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terça-feira, 9 de julho de 2024

Aprendendo a ler o tempo

 MA HISTÓRIA SOBRE O ENSINO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PERCEPÇÃO DA NATUREZA

Este artigo vista contribuir para o entendimento das relações históricas entre variações climáticas e emoções humanas. A intenção principal é a de perceber algumas mudanças ocorridas na leitura do clima presentes em livros escolares de geografia e na primeira revista infantil brasileira, intitulada Tico-Tico. Trata-se do resultado de uma pesquisa mais ampla sobre as relações entre clima e melancolia, na qual as transformações das sensibilidades nos modos de perceber as estações do ano e as características atmosféricas relacionam-se intimamente com o perfil das emoções e a sua história.

Clima e emoções: algumas notas bibliográficas

A obra célebre de Emmanuel Le Roy Ladurie (1967) sobre a história do clima representou uma importante contribuição para os historiadores interessados em compreender as influências recíprocas entre vida humana e meio ambiente. Ela faz parte de uma tendência mais ampla, típica das décadas de 1960 e 1970, quando uma consciência ecológica se desenvolveu dentro e fora dos limites científicos, alcançando os meios de comunicação de massa e modificando as maneiras de ensinar crianças e jovens a perceber o tempo e o clima. A partir dela, a história do meio ambiente recebeu numerosas contribuições, incluindo os estudos sobre a meteorologia e as suas relações com a construção da subjetividade.

Entre esses estudos, destacam-se os livros do historiador Alain Corbin, sobre as emoções diante das mudanças climáticas, principalmente a partir do final do século XVIII. Segundo Corbin (2013), nessa época, houve a emergência de uma “alma sensível”, para a qual a magnificência da natureza correspondia à grandeza dos sentimentos humanos, enquanto que os abalos meteorológicos eram expressivos dos arrebatamentos do desejo. Na mesma direção, o historiador romeno Lucian Boia (2005) defendeu que as relações dos humanos com o clima não começaram com o advento do aquecimento global, ao contrário, trata-se de um problema antigo, com vários pontos de inflexão. Boia lembrou que a análise do imaginário relacionado ao clima representa uma maneira privilegiada de conhecer os medos e os sonhos de cada época ou, ainda, as emoções alegres e tristes. William Reddy (2001), outro autor bastante conhecido na área, assinalou que, desde o final do século XVIII, houve o florescimento de emoções coletivas, embaladas pelo sentimento revolucionário, quando, então, um novo regime sentimental foi instituído. Nesse momento, o termo “cenestesia”, trabalhado cientificamente pelo médico alemão Johann Christian Reil em 1794, passou a marcar presença na obra de diversos escritores e filósofos interessados em compreender as influências das variações meteorológicas no organismo e nos sentimentos humanos.

Esses pesquisadores inserem-se numa rica tradição de estudos sobre a história das emoções que, especialmente após 1980, foi significativamente ampliada e renovada. Uma tradição que remonta aos trabalhos de Lucien Febvre (1941), historiador preocupado com as sensibilidades de épocas passadas e que lançou o desafio de estudá-las. Mais tarde, o uso do conceito “emoção” passou a ser inserido no terreno histórico das sensibilidades e, desde então, as perspectivas de autores como Corbin, Reddy ou Rosenwein confirmaram a necessidade de problematizar os sentimentos do passado. Assim, por exemplo, conforme Rosenwein (2011), tanto quanto os estudos sobre gênero, aqueles voltados às emoções de outras épocas e culturas fornecem subsídios fundamentais para a compreensão do presente. Outra contribuição recente e importante ao tema é a coleção em três volumes, publicada na França, intitulada Histoire des émotions (CORBIN et al., 2016). Esses volumes reúnem textos de alguns dos principais especialistas na área e consolida o campo da história das emoções dentro dos cursos e publicações de historiadores (SANT’ANNA, 2016).

A partir dessa perspectiva, o entendimento da associação entre clima, emoções e meteorologia também representou um passo inovador para o estudo das emoções. Wladimir Jankovic (2000), por exemplo, com a obra Reading the skies: A cultural history of English weather, 1650-1820, traça uma história das maneiras de interpretar o clima e, sobretudo, de ler os céus, mostrando o quanto essa experiência permaneceu durante séculos fora dos domínios de uma ciência global. Já o livro de Jon Golinski (2007), intitulado British weather and the climate of enlightenment, propõe uma análise histórica não apenas da meteorologia, mas também das relações entre os saberes que a circundavam na Inglaterra do século XVIII. É quando o registro do que se passa na atmosfera revela ser uma oportunidade para expressar as subjetividades e, também, para disciplinar o corpo. Os progressos na fabricação do barômetro destacam-se nessa antiga necessidade de prever mudanças climáticas e também de interpretá-las a partir das vicissitudes humanas. Ao mesmo tempo, a experiência do sublime junto às montanhas e ao litoral abriu-se à possibilidade de tratar doenças físicas e psíquicas, sustentada pelo vitalismo interessado em restaurar o equilíbrio das fibras nervosas, sobre as quais repousaria a sensibilidade. Já aparece aqui uma mudança de paradigma importante em relação ao corpo, diferente dos ideais mecanicistas em voga no começo da era moderna. A partir do Século das Luzes, emerge o ideal de um corpo atravessado por nervos, assim como um “foro íntimo” relacionado à fisiologia de cada indivíduo (VIGARELLO, 2014, p. 80).

Embora a suposição de que as mudanças climáticas possam influir decisivamente sobre as emoções humanas não seja uma novidade histórica e tenha se adensado no final do século XVIII, foi no decorrer do período seguinte que uma série de registros sobre a referida “alma sensível” – especialmente na pintura, na música e na literatura – se tornou uma marca registrada da cultura ocidental. Ou seja, no século XIX, em meio à difusão de uma sensibilidade aguçada diante das variações atmosféricas e de sua incorporação a uma visão romântica do mundo, a história das maneiras de perceber e de ler o tempo participaram cada vez mais amplamente da ciência e da interiorização de sistemas meteorológicos outrora inexistentes. Além disso, o século XIX foi um período de grandes progressos na climatologia e na meteorologia, incluindo desde a difusão dos anuários de meteorologia de Jean-Baptiste Lamarck até os trabalhos de Charles-Alfred Angot que, segundo Emmanuel Le Roy Ladurie, foi um dos pais da climatologia moderna (LADURIE, 1967).

A mesma tendência se fez sentir no Brasil do período imperial. A imprensa nacional publicava, por um lado, inúmeros textos expressivos de um romantismo ancorado nas variações das estações do ano, da temperatura, dos ventos e chuvas. Por outro, a mesma imprensa difundia as previsões meteorológicas que não tardaram a servir aos interesses da economia agrícola e à navegação. Contudo, a partir da segunda metade do século XIX, principalmente, aumentou de modo inusitado o número de estudos científicos sobre os fenômenos naturais no país. O ensino de Geografia estabeleceu-se como ciência escolar e disciplina obrigatória, ao mesmo tempo em que novas técnicas de mensuração das variações atmosféricas foram estabelecidas mundialmente. As relações entre meteorologia e emoções humanas se intensificaram e se mostraram essenciais à caracterização dos temperamentos em obras literárias, mas também em tratados científicos. Desde então, uma nova consciência relativa às consequências do progresso tecnológico e do desenvolvimento urbano sobre a saúde do planeta e dos seres que nele vivem pôde ser construída, mostrando aos humanos o quanto ainda há a ser feito para preservar as diferentes formas de vida na Terra.

Ainda no século XIX, a influência do clima sobre as tristezas tornou-se evidente no meio científico, com a divulgação de teses médicas que tentavam comprovar as relações entre temperamentos, identidades e variações climáticas. Entre os primeiros exemplos brasileiros a este respeito, destaca-se a tese de Joaquim Manoel de Macedo intitulada Considerações sobre a nostalgia, defendida na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1844. Para Macedo,

[...] há um tempo e um espaço no mundo exterior que devem ser mais propícios à gestação da nostalgia. E tanto o tempo como o espaço são realidades naturais e humanas. É da ocorrência ou conjugação de um certo lugar, um certo clima e um certo estágio de desenvolvimento pessoal e social que surge com mais frequência a saudade da pátria.

(POLITO; LOPES, 2004, p. 129)

No mesmo ano em que Macedo defendeu a sua tese sobre a nostalgia, o médico francês José Francisco Xavier Sigaud publicou o livro Du climat et des maladies du Brésil ou statistique médicale de cet empire (SIGAUD, 1844). Nele, Sigaud mostrou o levantamento que realizou das doenças e do clima brasileiros contribuindo para afirmar a relação entre patologias do corpo e especificidades climáticas. Essa correlação permaneceu forte ao longo do século XIX, justamente quando ocorria, em diversas sociedades europeias, um aumento inusitado do uso da palavra emoção na literatura e também em obras científicas. Foi nesse período que a atenção ao clima se tornou mais técnica e científica, ganhando páginas na imprensa diária de diferentes países. No Brasil, desde a criação do Observatório Astronômico Imperial do Rio de Janeiro, em 1827, diversos procedimentos científicos tiveram início e estão na origem da climatologia nacional. Na segunda metade do século XIX, o Observatório começou a publicar os “Anais meteorológicos”, enquanto que as teorias científicas europeias sobre a atmosfera não tardaram a influenciar os pesquisadores brasileiros. Mais tarde, em 1909, foi criado o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), pelo Decreto 7.672, do presidente Nilo Peçanha, com o nome de Diretoria de Meteorologia e Astronomia. Era um órgão do Observatório Nacional, vinculado ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.

Contudo, no final do século XIX, somente na Europa, as previsões de tempo eram feitas de forma sistemática. Naquela época, a meteorologia era uma ciência basicamente observacional, as previsões possuíam pouca confiabilidade e eram realizadas para um prazo máximo de 24 horas.

O clima e o enfoque paulista

Entre os vários exemplos brasileiros a respeito das relações entre emoções e clima, a cidade de São Paulo ocupa um lugar de destaque. Entre 1870 e 1930, a capital paulista sofreu uma radical transformação de sua paisagem natural e transformou-se em uma metrópole que reunia comerciantes, empresários, engenheiros, cientistas e políticos com ambições de liderar o progresso nacional. Entretanto o frio, o calor e as chuvas, eram constantemente lembrados pela imprensa local e em discussões das Atas da Câmara desde o final do Império. O determinismo climático e o determinismo racial pesavam nas hipóteses de uma parte significativa da elite letrada nacional.

Ora, foi principalmente nesse período de sedução pela retórica cientificista, influenciada pelas teorias raciais presentes na Europa de meados século XIX, que as elites econômicas paulistas expressaram suas ambições em afirmar explicações ligadas ao meio e à raça para diferenciar laboriosos de ociosos, virtuosos de viciosos, civilizados de selvagens. Trata-se de uma época com um significativo predomínio econômico e político daquelas elites, mas também de uma proliferação de textos na imprensa paulista que enfatizavam a íntima influência do clima da cidade nas maneiras de viver e de sentir de seus habitantes. O período representa um momento histórico que favoreceu a progressiva popularização da sensibilidade à meteorologia consultada comumente no século XX ou, ainda, a uma cultura da previsão diária do tempo, unida à suposição de que as condições atmosféricas devem ser não apenas medidas e previstas, mas sobretudo mantidas como provas da civilização coletiva e da sensatez individual.

Importante, também, foram as informações meteorológicas feitas pela Companhia Cantareira e Esgotos, desde 1880, e divulgadas pela imprensa local. Além disso, a partir de 1886, a Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo começou a publicar os dados meteorológicos das primeiras estações implementadas no estado (SANT’ANNA NETO, 2001). Os trabalhos da comissão foram essenciais para a institucionalização da climatologia no país e contribuíram para modificar a percepção do clima exposta em jornais e revistas da capital. Segundo Sant’Anna Neto (2001, p. 16), a rede paulista utilizava aparelhos análogos aos europeus e, em 1900, ela “já contava com cerca de 40 estações meteorológicas espalhadas em seu território”.

Enquanto isso, na imprensa paulista, a chuva tendia a ser concebida como uma espécie de barômetro privilegiado das emoções tristes e de uma certa identidade dos habitantes locais. Comentários que exprimem a relação entre tristeza e tempo chuvoso não eram uma exceção: “A semana pertenceu quasi exclusivamente á chuva, o que é o mesmo que dizer que decorreu ella triste, aborrecida, enfadonha. [...] Fallemos sério. São Paulo está triste”1.

As estações chuvosas costumavam provocar enchentes e evidenciar a necessidade de melhores trabalhos no calçamento da cidade, na construção de pontes e manutenção da salubridade das várzeas. Mas, além desses problemas urbanos, as chuvas também tendiam a ser associadas aos sentimentos de tristeza ou de revolta, distinguindo pessoas e temperamentos: “Há gente que não gosta da chuva e que, apenas o firmamento ennubla-se, enfurecem a cara e as ideias, e põe-se a pensar em cousas tristes”2.

Se a chuva sempre foi essencial à frutificação da vida, o imaginário que acompanha a sua presença não deixou de ser atravessado por experiências de apatia e recolhimento. Ao mesmo tempo, o espectro do dilúvio reenviava a imaginação ao temor das catástrofes naturais e das grandes cosmogonias. No começo de 1900, por exemplo, as chuvas fortes provocaram desabamentos e enchentes na capital paulista. Várias manifestações de medo diante da ameaça do dilúvio e do fim do mundo foram registradas pelos escritores locais, confirmando antigas superstições que relacionam catástrofe natural e manifestação divina (PRADO, 1963). Além disso, em São Paulo, a melancolia ligada à garoa, a malemolência quase entediada, típica das “épocas calmosas”, ou ainda a saudade de uma outra terra e de pessoas amadas, despertada por neblinas ou pelo outono, revelavam não apenas o quanto eram diversificadas as “paisagens climáticas” da cidade, mas também como era importante recorrer a tais paisagens para expressar os sentimentos de natureza universal, comuns também em outras cidades e em diferentes países.

Não demorou muito para que as relações entre ensino escolar e uma nova sensibilidade referente à importância do clima e da meteorologia se afirmassem no universo infantil e juvenil, assim como na mentalidade de professores, escritores e educadores, comprometidos com a ordem e a higiene do país.

Terra: uma mãe forte, selvagem e imprevisível

Foi sobretudo a partir do século XX que ensinar a leitura dos sinais do clima de cada região do país se tornou uma peça-chave na educação nacional. Tanto no domínio escolar como na imprensa, a tendência crescente foi a de considerar a meteorologia um tema a ser aprendido e difundido como parte integrante dos conhecimentos científicos e geográficos do Brasil.

Assim, por exemplo, em 1907, a revista infantil chamada Tico-Tico publicou uma estória, em vários capítulos, intitulada “Viagens maravilhosas do Dr. Alpha”, de Oswaldo Silva. Trata-se de uma revista infantil, pioneira no Brasil, que começou a ser publicada em outubro de 1905. Chegou a ter uma tiragem de 100.000 exemplares por semana. Além de histórias em quadrinhos, a Tico-Tico continha lições de civismo, geografia, história, ciências, artigos, contos, mapas e conselhos. A partir de 1930, a revista foi influenciada por personagens dos quadrinhos norte-americano e foi publicada até a década de 1960 (BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL, 2015). Nela buscava-se ensinar o leitor o que significava sair da atmosfera terrestre, assim como o significado dos meteoros e dos cometas. A narrativa perguntava se havia atmosfera no mundo lunar, além de mencionar algumas características de planetas como Marte e Júpiter3. Marte era considerado o planeta com atmosfera semelhante à nossa, o que dava motivo à suspeita de que pudesse haver vida marciana4. A atmosfera também indicava chuvas próximas ou secura do ar. Os pássaros ainda eram importantes barômetros dos brasileiros, justamente numa época em que a população rural ainda era maior do que a urbana.

Durante as três primeiras décadas do século passado, entre os temas mais recorrentes em lições e textos de geografia e ciências da Tico-Tico, a atmosfera era um objeto de estudo frequente. Neles era mostrado, por exemplo, como o pó tem a capacidade de ficar suspenso no ar e o quanto este pode ser o meio ideal para transmitir doenças. Vários textos explicavam que as gotículas de água suspensas na atmosfera ocasionavam o arco-íris. A atmosfera que rodeia a terra, também chamada de “couraça salvadora”, tendia a ser bastante valorizada na maior parte das explicações veiculadas pela Tico-Tico.

Na seção consagrada às “Lições do Vovô”, a atmosfera também era um tema recorrente. Nela, as crianças aprendiam desde o fato de que as sanguessugas são muito sensíveis às mudanças atmosféricas, até a importância do cata-vento e os tipos de nuvens existentes no céu. A atmosfera, carregada de eletricidade, também podia indicar as tempestades vindouras, conforme os ensinamentos do Vovô. O mesmo ainda sublinhava o que pode ser uma ilusão de ótica causada pela reverberação do calor solar na areia e o que se passa nas camadas mais altas da atmosfera, elevando a imaginação das crianças para os mistérios do cosmos.

Na maior parte dos textos da Tico-Tico havia um encantamento com a grandiosidade e a riqueza das forças naturais. Estas constituíam a matéria-prima dos ensinamentos, ou seja, a natureza era o sujeito dos textos, seu personagem central, o lugar de todos os mistérios, envolvendo um conjunto de fenômenos diante dos quais os adultos e as crianças não tinham meios de controlar nem intervir. O planeta Terra tendia a ser visto como um conjunto de forças inesgotáveis e imprevisíveis, uma realidade mais selvagem do que domesticada.

Essa tendência se repete em livros escolares do período. A partir da década de 1920, a geografia escolar de influência francesa e alemã tendeu a modificar as maneiras de ler o tempo. Contudo a ideia de que todo o planeta possui pontos de contrastes violentos se manteve forte, formando a imagem de que a Terra é um lugar de tempestades, maremotos, furacões, “impetuosidades naturais” que ainda não podiam ser previstas nem controladas. A definição da atmosfera aparecia nos livros escolares como sendo uma espessa camada gasosa, com ênfase na presença do oxigênio, essencial à vida.

Na década de 1930, surgiu a primeira edição da Meteorologia brasileira, de Sampaio Ferraz, tratando de inúmeros temas constituintes das ciências atmosféricas. Os mapas do Brasil dentro dos livros escolares ganharam maior destaque, especialmente com a distinção de cada região do país. Mas, mesmo assim, as críticas hoje conhecidas à sociedade de consumo e ao esgotamento dos recursos naturais devido à ação humana sobre o planeta ainda não eram comuns nos livros escolares nem na imprensa.

Vários livros escolares dedicados a crianças e jovens também continham o pressuposto de um Brasil rico em recursos naturais e, ao mesmo tempo, disponível à exploração mineral e vegetal. O país e também o planeta tendiam a ser vistos a partir da ótica de uma suposta infinitude da natureza, juntamente com uma superioridade da cultura branca imaginada por uma elite letrada. Nesse aspecto, Aroldo de Azevedo, catedrático de Geografia do Brasil e professor da USP, representa um dos autores célebres dos livros de geografia dedicados aos estudantes brasileiros nos quais algumas questões do clima mostram uma concepção típica da época acerca das “raças” constituintes do país. Por exemplo, no livro intitulado Geografia humana do Brasil, destinado ao terceiro ano do curso colegial da década de 1950, a posição geográfica brasileira bem como as suas fronteiras fazem parte do primeiro capítulo, cuja inspiração evolucionista fornece um tom otimista à caracterização do meio. As bases humanas, físicas e econômicas aparecem distinguidas em momentos específicos da obra e o “Brasil do amanhã” é ilustrado com a fotografia do rosto de um menino sorridente e o seguinte comentário: “A maioria da população brasileira descende próxima ou remotamente de europeus de cor branca”. E completa o comentário dizendo que “essa predominância tende a tornar-se com o tempo, cada vez maior” (AZEVEDO, 1951, p. 98).

No mesmo período, o livro de Attayde, intitulado Geografia do Brasil, destinado à quarta série ginasial, trata basicamente da geografia em cada região, tendência que se repete em vários outros livros escolares entre as décadas de 1940 e 1960. A flora amazônica ganha maior espaço nos livros desse período, assim como o clima da região norte do país. O livro possui um capítulo intitulado “Como medir e observar as condições atmosféricas”, quando, então, o autor explica qual é a função da meteorologia: “observar, informar, prever e avisar” (ATTAYDE, 1951, p. 8). E o que querem os meteorologistas? Querem, segundo Attayde, descobrir a temperatura e a pressão do ar, a direção e a velocidade do vento, a umidade, a quantidade e o tipo das nuvens, a quantidade de chuva ou de neve, assim como as condições de visibilidade. Também, aqui, o ensino de uma consciência ecológica diante do esgotamento dos recursos naturais ainda é tênue, praticamente inexistente. A visão da natureza brasileira permanece delineada segundo um ufanismo típico do período em relação à grandeza dos recursos naturais nacionais.

Voltando à revista Tico-Tico, interessante observar a frequência com que o medo das tempestades, raios ou das chuvas fortes ocupou um lugar de destaque nas estórias e pequenas lições publicadas entre 1910 e 1930. Tratava-se de um medo considerado normal e que pedia precauções para a proteção dos corpos. Contudo o medo das temperaturas extremadas não expressava ainda alguma relação com a ação predatória dos humanos sobre o planeta.

Em 1938, com a criação da Comissão Nacional do Livro Didático, afirmou-se a tendência em cultivar brasileiros afinados com a política vigente, permanecendo a valorização dos contrastes existentes no planeta Terra, entre temperaturas, relevos e fauna, assim como o imaginário de uma natureza que estaria totalmente à disposição da exploração e dos interesses humanos.

O Ser Humano Agente do Meio e Responsável por Ele

As tendências rapidamente indicadas acima tendem a ser modificadas a partir de meados do século XX, principalmente entre 1970 e 1980. É quando os livros escolares de geografia e de ciências começaram a registrar, cada vez mais claramente, o fato de o ser humano intervir nos desígnios naturais e, portanto, ser ele próprio o responsável pelos rumos da flora e da fauna do planeta. Ou seja, se, durante as primeiras décadas do século XX, a maior parte das informações climáticas presentes na imprensa e nos livros escolares ancorava-se na antiga suposição de que o ser humano sofre as influências do meio, mais do que age sobre elas, a partir da década de 1950, houve uma inversão. Desde então, os dados climáticos, oriundos das mensurações da temperatura atmosférica, tornaram-se um tema amplamente discutido na imprensa, em reuniões científicas e também no âmbito da educação escolar, considerando a ação dos seres humanos sobre o planeta. Essa espécie de nova consciência da ação humana sobre a natureza teve vários momentos. Entre eles, há pelo menos três que vale aqui rapidamente destacar:

O primeiro ocorreu logo após a Segunda Guerra Mundial, quando a meteorologia sofreu um grande avanço devido à necessidade de determinar rotas de voo, de navegação e de definir estratégias militares. Nesse período, foram realizadas as primeiras sondagens atmosféricas, permitindo descobrir a estrutura e o funcionamento da alta atmosfera, assim como a sua influência sobre as mudanças de temperatura. O radar meteorológico foi desenvolvido a partir do radar militar, pois, em dias de chuva, as imagens ficavam mais difusas. Essas melhorias na observação atmosférica, complementadas décadas depois pelo desenvolvimento dos satélites meteorológicos, foram acompanhadas pelo surgimento de novas teorias que tinham a finalidade de explicar o funcionamento dos sistemas de tempo. Na imprensa brasileira, começou a haver um novo tipo de preocupação com a “couraça protetora da terra”, ou seja, com a massa atmosférica que garantia a saúde do planeta. Em vários livros escolares, a atmosfera ganhou um lugar de destaque no ensino das ciências e da geografia, não mais como couraça e sim como uma proteção sob ameaça humana. O ensino das disciplinas de geografia e ciências sofreu alterações importantes. Com o risco nuclear durante a Guerra Fria, a ideia de que é necessário incorporar o meio ambiente como um ator importante na seara política e educacional favoreceu novos estudos capazes de reunir questões de ordem social e natural.

As décadas de 1970 e 1980 podem ser consideradas um segundo momento dentro da mudança responsável por colocar os seres humanos como responsáveis pelo meio ambiente. Trata-se de um período de grandes eventos internacionais, com a criação da “Carta de Belgrado”, em 1975, estabelecendo princípios e diretrizes para a educação ambiental. Criou-se um campo de saberes relacionados à ecologia e ao clima que passou a influenciar a produção de conhecimento em praticamente todas as demais áreas científicas. No Brasil, a primeira vez que a educação ambiental apareceu na legislação de forma integrada foi em 1981, com uma lei que instituiu uma Política Nacional de Meio Ambiente (RUMENOS, 2016). Desde então, os seres humanos deixam de ser vistos como submissos aos desígnios da natureza ou com capacidades menores do que as forças climáticas. Ao mesmo tempo, o tema da ecologia alcançou uma importância inédita nos meios de comunicação de massa e em numerosas propostas educacionais.

Paralelamente, houve nesse período uma profissionalização da indústria editorial, alterando profundamente a forma e o conteúdo dos livros didáticos (MUNAKATA, 2007). Os Guias curriculares para o estado de São Paulo também contribuíram para estabelecer novas diretrizes aos livros didáticos, com o aumento do número das imagens e a melhoria de sua qualidade, assim como de mapas e de informações sobre as variações climáticas. Inúmeros trabalhos escolares tenderam a ser realizados com o intuito de desenvolver uma consciência ecológica entre crianças e adultos capaz de provocar mudanças nos hábitos de consumo e nos comportamentos junto à natureza. O livro didático seria, assim, mais um agente entre as numerosas campanhas, atividades recreativas, esportivas e científicas voltadas para uma nova perspectiva ecológica, respeitosa da vida no planeta.

Um terceiro momento, posterior à década de 1990, refere-se à divulgação do fim de um período recente da Terra, o antropoceno. Desordens climáticas, aquecimento global, ameaças ao meio ambiente – que revelam o risco do desaparecimento definitivo de diferentes plantas e animais – tornaram-se assuntos recorrentes em debates dentro e fora dos congressos internacionais sobre o clima. O antropoceno, considerado uma nova era geológica – diretamente relacionada à necessidade de uma mudança dos hábitos de produção e consumo, além de transformações profundas na relação entre humanos e não humanos – inspirou pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento, assim como novas campanhas educacionais. Ameaças à vida e ao próprio planeta não cessaram desde então de caracterizar manifestações e ativismos em vários países, inclusive no Brasil.

Por conseguinte, as maneiras de perceber a natureza entre crianças e adultos tenderam a ser atravessadas por uma nova sensibilidade avessa a muitos dos antigos hábitos de consumo e de tratamento da flora e da fauna.

A terra, uma mãe doente e frágil

A guinada no imaginário da Terra, ocorrida por volta das décadas de 1960 e 1970, retirou o lar e a origem da humanidade da garantia de que existem recursos naturais infinitos. A Terra, que durante séculos figurou no imaginário social ora como mãe dadivosa ou morada intocável ora como potência selvagem e rebelde aos domínios dos humanos, passou a ser vista como uma espécie paciente acamado, doente frágil e debilitado, que necessita de muitos cuidados para não morrer. Na Europa, a década de 1970 marcou a entrada da ecologia na política. Surgiram partidos políticos com a bandeira ecológica explicitamente transformada em proposta de governo (DUPUY, 2004). Doravante, a Terra tende a ser vista como morada exaurida e com recursos finitos, o que, sem dúvida, tem consequências psíquicas e sociais profundas e que ainda não foram totalmente esclarecidas.

Justamente quando a própria ecologia se transformou em campo científico internacional de produção de conhecimento e de base às políticas públicas, o planeta Terra passou a ser um lugar poluído, saqueado por mineradoras, e massacrado pelo turismo de massas. Desde a década de 1970, os livros didáticos e a imprensa divulgam que a Terra é um ecossistema e que dentro dele há o efeito estufa, a poluição do ar e das águas provocada pelos humanos. A Terra se transformou, de modo mais evidente do que no passado, em um “lugar comum”, vítima dos humanos, morada em vias de ser destruída e que demanda a responsabilidade de todos. Ao invés de enfatizar seus perigos naturais, sublinha-se o cuidado que se deve ter com os riscos climáticos, frutos do modo de vida industrial dos humanos.

Mais tarde, quando uma declaração de princípios intitulada Carta da Terra foi estabelecida, as ideias do ecossistema e da morada comum foram fortalecidas e somadas ao alerta de lutar pela paz e pela união dos povos e etnias. Em diversos contextos escolares, as crianças foram chamadas para atuarem como agentes de um mundo que demanda cuidados ecológicos diários. Aprender a ler o tempo tornou-se, portanto, um ato eminentemente político e que implica salvar o planeta e não piorar ainda mais a sua saúde.

Em 27 de abril de 1999, foi instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. Ela estabeleceu que a educação ambiental deve ocorrer em todos os níveis, em caráter formal e não formal. As instituições educativas foram chamadas a criar programas para a conscientização dos alunos das graves ameaças da vida humana sobre a Terra e os meios de comunicação de massa foram levados a cooperar com o mesmo intuito. Na mesma época, a palavra “catástrofe” se tornou imperativa nas lições e aulas ligadas aos cuidados com o meio ambiente. Na verdade, uma “era da catástrofe” começou a ser objeto de denúncias e de pesquisas especialmente após o acidente nuclear de Chernobil, em abril de 1986.

Resta que, no Brasil – país cujo mito fundador está em grande medida assentado na imagem de um “jardim do paraíso” (CHAUÍ, 2000), detentor de uma rica natureza, “gigante pela própria natureza” – aquelas tendências podem ter um impacto singular. Isso porque aceitar a condição da Terra como uma “morada” dependente, agora mais do que nunca, dos cuidados humanos ainda é particularmente difícil em sociedades nas quais prevalece o imaginário de que rios, mares, terras, flora e fauna, continuarão sempre potentes, resistentes e saudáveis, independentemente do que se faça com eles. Entretanto, desde a virada do milênio e, principalmente nos últimos anos, não cessa de crescer uma nova disposição – vinda inclusive de crianças e jovens – voltada à proteção ambiental e à mudança de hábitos, revelando o quanto a aliança entre o mundo natural e o desenvolvimento das sensibilidades humanas ingressou, efetivamente, numa nova era.

segunda-feira, 1 de julho de 2024

Direto do fundo do mar ...

Espécies marinhas e seu habitat podem servir como inspiração e ponto de partida para ensinar as crianças conceitos e atitudes capazes de provocar transformações ambientais e sociais.

Utilize dinâmicas diversas para formar e sensibilizar as crianças sobre a diversidade dos ambientes e estabelecer relações entre o meio e as diferentes formas de vida.

Crie um projeto com uma forma lúdica de envolver as crianças em atividades que promovam a busca de valores. Atividades que conduzam a uma convivência harmoniosa com o ambiente e as espécies que habitam o ecossistema e auxiliando-os a pensarem sobre as ações do homem com o meio ambiente e suas consequências.


Os recursos naturais são finitos, sendo fundamental orientar as crianças desde cedo a evitar o desperdício. É necessário orientá-los sobre reciclagem e o combate do desperdício, pensando na natureza como uma grande corrente na qual cada espécie é um elo.


As atividades podem ser iniciadas com uma roda de conversa sobre o tema, como preservar as espécies e manter o mar limpinho.
Em seguida, as crianças podem assistir sessões dos filmes "Procurando Nemo", "Espanta tubarões", "A pequena sereia", todos voltados à vida nos oceanos. Os filmes servem para que as crianças observem os diversos seres vivos e possam nomeá-los.

Escolha algumas espécies mais conhecidas, como peixes, tubarões, baleias, ... e transforme sucatas em brinquedos. Incentive-os a criar histórias dos seres que vivem no fundo do mar. Além, das crianças aprenderem sobre cada um, também poderão desenhá-los. 



Faça uma atividade de pescaria e confecção de aquário, um para cada criança, servindo para explicar sobre a extinção das espécies. O aproveitamento de resíduos poderá ser trabalhado com uma oficina para confecção de  brinquedos usando garrafas pet pequena, rolinhos de papelão, tampas de diversos tamanhos, pedaços de papel colorido, bandejas de isopor, ...

Eles aprenderão quais os materias que podem e os que não podem ser aproveitados.



O projeto servirá para expandir à comunidade e fazer as famílias participarem de ações importantes sobre relações naturais e educação ambiental. O objetivo é orientar sobre assuntos como a importância dos rios e mares, a despoluição e preservação. Outros temas a serem abordados são a coleta seletiva de lixo, problemas da pesca e da caça predatória, desperdício da água e da luz elétrica.







 

sexta-feira, 28 de junho de 2024

A raiva é considerada uma emoção genuína ao ser humano.

Personagem "raiva" da animação infantil
"Inside Out"/"Divertidamente"
(foto abaixo - um porta lápis, feito artesanalmente e com sucatas)



A raiva está presente na contrariedade, caracterizada pela sensação de frustração, e em atos de violência psicológica como o bulliyng. 

Para alguns a melhor forma de superar o sentimento é quebrar objetos ou brinquedos, agredir alguém e gritar. 

A raiva é apresentada pelas crianças como um sentimento, não só negativo, mas rechaçado socialmente. 

E surge entre as crianças a ineficiência em lidar e re-conhecer a raiva, presente no comportamento de vítima que se zanga, mas guarda para si o martírio de sentir-se má. 

A não expressão do sentimento pode ocasionar comportamentos hostis e agressivos. 

No entanto, assim como muitas crianças demonstrem dificuldades diante dessa emoção, surgem alternativas para enfrentamento e elaboração da raiva como desviar a atenção para coisas agradáveis como brincar e ainda controlar a agressividade. 

A promoção de saúde mental infantil possibilita as crianças a refletir e re-significar a raiva, não somente como uma emoção negativa, mas como parte de uma reação emocional presente na vida contribuindo assim para um melhor relacionamento intrapessoal e interpessoal. 

A criança ao aprender a identificar a raiva poderá melhor lidar e encontrar formas de relacionar-se diretamente com a emoção em seu cotidiano.

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Reaproveitamento de móveis a partir do conceito upcycling

Dentro da produção cenográfica 










 Este artigo tem como objetivo a construção de um guia prático simplificado para implementação do conceito upcycling, dentro da produção cenográfica. Baseado na análise de cases e no relato de uma experiência com reaproveitamento de materiais, levando em consideração a preocupação com o meio ambiente e a sustentabilidade. O desenvolvimento do guia prático foi fundamentado através da intersecção entre cenografia, arquitetura e sustentabilidade, com base em um estudo mais aprofundado sobre o upcycling, seus conceitos e técnicas dentro da área do design. Dentre os cases analisados durante o desenvolvimento, o projeto voluntário Decorarth, baseado em uma experiência pessoal e profissional, voltado à produção de decoração de interiores, através de reaproveitamento de materiais e racionalização de recursos.

INTRODUÇÃO 

A preocupação com o meio ambiente tornou-se um requisito para todas as atividades do século XXI. Segundo o departamento de serviços urbanos da cidade de São Paulo (2020), o descarte irregular de lixo e entulho é um dos maiores vilões para nossa convivência em sociedade. Materiais de todos os tipos como madeira, embalagens plásticas, restos de construção civil e móveis velhos rejeitados de forma inadequada sujam a cidade, atraem animais peçonhentos e vetores de doenças, além de contribuírem para alagamentos na área urbana. A indústria cenográfica contribui para esse problema, uma vez que, segundo Chanoft (2019), 90% dos materiais convencionais utilizados na confecção de cenários e estandes são despejados no meio ambiente como lixo comum, sem nenhum tratamento ou reuso.

A relação do conceito de sustentabilidade com a produção da cenografia pode se dar sob diversos aspectos, seja em busca por uma produção que utilize menos materiais, na reutilização de materiais e objetos ou buscando processos de construção sustentáveis, através dos elementos cenográficos. Além disso, utilizar materiais que possam ser reciclados ou reutilizados e prezar por processos de produção mais limpos e conscientes são igualmente importantes. Entre essas possibilidades está o upcycling, que significa reaproveitamento, e vem sendo bastante aplicado no mercado do design. 

No Design de Interiores e na Arquitetura, técnicas de upcycling vêm sendo empregadas através da transformação ou reaproveitamento de objetos de decoração, móveis e materiais descartados. Já no campo da Moda, o upcycling está presente tanto no uso de materiais recicláveis e reaproveitados pela indústria, quanto na expansão do mercado de roupas usadas e customizações. De acordo com Ljungberg (2007), a seleção de materiais sustentáveis implica em mudanças culturais e no estilo de vida dos consumidores, demonstrando preocupação com o futuro do planeta, e estimulando a prática de novas ideias para reduzir problemas ambientais. 

Considerando as experiências positivas citadas anteriormente, este trabalho aborda como o conceito de upcycling poderia ser utilizado em projetos de Design Cenográfico. Tendo o artigo como objetivo a construção de um guia prático simplificado, com o intuito de auxiliar e orientar as pessoas na hora de criar um produto a partir do reaproveitamento de materiais em projetos cenográficos, baseado no conceito upcycling. Para desenvolver este estudo, primeiramente buscamos desenvolver a intersecção entre Cenografia, Arquitetura e Sustentabilidade com base em um estudo mais aprofundado sobre o upcycling. Além disso, analisamos 6 cases voltados a decoração e cenografia, entre os quais estão experiências de aplicação do upcycling em projetos autorais de decoração de interiores.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

Relação entre Cenografia e Arquitetura 

Desde a Grécia antiga, são usados elementos cenográficos na Arte e no Teatro, mas só a partir do século XX, na renascença, através de pinturas em perspectiva que a cenografia virou mercado. A partir disso, as técnicas de criação de elementos e cenários foram evoluindo, até que em 1967 foi criado um evento dedicado à cenografia, A Quadrienal de Praga, considerado o maior evento sobre Cenografia no mundo. 

O termo cenografia (skenographie, que é composto de skené, cena, e graphein, escrever, desenhar, pintar, colorir) se encontra nos textos gregos - A poética, de Aristóteles, por exemplo. Servia para designar certos embelezamentos da skené. Posteriormente é encontrado nos textos em latim (De architectura, de Vitruvio): scenographia. Era usado provavelmente para definir no desenho uma noção de profundidade. No Renascimento os textos de Vitruvio foram traduzidos, e o termo cenografia passou a ser usado para designar os traços em perspectiva e notadamente os traços em perspectiva do cenário no espetáculo teatral. 

Embora a Cenografia tenha sua origem ligada à Arquitetura, são áreas de conhecimento distintas. Isso não significa que elas andem separadas, somente possuem funções diferentes dentro do mercado, por exemplo, na Arquitetura e no Design de interiores, a maioria dos projetos residenciais/comerciais são pensados para uma utilização em longo prazo e com intuído de criar um espaço para a vida e necessidade das pessoas no seu dia a dia. Na Cenografia o espaço é projetado de forma mais lúdica, com projetos em curto prazo e transitórios. Com isso, um fator importante para relacionar a Cenografia com a Arquitetura, está no tempo/época, na necessidade do espaço e nas mudanças. 

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Brincando com Carrinhos: Associando Conceitos da Física às Atividades Lúdicas no Ensino Fundamental - anos finais


Um dos grandes problemas do ensino da Física nas séries finais do Ensino Fundamental em Ciências Naturais e do Ensino Médio é a dificuldade dos estudantes relacionarem os conceitos formais da dessa disciplina aos fatos cotidianos. Para minimizar esse problema e melhorar a compreensão do tema é necessário que o aluno reconheça e estabeleça um contato lógico entre as brincadeiras infantis e a Física, possibilitando, no futuro, a construção de conhecimento significativo que ampare com maior tranquilidade o arcabouço matemático que a matéria almeja. Esse trabalho busca mostrar aos estudantes de 11 e 12 anos, um caminho que relacione as brincadeiras infantis ao campo conceitual da Física, permitindo-os que, desde cedo, traduzam esses conceitos para a realidade.
 

Observando o currículo do ensino de ciências naturais das escolas públicas do Distrito Federal, temos que o ensino de Física inicia-se no 9º ano do Ensino Fundamental. Neste período os estudantes são apresentados aos conceitos básicos da Física, levados a realizar cálculos a partir de fórmulas pré-concebidas e pressionados a responder questionamentos sobre fenômenos que somente fazem sentido quando são frutos de uma experimentação e observação metódica. O que se observa dessa prática é o desenvolvimento do medo por parte do estudante em relação ao estudo dessa disciplina. Nesse sentido, é necessário mudar a visão do ensino de Física. É preciso desenvolvêlo desde as series iniciais do ensino fundamental fazendo com que o aluno construa os conceitos fundamentais da Física para que tenha maior tranquilidade ao utilizar o arcabouço matemático que envolve a matéria. 

A construção dos conceitos no campo da Física ou de quaisquer outros campos do conhecimento não pode ser mecânica ou repetitiva, ou seja, a apropriação do saber não pode ser arbitrária, mas sim, deve ser armazenado de tal forma que possa fazer conexões significativas. Nesse sentido Ausubel (1982), pensador norte americano, preconiza que um conhecimento novo deve se subsumir a um conhecimento pré-existente para que possa ter significado, formando o que denominou de aprendizagem significativa.

A aprendizagem significativa ocorre quando duas condições são satisfeitas: a vontade de aprender do estudante e o significado que aquele conteúdo tem para ele. Assim, um estudante motivado em contato com conteúdo significativo tem como resultado a aprendizagem significativa. Mantendo essa lógica podemos inferir que se os conceitos básicos de Física forem trabalhados nas séries iniciais pelo estudante, esse terá uma maior facilidade em relacionar os conceitos da Física à matemática que permeará essa disciplina desde as séries finais do ensino fundamental e durante todo o ensino médio.

Continuando o pensamento delineado e compreendendo que todo conhecimento deve apoiar-se em outro pré-existente, podemos facilmente identificar que o aluno que chega às séries finais do ensino fundamental está no fim da infância ou início da adolescência, sendo assim, o conhecimento que o mesmo possui está referenciado nas brincadeiras e brinquedos infantis, entre eles o carrinho de brinquedo.

O carrinho de brinquedo é um objeto de diversão amplamente utilizado pelas crianças, antes, mais pelos meninos, hoje, indistintamente. Esse brinquedo permite a observação de vários fenômenos físicos ligados à mecânica como: impulsão (força), energia potencial, energia cinética, movimento, velocidade, aceleração, desaceleração, atrito, distância percorrida, tempo, entre outros. Sendo assim, acreditamos que a utilização de brinquedos infantis (carrinho de brinquedo) na formação dos conceitos iniciais da Física é uma ferramenta que possibilita a construção da aprendizagem significativa proposta por Ausubel uma vez que permite o relacionamento dos conhecimentos prévios ao novo conteúdo que se busca dominar.

No caminho descrito, os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs preconizam: 

“A abordagem dos conhecimentos por meio de definições e classificações estanques que devem ser decoradas pelo estudante contraria as principais concepções de aprendizagem humana, como, por exemplo, aquela que a compreende como construção de significados pelo sujeito da aprendizagem, debatida no documento de Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Quando há aprendizagem significativa, a memorização de conteúdos debatidos e compreendidos pelo estudante é completamente diferente daquela que se reduz à mera repetição automática de textos cobrada em situação de prova”.

Nesse sentido compreendemos que o desenvolvimento cognitivo do estudante não é algo que seja aprendido no simples ato de folhear um livro, mas que sua construção ocorre a partir das experiências vividas e da compreensão do contexto histórico e cultural da humanidade.
 

Questão de pesquisa 

Estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental compreendidos na faixa etária de 11 a 12 anos, que não tiveram contato formal com conceitos do campo da Física, são capazes de relacionar esses conceitos aos fenômenos físicos que vivenciam no dia a dia? 

Para restringir o campo de observação, delimitamos a vivência desses estudantes às brincadeiras infantis, sendo mais específicos, às brincadeiras com carrinhos (modelo Hot Wheels) em competições de velocidade em rampa, tendo a energia potencial como única propulsora


Justificativa 

A introdução da Física como ciência formal ocorre no 9º ano do Ensino Fundamental e acompanha o estudante até o final do Ensino Médio. Nessa fase, dentro do estudo de Ciências Naturais, os estudantes são levados a aprender novas palavras e seus significados, relacionar essas palavras a um fenômeno físico e abstraí-lo na forma de número por meio de cálculos matemáticos. Para a maioria dos adolescentes, e não sem razão, é muito complicado fazer essas relações. Se compreender o significado de uma palavra nova já é um desafio para muitas pessoas, relacioná-la a um fenômeno e deduzi-la em forma matemática é quase um absurdo. 

Alguns estudantes conseguem realizar, por método próprio, associações que permitem a retenção de informações, mas aos vários outros que não conseguem relacionar esses novos conceitos às vivências anteriores, restará o caminho da memorização, ou seja, o velho decoreba. Sendo assim, descobrir quais os conceitos fundamentais da Física podem ser percebidos, compreendidos e descritos pelos estudantes do 6º ano é de suma importância para se definir o quanto do ensino dessa ciência pode ser desenvolvido nas séries seguintes, minimizando ao máximo o uso da memorização e potencializando a aprendizagem significativa. 
Por fim, muito se fala no uso de experimentos voltados ao ensino da Física como forma de embasar os conceitos da disciplina. No 9º ano do ensino fundamental existe uma gama de possibilidades, mas quase nada1 foi escrito sobre o ensino de Física no inicio desse ciclo.


Objetivo Geral 

Compreender as brincadeiras infantis (brincando com carrinhos de brinquedos) como uma importante ferramenta para a internalização de conceitos básicos da Física pelos estudantes do 6º ano do ensino fundamental. 

Objetivos Específicos 

Fazer com que o aluno: 

1. Observe as brincadeiras a partir de um olhar crítico buscando compreender porque determinados fenômenos ocorrem; 

2. Utilize e compreenda a função dos instrumentos de medidas como forma de auxiliar na compreensão desses eventos; 

3. Desenvolva o hábito de compartilhar observações como forma de construir conclusões. 


Revisão da Literatura 

Ausubel (1982) nos traz a ideia de que todo o conhecimento deve emergir de outro pré-existente sob o risco de construir no estudante uma aprendizagem mecânica, ou seja, “quando falta ao aluno o conhecimento prévio, relevante e necessário para tornar a tarefa potencialmente significativa” (Idem, 1982). Esse conhecimento anterior que deve servir de base ao estudante não precisa ser um pré-requisito, mas deve manter relação estreita com o novo conhecimento. No caso de estudantes de ensino fundamental do 6º ano, esses conhecimentos estão diretamente vinculados à infância, ou seja, são as brincadeiras tradicionais e até mesmo os videogames que permeiam a imaginação da criança que se aportam como subsunçores para o desenvolvimento de outros conhecimentos. 

Nesse mesmo sentido Paulo Freire (2009), que realiza toda uma construção pedagógica voltada à libertação do trabalhador por meio do desenvolvimento de uma consciência crítica e da contextualização do conhecimento compreende que ensinar não é depositar conhecimentos nos alunos como fazemos com dinheiro em bancos, mas levá-los a uma avaliação crítica do momento histórico em que vivem para que possam perceber a necessidade do conhecimento a partir da relação entre o saber anterior e o novo (Freire, 2009). 

Acreditamos que para um estudante de 11 ou 12 anos, que está desfrutando do início da adolescência, os conhecimentos mais significativos e prazerosos que ele tem são as brincadeiras infantis. Segundo Kishimoto (1999) brincar constitui uma conduta livre que traz prazer, satisfação, descoberta e divertimento. Seguindo a ideia de que o conhecimento de um préadolescente deve está totalmente ligado a sua infância, não há como desvincular o desenvolvimento de um novo conhecimento das brincadeiras infantis.

A brincadeira é definida como “uma atividade livre, que não pode ser delimitada e que, ao gerar prazer, exaure-se em sim mesma” (idem, 1999) e o brinquedo é simplesmente o objeto suporte da brincadeira. Logo, se conseguimos relacionar os conceitos da Física às brincadeiras infantis, no caso específico aos carrinhos de brinquedos, estaríamos dando significado ao novo conhecimento e oferecendo ao estudante uma possibilidade de se criar novas âncoras para os conhecimentos futuros. 



Caracterização da Pesquisa 

A pesquisa foi desenvolvida dentro de uma perspectiva qualitativa, ou seja, o professor/observador foi o instrumento para coleta de dados e a análise foi intuitiva, não usando para isto métodos ou técnicas estatísticas. Buscamos utilizar um método de observação semisistemático e estruturado, definindo os tipos de dados que queríamos observar, a forma de captação e a conduta do observador. Por fim, buscamos relacionar as hipóteses pré-estabelecidas aos dados coletado. 

Metodologia A pesquisa foi realizada no dia 02/06/2014 e precisou de uma total de 6 horas para sua execução, sendo 4 horas para organização do material e espaço e 2 horas para coleta de dados.

Público Alvo 

Foram observados 12 estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental do Centro de Ensino Fundamental 04 do Gama escolhidos de forma aleatória. 

Instrumentos de coleta de dados 

Foi utilizada como instrumento de coleta de dados, uma câmera de vídeo suspensa para gravar a explicação dos estudantes, pois foi premeditado que os mesmos não, necessariamente, teriam vocabulário para expressar o que pensavam. Também foi usado um gravador de voz e uma câmera fotográfica. 

Por fim, durante o desenvolvimento da pesquisa foi aplicado um questionário e ao final foi realizada uma entrevista coletiva, momento que se buscou perceber o entendimento ou não dos conceitos de Física que estavam por detrás da brincadeira.


Material 

No desenvolvimento do projeto foram utilizados os seguintes materiais. 

a) 20 carrinhos modelo Hot Wheels; 
b) 2 metros de comprimento de pista Hot Wheels; 
c) Uma trava de rampa modelo Hot Wheels; 
d) Um Data show; 
e) Um notebook; 
f) Quatro metros de anteparo de metal de 2 cm de altura; 
g) 16 metros de fio coaxial; 
h) Uma balança de precisão mínima de 1 miligrama e máxima de 200 miligramas. 
i) 3 cronômetros com precisão mínima de 1 centésimo de segundo e máxima de 99 minutos; 
j) Uma filmadora digital; 
k) Cinco hastes para marcação de posição; 
l) Um gravador digital;
m) 4 fitas métricas de 1,5 metros; 
n) Uma máquina fotográfica digital; 
o) 8 folhas de papel A4. 
p) 50 centímetros de fita dupla face. 

Método 

Organização do material e do espaço 

a. Foi instalada uma rampa Hot Wheels a 1m (um metro) de altura em uma sala com piso liso de 9 m de comprimento. A rampa Hot Wheels ficou com 2,0 m de comprimento e após essa medida os carrinhos passavam a andar pelo piso da sala. Como os carrinhos não foram preparados para manter um movimento retilíneo, anteparos foram colocados na pista por 8m evitando com que os mesmos fizessem curvas significativas, fato que impediria que a medida de distância fosse realizada de forma simplificada como era o desejado. Esses anteparos nos primeiros dois metros eram constituídos por estruturas de 2 cm de altura, pois devido à velocidade alcançada, os carrinhos pulavam os anteparos mais baixos. No restante do comprimento foram usados fios coaxiais. O percurso que o carrinho passaria foi numerado metro a metro. A partir dos quatro metros, tendo como referência o inicio da rampa, a pista foi marcada com fita métrica para permitir a observação dos centímetros. 

b. Foram usados 20 carrinhos modelo Hot Wheels. Os carrinhos foram numerados de 1 a 20 vinte e colocados em ordem uma garagem marcada por barbantes. 

c. Foi disponibilizada uma balança para pesagem dos carrinhos. Sobre ela foi colocado um prato para permitir uma maior distribuição do peso do carrinho e realizada a tara com este objeto. 

d. Três cronômetros com o objetivo de marcar o tempo de duração do movimento dos carrinhos.

e. Os carrinhos não foram pesados anteriormente, pois, embora o peso fosse uma das características que possibilitaria um grupo ganhar ou não a disputa, não era esse o interesse da pesquisa, mas entender se os estudantes percebiam os conceitos de Física que emanavam da brincadeira. 

Apresentação das normas aos estudantes para realização das atividades 

1. Os estudantes foram orientados a brincar em grupos de quatro pessoas; 

2. O quarteto foi orientado a se comportar como uma equipe profissional que competiam usando carrinhos de brinquedos;

3. Os estudantes foram orientados a colocar os carrinhos sobre a rampa, mas não poderiam empurrá-los, mas soltá-los;

4. Cada equipe podia escolher qualquer carrinho que estiver estacionado. 
5. A equipe deveria devolver o carrinho para o estacionamento sempre que finalizasse o procedimento. 6. Cada carrinho somente poderia ser testado três vezes por cada equipe. 
7. O uso da rampa ocorreu de forma alternada, ou seja, primeiro a rampa foi usada pela equipe 1, em seguida pela equipe 2, depois pela equipe 3 e assim sucessivamente. 
8. As equipes podiam liberar os carrinhos das rampas quantas vezes quisessem no tempo de 30 minutos. 9. Após os 30 minutos, as equipes tiveram 5 minutos para escolher com qual carrinho iriam competir e responder o questionário que lhes foi entregue. 
10. Foi definido que após a escolha do carrinho as equipes não poderiam mais trocá-lo. 
11. Durante a competição cada equipe podia liberar o carrinho por três vezes seguidas sendo descartadas as duas piores colocações. 
12. Coube ao professor cronometrar o tempo na competição final. 
13. Em casso de empate na distância percorrida, ficou definido que o tempo seria usado para realizar o desempate.
14. Foi considerada campeã a equipe que na competição final escolheu o carrinho que chegou mais distante na pista. 

Após a exposição das regras os grupos foram numerados por sorteio e conduzidos até a rampa, momento em que foi realizado um breve treinamento do uso dos equipamentos (tabela, cronômetro, balança e fita métrica). 

Realização da Atividade 

a) Os grupos alternaram-se por 30 minutos, sempre usando o mesmo procedimento: 

i. Anotar o número do carrinho; 

ii. Pesar o carrinho; 

iii. Cronometrar e anotar o tempo até o repouso do carrinho; 

iv. Anotar o espaço percorrido.

b) Finalizado o tempo, os estudantes tiveram que indicar qual o carrinho seria usado na competição. 

Após indicação dos carrinhos pelos grupos, os mesmos foram levados a responder duas perguntas por escrito.

Questionamento a respeito de conceitos formais de Física 

Os estudantes foram orientados a prestarem atenção à projeção dos slides. Esses traziam os seguintes conceitos de Física: energia potencial, velocidade, aceleração, atrito e desaceleração. 

Os conceitos foram lidos duas vezes pelo professor e não houve explicação dos mesmos. Para cada conceito que era apresentado, os estudantes eram submetidos a um conjunto de perguntas que deviam ser respondidas oralmente ou por meio de marcações. Por fim, os estudantes foram informados que a qualquer momento poderiam mudar uma resposta informada. 

Resultados e Discussão 

Um dos objetivos dessa pesquisa era observar a habilidade dos estudantes em relação ao uso de instrumentos de medidas e a capacidades dos mesmos de tomar decisões a partir dos dados obtidos. 

Interpretando as tabelas de medições e a escolha dos carrinhos 

Conforme informado, todos os grupos puderam trocar os carrinhos por seis vezes e entre as trocas deveriam anotar em uma tabela as informações de cada carrinho. No quinto teste, os estudantes foram avisados que poderiam usar a pista por uma última vez. Após o uso da pista pelas três equipes eles tiveram cinco minutos para escolher os carrinhos.




Os grupos 1 e 2 escolheram o carrinho com a segunda maior massa. Percebeu-se que a escolha foi condicionada apenas pela distância percorrida, ou seja, a massa e o tempo não foram considerados. Buscaram apenas alcançar o objetivo definido no inicio da atividade. 

O grupo 3 escolheu o carrinho com maior massa, realizando uma ação que estava dentro do esperado. No entanto, o grupo avaliou o carrinho em dois momentos distintos: primeiro durante os testes e, em segundo, quando foi avisado que usaria a pista pela última vez. Uma avaliação superficial do comportamento do grupo nos faz acreditar que o mesmo não quis contar com a sorte buscando observar um novo carrinho, pelo contrário, resolveu apostar nos dados que já possuía. Essa lógica parece se fundamentar quando o grupo escolhe o carrinho para a disputa. Mesmo percebendo que ele não alcançou o objetivo esperado, percorrendo, inclusive, uma distância menor que outros dois já testados, o mantem como escolhido. 

Por fim, o grupo 3 logrou-se vencedor fazendo seu carrinho percorrer 8,49 metros contra 8,17 metros do grupo 2 e 7,35 metros do grupo 1.

Relacionando os conceitos de Física à ludicidade dos carrinhos de brinquedos 

No momento da apresentação dos conceitos e da observação da capacidade dos estudantes interpretá-los à luz da brincadeira, foi trabalhado cinco conceitos da mecânica clássica, sendo eles: energia potencial, velocidade, aceleração, atrito e desaceleração. A escolha desses conceitos foi aleatória, ou seja, não foram avaliados grau de complexidade, relação de dependência ou qualquer outro fator, apenas se os mesmos emergiam da brincadeira. 

A apresentação dos conceitos ocorreu após a competição por meio de projeção por slides e leitura oral pelo professor. Os dados foram gravados por meio de áudio e vídeo e o resultado passa a ser descrito a seguir.

Energia potencial 

A energia potencial pode ser definida como sendo: a energia armazenada em um objeto a partir da interação por meio da força gravitacional com a terra e que tem a potência de se transformar em energia cinética (Serway, 2009). Reestruturando o conceito para compreensão dos estudantes, a energia potencial ficou definida como: 

Sempre que um objeto se encontra no alto falamos que ele tem energia potencial. A energia potencial pode fazer um objeto se movimentar. 

Velocidade 

A velocidade média pode ser definida como a razão do deslocamento de uma partícula para um determinado intervalo de tempo (Serway, 2009). Reestruturando o conceito para compreensão dos estudantes, a velocidade ficou definida como: 

Todas as vezes que um objeto se move, ele sai de um lugar para outro. Esse movimento pode ser cronometrado, ou seja, pode-se medir o tempo. A distância percorrida pelo carrinho nesse tempo chama-se velocidade.

Aceleração 

A aceleração pode ser definida como a rapidez com que a velocidade muda em relação a um intervalo de tempo (Serway, 2009). Reestruturando o conceito para compreensão dos estudantes, a aceleração ficou definida como: 

Acelerar o carrinho é variar sua velocidade no decorrer do tempo. Quanto mais rápido fica o carrinho, mas acelerado ele está. Aceleração é o aumento da velocidade. 

Desaceleração 
A desaceleração pode ser definida como a aceleração negativa ou o momento em que o vetor velocidade e o vetor aceleração têm direções opostas (Serway, 2009). Reestruturando o conceito para compreensão dos estudantes, a desaceleração ficou definida como: 

Desacelerar o carrinho é diminuir a velocidade. Quanto mais desacelerado, mais o carrinho perde a velocidade. 

Atrito 

A força de atrito pode ser definida como a resistência que um meio exerce sobre objeto em movimento (Serway, 2009). Reestruturando o conceito para compreensão dos estudantes, a força de atrito ficou definida como: 

Atrito é uma força que faz com que o carrinho que está em movimento pare. Quanto mais áspera for a pista, mais forte é o atrito e mais rápido o carrinho em movimento para. 

Conclusão 

Diante do agregado concluímos que crianças de 11 a 12 anos conseguem compreender conceitos de física a partir de atividades lúdicas quando são conduzidas com essa finalidade. Acreditamos que o estudante, ao acostumar-se a realizar esse tipo de correlação (prazer/aprendizado), mude o seu olhar em relação à aprendizagem, passando naturalmente a compreender o porquê determinados fenômenos ocorrem, a importância dos instrumentos na compreensão desses e como seus pares podem auxiliar na construção de conclusões. Essa prática também possibilita que os estudantes percebam o motivo do avanço da tecnologia e da criação de aparelhos mais sofisticados, ou seja, compreendam que as ferramentas são apenas meio para se alcançar um objetivo, o conhecimento.

Nesse sentido, entendemos que a captação dos conceitos da Física pelos estudantes do ensino fundamental (anos finais) por intermédio de brincadeira com carrinhos de brinquedo é possível. Acreditamos que os conceitos que não foram compreendidos pelos alunos, assim ocorreram, não por erro do método, mas por erro de questionamentos. A busca dos questionamentos corretos indubitavelmente leva ao conhecimento e, um aluno que entende o sentido de energia potencial, energia cinética, velocidade, aceleração atrito etc. terá, certamente, tranquilidade em relacionar esses conceitos à matemática.

Com isso, podemos concluir que se esses conceitos forem apresentados a estudantes do ensino fundamental por meio de estímulos que eles reconheçam como prazeroso, e se esses estímulos forem revestidos por um arcabouço técnico permeado por questionamentos previamente construídos para realizar essa inter-relação, entendemos que o estudante, necessariamente, reconhecerá o conceito da Física nas brincadeiras que outrora considerava infantis, ou seja, tornará o conceito, antes frio, agora significativo.