Autoria: Renata Bravo
Entre o papel e o infinito
Nasce um planeta.
Não daqueles perfeitos, desenhados com régua,
mas um mundo de crateras, poros,
onde as imperfeições respiram poesia.
Esse planeta é feito de restos.
Retalhos de jornal, memórias impressas,
palavras que talvez um dia alguém leu,
e agora se transformam em matéria do universo.
Sobre ele, repousa uma pequena figura,
frágil como as perguntas das crianças,
leve como a esperança.
Feita de papel… mas movida por estrelas.
O papel machê molda o corpo,
mas é o afeto que molda a alma.
Cada camada é silêncio,
cada dobra é coragem.
Porque criar também é cuidar.
E cuidar é um ato de resistência.
No planeta pequeno, há espaço para grandes coisas:
para a saudade, para a curiosidade,
para o espanto diante de um pôr do sol.
Porque, como escreveu um aviador-poeta,
o essencial é invisível aos olhos
mas aqui,
neste pequeno mundo feito de papel,
faz-se visível no gesto, na textura, no olhar.
E assim, entre recortes e sonhos,
o artista reconstrói universos.
Com as mãos sujas de cola e poesia,
ele nos lembra que
cada planeta que criamos fora
revela o planeta que habitamos dentro.
Se a vida fosse uma escultura, talvez fosse de papel machê:
leve, reciclável, frágil… e eternamente recomeçável.
O Pequeno Príncipe em Papel Machê: arte, valores humanos e sustentabilidade
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho apresenta uma proposta interdisciplinar de prática artística baseada na construção de uma escultura em papel machê inspirada na obra literária O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. A atividade envolve a criação de um planeta e da figura do protagonista utilizando materiais recicláveis, promovendo reflexões sobre sustentabilidade, valores humanos, expressão artística e interpretação literária.
A escolha dessa obra se justifica pela profundidade de seus ensinamentos simbólicos, que abordam temas como amizade, empatia, essência, solidão e responsabilidade afetiva. A técnica do papel machê, por sua vez, possibilita aos participantes trabalhar conceitos de arte sustentável, reaproveitamento de materiais e construção tridimensional.
A proposta é direcionada a contextos escolares, oficinas culturais, práticas terapêuticas e atividades do movimento escoteiro, com potencial de envolver participantes de diferentes faixas etárias, especialmente crianças e adolescentes. O objetivo é proporcionar uma experiência estética, filosófica e ambiental, promovendo o desenvolvimento cognitivo, socioemocional e criativo.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA:
- O Pequeno Príncipe como obra pedagógica
Publicado em 1943, O Pequeno Príncipe é reconhecido mundialmente como uma obra que ultrapassa a literatura infantil, apresentando reflexões filosóficas sobre o ser humano. Frases como “O essencial é invisível aos olhos” e “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” destacam a profundidade de seus ensinamentos. No contexto educacional, a obra é um recurso para o trabalho com valores, empatia e pensamento crítico.
- A arte como linguagem expressiva e interdisciplinar
Segundo Barbosa (2010), a arte contribui para a formação do sujeito por meio da expressão e da percepção estética. A escultura em papel machê desenvolve coordenação motora, pensamento espacial e estímulo criativo. Quando associada à literatura, expande a compreensão leitora por meio da materialização simbólica.
- Papel machê e sustentabilidade
O papel machê é uma técnica artesanal que reutiliza papel e cola, sendo altamente sustentável. Trabalhar com materiais recicláveis promove a conscientização ambiental, proposta importante para projetos vinculados à educação ambiental e ao movimento escoteiro, alinhado com o princípio “deixar o mundo melhor do que encontramos”.
- Interdisciplinaridade na prática pedagógica
A utilização de uma obra literária como base para uma criação escultórica permite integração entre arte, língua portuguesa, filosofia, ciências e matemática. Essa abordagem interdisciplinar favorece a aprendizagem significativa (Ausubel, 2003), integrando conhecimento teórico à prática artística.
OBJETIVOS:
- Geral
Desenvolver uma experiência artística interdisciplinar utilizando a técnica do papel machê inspirada na obra O Pequeno Príncipe, promovendo reflexão sobre valores humanos e sustentabilidade.
- Específicos
Construir uma escultura representando o planeta e o personagem utilizando papel machê e materiais recicláveis;
Compreender e interpretar simbolicamente trechos da obra literária;
Trabalhar princípios de arte, sustentabilidade e expressão emocional;
Estimular a criatividade, o raciocínio espacial e a coordenação motora;
Promover valores como responsabilidade, empatia e sensibilidade;
Desenvolver atividade expositiva para compartilhamento da produção com a comunidade.
METODOLOGIA / DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE:
A atividade pode ser desenvolvida individualmente ou em grupo, em aulas de arte, literatura, oficinas culturais ou ações escoteiras. Recomenda-se um período de 3 a 5 encontros.
Etapas propostas
1- Leitura e conversa inicial
Leitura de trechos selecionados;
Discussão sobre os conceitos de planeta, essência, cuidado e valores.
2- Planejamento artístico
Esboço da escultura;
Definição de materiais.
3- Construção do planeta (base da escultura)
Moldagem em papel machê sobre estrutura circular;
Inserção de crateras e relevos.
4- Construção da figura do Pequeno Príncipe
Estrutura com arame ou papel enrolado;
Camadas em jornal e papel machê;
Definição de postura e movimento.
5- Secagem natural + Pintura e detalhes
Escolha de cores simbólicas;
Inserção de elementos como flor ou estrela.
6- Exposição e reflexão
Apresentação da escultura;
Roda de conversa: “Qual é o essencial do meu planeta?”
INTERDISCIPLINARIDADE:
Arte - Escultura, tridimensionalidade, textura
Literatura - Interpretação da obra
Filosofia - Valores humanos, reflexão
Ciê. Naturais - Sustentabilidade, planeta, ciclo da matéria
Matemática - Forma esférica, proporção
Educação ambiental - Reutilização de materiais
Psicomotricidade - Moldagem, coordenação motora
Educação escoteira - Cuidado com o planeta, empatia e responsabilidade
AVALIAÇÃO:
A avaliação deve ser contínua, observando:
Engajamento nas discussões;
Criatividade e adequação técnica;
Compreensão conceitual da obra;
Participação na construção coletiva;
Capacidade reflexiva e argumentativa;
Autonomia e cooperação.
Pode também incluir autoavaliação: “o que aprendi com o planeta que construí?”
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A atividade proposta revelou-se uma possibilidade significativa de integração entre arte, literatura e valores humanos, oferecendo aos participantes a oportunidade de refletir sobre a própria existência através de uma experiência estética. A produção artística em papel machê permitiu a representação simbólica de um planeta único, onde o essencial se revela pela textura, pelo gesto e pela intenção de quem cria.
Ao trabalhar O Pequeno Príncipe, compreende-se que a arte pode ser ponte entre mundos internos e externos, promovendo a expressão emocional e a consciência ambiental. A técnica sustentável reforça a mensagem de cuidado com o planeta e com as relações humanas.
Dessa maneira, a escultura torna-se não apenas objeto artístico, mas também veículo pedagógico, terapêutico e cultural.
REFERÊNCIAS:
BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2010.
AUSUBEL, David. A Aprendizagem Significativa. São Paulo: Moraes, 2003.
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Diversas edições.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. MEC, 2017.
ESCOTEIROS DO BRASIL. Projeto Educativo do Movimento Escoteiro, 2019.



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