vasos cheios de terra ou um pedaço de terreno com um perímetro claramente marcado.

Plantas têm necessidades diversas quanto à água e exposição ao sol. Algumas plantas exigem muita água, outras menos; algumas precisam de muito sol, enquanto outras crescem melhor na sombra. Perceber essas diferenças e aprender sobre as estações do ano, observando como plantas diferentes crescem durante as várias épocas, é uma experiência inestimável. Essa experiência se torna ainda mais valiosa se alguém da comunidade do entorno do parque ajudar a tomar conta das plantas que as crianças cultivam e der assistência transmitindo conhecimentos práticos.

Em parques maiores, árvores e arbustos frutíferos também podem ser plantados. A descoberta de nomes, sabores, cheiros e cores de toda a diversidade de plantas e árvores de um parque pode ser uma brincadeira maravilhosa.

TÃO IMPORTANTE QUANTO BRINCAR

SOMBRA E LUGARES PARA SE SENTAR

Deve haver lugares para os cuidadores se sentarem perto das áreas de recreação e devese dar especial atenção à disponibilidade de sombra no verão e exposição à luz do sol no inverno. Bancos ou outros
assentos fixos devem ficar perto de onde as crianças brincam, permitindo contato visual. Os lugares para sentar também podem ser projetados como parte integrada e complementar à área de recreação.

Como os cuidadores podem apreciar o tempo que passam no parque infantil, e encontrar-se com amigos e vizinhos? Se for possível obter essa resposta consultando as comunidades locais, isso pode ajudar a garantir que os parques sejam amados e usados por pessoas de todas as idades.

SANITÁRIOS E BEBEDOURO

Para facilitar permanências mais longas nos parques infantis, devem-se considerar as necessidades básicas dos adultos tanto quanto as das crianças. Banheiros, bebedouros, latas de lixo e trocadores infantis de fácil acesso empurrando carrinhos de bebê, e também acessíveis tanto a mulheres quanto a
homens, são talvez os elementos mais importantes de um parque infantil. Praças e parquinhos são locais que proporcionam encontros ricos tanto nos bairros quanto no resto da cidade. Nos parquinhos as
crianças podem interagir umas com as outras, inventar atividades, e brincar juntas. Se bem concebidos, os parquinhos também podem apoiar as necessidades de socialização dos pais, avós e cuidadores.

É importante salientar que, para crianças pequenas, a quantidade de tempo passada em parques e praças é determinada pelas preferências dos cuidadores. Se os cuidadores acharem que o parques e praças fica muito longe, que o acesso é muito penoso ou que o local é muito chato ou desconfortável para si, eles
podem optar por não ir e, assim, não levar as crianças. É possível passar mais tempo em parquinhos se forem de fácil acesso, se as necessidades básicas forem satisfeitas e se os adultos apreciarem passar seu tempo ali tanto quanto as crianças.

ACESSIBILIDADE

Se as praças ou parquinhos não forem de fácil acesso, cuidadores podem relutar em levar as crianças para brincar. No entanto, é recomendável que as crianças exerçam atividades e se movimentem ao ar livre por pelo menos uma hora todo dia, durante todas as estações do ano. Para garantir isso, a acessibilidade aos parquinhos e praças a partir do local onde as crianças moram é um assunto crucial.

Em bairros residenciais, a melhor prática seria haver parquinhos infantis a uma curta distância, sem necessidade de atravessar vias principais. Como mostra a ilustração, crianças e seus cuidadores circulam pela cidade em diferentes composições e podem ter necessidades variadas. A redução de velocidade do tráfego, a criação de calçadas mais largas ou vias de pedestres, e de ciclovias para se chegar aos parques pracinhas, espaços de lazer e escolas são ajustes simples no sentido de se conseguir um projeto de bairro que inclua conscientização da presença de crianças moradoras

A ‘abertura´ temporária de ruas para uso exclusivo de pedestres e o redirecionamento do tráfego de
veículos durante os fins de semana também podem ajudar a difundir a importância do acesso seguro
aos parques, praças e, ao mesmo tempo, abrir novas oportunidades de lazer nas ruas.

Para acessar parques, praças e áreas de recreação fora dos bairros residenciais pode ser preciso atravessar tráfego intenso. Nesses casos, é importante que as faixas de pedestres estejam claramente demarcadas e que sejam respeitadas com a ajuda de semáforos. É importante lembrar que passagens subterrâneas e passarelas não necessariamente proporcionam acesso fácil. Se tiverem que ser usadas, deve haver elevadores para carrinhos de bebê e cadeiras de rodas.

BRINCAR PELO CAMINHO

O percurso para espaços de recreação podem ser marcados com grafismos e figuras em calçadas e pavimentos, transformando a jornada em brincadeira. Essa sinalização também ajuda as crianças a aprenderem a se orientar em seu bairro. A criação de interferências lúdicas pelo caminho expande o
alcance de espaços recreativos, aumenta o número de espaços de lazer nos bairros e incrementa a conscientização da presença de crianças e a segurança ao longo desses percursos.

FRONTEIRAS PERMEÁVEIS

Ao projetar espaços de recreação para crianças pequenas, é aconselhável criar um limite claro em torno desses espaços. Particularmente em locais rodeados por tráfego de veículos, é essencial criar limites que impeçam as crianças de correrem para a rua sem se dar conta do perigo e que reduzam a ansiedade dos
cuidadores em relação à sua segurança. Também é importante que esses limites sejam convidativos e acessíveis, e se possível complementares ao espaço de recreação. Plantas e arbustos podem ser usados para esse propósito.

ÁRVORES

As árvores são maravilhosas, mas demoram para crescer. Portanto, as árvores e a flora já existentes no local são muito valiosas para um parquinho. Árvores fornecem sombra, e sua copa pode funcionar como filtro absorvendo poeira e poluição do ar. As árvores também ajudam a reduzir a velocidade do vento e a absorver ruído. As folhas refletem a luz e o calor do sol, permitindo reduzir em até 7°C as temperaturas em áreas urbanas. Através da observação das árvores, crianças aprendem sobre as estações do ano e os ciclos de vida. As árvores contêm microhabitats complexos.

Um carvalho maduro, por exemplo, pode ser hospedeiro de centenas de espécies diferentes. Pesquisas mostram que, quando uma pessoa está em meio a árvores e apreciando a natureza, sua pressão sanguínea pode se normalizar em minutos, seu ritmo cardíaco diminui e seus níveis de estresse se atenuam.

É MAIS AGRADÁVEL E VALIOSO QUANDO ESTAMOS JUNTOS!

Os espaços de lazer podem ser projetados para incentivar adultos a participarem das brincadeiras? Mesmo os elementos mais clássicos podem ser modificados para inverter os papéis e estimular a participação dos cuidadores. Como mencionado anteriormente, uma interação divertida entre bebês e cuidadores é muito importante e deve ser encorajada para favorecer o desenvolvimento saudável do cérebro infantil.

BRINCAMOS NO PARQUE PARA NOS TORNARMOS BONS GESTORES NO FUTURO!

Brincar no parque não é apenas benéfico para as habilidades físicas, ajuda também a desenvolver habilidades cognitivas como ponderação, abstração, lógica, raciocínio e solução de problemas.

ATENÇÃO:

Ao chegar a um espaço de recreação, a criança presta atenção às oportunidades para brincadeiras apresentadas ao seu redor. Envolver-se em atividades em uma determinada área de lazer ajuda a fortalecer as conexões cerebrais para melhorar a habilidade de concentração.

PLANEJAMENTO:

A criança pensa e planeja sua brincadeira.

MEMÓRIA:

Ela se lembra de como e de quê brincou, por exemplo, lembrando-se de uma experiência anterior de escalada, e tentando melhorar suas habilidades e velocidade.

SOLUÇÃO DE PROBLEMAS:

Ao encontrar novos caminhos para subir uma colina ou localizar a pá enterrada no tanque de areia, ela melhora sua habilidade para resolver problemas.

FLEXIBILIDADE COGNITIVA:

A criança quer brincar no balanço, mas opta por acompanhar um amigo na gangorra - tal comportamento melhora sua flexibilidade cognitiva.

BRINCAR POR TODA A CIDADE!

Esta publicação tem por objetivo olhar para praças, parquinhos e parques a partir de uma altura de 95 centímetros, o nível dos olhos de uma criança de 3 anos de idade, e sugerir propostas de projetos direcionados a crianças pequenas e seus cuidadores de forma a melhorar sua experiência.

Embora o assunto não tenha sido discutido exaustivamente no contexto desta publicação, imaginamos e trabalhamos para chegar a um formato de cidade onde o brincar não seja apenas coisa de criança, mas algo para pessoas de todas as idades, e onde o brincar não esteja restrito aos limites dos parquinhos. O espaço público pode acomodar brincadeiras e alegria para as crianças mais novas e também para os mais velhos! Todos os comerciantes de Istambul que jogam gamão em frente às suas lojas sabem disso!

No entanto, os mais novos de todos são nossa prioridade! Esperamos que os administradores públicos que leiam esta publicação concluam que não é difícil acomodar as necessidades de crianças pequenas e de seus cuidadores nos parquinhos, praças e parques, e que os projetistas se convençam de que podem facilmente criar projetos muito melhores.

Por cidades que tenham triciclos em todas as ruas; ...

Vamos brincar!

Definições relativas à segurança dos parques infantis

Riscos:

Em parques infantis, pode-se falar sobre riscos ‘bons’e ‘ruins’. ‘Riscos bons’ são importantes para o desenvolvimento de uma criança. É muito importante enfrentar e superar medos para se desenvolver autoconfiança. Parques infantis podem ajudar as crianças a aprender como avaliar e lidar com riscos. Desafios atraem as crianças e apoiam sua aprendizagem e desenvolvimento.

O sucesso dos parques infantis tem forte relação com a variedade de riscos ‘bons’ que eles oferecem. Por exemplo, saltar sobre um pequeno curso d´água é um sucesso significativo para uma criança de cinco anos - molhar-se é um risco, mas em termos de desenvolvimento geral da criança, não é um risco tão importante. Da mesma forma, cair e se levantar é a forma mais natural de se aprender a andar.

Por essa razão, ‘bons riscos’ são aceitos e incentivados ao se projetar parques infantis. A maioria dos cuidadores consegue avaliar os ‘bons riscos’, em parte fazendo referência às suas próprias experiências de infância e, em parte, pela observação do sucesso ou fracasso de outras crianças face aos desafios existentes no espaço.

Riscos ‘ruins’, por outro lado, são aqueles que são difíceis ou impossíveis de serem avaliados pelas próprias crianças. Por exemplo, uma criança é capaz de avaliar sua capacidade de subir uma escada, mas não consegue avaliar se sua roupa poderia ficar presa durante uma queda causando estrangulamento.

Normas de segurança são desenvolvidas para diferenciar os riscos ‘bons’ dos ‘ruins’ e fornecer orientação de forma a evitar acidentes com consequências incapacitantes ou fatais. Uma boa avaliação de riscos ‘ruins’ exige conhecimento especializado. Conformidade com as normas de segurança, inspeções periódicas e manutenção constante são imprescindíveis para se reduzir os riscos ‘ruins’ nos parques infantis.

PROTEÇÃO CONTRA QUEDAS:

Escorregões são a causa mais comum de quedas nos parques infantis. Os acidentes mais comuns ocorrem devido ao deslizamento do pé na areia ou cascalho acumulados em superfícies lisas e rígidas. Problemas com drenagem também podem causar escorregões.

Além disso, pode ser necessário colocar revestimentos que reduzam o impacto de quedas, ou atenuadores de impacto, em torno dos equipamentos e brinquedos. Há normas que contêm definições detalhadas para se determinar os requisitos de desempenho de cada equipamento ou brinquedo e de cada tipo de revestimento.

ÁREA DE QUEDA E ZONA DE IMPACTO:

Cada equipamento ou brinquedo tem uma ‘área de queda’ e uma ‘zona de impacto’ em torno do espaço que ocupa. Por exemplo, a zona de impacto - área que pode ser atingida por um usuário ao cair - necessária em torno de um balanço é muito maior do que a área ocupada pelo balanço em si. É importante que não haja obstáculos na área de queda de um equipamento ou brinquedo. Áreas de queda de dois equipamentos diferentes podem ou não se sobrepor com base nos movimentos que esses brinquedos geram durante a brincadeira. Existem diferentes definições e respectivos cálculos para cada tipo de equipamento, para determinação do tamanho da sua área de queda e de sua zona de impacto.

ALTURA DE QUEDA LIVRE:

A altura de queda livre é determinada para possíveis quedas durante a brincadeira, e é calculada como a maior distância vertical entre o suporte corporal visivelmente planejado e a zona de impacto abaixo. A altura de queda livre também determina a qualidade do revestimento atenuador de impacto necessário na zona de impacto daquele equipamento.

PROTEÇÃO CONTRA APRESAMENTO OU ENREDAMENTO:

Devem-se tomar medidas para que partes do corpo, cabelos ou roupas não fiquem presos de maneira a causar ferimentos graves durante a brincadeira. Há orientações detalhadas disponíveis a respeito dos tipos e localização de aberturas, buracos ou fendas que possam trazer riscos.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

Festa tradicional mexicana no mês de outubro (pedido para trabalho escolar)


Día de los Muertos

Uma das festas mais importantes do México, que acontece no final de outubro e início de novembro. A celebração homenageia os mortos, com a crença de que as almas podem retornar do submundo. As pessoas deixam altares com oferendas, flores, velas e fotografias para os mortos, e a festa termina com um banquete familiar.

Abaixo, uma foto de esculturas feitas com a técnica de papietagem: jornal, cola e tinta.




segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O livro de Levítico, na Bíblia, contém passagens que podem ser interpretadas como uma base para a promoção de práticas sustentáveis na agricultura e no uso da terra. (pedido para trabalho escolar)

Passagem do Levítico - Ordens para o descanso da terra e a devolução das terras aos proprietários originais a cada jubileu.

Interpretação - Pode ser interpretado como uma base para a promoção de práticas sustentáveis.

A partir de Levítico 25, analisa o significado essencial da terra para o ser humano, em seus diversos aspectos. O texto bíblico, assim como a terminologia usada para designar a terra, demonstram que há uma conaturalidade entre as pessoas e a terra. A partir dessa relação, toda a natureza é beneficiada, em vista de uma ecologia total. As leis sobre o ano sabático e o ano jubilar visam garantir a posse e o uso da terra de maneira justa e equitativa. Segundo essa visão da Bíblia Hebraica, uma outra relação com a terra é possível, com uma mística de respeito à vida em sua totalidade. Para realizar este ideal de direito à terra como direito à vida, Levítico 25,23-24 estabelece princípios fundamentais, como: não vender a
terra para sempre, para evitar o empobrecimento; visto que a terra pertence a Deus, ela é um bem sagrado; os seres humanos são inquilinos e não proprietários na terra; caso alguém perca a sua terra, terá o direito de resgatá-la.

A história do povo bíblico praticamente se confunde com a luta pela conquista da terra. A posse da terra é regida por princípios que asseguram o seu bom uso, bem como a relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza, a fim de garantir o bem-estar das pessoas, e a convivência justa em sociedade. Regidas por uma mística diferenciada, algumas leis acentuam o direito à terra como direito fundamental ao sustento e à vida. Entre a realidade do antigo Israel e a do Brasil atual, há semelhanças e diferenças.
A luta pela terra, entretanto, é um paradigma constante. Significa que serve como exemplo, modelo ou protótipo. Nesse sentido, pode iluminar a realidade atual, como inspirou a situação histórica de muitos povos e culturas. Considere-se que a Bíblia é sagrada, canônica, normativa, é palavra de Deus para o seu povo.

A luta pela conquista e pela posse da terra parte de princípios diferentes, seja na Bíblia, seja na realidade do mundo atual. Enquanto lá a mentalidade é religiosa com olhar de fé e transcendência (teocêntrica), aqui ela é materialista e se concentra no ser humano (antropocêntrica). Enquanto lá se visa o bem-estar comunitário e a integração dos pobres (comunitária), aqui o olhar está centrado no lucro a qualquer custo (capitalista e egocêntrica). Enquanto lá a preservação da natureza é prioritária( ecológica), aqui a exploração desrespeita o meio ambiente (predatória). Em vista destas diferenças de ótica, a Bíblia serve como inspiração constante para a realidade hodierna.

A terra é elemento essencial para a vida do ser humano. Falar de terra é diferente de discutir sobre bens de consumo. A humanidade vive sem geladeira, televisão, automóvel, mas não vive sem a terra. Já os filósofos gregos pré-socráticos consideram os quatro elementos da natureza, terra, água, ar e fogo, como fundamentais para a sobrevivência humana.

A TERRA EM TERMOS BÍBLICOS

Para designar o vocábulo terra, a Bíblia Hebraica possui as palavras terra fértil (’adamah) e terra habitável (’erez).

A terra fértil (’adamah) se refere mais ao campo como solo arável ou cultivável, isto é, ao húmus. A raiz da palavra provavelmente é ’adam que originalmente significa vermelho, aplicada a solo vermelho e cultivável. Em seguida, o sentido se deslocou para ’adam como nome próprio do primeiro homem, Adão. Daí se deduz a conaturalidade entre o ser humano e a terra, conforme Gn 2,7, em que Deus modela o homem (’adam) da argila do solo, isto é, da terra fértil (’adamah) (COPPES, 1998).

A terra habitável (’erez) é a terra em oposição ao céu ou em oposição à água, e designa também região ou país. Sempre construído em feminino, o substantivo talvez conserve a reminiscência da concepção da mãe terra. É a quarta palavra mais utilizada no Antigo Testamento, com 2.504 ocorrências. A concepção segundo a qual a terra é criação de Deus, juntamente com o céu, percorre inúmeras páginas da Bíblia (SCHMID, 1978).

Outros termos hebraicos se referem a pó ou terra seca (’apar), a porção ou campo (helqah) e a solo árido ou terra seca (yabbashah) ou ainda a campo, terra, campo aberto (sadeh) (COPPES, 1998).

Na tradução grega, chamada Bíblia dos LXX ou Septuaginta, os termos terra e mundo ganham dois equivalentes, terra fértil (ge) e terra habitável (oikumene). Há ainda campo (agros) e mundo ou ornnamento (kosmos).

O Novo Testamento mantém as palavras terra cultivável ou planeta (ge) e terra habitada (oikoumene). Emprega ainda campo (agros), solo ou poeira (chous) e mundo (kosmos) (MORGENTHALER et al., 2000).

A TERRA EM LEVÍTICO 25

Diante de uma temática tão fundamental e tão extensa, cabe, certamente, um recorte mais específico, que possa caber dentro de um artigo. Por isso, a opção se concentra sobre Lv 25, um texto que concentra vários aspectos e possibilita dialogar com outros textos bíblicos.

A organização do texto de Lv 25 praticamente se impõe pela sequência dos assuntos, e é seguida pela Bíblia de Jerusalém, bem como pelas demais traduções. As subdivisões são
as seguintes, conforme Ibañez Arana (1974, p. 197-8):

Introdução para motivar a conexão das leis com o Sinai (v. 1-2a);

1) Ano sabático (v. 2b-7).
2) Ano jubilar (v. 8-17).
3) Garantia divina perante as dificuldades (v. 18-22).
4) Casos de empobrecimento de israelita:
1º) Necessidade de venda e direito de resgate:
a) de terra (v. 23-28);
b) de casas (v. 29-31);
c) de casas de levitas (v. 32-34).
2º) Empréstimos: norma geral (v. 35) e proibição de juros (v. 36-38).
3º) Israelita que se vende para pagar suas dívidas:
a) a outro israelita (v. 39-41.42-43); escravos estrangeiros (v. 44-46);
b) a um estrangeiro (v. 47-55).

Como se pode observar por este elenco, há aí uma convergência de diversas leis, de épocas diferentes. A proposta deste estudo, entretanto, é de fazer uma leitura sincrônica, isto é, tomando o texto em sua redação final, como hoje se apresenta à nossa leitura. Outros estudos específicos analisam as diversas camadas literárias, a formação dos textos e os momentos de sua aplicação. Nossa análise é temática e aproxima textos de diversas proveniências, gêneros e matizes, em vista de uma visão conjunta e abrangente.

Essas leis visam uma sociedade igualitária e livre de opressão. “Os redatores as fundam no sentimento de solidariedade nacional, na propriedade de Yhwh sobre toda a terra de Canaã, no respeito a Yhwh vingador do pobre e no agradecimento a Yhwh, que livrou Israel da escravidão do Egito” (IBAÑEZ ARANA, 1974, p. 197).

Na base da proposta de Lv 25, está a motivação de uma ecologia total, que considere a vida das pessoas, com seu direito básico à terra e em harmonia com a sociedade e com a natureza. “A conservação dos recursos naturais e outros que é preceituada por esta legislação forma a base da boa prática agricultural e ecológica” (HARRISON, 2011, p. 206).

O ideal de uma ecologia abrangente se baseia no direito à posse da terra e no respeito a toda a natureza, mas visa, no seu objetivo final, o bem-estar das pessoas, numa convivência livre, com base no direito e na justiça. De acordo com Douglas (1999, p. 242), “Lv 25 dá a grande proclamação de liberdade”. E logo adiante a autora explica: “Liberdade significa que ninguém pode ser permanentemente escravizado, que as dívidas devem ser canceladas e que a terra deve retornar para seus donos originais no ano do jubileu” (DOUGLAS, 1999, p. 243).

Por isso, Levítico insiste sempre na experiência do êxodo, que marca a ação original de Deus em favor da libertação do seu povo.

Alguns destaques temáticos, com base em Lv 25, são apresentados a seguir, para
destacar o direito à terra como direito à vida e ao bem viver.

ANO SABÁTICO

“Quando entrardes na terra que eu vos dou, a terra guardará um sábado para o Senhor” (Lv 25,2)

.
Conforme Lv 25,2-7, a cada sete anos a terra deve ter um ano de repouso e, com ela, os vinhedos e os cereais. Esse ano de descanso coloca em igualdade proprietários, servos e servas, empregados e hóspedes. Os benefícios se estendem ao gado e aos animais.

Essa lei do ano sabático é, certamente, uma das leis mais sábias encontrada na Bíblia. Ela assegura o descanso da terra e a reposição de seus nutrientes, estende os benefícios aos animais e assegura a condição justa e igualitária dos seres humanos (REIMER, 2006).

Essa lei do ano sabático está inserida no chamado “Código de Santidade” (Lv 17-
26) e apresenta algumas características próprias, como um sábado “em honra ao Senhor” (v. 4) com caráter “solene” (v. 5). O descanso da terra é motivado, portanto, pelo caráter sagrado do tempo santo (REIMER; RICHTER REIMER, 1999).

Além de ser amplamente testemunhada na Bíblia, a lei do ano sabático é antiga e
praticada pelos povos vizinhos a Israel. Com aplicações no antigo Egito, a prática do descanso da terra já devia ser comum em Canaã, com motivações agrícolas e religiosas (GARMUS, 1998).

O ano sabático é um espelho do dia sabático, conforme prescrito no “Código da Aliança”: “Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. O sétimo dia, porém, é o sábado do Senhor teu Deus” (Êx 20,9-10). Assim como a cada seis dias de trabalho segue-se um sétimo dia de descanso para todas as pessoas e animais, sejam livres, escravos ou estrangeiros, assim também, a cada seis anos de cultivo, deve se seguir um sétimo ano de repouso completo para a terra. “Durante seis anos semearás a tua terra e recolherás os seus frutos. No sétimo ano, porém, a deixarás descansar e não a cultivarás, para que os pobres do teu povo achem o que comer, comam os animais do campo e o que restar. Assim farás com a tua vinha e com o teu olival” (Êx 23,10-11).

O próprio termo sábado (shabat) agrega os três significados, sétimo, descanso e
sábado. Possui, como visto, diversas motivações, entre elas, repouso para pessoas e animais, solidariedade para com os pobres, memória da libertação da escravidão do Egito, culto a Deus, descanso do próprio Criador e perdão das dívidas.

A lei do repouso sabático parte da concepção segundo a qual a terra possui direitos
próprios, assim como os animais e os seres humanos. Esse mesmo conceito precisa ser recuperado na sociedade pós-moderna, em que a terra passou a ser objeto de exploração. A lei bíblica irmana terra, animais e pessoas, como criaturas divinas, de direitos plenos. Assim como Deus ouve o clamor do povo oprimido (Êx 3,7), assim também ouve os gritos de socorro da terra explorada. O profeta Jeremias se pergunta: “Até quando se lamentará a terra, e ficará seca a erva de todo campo? Por causa da maldade de seus habitantes perecem os animais e os pássaros” (Jr 12,4).

Na época do Novo Testamento o sábado aparece como uma instituição formal e legalista. Nesse contexto se entende a frase de Jesus, para retomar o seu sentido original: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27). 

Na história do Brasil, durante o triste período da escravidão, registram-se alguns casos de aplicação da lei do ano sabático, com a libertação de escravos a cada sete anos, mas são casos tão raros que se perdem no esquecimento histórico (TERRA, 1983). 

O sábado para os terrenos, com rodízio do cultivo agrícola, é prática comum entre pequenos agricultores.

ANO JUBILAR

“Declarareis santo o quinquagésimo ano e proclamareis a libertação de todos os
moradores da terra. Será para vós um jubileu: cada um de vós retornará a seu patrimônio, e cada um de vós voltará ao seu clã” (Lv 25,10).

Lv 25,8-12 prescreve o ano do jubileu, o sábado dos sábados, isto é, a cada quarenta
e nove anos, ou seja, sete vezes sete anos, haverá um ano especial chamado jubileu. A palavra jubileu vem de yobel, espécie de berrante ou trombeta feita de chifre de carneiro, que servia para dar o toque que anunciava a abertura do ano do jubileu, além de várias aplicações históricas, segundo Gorgulho (1998).

A trombeta ou yobel foi tocada em duas situações especiais para a formação do povo
de Israel. A primeira foi no momento da aliança do Sinai: “Quando soar o chifre de carneiro (yobel), então subirão à montanha” (Êx 19,13). A segunda ocasião foi diante das portas de Jericó, ao tomar posse da terra prometida: “E quando tocarem com fragor o chifre de carneiro (yobel), todo o povo lançará um grande grito de guerra, e as muralhas da cidade cairão e o povo subirá, cada um no lugar à sua frente” (Js 6,5).

Jubileu possui, portanto, sentidos diversos. Propõe o ideal do perdão das dívidas, restituição das propriedades aos donos originais, libertação dos oprimidos, enfim, restabelecimento da justiça. Jubileu relaciona-se com a santidade de Deus e, consequentemente, com a sacralidade da terra (Lv 25,10), bem como com o dia das Expiações (v. 9), e a libertação de todos os moradores da terra (v. 10). O profeta Ezequiel também trata o ano jubilar como “ano da liberdade”, em alusão à alforria do escravo (Ez 46,17). O mais específico, porém, do ano jubilar é o retorno de cada qual ao seu patrimônio e ao seu clã (Lv 25,10). Esse retorno constitui o ideal de retribalização, isto é, de volta ao sistema tribal em que cada família possuía a sua propriedade. “Neste ano do jubileu, tornará cada um à sua possessão” (v. 13) (REIMER; RICHTER REIMER, 1999, p. 95-6).

O ano do jubileu repropõe, de maneira enfática, o ideal ecológico de respeito à terra. Trata-se da proposta de repouso, para recuperação da fertilidade do solo. “O quinquagésimo ano será para vós um ano jubilar: não semeareis, nem ceifareis as espigas que não forem reunidas em feixe, e não vindimareis as cepas que tiverem brotado livremente” (Lv 25,11).

Quando Jesus anuncia, na sinagoga de Cafarnaum, a sua missão fundamental, retoma o texto de Is 61,1-2 que proclama evangelizar os pobres, libertar os presos, abrir os olhos aos cegos, libertar os oprimidos e “proclamar um ano de graça do Senhor” (Lc 4,19). Este “ano de graça” se refere exatamente ao ano do jubileu, que visava realizar, basicamente, todo o ideal aí sintetizado (LOCKMANN, 1998).

Ao longo da história do Cristianismo, o ano do jubileu teve aplicações diversas, que
encontram sua realização no chamado ano santo.

OUTRA RELAÇÃO COM A TERRA É POSSÍVEL 

“Neste ano do jubileu, tornará cada um à sua possessão. Se venderes ao teu compatriota ou dele comprares, que ninguém prejudique a seu irmão! Segundo o número dos anos decorridos depois do jubileu, comprarás de teu compatriota e segundo o número dos anos das colheitas, ele te estabelecerá o preço da venda” (Lv 25,13-15).

Lv 25,13-17, em conformidade com a legislação do jubileu, propõe o retorno da terra aos proprietários originais, conforme a distribuição tribal nas origens de Israel. Trata-se de uma reforma agrária radical, a cada cinquenta anos, em vista de uma verdadeira justiça agrária (SOUZA, 1985).

A lei visa evitar o acúmulo de terras nas mãos de poucos proprietários, para combater o latifúndio, como denunciam os profetas: “Ai dos que juntam casa a casa, dos que
acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível, até serem eles os únicos moradores da terra” (Is 5,8; Mq 2,2). A justa distribuição da terra foi uma das mais árduas lutas dos profetas bíblicos (KESSLER, 2001).

O ideal da distribuição igualitária da terra motiva a construção de um projeto de justiça, presente na origem do próprio povo de Israel. Esse ideal de sociedade justa e igualitária é relatado no recenseamento do povo, como palavra de Deus a Moisés: “A estes a terra será distribuída em herança, segundo o número dos inscritos. Àquele que tem um número maior tu darás uma propriedade maior e àquele que tem um número menor tu darás uma propriedade menor; a cada um a sua herança, em proporção ao número dos seus recenseados” (Nm 26,53-54).

Em torno ao ideal da distribuição da terra às tribos de Israel, cria-se uma mística
com nova mentalidade e diversas motivações teológicas.

O princípio fundamental para o direito à posse da terra, segundo a Bíblia, é a partilha justa e equitativa da terra. Este ideário de uma reforma agrária ficou gravado na memória como recordação do primeiro passo do surgimento de Israel, quando a terra foi distribuída entre as tribos, logo da conquista de Canaã. Praticamente todo o livro de Josué se ocupa em explicar a tomada da terra e sua distribuição entre as tribos: “Agora, pois, divide a terra como herança entre as nove tribos e a meia tribo de Manassés: desde o Jordão até o Grande Mar ao ocidente, tu lhes darás; o Grande Mar será o seu limite” (Js 13,7). 

Uma segunda motivação para a posse da terra é o conceito de herança (PALMA, 2002). Herança (nahalah) é legado, possessão ou bem recebido. O profeta Ezequiel assim se refere à herança da terra: “Reparti-la-eis dando a todos porção igual da terra que jurei solenemente dar aos vossos pais, de modo que ela coubesse a vós como herança” (Ez 47,14). Dado que a herança provém dos pais ou antepassados, ela adquire caráter sagrado, por isso não pode ser negociada. Essa é a ótica da resposta do agricultor Nabot diante da proposta comercial do rei Acab, que queria comprar sua vinha: “Deus me livre de ceder-te a herança dos meus pais” (1Rs 21,3). Segundo o profeta Isaías, Deus afirma: “Mas aquele que põe sua confiança em mim herdará a terra” (Is 57,13). E o salmista reza: “Mas os pobres possuirão a terra” (Sl 37,11). A afirmação tem repercussões no Sermão da Montanha, quando Jesus declara: “Felizes os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5,4). 

Outra motivação para o direito à terra está na proposta de aliança. Aliança (berît) refere-se ao pacto ou contrato de Deus com o povo, com relação à posse da terra. O último capítulo do livro de Josué se refere justamente à grande assembleia das tribos, concluída com um pacto segundo o qual o povo de Israel se manteria fiel a Javé, ante a concessão da terra de Canaã. “Naquele dia, Josué fez uma aliança pelo povo; fixou-lhe um estatuto e um direto em Siquém” (Js 24,25). Já no monte Sinai, havia sido firmada a aliança com Deus, condicionando a posse da terra às cláusulas do contrato: “Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma propriedade peculiar entre todos os povos, porque toda a terra é minha” (Êx 19,5). 

Nova motivação reside na certeza da promessa. Deus promete a posse da terra, sob juramento, por isso, a garantia do seu cumprimento é absoluta. A promessa da terra remonta ao patriarca Abraão: “À tua posteridade darei esta terra, do Rio do Egito até o Grande Rio, o rio Eufrates” (Gn 15,18). Diversas tradições bíblicas mantêm a memória desta promessa. Segundo Deuteronômio, a terra é prometida sob juramento divino (Dt 1,8.35...), é dada (Dt 1,8.35...), como herança a Israel (Dt 1,8.21...), sendo uma terra boa (Dt 1,25.35...), cuja posse está condicionada ao cumprimento dos mandamentos (Dt 12,1; 17,14...). No Novo Testamento, o Cântico de Zacarias, conhecido como Benedictus, faz memória “de sua aliança sagrada, e do juramento que fez ao nosso pai Abraão de nos conceder que... o sirvamos com santidade e justiça” (Lc 1,72-75). 

Há ainda a motivação referente à bênção. “Deus os abençoou” com a fertilidade de todos os seres vivos para que cresçam e se multipliquem (Gn 1,22.28...). A promessa da terra traduz a bênção divina a Abraão, conforme o augúrio e bênção de Isaac a Jacó: “Que ele te conceda, bem como à tua descendência, a bênção de Abraão, a fim de que possuas a terra em que vives e que Deus deu a Abraão” (Gn 28,4). Em retribuição à bênção divina, as pessoas bendizem a Deus, como cantou Débora, ao comemorar a conquista da terra de Canaã: “Já que, em Israel, os guerreiros soltaram a cabeleira, e o povo espontaneamente se apresentou, bendizei ao Senhor” (Jz 5,2).

Mas o motivo que não pode ser minimizado é o da luta e conquista da terra. Deus prometeu a terra, mas não a concede sem o esforço humano e a estratégia sagaz para conquistá-la. Os livros de Josué e Juízes são a demonstração da tese segundo a qual a terra de Canaã foi conquistada à força. Ao recapitular as vitórias sobre os reis de Canaã, o autor de Josué afirma: “Moisés, servo do senhor, e os israelitas derrotaram-nos” (Js 12,6). Tempos depois, o Salmista canta e alerta: “Desde o seu santuário, Deus é terrível. Ele é o Deus de Israel, que dá ao povo força e poder” (Sl 68,36). O próprio nome Israel se explica pela luta de Jacó com Deus. “Não te chamarás mais Jacó, mas Israel, porque foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevaleceste” (Gn 32,29). 

A luta pela reforma agrária, nos dias atuais, não carece de justificativa bíblica. A leitura dos textos bíblicos, porém, deixa evidente que há muito por fazer nesse sentido, para nos aproximarmos do ideal querido por Deus. 

A TERRA NÃO PODE SER VENDIDA 

“A terra não será vendida perpetuamente, pois a terra me pertence e vós sois para mim estrangeiros e hóspedes. Para toda a propriedade que possuirdes, estabelecereis o direito de resgate para a terra” (Lv 25,23-24). 

O texto de Lv 25,23-34 trata do resgate das terras, das casas e das pessoas. Para o interesse sobre a terra (Lv 25,23-28), a lei do resgate possui diversas motivações, partindo de uma proibição absoluta de vendê-la, passando por uma razão teológica de sua pertença a Deus e propondo um recurso para resgatá-la em caso de perda.

No ano jubilar todas as terras devem retornar aos primitivos donos. “A razão é dogmática: sendo Yhwh o único proprietário (Canaã é a herança de Yhwh), os israelitas não podem ser mais que forasteiros admitidos como inquilinos (Sl 39,13; 1 Cr 29,15)” (IBAÑEZ ARANA, 1974, p. 201).

A mesma razão que assegura a propriedade de Deus sobre a terra motiva a interdição de vendê-la para sempre. A lógica é simples. Se a terra pertence a Deus, nenhum ser humano tem o direito de negociar com ela e obter lucros. Deus concede o usufruto da terra como dom de sua gratuidade, em forma de empréstimo, mediante algumas condições. As pessoas podem usá-la, como se fossem estrangeiras e hóspedes, mas não tomar posse dela definitivamente. Pelo mesmo argumento, caso alguém vier a perder o pedaço de terra que cultivava, por qualquer motivo, terá o direito de resgatá-lo (BRUEGGEMANN, 1986).

Os seres humanos não podem vender a terra, simplesmente porque esta não lhes
pertence. Se Deus é o proprietário da terra, em consequência, os seus usuários são apenas posseiros, sendo que a Bíblia os trata como peregrinos, hóspedes ou estrangeiros. É assim que o salmista reza: “Eu sou um estrangeiro na terra, não escondas de mim teus mandamentos” (Sl 119,19). E Davi, ao agradecer a Deus, afirma: “Diante de ti não passamos de estrangeiros e peregrinos como todos os nossos pais” (1Cr 29,15).

Da mesma forma a noção de povo de Deus como peregrinos e forasteiros ou como
estrangeiros e viajantes está bem presente no Novo Testamento, sobretudo na primeira carta de Pedro (1Pd 2,11).

Algo similar também se pode encontrar em tradições de outras culturas. Diz um
provérbio keniano: “Trate bem a terra. Ela não lhe foi dada pelos pais. Foi-lhe emprestada pelos filhos”.

As primeiras comunidades cristãs perseguem a recuperação deste ideal de manter a
propriedade comunitária da terra e dos demais bens para que não houvesse pessoas necessitadas, de acordo com os relatos de Lucas (At 2,44-45; 4,32-37).

A convicção de que a terra é propriedade de Deus e, consequentemente, não pode
ser vendida motiva diversas leis relativas à terra em Israel.

A TERRA PERTENCE A DEUS

“A terra não será vendida perpetuamente, pois a terra me pertence e vós sois para mim
estrangeiros e hóspedes. Para toda a propriedade que possuirdes, estabelecereis o direito de resgate para a terra” (Lv 25,23-24).

A convicção fundamental que rege todas as relações das pessoas com a terra é
que a terra é um bem básico, que não pertence ao ser humano, mas a Deus. Este é o porto de partida para todas as considerações sobre a realidade da terra e da reforma agrária na Bíblia.

Muitos textos bíblicos repetem a certeza de que a terra é propriedade de Deus.
Diante do Sinai, ao estabelecer a aliança com o povo, Deus afirma: “Toda a terra é minha” (Êx 19,5). E o Salmista canta: “Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e seus habitantes” (Sl 24,1). Para Isaías, o Santo de Israel “se chama o Deus de toda a terra” (Is 54,5).

Mais que proprietário, Deus é o criador da terra. Assim começa a Bíblia, em sua primeira frase: “No princípio, Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). A realidade do Deus criador da terra se espalha por inúmeras páginas da Bíblia. Significa que a terra não pode ser concebida como uma realidade autônoma, mas sempre dependente de quem a concebeu. Como Senhor e criador da terra, Deus a concedeu aos seres humanos como um presente de sua bondade (WAINER, 1996).

Numa dimensão escatológica, ideal, após tantas peripécias dos seres humanos agredindo a terra, criatura divina, o próprio Deus propõe “criar novos céus e nova terra” (Is 65,17; 66,22), o que tem reflexos no Novo Testamento, praticamente na última página da Bíblia (Ap 21,1). 

Como a terra é criatura de Deus e propriedade sua, ela é santa ou sagrada. Diante de Jericó, a ser conquistada, o chefe do exército de Javé dá a seguinte ordem a Josué: “Descalça as sandálias dos teus pés porque o lugar em que pisas é santo” (Js 5,15). O Sinai é declarado montanha santa (Êx 19,23) e também Judá é chamado terra santa (Zc 2,16; 2 Mc 1,7). 

Há, pois, uma relação direta entre terra e religião, terra e fé, como demonstram, ademais, as profissões de fé em Israel. O chamado credo histórico está no contexto agrícola da festa das primícias, e proclama sua fé em Deus, porque “nos trouxe a este lugar, dando-nos esta terra, uma terra onde mana leite e mel” (Dt 26,9). 

O que fundamenta toda a relação com a terra é esta convicção básica, que pode ser assim resumida: a terra é propriedade de Deus, Ele é seu criador, por isso a terra é sagrada. Daí decorrem as diversas leis e práticas com relação à terra (BRUEGGEMANN, 1986). 

O conceito de que a terra é sagrada perpassa outras culturas, como as tradições indígenas, africanas e camponesas em geral. Na realidade de pequenos agricultores do Brasil e de outros países, vive-se uma relação de respeito à terra, pois é dela que provêm os produtos que garantem o sustento das pessoas. 

No pensamento de Jesus, a preocupação com a terra se torna presente, e se reflete na súplica pelo pão diário. O pedido para que o Reino de Deus venha, e que sua vontade se realize na terra como nos céus está expresso na oração do Pai-nosso (Mt 6,10).

O DIREITO DE RESGATE DAS PROPRIEDADES

“A terra não será vendida perpetuamente, pois a terra me pertence e vós sois para
mim estrangeiros e hóspedes. Para toda a propriedade que possuirdes, estabelecereis o direito de resgate para a terra” (Lv 25,23-24).

O mesmo texto que afirma a propriedade de Deus sobre a terra e motiva a interdição
de vendê-la para sempre prevê uma prática para recuperar a terra, em caso de endividamento. Com isso, a propriedade não é vendida definitivamente, mas por período determinado. Caso o vendedor não possa resgatar a sua posse, essa será devolvida no ano do jubileu. Isso significa que a cada cinquenta anos todas as propriedades voltam para os seus proprietários originais.

A noção de posse provisória já é cantada na prece do Salmista: “Ouve a minha prece, Senhor... Pois sou forasteiro junto a ti, inquilino como todos os meus pais” (Sl 39,13). E o
profeta Jeremias recordará o ideal da vida nômade: “Durante toda a vossa vida habitareis em tendas, para que vivais longos dias na terra em que residis” (Jr 35,7). O primo de Jeremias, Hanameel, lhe propõe: “Compra o meu campo de Anatot, no território de Benjamim, porque tu tens o direito à herança e o direito de resgate, compra-o” (Jr 32,8).

A história de Rute ilustra muito bem essa realidade, quando Booz resgata o terreno
do falecido esposo de Noemi (Rt 4,1-11) (IBAÑEZ ARANA, 1974).

A noção de resgate passou para o Novo Testamento aplicada normalmente a Jesus, o
Filho do Homem, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate por muitos” (Mt 20,28). Como quem paga o resgate, num mercado de escravos, assim “Cristo nos resgatou da maldição da Lei tornando-se maldição por nós” (Gl 3,13).

A conclusão do assunto se impõe. Ao ler a Bíblia na ótica do direito à terra como direito à vida, essa realidade salta aos olhos a cada página. Terra é realidade, é presença, e é símbolo. Existe uma conaturalidade entre ser humano e terra fértil. O ser humano (’adam) é feito da terra (’adamah) (Gn 2,7), e recebe a missão de cultivar a terra, “até que retornes ao solo (’adamah), pois dele foste tirado” (Gn 3,19). 

Essa relação estreita entre ser humano e terra assegura o bem viver da mulher e do homem. Mas garante, igualmente, o bem-estar da natureza toda, especialmente dos animais, que usufruem desse equilíbrio. Tudo isso se realiza em vista da convivência justa e igualitária. 

O conceito bíblico de distribuição da terra parece um ideal maravilhoso. Quem sabe nunca tenha se realizado plenamente, nalgum momento da história. Mas permanece como um ideal a ser perseguido. Propõe conceitos novos e desafiadores. Por isso, serve de inspiração para todas as épocas e para todos os lugares, especialmente para os dias atuais.


O Deuteronômio, um livro da Bíblia, apresenta alguns princípios que podem ser relacionados à educação ambiental, como: (pedido para pesquisa escolar)

- Respeito pelos animais

O Deuteronômio 14:3-21 indica que os israelitas podiam comer animais que tivessem as unhas fendidas e o casco dividido em dois, mas não o camelo, a lebre e o coelho selvagem.

- Preocupação com as árvores

O Deuteronômio 20:10-20 indica que as árvores do campo são pessoas, e que não devem ser cortadas.


- A Bíblia também apresenta outros princípios que podem ser relacionados à educação ambiental, como:

A gratidão por tudo o que Deus deu à humanidade

A necessidade de evitar o desperdício de plantas, animais e recursos naturais
A necessidade de usar a riqueza da Terra para cuidar dos pobres e necessitados
A necessidade de apreciar as criações de Deus
A necessidade de estar atento às questões ambientais
A necessidade de zelar e venerar os recursos naturaisRespeito pelos animais