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quinta-feira, 23 de julho de 2020

A ciência na cozinha

Reaproveitamento de alimentos - Nada se perde tudo se transforma.

No Brasil, estima-se que cerca de 68 mil toneladas de alimentos vão parar no lixo diariamente, portanto, é considerado um dos mais ricos do mundo, e taxado como o país do desperdício (BADAWI, 2009). Os supermercados são os maiores responsáveis pelas perdas alimentares, jogando fora 13 milhões de toneladas de alimentos por ano. As feiras livres de São Paulo contribuem com mais de mil toneladas diárias, e o desperdício no consumo doméstico chega a 20%. Infelizmente, as perdas não se resumem apenas aos alimentos, mas também envolve questões de cunho financeiro do país, visto que há uma cifra de 12 bilhões de reais desperdiçada junto a eles (MAPA,2007).

O desaproveitamento de alimentos promove ainda um impacto negativo no meio ambiente
em função da inadequada deposição do lixo alimentar no solo, tendo consequências danosas como o
odor gerado pela putrefação da matéria orgânica e a formação do chorume, que normalmente
encontra-se contaminado e tem potencial para atingir rios e os lençóis freáticos (SANTOS, 2008).

A utilidade completa dos alimentos é uma alternativa capaz de propiciar às pessoas um melhor consumo nutricional, melhoria da economia relacionada aos alimentos e a relação ecológica entre o homem e o meio ambiente em que vive, uma vez que o aproveitamento tem como consequência a redução do lixo (SILVA et al, 2005). Através do aproveitamento das partes comumente inutilizadas, é possível não só alimentar um número maior de pessoas, mas também reduzir as deficiências nutricionais que possam existir, uma vez que boa parte dos alimentos desperdiçados contém nutrientes com alto valor nutricional.

 Diante da problemática enfrentada pelo Brasil e o mundo em relação ao desperdício de alimentos, e sem falar sobre o número de pessoas no Brasil que não tem o que comer, este projeto surgiu com o intuito de conscientizar os educandos sobre o valor da reutilização dos alimentos, bem como as ações que evitem o desperdício e promovam a melhor distribuição dos mesmos pela população em geral, procurar sensibilizar os discentes sobre a temática e para o desempenho da condição de cidadão.

O projeto de intervenção intitulado “A Ciência na Cozinha: Reaproveitamento de Alimentos; nada se perde tudo se transforma”, foi realizado em uma Escola Municipal , com um público-alvo de 27 alunos do 4º ano do ensino fundamental.

 Como problema a ser investigado no projeto: De que maneira seria possível conscientizar os alunos do 4º ano de uma Escola Municipal a se habituar a variados tipos de alimentos em uma alimentação saudável com o reaproveitamento de alimentos como cascas, talos e sementes?

O projeto teve como objetivo geral: Sensibilizar os alunos do 4º ano sobre o desperdício de alimentos; e objetivos específicos foram: Informar sobre a importância do reaproveitamento dos alimentos; explicar como reaproveitar esses alimentos a fim de evitar desperdício e incentivar a criatividade dos alunos para a criação de receitas alternativas.

Com este projeto pretendeu-se favorecer a aprendizagem e estimular o desenvolvimento do conhecimento científico, por intermédio da pesquisa e experiência.

O presente artigo aborda com o referencial teórico sobre a questão da alimentação saudável e o desperdício de alimentos; aponta sobre a metodologia abordada sobre a temática e os resultados obtidos durante a aplicação do projeto.

No Brasil, a fome é uma indagação para ser discutida no estabelecimento de ensino e a discussão começa pela situação de vida dos alunos e seus direitos e deveres como cidadãos.

O papel dos educadores é importante, pois devem preparar seus alunos para a estrutura de uma sociedade mais igualitária, em que as pessoas tenham não apenas o direito, mas as condições necessárias para usufruir de uma alimentação equilibrada qualitativa e quantitativamente sem desperdiço.

O combate ao desperdício pode começar de maneira bem simples, como através do aproveitamento das partes tradicionalmente não usadas dos alimentos. O aproveitamento integral de alimentos significa usar os nutrientes contidos em partes usualmente não aproveitadas tais como talos, cascas, sementes, folhas, entre outros, permitindo a preparação de novas receitas saudáveis e criativas para o cotidiano, contribuindo para uma alimentação mais rica.

Reaproveitamento de Alimentos: nada se perde tudo se transforma, onde se evidencia a Alfabetização Científica discutida nessa abordagem. Torna-se prioritário, dentro deste prisma, elencar situações de ensino-aprendizagem onde os alunos possam ser instigados à reflexão sobre os hábitos alimentares e a relevância destes para um padrão de vida melhor. O projeto aplicado aos alunos do 4º ano descreve o interesse de uma alimentação saudável, onde relata a importância de se aproveitar o alimento integralmente.

Com o reaproveitamento integral de alimentos podemos evitar o desperdício através da conscientização, fazendo com que a alimentação de muitas pessoas melhore, pois o Brasil está em 1º lugar no ranking por jogar alimentos perecíveis no lixo. Enquanto isso, milhões de pessoas passam fome, outras desperdiçam toneladas de alimentos por dia (BRASIL, 2006). Esta situação é um grande problema que acontece nos lares e também nas escolas, onde vários alimentos vão parar direto na lixeira.

 A educação ainda é a uma das saídas mais eficientes para o desenvolvimento da cidadania, pois desperta no indivíduo a reflexão, colaborando para a formação de um indivíduo prático e integral dentre todas as relações por ele adquiridas. Portanto, é essencial instruir os alunos não só na disciplina de Ciências a combater esses desperdícios de alimentos, mas de maneira interdisciplinar, para que ele perceba essa relação no contexto do seu cotidiano e possa assim relacionar com seus hábitos e atitudes.

Sob essa ótica, o ensino de Ciências nos anos iniciais deverá proporcionar a todos os indivíduos, saberes e possiblidades de progresso de recursos necessários para se orientarem nesta sociedade complexa, entendendo o que se passa à sua volta, tomando posição e intervindo na sua realidade.

Desta maneira, conscientizando os alunos sobre o desperdício de alimentos, se estará proporcionando condições para que o aluno exerça a sua cidadania. Pois, segundo Delizoicov e Angotti (1990), para o indivíduo exercer sua cidadania, ele deve ter um mínimo de formação básica em ciências e deve ser desenvolvido, na maneira a fornecer ferramentas que possibilitem um melhor entendimento da sociedade em que vivemos.

Nesse sentido, as pessoas devem receber pelo menos uma formação mínima em ciências para a sua formação cultural, uma vez que o centro do conhecimento científico das Ciências Naturais é parte constitutiva da cultura elaborada. Ademais, é na esfera dos anos iniciais que a criança constrói seus conceitos e apreende de modo mais significativo o ambiente que a cerca, através da apropriação e compreensão dos significados apresentados mediante o ensino das Ciências Naturais.

A influência da ciência e da tecnologia no mundo contemporâneo é notória, fazendo parte de várias atividades humanas. No entanto, o desenvolvimento científico tecnológico vem causando mudanças significativas nos âmbitos social, econômico, político e cultural e estas influências clamam não apenas por reflexões sobre desenvolvimento e vida social, mas também por tomada de
consciência e mudança de atitudes com relação aos problemas ambientais, éticos e de qualidade de
vida relacionadas a estes avanços.

Alfabetizar, portanto, os cidadãos em ciência e tecnologia é hoje uma necessidade do mundo contemporâneo (SANTOS e SCHNETZLER, 1997). Não se trata de mostrar as maravilhas da ciência, como a mídia já o faz, mas de disponibilizar as representações que permitam ao cidadão agir, tomar decisão e compreender o que está em jogo no discurso dos especialistas (FOUREZ, 1995). Essa tem sido a principal proposição dos currículos com ênfase em CTS. 

Segundo Oliveira et al, (2002) citado por Damiani et al, (2008), nos últimos anos, diversos pesquisadores brasileiros vêm estudando o aproveitamento das partes de vegetais, legumes e frutas não consumidas, tais como as cascas descartadas pela agroindústria, que podem ser utilizadas para a produção de alimentos ou ingredientes, e inclusive, incluídos na dieta humana. 

No que tange a saúde humana, a utilização integral dos alimentos pode contribuir de forma bastante eficiente parauma refeição mais nutritiva, resultando em uma melhor qualidade de vida. 

Para Oliveira et al (2002) e Prim (2003), no momento em que houver um trabalho de educação alimentar que promova a consciência de que os resíduos de vegetais e frutas desprezados, também são ricos em sais minerais, vitaminas e fibras, o desperdício de alimentos diminuirá, a fome terá maneiras de ser evitada, haverá uma maior economia doméstica, ou seja, a estes restos será agregado valor econômico e social e, consequentemente, diminuirão os resíduos depositados no meio ambiente. 


Metodologia 

O projeto de pesquisa intitulado A Ciência na Cozinha: Reaproveitamento de Alimentos; nada se perde tudo se transforma foi apresentado na Escola Municipal, no turno vespertino, com um público alvo de 27 alunos do 4º ano do ensino fundamental. O trabalho se deu em quatro etapas: 

1ª etapa: Conhecimento prévio da turma. Nessa etapa os alunos foram questionados através de conversa informal a respeito da alimentação saudável: se eles sabiam o que era, quais as frutas que eles mais gostavam, se eles comiam verduras e legumes todos os dias, etc. 

2ª etapa: Exposição de frutas e legumes; aula expositiva e dialogada utilizando recursos audiovisuais sobre os tipos de vitaminas encontradas nos alimentos e os benefícios de cada fruta, verduras e legumes, bem como o que ocasiona no organismo a sua carência. 

3ª etapa: Apresentação de vídeos – disponíveis no YouTube (Alimentação Saudável e Campanha contra o desperdício de alimentos) - mostrando a realidade do Brasil sobre o desperdício de alimentos e o que podemos fazer para evitar esse desperdício, reaproveitando sobras de alimentos, talos e sementes. 

4ª etapa: Culminância do projeto com degustação de sucos naturais, bolo de casca de banana, doce da entrecasca da melancia e doce de maçã, feitos pela pesquisadora. 

Conclui-se que o desperdício dos alimentos pode ser evitado através de um planejamento e de um trabalho educacional na escola, pelo esclarecimento dos alunos e da comunidade sobre a utilização dos alimentos, além de que, uma alimentação alternativa pode melhorar a nutrição, servir de auxílio para a economia dos indivíduos, e também auxiliar na diminuição do lixo que é produzido. O projeto se mostrou muito significativo para as crianças, que se envolveram e se sensibilizaram com a reflexão sobre uma alimentação mais saudável. Pode-se perceber que muitas informações já são de conhecimento dos alunos, mas que na prática muitas vezes não se traduzem. Desta forma, se verificou que o tema deve ser retomado com novas dinâmicas, reforçando a necessária mudança para hábitos mais saudáveis.



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