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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Olimpíadas e Paraolimpíadas e a cobertura midiática

 


O presente estudo analisa a história das Olimpíadas e das Paraolimpíadas relacionando seus desenvolvimentos com o advento da cobertura midiática, e correlaciona essas duas modalidades de evento entre si. Por meio do estudo teórico e da observação dos dados sobre a cobertura da mídia dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos tentamos comprovar a diferença de tratamento dado a cada evento, reflexo de uma sociedade que se diz inclusiva, mas que acaba se revelando discriminatória através da mídia.





Introdução Este estudo tem como finalidade analisar a história das Olimpíadas e das Paraolimpíadas relacionando seus desenvolvimentos a partir da cobertura midiática, e correlacionar essas duas modalidades de evento entre si. Os Jogos Olímpicos são um conjunto de provas esportivas de caráter mundial, disputadas de quatro em quatro anos em cidades escolhidas; são, também “um espetáculo filmado e divulgado pelas televisões”.

Esse também pode ser considerado o conceito de Paraolimpíadas, entretanto, há diferenças. Os Jogos Olímpicos são divulgados intensamente, já a cobertura dos Jogos Paraolímpicos fica restrita a pequenas notas na mídia, e a transmissão precária das competições em alguns canais por assinatura. 

Mostrar e analisar essa diferença entre a cobertura das Olimpíadas e das Paraolimpíadas é um dos objetivos desta pesquisa. Assim como verificar a hipótese de que os Jogos Olímpicos, ao contrário dos Jogos Paraolímpicos, tornaram-se espetáculos pelo fato de que atletas transformam-se em mitos nacionais, enquanto paratletas transformam-se em símbolos de superação. 

Analisaremos de que forma a comunicação contribui para a inclusão ou a exclusão dos deficientes, e mostraremos a importância da atuação do jornalista no processo de desmistificação da deficiência, focando o trabalho na diferença de cobertura jornalística das Olimpíadas e das Paraolimpíadas. 




Olimpíadas, Paraolimpíadas e Sociedade 

Nos anos de Olimpíadas e Paraolimpíadas, o mundo inteiro se rende aos encantos e magia da abertura, dos diferentes esportes, da superação de tempo, espaço e de limites. A mídia tem grande parcela de responsabilidade nesse fato, uma vez que por trás do momento mágico olímpico estão as redes midiáticas e seus patrocinadores exigindo reformas arquitetônicas, ditando regras, impondo horários e vestimenta. “Mas o que se observa claramente é a tendência do ser humano em criar heróis, endeusar pessoas, mitificar nomes”. Qual o papel da mídia nessa tarefa? O objetivo deste trabalho é responder essa e outras questões. 

A mídia auxilia o desenvolvimento de ambos os eventos, na medida em que divulga as competições e os transforma em grandes espetáculos televisivos e radiofônicos, principalmente; segundo Bourdieu “(...) a representação televisiva, embora apareça como um simples registro, transforma a competição esportiva entre atletas originários de todo o universo em um confronto entre campeões (...) de diferentes nações”. Mas, os meios de comunicação também atuam como meios excludentes, “pelo fato de que cada televisão nacional dá tanto espaço a um atleta ou a uma prática esportiva quanto mais eles forem capazes de satisfazer o orgulho nacional ou nacionalista”.

Estamos numa sociedade dita inclusiva, mas na qual o preconceito para com o deficiente é ainda muito grande. Segundo Claudia Werneck , “o preconceito da sociedade em relação à deficiência se revela de inúmeras e discretas formas. O da mídia também”. Os jornalistas têm dificuldade em falar no assunto. 

Para Carlos Alberto Marques no deficiente está incutido o arquétipo da incapacidade, sem que “se busque conhecer o potencial desse indivíduo”, assim, de acordo com Ana Maria Morales Crespo “a mídia reflete uma imagem tão imprecisa e incompleta – das pessoas com deficiência -, que torna impossível reconhecer-se nela”.


A diferença básica, que pretendemos mostrar, entre Olimpíadas e Paraolimpíadas é a cobertura. Enquanto os Jogos Olímpicos são divulgados à exaustão, os Jogos Paraolímpicos ficam relegados a uma ínfima cobertura jornalística, não existem favoritos ao podium, nem mesmo depósito de confiança e esperança nas atividades esportivas desses atletas. Aqueles que conseguem uma imagem positiva na mídia, devido as suas vitórias, são tidos como símbolos de superação; de acordo com a Coordenadora de comunicação do CPB, Gisliene Hesse, “a mídia ainda privilegia muito a emoção nas matérias sobre atletas com deficiência e falta o jornalista entender que o esporte paraolímpico é de alto rendimento” ; e à sociedade cabe “somente a função de reconhecer e aplaudir o sucesso daqueles que teriam vencido as suas próprias limitações”. 

Isso porque há uma dificuldade de identificação e de projeção, por parte dos telespectadores, com os atletas paraolímpicos, o que não ocorre com relação aos olímpicos.

“(...) a cultura nacional, desde a escola, nos imerge nas experiências mítico-vividas do passado, ligando-nos por relações de identificação e projeção aos heróis da pátria, os quais também se identificam com o grande corpo invisível, mas vivo, que através dos séculos de provações e vitórias assume a figura materna (a Mãe-Pátria, a quem devemos amor) e paterna (o Estado, a quem devemos obediência)”. 

A mídia faz com que as pessoas tenham compaixão por esses para-atletas, uma vez que, segundo a imprensa, eles são “símbolos de superação”. Portadores de qualquer  deficiência ou doença “devem ganhar não a solidariedade, mas o respeito e a confiança da mídia”. Materiais jornalísticos sobre esse assunto não devem causar compaixão, mas levar a uma reflexão.

Embora os atletas paraolímpicos “mostrem talento e coragem para enfrentar os obstáculos da vida, a sociedade ainda acredita na sua incapacidade e os meios de comunicação refletem essa mentalidade”. A sociedade continua sem (in)formação para acreditar nas potencialidades dessas pessoas. A diferenciação que os meios de comunicação fazem entre as Olimpíadas e as Paraolimpíadas é o maior exemplo de que a mídia, como reflexo da sociedade (ou o inverso), constrói uma realidade para ser consumida pelo público, já que mostrar a deficiência só dá “ibope” se for em situações que explicitem o “exótico-humano”.


Olimpíadas x Paraolimpíadas

De quatro em quatro anos o maior evento esportivo do mundo, as Olimpíadas, movimentam bilhões de dólares; em Atenas, 2004, cerca de um bilhão de dólares foram gastos em direitos de transmissão de imagens e 16033 jornalistas cobriram o espetáculo. Já nas Paraolimpíadas, que receberam o título de segundo maior evento esportivo mundial, em Atenas apenas 3000 jornalistas fizeram a cobertura dos Jogos. 

De acordo com a coordenadora de comunicação do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Gisliene Hesse, “(...) a divulgação do esporte paraolímpico ainda não pode ser comparada com o olímpico, que se sobressai pela tradição e maior desenvolvimento”. Então, com a finalidade de que o movimento paraolímpico tivesse ampla divulgação e maior valorização, o CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) contratou a produtora de vídeo Íntegra Produções, coordenada por Marcos Malafaia, para captar, editar e transmitir gratuitamente imagens dos jogos de Atenas, para as emissoras brasileiras interessadas. Além disso, oito emissoras abertas e fechadas foram convidadas pelo Comitê para cobrirem a competição (Rede TV, Record, TVE, TV Nacional, Sport TV, Rede Gazeta, NSB e Rede Bandeirantes); outros dez veículos também foram convidados, Rádio Eldorado, Rádio CBN, Folha de São Paulo, Jornal da Tarde, Lance!, Estado de Minas, Diário de Pernambuco, Tribuna do Norte, Jornal de Brasília, O Dia, O Globo e o portal UOL.

Segundo o presidente do CBP (Comitê Paraolímpico Brasileiro), Vital Severino Neto, “o CPB passou a trabalhar com a perspectiva de uma cobertura diferenciada no momento em que entrou em contato com Marcos Malafaia”.

Os Jogos Olímpicos começaram em 776 a.C. em Olímpia, na Grécia antiga, e duraram por mais de mil anos. Entretanto, o evento religioso que deu origem aos Jogos é bem mais antigo, podendo datar do século 13 a.C. Durante todos esses anos os Jogos Olímpicos se desenvolveram; a primeira edição dos Jogos da Era Moderna aconteceu em Atenas, em 1896, e reuniu 14 países e 311 atletas, já na sua edição mais recente, realizada, também, em Atenas em 2004, 201 países e mais de 10651 atletas participaram. Se por um lado, esse crescimento representa a vitória do ideal olímpico moderno, por outro gera, no mundo dos esportes, uma série de problemas que os estudiosos atribuem ao próprio gigantismo dos jogos. Em primeiro lugar, torna-se cada vez mais difícil organizá-los, pelo altíssimo investimento financeiro que representam (os alemães ocidentais gastaram cerca de 630 milhões de dólares com os de Munique). E também pela importância que a vitória nos campos do esporte passou a ter em termos de prestígio político.

Os Jogos Paraolímpicos tiveram sua primeira versão em 1960, em Roma, e contava com a participação de 23 países e 400 atletas; em sua edição mais recente, em Atenas 2004, o evento reuniu 143 países e 4000 atletas; os investimentos atingiram patamares antes inimagináveis; patrocinadores mundiais ajudaram a custear a competição e a profissionalização do esporte foi visível. Os números mostram que entre a primeira e a última versão dos Jogos houve uma grande evolução, o esporte para pessoas com deficiência abandonou o caráter estritamente de lazer e de reabilitação, passando a buscar também o alto-rendimento. Assim, aumentou-se o interesse da mídia por esse segmento esportivo; contudo, segundo o jornalista do Correio Braziliense, José Cruz, “Ainda não há uma cobertura sistemática do esporte paraolímpico (...)”15. A Paraolimpíada de Atenas foi um marco para o paradesporto brasileiro, porque, de acordo com o presidente do CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) o para-atleta voltou de Atenas como um ídolo, e reconhecido pelo público; o Brasil que voltou da Grécia despertou a consciência nacional para o esporte paraolímpico, atraindo, assim, as atenções da mídia e das grandes marcas empresariais.



Tabela comparativa 

Olimpíadas


Paraolimpíadas 


Fonte: Comitê Paraolímpico Brasileiro, disponível em < www.cpb.org.br

* Em Tóquio, 1964, teve o início do processo de consolidação da divulgação do esporte paraolímpico pelos meios de comunicação, porém os números ainda não foram corretamente avaliados. 

Por problemas de organização, as Paraolimpíadas de 1968 e 1972 (Tel-Aviv e Heidelberg) ocorreram em cidades diferentes da sede das Olimpíadas, constituindo exceções na história dos Jogos Paraolímpicos. Em 1988, em Seul, os jogos voltaram a ser disputados na mesma cidade que abriga as Olimpíadas.


Conclusão 

Enquanto o Comitê Paraolímpico Brasileiro se esforça para ampliar a divulgação do paradesporto, o Comitê Olímpico Brasileiro falha nesse sentido, deixando de credenciar veículos on-line (internet); o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) diz que a entidade optou por não credenciar sites e portais com o intuito de "atender aos veículos de grande imprensa que tradicionalmente vêm cobrindo os Jogos Olímpicos".

Os Jogos Olímpicos são tanto um evento esportivo quanto midiático. A primeira transmissão de TV realizada no mundo foi experimental, durante os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936; “o registro visual daqueles jogos definiu a estética olímpica das décadas seguintes, marcada pela celebração do corpo atlético e a exploração das coreografias de massa”. Já Sydney deve passar para a história como marco do declínio da cobertura televisual e ascensão da cobertura pelas novas mídias (internet).

Apesar da cobertura das Paraolimpíadas ser ainda muito pequena com relação às Olimpíadas, notamos que está havendo uma mudança significativa na divulgação dos Jogos Paraolímpicos. Um estudo realizado, pelo Comitê Paraolímpico Internacional, com 17 países, aponta uma audiência televisiva acima de 1,8 bilhões de pessoas durante os Jogos Paraolímpicos de Atenas 2004. O Japão teve o maior índice de audiência acumulada (587 milhões), seguido pela França (335 milhões), Alemanha (310 milhões) e China (309 milhões). Em relação à audiência acumulada, a maior fatia de mercado, contudo, foi alcançada pela Nova Zelândia (26,4%), Suíça (21,6%) e Áustria (21,1%). Dos países analisados, o Brasil transmitiu o maior número de horas (168 h), seguido pela Espanha (125 h).

A diretora de Mídia e Comunicação do Comitê Paraolímpico Internacional, Miriam Wilkens afirma que, “Este desenvolvimento confirma que tem havido um significativo aumento no interesse pelos Jogos Paraolímpicos”.

Assim percebemos a importância de responder a todas as questões colocadas no início da pesquisa, porque a mídia não faz a mesma cobertura das Olimpíadas e das Paraolimpíadas? Como a mídia auxilia o desenvolvimento de ambos espetáculos esportivos? Como a sociedade se comporta diante dos Jogos Olímpicos e dos Paraolímpicos? E porquê? Analisar essas questões foi o objetivo do presente estudo




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