O evento é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O festival é marcado pela disputa entre os bois-bumbás Garantido e Caprichoso, que representam agremiações folclóricas rivais. As apresentações acontecem no Centro Cultural de Parintins, também conhecido como Bumbódromo.
Características do festivalO festival é uma manifestação cultural ligada à tradição do boi-bumbá
O festival popularizou elementos da cultura indígena, africana e europeia
As toadas cantadas no festival são muito populares e ficam disponíveis em serviços de streaming
O festival é transmitido pela TV A Crítica
História do festival
O festival foi criado em 1965 para angariar recursos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo.
O Festival Folclórico de Parintins povoa o imaginário Amazônico e, por isso,
nos últimos anos tem sido alvo de muitas pesquisas e estudos nas áreas da Antropologia,
da Educação, do Meio Ambiente e de áreas afins. É uma festividade que vem aguçando
a curiosidade de vários estudiosos, ocasionando trabalhos acadêmicos, como livros,
monografias, dissertações e teses. É uma manifestação cultural que tem se destacado e
inspirado outras festividades no interior do estado do Amazonas e até mesmo no
Carnaval do Rio de Janeiro, despertando o interesse, principalmente, de folcloristas.
É uma festividade que permeia o município de Parintins há várias décadas. O
que se iniciou de forma modesta, como uma simples brincadeira entre amigos, é hoje a
marca da cidade, ganhou contorno nacional e até internacional, modificando o modo de
vida da população e, principalmente a sua economia. É uma festa que possibilita a união
de diferentes culturas e propõe um novo olhar sobre o brincar de boi e a Amazônia, de
modo mais consciente, levando em consideração as questões socioambientais.
Conforme Brandão (1989, p. 9): “A festa se apossa da rotina e não rompe, mas
excede sua lógica, e é nisso que ela força as pessoas ao breve ofício ritual da
transgressão”. Esse Festival faz parte do cotidiano da população. É uma festa que
proporciona muitos excessos, pois as pessoas produzem outros gestos e
comportamentos diferentes do habitual. Assim, ao se vestir de índios e brincar de boi,
vivenciam novas experiências.
Esta redação procurou não só conhecer as contribuições da festa na vida da
população parintinense, mas também apontar caminhos para uma educação
socioambiental, lançando um novo olhar sobre a festa que envolve a ilha de
Tupinabarana.
A proposta de um novo olhar sobre o brincar de boi em Parintins, ou seja, um
olhar sociocultural e educacional, é devido à mobilização que tal festa proporciona ao
município. É fundamental que toda comunidade parintinense envolva-se nesse processo
para que juntos possam agregar valores e combater determinados problemas que a festa
ocasiona, como: a prostituição infanto-juvenil, tráfico e consumo de drogas, aumento no
índice de natalidade etc.
Na perspectiva de Burke (2010, p. 50): “Se todas as pessoas numa determinada
sociedade partilhassem a mesma cultura, não haveria a mínima necessidade de se usar a
expressão “cultura popular”. Nesse sentido, o Festival Folclórico de Parintins é uma festa de origem popular que atravessa gerações, sendo composta por várias culturas que
juntas formam um modo de vida o qual é expresso por meio da narrativa de lendas,
toadas e rituais.
Pelas informações obtidas nas entrevistas com o grupo de representantes dos
bumbás Caprichoso/Garantido, moradores antigos, professores e alunos pôde-se
observar que, para a maioria dos entrevistados, o Festival Folclórico de Parintins é o
responsável pelas mudanças tanto positivas quanto negativas na cidade haja vista o
mesmo modificar toda sua estrutura.
Até hoje não se chegou a uma conclusão de qual
o primeiro bumbá da cidade, o que, por um lado é bom, pois permanece o clima de
mistério e rivalidade entre os bois. Percebe-se na fala dos entrevistados que cada
associação folclórica toma para si o direito de ser o primeiro bumbá da cidade.
Porém, o importante é que esse grupo de entrevistados acredita que esse Festival
contribui no campo cultural, educacional, social e político de Parintins, pois o mesmo
influencia no modo de vida da população e, principalmente, traduz sua manifestação
cultural em forma de informação e brincadeira. Essa manifestação vem influenciando
também na construção de uma identidade cultural dos povos da Amazônia. Embora
sozinha não tenha esse poder, tem se tornado referência para o estado do Amazonas.
Percebe-se que a evolução do boi-bumbá acompanhou a
modernidade, pois o boi deixou de ser de rua e passou a ser de arena, uma “brincadeira”
com vários patrocinadores devido, ultimamente, ser uma festa promovida pela indústria
cultural.
Para o grupo de moradores entrevistados, que no passado presenciaram um outro
brincar de boi, mais simples e familiar, essas mudanças são sentidas de forma negativa,
pois hoje o boi-bumbá de Parintins tornou-se uma brincadeira cara, agregando
tecnologia e inovações que transformaram a festa em boi espetáculo, seja na arena do
bumbódromo seja na tela da televisão, isto é, uma festa projetada para um público
formador de opinião. A mudança considerada boa para esse grupo é que hoje a
rivalidade entre os torcedores dos bumbás se dá de forma sadia, sem agressões físicas e
verbais, como era no passado.
Percebe-se a força e a influência desse Festival no campo
escolar. Com isso, a escola deve valer-se das informações proporcionadas pelo boi e
utilizá-las em sala de aula a favor da educação, por meio das letras de toadas,
trabalhando a complexidade da questão ambiental.
A escola, por ser espaço de formação e informação, deve aproveitar os
benefícios que essa festa proporciona, ser pensada e agregada ao currículo escolar como
Tema Transversal Local, capaz de promover um melhor entendimento sobre essa
festividade.
Partindo do princípio que a cultura surge de todo modo de vida, Burke (2010, p.
59) entende que “é de esperar que a cultura [...] varie segundo diferenças ecológicas,
além das sociais; diferenças no ambiente físico implicam diferenças na cultura material
e estimulam também diferentes atitudes”, pois as pessoas não têm modo de vida
uniforme, tampouco as culturas são homogêneas, por isso há essa variação. Assim, os
bumbás de Parintins revelam as potencialidades e mistérios da Amazônia, explorando a
beleza da fauna, da flora, a cultura dos povos, a simplicidade do caboclo e a bravura dos
índios. E é através do brincar de boi que o fabulário amazônico vai sendo narrado e as
pessoas adquirem informações sobre a cultura local.
Como toda festa popular, o Festival de Parintins também contém cunho
ideológico, pois está voltado para ações sociais, políticas e, principalmente, econômicas.
Conforme Duvignaud (1983, p. 154 e 155): “A festa se torna deliberadamente
ideológica, pois a teatralização que ela requer, a dramatização dos símbolos e alegorias
que subentende tendem a justificar ou explicar uma doutrina”. Desse modo, como em
toda ideologia, a festa interfere no modo de vida das pessoas, pois hoje além da
brincadeira popular, o boi também é considerado boi espetáculo, voltado para um público consumidor e formador de opinião.
Esse Festival tem o poder de influenciar em outras festividades, inclusive na
festa junina na maioria das escolas de Parintins, pois estas têm seus “boizinhos”, que se
apresentam nesse período. Contudo, pensar a influência do boi-bumbá no âmbito
escolar é tarefa não só para o corpo docente, mas sobretudo da comunidade envolvente,
pois o mesmo deve ser tratado de modo mais efetivo e significativo no universo escolar.
Por isso, o pensar em educação e, sobretudo, no Festival Folclórico de Parintins
deve ser aberto e flexível, promover transformação para o município. Para tanto, devem
ser superadas as limitações metodológicas e educacionais, promovendo um esforço
contínuo e conjunto da sociedade parintinense. Assim, espera-se que essa dissertação
possa contribuir para a formação e o entendimento do povo parintinense em relação à
importância de seu Festival, pois este expressa a tradição, o folclore e a manifestação
cultural de Parintins.
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