O livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, deixou um legado cultural significativo no Brasil, influenciando a literatura, o pensamento social e político.
Os Sertões é considerado um clássico da literatura brasileira e uma obra fundamental para entender a história e a cultura do país.
O legado do livro inclui:
Questionamento de preconceitos e estereótipos sobre o sertanejo
Contribuição para a compreensão da diversidade e complexidade do Brasil
Levantamento de questões sobre justiça social, desigualdade e marginalização
Análise da psicologia do sertanejo e de seus costumes
Descrição da relação do sertanejo com o meio, sua gênese etnológica, seu comportamento, crença e costume
Combinação de análise científica e sensibilidade artística
Os Sertões é uma obra regionalista que narra a Guerra de Canudos, que ocorreu na Bahia entre 1896 e 1897
Obra-prima não nasce do nada
Euclides da Cunha chega a Salvador em agosto de 1897, adido à comitiva do marechal Carlos Machado Bittencourt, ministro da Guerra. Vinha comissionado pelo jornal O Estado de S.Paulo, como correspondente especial para cobrir a Guerra de Canudos, iniciada em Uauá, em novembro de 1896. Os rebeldes seguidores de Antônio Conselheiro àquela altura haviam imposto derrota a três brigadas militares. A quarta expedição, chefiada pelo general Artur Oscar de Andrade Guimarães, há mais de três meses esbarrava na tenaz capacidade de resistência dos sertanejos, assustando o país e fazendo-o acreditar que, num fim de mundo da Bahia, tramava-se contra a recém-criada República.
Euclides já tinha vasto conhecimento não só da natureza mas também dos habitantes do sertão. É que, ainda em São Paulo, Teodoro Sampaio (1855-1937) o suprira de pormenorizadas informações sobre o universo por onde, em 1897, viajara na companhia do engenheiro americano William Milnor Roberts. O autor de O Rio de S. Francisco e a Chapada Diamantina (1879-80) fornecera a Euclides notas sobre as terras do sertão pelo qual perambulara e cópia de mapa, na parte referente a Canudos e o vale superior do Vaza-Barris, ainda desconhecido.
Durante a redação de sua obra, Euclides inúmeras vezes recorreu ao amigo Teodoro Sampaio, a quem solicitava esclarecimento e informações sobre pontos nebulosos da história e da geografia. Visitava com assiduidade o geólogo, geógrafo, tupinólogo e historiador, seu principal confidente. Narrava-lhe episódios da luta desigual e que o deixara traumatizado. Depõe Teodoro: ”Foi neste estado de alma que escreveu Os sertões. O escritor másculo que se ia revelar, vinha cheio das mais desencontradas impressões. As cenas daquelas terras devastadas pelas secas periódicas e pela cólera insana dos homens, revelavam-se-lhe de um imprevisto inimaginável e ele como que se sentia com forças para fixá-las na tela de uma obra imperecível. Parecia-lhe isso uma reparação, uma dívida a pagar à memória daquela gente obscura que soube morrer por um ideal.”
Aos domingos, dezenas de laudas debaixo do braço, Euclides ia visitar Teodoro. Lia textos para o mestre que escutava com atenção os reparos.
Teodoro Sampaio foi um dos mais valiosos colaboradores de Euclides da Cunha na fase preparatória de sua obra. Repassou ao discípulo cópias de cartas-régias, roteiros, alvarás, crônicas dos jesuítas, biografias, manuscritos dos tempos coloniais, histórias, lendas, memórias e tradições, compilados de Aires do Casal, Acióli, Pedro Taques, Araújo Porto Alegre, Alexandre Rodrigues Ferreira. E raras referências bibliográficas com as quais Euclides poderia pesquisar e cotejar: institutos, academias, bibliotecas, arquivos do Rio e da Bahia, longa e metodicamente selecionadas.
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