POR RENATA BRAVO - DESDE 2013
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No mundo globalizado, nos deparamos com um consumismo exagerado na aquisição de bens de consumo por parte de todas as populações e, com isso, acabamos produzindo uma quantidade enorme de lixo por habitante, cujo destino final nem sempre é o adequado pelos governos e políticas de saúde dos países. Estudos revelam que 30% do lixo produzido no Brasil, são jogados nas ruas sem nenhuma preocupação por parte da população, isto acaba ocasionando problemas sérios e graves ao meio ambiente que afetam a todos nos grandes centros urbanos. Problemas como: entupimento de bueiros e galerias pluviais, podem causar doenças transmitidas pela água contaminada que tem dificuldade de escoar, propiciando doenças como: cólera, hepatites, leptospirose, dengue entre outras. A contaminação do solo também é um indicativo importante para surgimento de outras doenças na população, cuja transmissão ocorre predominantemente por animais sinantrópicos como: roedores, insetos, aranhas entre outros. É importante que tenhamos uma responsabilidade ambiental no sentido de mudar paradigmas, nos cerceando de conscientização coletiva, para mudança de hábitos nas pessoas, para que possamos melhorar a nossa qualidade de vida com atitudes como:
-Realizar coleta seletiva de lixo em: indústrias, residências, serviços de saúde, restaurantes e Instituição de longa permanência para idosos entre outros; -Utilizar materiais recicláveis na construção civil; -Estimular o surgimento de cooperativas com inclusão de catadores de materiais recicláveis; -Preservar e recuperar áreas verdes; -Estimular a agricultura urbana; -Usar copos individuais nos locais de trabalho.
Com estas atitudes individuais, conseguiremos alcançar o objetivo de um meio ambiente mais saudável e agradável para futuras gerações, isentando-as de acometimento por doenças e complicações destas, que podem evoluir para mortes, decorrentes do desrespeito ao solo urbano e rural , no qual estamos vivenciando atualmente.
VAMOS SUPERAR A ERA DO DESPERDÍCIO E TRANSFORMAR O LIXO EM RECURSO.

domingo, 22 de dezembro de 2024

A subtração

“Deus, o arquiteto do universo”, iluminura em pergaminho, elaborada entre 1.220 e 1.230. Para muitos estudiosos medievais, a ciência – e particularmente a geometria e a astronomia – estavam ligados ao divino.

A

escrita cotidiana egípcia era a hierática, como já comentado; entretanto, vejamos (a título ilustrativo) como seria a subtração de 546 por 287 na escrita hieroglífica:

Os pés andando para trás (segundo nosso sentido de escrita e leitura, da esquerda para a direita) indica uma subtração. Neste exemplo, as dezenas e as unidades do minuendo 546, respectivamente 4 e 6, são menores que as dezenas e as unidades do subtraendo 287 (8 e 7). Sempre que ocorrerem situações como esta, o minuendo deve ser ajustado, de modo que sua quantidade de hieróglifos esteja sempre em maior número que a quantidade de hieróglifos do subtraendo. Assim, substituímos 1 rolo de corda por 10 pedaços de corda no minuendo:
De modo análogo, expandimos as unidades, representadas por traços verticais, substituindo um pedaço de corda por 10 traços verticais, conforme a equivalência quantitativa entre esses hieróglifos. O número 546 finalmente passa a conter 4 rolos de corda, 13 pedaços de corda e 16 traços verticais, assumindo a seguinte forma:
Agora que a quantidade de hieróglifos do minuendo (546) são maiores que a correspondente quantidade de hieróglifos do subtraendo (287), a subtração não só é possível, como muito simples. Começando pelos traços verticais, subtraímos 7 traços de 16, restando 9. Obteremos o resultado parcial abaixo:
Em seguida, subtraímos 8 pedaços de corda de 13, restando 5. O resultado até aqui é este:
Por fim, subtraímos 2 rolos de corda de 4, restando 2. O resultado final desta subtração em hieróglifos será:
Cujo valor decimal corresponde a 259, que é o resultado de 546 – 287. Se a soma egípcia não era muito prática, a subtração tampouco tornava o cálculo mais simples. Por outro lado, o método maia de subtrair guarda certa semelhança com o egípcio, mas como faziam uso de poucos símbolos para representar seus números e como seu sistema numérico era posicional, o procedimento de um modo geral é mais simples e visualmente mais fácil de entender. Assim, usando o exemplo anterior, vejamos como se subtrai 287 de 546 no modo maia. Tal como na soma, colocamos as colunas dos números a serem subtraídos lado a lado, posicionando preferencialmente o minuendo à esquerda e o subtraendo à direita. A operação aritmética e o resultado serão executados no minuendo, deixando o subtraendo inalterado.
Na subtração, para as caixas de mesmo nível, um feijão anula outro feijão e um canudo de palha anula outro canudo. E a substituição de um feijão numa caixa de um determinado nível vale dois canudos de palha na caixa do nível imediatamente abaixo. Como as unidades e as dezenas do minuendo são menores que as do subtraendo, o procedimento maia assemelha-se ao egípcio no sentido de que deixaremos cada caixa do minuendo com uma quantidade maior de feijões e canudos que as correspondentes caixas do subtraendo antes de executar a subtração. Seguindo esse raciocínio, na caixa das unidades temos menos feijões no minuendo que no subtraendo. Então, pegaremos um feijão da caixa das dezenas no minuendo e o transformaremos em dois canudos de palha na caixa das unidades; ao mesmo tempo, um destes canudos será convertido em 5 feijões. O resultado parcial será:
Na caixa das dezenas, o minuendo possui igual número de feijões que o subtraendo, mas não tem nenhum canudo. Então, substituímos o canudo das centenas por 5 feijões e passamos um deles para baixo, que será transformado em dois canudos. O novo resultado até aqui será:
Como a caixa das centenas do minuendo tem mais feijões que a do subtraendo, então agora podemos proceder à subtração de fato. Na caixa das unidades, anulamos respectivamente um canudo e dois feijões do minuendo com um canudo e dois feijões do subtraendo, resultando:
Na caixa das dezenas, seguimos o mesmo raciocínio: anulamos um canudo e três feijões do minuendo, em correspondência à mesma quantidade de feijões e canudo na caixa das dezenas do subtraendo; o novo resultado parcial será:
Por fim, na caixa das centenas, anularemos dois feijões do minuendo, em correspondência aos dois feijões do subtraendo. O resultado final será:
O número decorrente da subtração, obtido na coluna à esquerda (onde antes estava o minuendo), como não poderia deixar de ser, é 259. De fato, o método maia de calcular é muito interessante e sem dúvida um dos mais eficientes e eficazes do mundo antigo. Voltando agora nossos olhos para a civilização helênica, vejamos como os gregos procediam à subtração por meio da geometria e, na sequência, através da aritmética. Sendo assim, se gregos fôssemos, subtrairíamos geometricamente do seguinte modo: com uma régua, desenhe um segmento de reta, cujas extremidades tenham seus pontos identificados pelas letras A e D.
Agora, com um compasso, construa um círculo com centro em A e raio de magnitude igual a 4. Chame de B o ponto de intersecção entre o segmento de reta AD e o círculo.
Novamente com o compasso, construa um círculo com centro em B e raio de magnitude igual a 2. Chame de C o ponto de intersecção entre o segmento de reta AB e o novo círculo.
Enfim, com uma régua, conecte os pontos A e C. Este segmento de reta (destacado em laranja) é a diferença, ou a subtração, dos raios dos círculos azul e vermelho. Simples como a soma geométrica.
Vejamos agora como proceder à subtração aritmética grega de 546 por 287 utilizando como referência o soroban. Primeiramente, zeramos o ábaco:
Em seguida, posicionamos o número 546 no soroban, deslocando as contas em direção à trave central; ou seja, uma conta azul (que vale 5) na vareta (C), 4 contas laranjas (valendo 1 cada) na vareta (B) e 1 conta azul e 1 conta laranja na haste (A), formando o número desejado, conforme abaixo:
Isto posto, iniciemos a subtração de 278 em 546. Primeiro, subtraímos 2 na vareta (C), incorrendo no afastamento da conta azul da trave central e respectiva aproximação de 3 contas laranjas (3 = 5 – 2). Teremos:
Agora, subtraímos 8 na vareta (B); porém, há apenas 4 contas laranjas disponíveis nessa haste para subtração. Assim como na soma, existem regras específicas para subtrações neste ábaco e da qual faremos uso, que estão descritas na tabela a seguir:
A primeira regra é descartada de imediato, pois foi justamente isso que tentamos fazer (subtrair 8); então a segunda regra diz: "subtrair 10 e somar 2", onde subtrair 10 significa diminuir de 1 na vareta à esquerda, ou seja, na (C), e somar 2 significa somar na própria vareta (B) que, já tendo 4, passa a 6, o que implica em aproximar 1 conta azul e manter 1 conta laranja junto à trave central. O resultado será:
Enfim, subtrairemos 7 de 6 na haste (A); novamente, como há menos contas disponíveis que aquelas a serem retiradas, recorremos mais uma vez à tabela. A primeira regra será logo descartada, pois subtrair 7 é o que gostaríamos de ter feito desde o início; então, vamos à segunda regra, que diz: "subtrair 10 e somar 3", onde subtrair 10 significa retirar 1 da vareta à esquerda (ou seja, a (B)), e somar 3 é feito na própria haste (A), aproximando mais 3 contas laranjas à trave central. Teremos:
A leitura do ábaco indica o resultado esperado desta subtração: 259. Passando agora para a aritmética hindu, vejamos como esse povo fazia uma subtração, aproveitando o mesmo exemplo usado até aqui: 546 – 287, começando o cálculo da direita para a esquerda (ao contrário do que faziam na soma, onde iniciavam da esquerda para a direita). Havia duas maneiras de calcular. Vejamos a primeira delas:
Neste exemplo, devemos subtrair 7 de 6 nas caixas vermelhas das unidades, mas como 6 é menor que 7, os hindus "pegavam emprestado" no minuendo 1 dezena da caixa azul. Agora é possível subtrair 7 não de 6, mas de 16, restando 9, conforme abaixo:
O próximo passo será diminuir 8 de 3, o que mais uma vez não é possível, exigindo um novo "empréstimo", tomando do minuendo 1 centena na caixa laranja; deste modo, subtraímos 8 não de 3, mas de 13, restando 5, conforme a seguir:
Finalmente, subtraímos 2 de 4, restando 2:
A segunda maneira de subtrair utilizada pelos hindus altera apenas o destinatário dos "empréstimos". Vejamos o mesmo exemplo com esta abordagem: subtrair 7 de 6 exige tomar emprestado 1 dezena, fazendo com que, após o empréstimo, subtraia-se 7 de 16 (como antes) sem, entretanto, alterar o valor das dezenas na caixa azul do minuendo, mas somando uma dezena à caixa azul do subtraendo, conforme mostrado a seguir:
Agora, temos de subtrair 9 de 4, o que mais uma vez não é possível. Então, tomamos emprestado 1 centena, fazendo com que se subtraia 9 de 14 (restando 5), sem alterar o valor das centenas na caixa laranja do minuendo, porém somando 1 centena na caixa laranja do subtraendo, conforme segue:
A conclusão óbvia deste cálculo, subtraindo 3 de 5, restará 2, que é o resultado esperado:
Note que a única coisa que muda nesta abordagem é que, ao invés de subtrair-se o empréstimo uma casa decimal acima, no minuendo, soma-se o empréstimo uma casa decimal acima, no subtraendo. Por fim, na idade média, os matemáticos aprenderam a subtrair com Fibonacci, a partir do quarto capítulo de seu “Liber Abbaci”, cujo método estava assentado na primeira abordagem dos hindus, que é a maneira pela qual aprendemos a subtrair ainda hoje na escola. Agora que já sabemos somar e subtrair segundo o ponto de vista das antigas civilizações, vamos multiplicar nossos conhecimentos! 

 

Referências bibliográficas:

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Fink, K. G. “A brief history of mathematics”, The Open Court Publishing Co., 1900.

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Penrose, R. “The road to reality: A complete guide to the laws of the universe”, Jonathan Cape, 2004. ISBN: 0-224-04447-8.

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Joseph, G. G. “The crest of the peacock: non-european roots of mathematics”, Princeton University Press, 2011. ISBN: 978-0-691-13526-7.

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Sigler, L. “Fibonacci’s Liber Abaci – A translation into modern English of Leonardo Pisano’s Book of Calculation”, Springer Science+Business Media New York, 2003. ISBN: 978-0-387-40737-1; ISBN-e: 978-1-4613-0079-3.

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Høyrup, J. “Leonardo Fibonacci and abbaco culture: a proposal to invert the roles”, Filosofi Og Videnskabsteori På Roskilde Universitetscenter 3. Række: Preprints og reprints, 2004, No. 1.

[12]

Tejón, F. “Manual para uso do ábaco japonês - Soroban”, Editerio Krayono, Ponferrada, Espanha, 2007. Tradução de Raimundo Viana.

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